Os Santos não se consideravam santos, pequenas mortificações serviam a vida deles

No entanto que não se enganem por essas palavras os leitores, pois todos os santos queriam ser consumidos pela chama do divino amor.

Santa Teresinha (1863-1897)

Verdadeiramente, estou longe de ser santa, só isso o prova bem; em vez de me regozijar com a minha aridez, deveria atribuí-la a minha falta de fervor e de fidelidade, deveria ficar aflita por dormir (há sete anos) durante minhas orações e minhas ações de graças, mas não, não me aflijo... penso que as criancinhas agradam tanto seus pais quando dormem como quando estão acordadas, penso que para fazer cirurgias os médicos adormecem seus pacientes. Enfim, penso que: "O Senhor vê nossa fragilidade, que Ele não perde de vista que só somos pó". 

Como passaram esses três meses tão ricos de graças para minha alma?... Primeiro, ocorreu-me a idéia de não me constranger a levar uma vida tão bem regrada como de costume; mas logo compreendi o valor do tempo que me estava sendo oferecido e resolvi entregar-me, mais do que nunca, a uma vida séria e mortificada. Quando digo mortificada, não é para fazer crer que eu fazia penitências, ai! nunca fiz, longe de parecer com as belas almas que desde a infância praticavam toda espécie de mortificações, não sentia atrações por elas. Sem dúvida, isto decorria da minha covardia, pois podia, com Celina, encontrar mil pequenas invenções para me fazer sofrer; em vez disso, sempre me deixei mimar e cevar como um passarinho que não precisa fazer penitência... Minhas mortificações consistiam em refrear minha vontade, sempre prestes a se impor, em reprimir uma palavra de réplica, emprestar pequenos serviços sem retribuição, em não me encostar quando
sentada etc. etc... Foi pela prática desses nadas que me preparei para ser a noiva de Jesus e não posso dizer o quanto essa espera deixou em mim doces lembranças... Três meses passam muito depressa e, enfim, chegou o momento tão desejado (
Manuscritos Autobiográficos de Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, pg. 207 , 188)

Alguns podem ver uma contradição do texto acima com o seguinte, mas tal pensamento é errado, pois repugna a santidade tão notória e tão evidente da religiosa francesa. Fato é que por vezes os santos queriam ressaltar o que lhes faltava, para mostrar a grandeza de Deus, e a santidade qual somente Nossa Senhora atingiu.

Depoimento da Irmã Maria do Sagrado Coração, no Processo de Beatificação e Canonização de sua irmã Teresinha do Menino Jesus:

"Por volta do mês de Agosto de 1897, aproximadamente seus semanas antes de sua morte, eu estava junto a seu leito com a Madre Inês de Jesus e a Irmã Genoveva (Paulina e Celina, irmãs de Teresinha). De repente, sem que nenhuma conversa conduzisse a esta afirmação, ela nos olhou com um ar celeste e disse: 'Vós sabeis bem que cuidais de uma pequena santa'.

(Pergunta: a Serva de Deus explicou ou corrigiu esta expressão? Resposta:)

Eu fiquei muito emocionada com estas palavras, como se tivesse ouvido um santo predizer o que aconteceria depois de sua morte. Tomada por esta emoção, afastei-me um pouco até à enfermaria, e não me lembro de ter ouvido outra coisa" (Procés de Béatification et Canonisation de Sainte Thérese de L'Enfant-Jesus et de la Sainte-Face, Procès Apostolique Témoin 7: Marie du Sacré-Coeur O.C.D., Teresianum, Roma, 1976, t. II p.245)