A Ordem Carmelita tem origem profética pré-cristã com Santo Elias. Provam isso os Santos, os Papas, historiadores e a Escritura
O artigo a seguir é baseado em matéria da tradicional Revista Catolicismo, de onde vêm as referências*.
Antes, um comentário acerca do uso do escapulário-medalha: apesar do texto a seguir explanar sua validez em certas condições, seu uso não parece a melhor alternativa atualmente, senão em caso de perda constante do escapulário de pano, ou por trabalho, ou dificuldade de conseguir um de boa qualidade, etc. O motivo é por causa do mau uso atual por muitas pessoas, tratando-o como amuleto supersticioso, bijuteria, ou como objeto usado sem nenhuma devoção. Isto pode ser estimulado, mesmo não intencionalmente, por quem o usa como medalha, ainda que o use de modo discreto. Se se quer fazer o apostolado do escapulário, é preciso combater seu mau uso com o exemplo.
Escapulário: privilégios, condições para usar, imposição e uso
1º - A Grande Promessa: “Aquele que morrer com o Escapulário não sofrerá as penas do inferno” [1]
2º - O Privilégio Sabatino: será liberto do Purgatório no sábado seguinte à sua morte.
Para gozar desse privilégio sabatino são necessárias as seguintes condições:
a - Haver recebido devidamente o Escapulário, isto é, ter sido ele imposto por um sacerdote com poder para tal;
b - Que o Escapulário seja como prescreve a Igreja: feito de dois pedaços de lã (e não de outro material) da forma retangular, ligados entre si por cordões ou cadarços e cor requeridas (marrom café ou negro). Se a própria pessoa quiser confeccioná-lo, o tamanho adequado de cada um dos pedaços de lã poderia ser: 3,5cm de altura x 2,5cm de largura, ou ainda menor, observando-se essa proporção; [2]
c - Que uma de suas partes caia sobre o peito e a outra sobre as costas;
d - Que se observe a castidade segundo o estado (perfeita para os solteiros, e matrimonial para os casados);
e - Que se reze diariamente o Ofício Menor de Nossa Senhora ou as orações prescritas pelo sacerdote que impôs o escapulário;
Medalha-escapulário
O Papa São Pio X concedeu, através de regulamentação de 16 de dezembro de 1910, emanada pelo Santo Ofício, a permissão de usar, em vez de um ou mais pequenos escapulários, uma só medalha de metal. Esta deve ter em uma das faces o Sagrado Coração e, na outra, a Santíssima Virgem.
Todas as pessoas validamente investidas com um escapulário de lã, já bento, podem trocá-lo pela medalha de metal.
Tais medalhas devem ser usadas constantemente, penduradas ao pescoço ou “de outra maneira conveniente”, ganhando-se com seu uso quase todas as indulgências e privilégios concedidos aos pequenos escapulários [3].
Entretanto, aconselha-se portar de preferência o Escapulário propriamente dito. Pois ele, além de gozar de maior número de indulgências do que a medalha, foi diretamente concedido por Nossa Senhora a São Simão Stock. A Virgem Santíssima em sua aparição entregou-lhe um Escapulário de lã marrom. E o próprio São Pio X, quando promulgou o mencionado decreto, recomendou vivamente todos os fiéis que continuassem usando o Escapulário de pano.
O Escapulário nas crianças e nos pecadores
O Escapulário pode ser imposto mesmo em crianças que não chegaram ao uso da razão, pois servir-lhes-á de “defesa e salvação nos perigos”. Além disso, quando adultos, se tiverem tido a infelicidade de o abandonarem e levar vida irreligiosa, tendo já recebido a imposição anterior, bastará que qualquer um lhes coloque o Escapulário ao pescoço para que gozem de seus privilégios.
Ele pode também ser imposto em pecadores moribundos que o aceitem, pois ser-lhes-á penhor de salvação. Por isso, os sacerdotes chamados a atender moribundos nesse estado costumavam, antes de mais nada, propor-lhes tão-somente que aceitassem a imposição do Escapulário; o resto vinha por acréscimo. São inúmeros os casos em que pecadores empedernidos solicitam a assistência de um sacerdote, depois que alguém de sua família, sem que o saibam, coloque um Escapulário sobre seus travesseiros.
Outras graças conferidas pelo Escapulário
“Além da grande promessa de preservação do inferno, do singular privilégio Sabatino, do honroso título de Irmãos da Virgem [os frades do Carmo são chamados ‘Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo’] e da salvação nos perigos, assim como do grande número de indulgências, os que vestem o Escapulário do Carmo gozam da participação de todas as boas obras que se praticam em toda a Ordem do Carmo. Isto quer dizer que, na Ordem do Carmo, tudo o que cai sob o comum denominador de ‘boas obras’, como virtudes, satisfações, Missas, orações, pregações, jejuns, disciplinas, imolações, fruto das Missões, prática dos votos, austeridade da vida do claustro, efeitos saudáveis do apostolado da devoção à Virgem do Carmo e a seu santo Escapulário etc., forma um acervo comum ou um capital social que se reparte entre todos e cada um dos membros que, seja pela profissão (religiosa), ou em virtude do privilégio da agregação, pertencem à dita Ordem da Virgem do Carmo” [4]
Para se gozar o privilégio sabatino, uma prática piedosa geralmente prescrita pelos sacerdotes em comutação da recitação do Ofício Parvo e jejuns prescritos, é a da recitação dos Sete Padre-Nossos, Ave-Marias e Glórias em louvor das Sete Alegrias de Nossa Senhora, outrora muito comum na Europa.
Pelo significado que o Escapulário tem de ser uma aliança com Nossa Senhora, recomenda-se que se o oscule frequentemente. Com essa prática – agradável à Mãe de Deus – ganham-se também indulgências.
Cuidado com os antigos escapulários
Quando se substitui um Escapulário, o modo mais correto de eliminar o antigo é queimá-lo por respeito, e nunca jogá-lo ao lixo como traste velho.
Uma pessoa que tenha sido objeto da imposição do Escapulário e tenha passado muito tempo sem usá-lo, pode por si mesma recolocá-lo ao pescoço, sem necessidade de nova bênção ou imposição por sacerdote.
Grande Promessa e o Privilégio Sabatino: sua história e autenticidade
O Pe. Simón María Besalduch, em sua já citada obra, refuta sábia e sobejamente os argumentos e autores que põem em dúvida a autenticidade da Grande Promessa e do Privilégio Sabatino [5].
Em um momento de grande aflição para a Ordem do Carmo, que corria perigo até de extinção, seu novo Geral, o inglês São Simão Stock, suplicava insistentemente à Mãe de Deus que lhe desse um sinal de sua proteção. No dia 16 de julho de 1251, quando rezava em seu convento de Cambridge, Inglaterra, Nossa Senhora apareceu-lhe com o Menino Jesus nos braços e rodeada de anjos. Apresentou-lhe então um escapulário dizendo-lhe:
“Recebe, filho muito amado, este Escapulário da tua Ordem, sinal de minha confraternidade. Será um privilégio para ti e para todos os Carmelitas. Todo que com ele morrer não padecerá do fogo eterno. Ele é, pois, um sinal de salvação, defesa nos perigos; aliança de paz e de pacto sempiterno” [6]
Esse autor, sobre a autenticidade tal milagre, argumenta com Santo Agostinho: “Assim como as palavras exprimem a linguagem humana, os milagres exprimem a divina”; ora, “é contra todos os atributos divinos o fato de Deus aprovar a mentira com milagres”, como os que até hoje se obtêm por meio do Escapulário.
Nota o Pe. Besalduch que São Simão pedia à Virgem “um signo, um sinal de sua graça que fosse visível aos olhos de seus inimigos”. E que Ela, ao entregar-lhe o Escapulário, “declara que o entrega a ele e a todos os Carmelitas como um signo de sua confraternidade e um sinal de predestinação” [7]
A predileção de Nossa Senhora pelo Carmo foi confirmada de modo ainda mais maternal no século seguinte, quando, aparecendo ao Papa João XXII, prometeu-lhe especial assistência aos que trouxessem o Escapulário do Carmo, e que os livraria do Purgatório no primeiro sábado após sua morte. Essa segunda promessa é conhecida como Privilégio Sabatino [8]
Por Carmelitas aqui se entendiam os membros das Ordens Primeira, Segunda e Terceira mais os das Confrarias do Carmo. Entretanto, concedeu depois a Igreja a várias Ordens religiosas a faculdade de benzer também pequenos escapulários e impô-los aos fiéis independente de estarem ligados ou não às Confrarias [9]; assim, estendeu-se também a todos os que portam o Escapulário do Carmo aquelas promessas da Mãe de Deus.
Isso provocou a tão universal divulgação desse Escapulário, que passou a ser o escapulário por antonomásia. E, juntamente com o Rosário, um dos símbolos do católico piedoso e servo de Maria [10]
Papas e Santos recomendam o Escapulário
Vários Papas confirmaram com a sua suprema autoridade a Bula Sacratissimi uti culmine do Privilégio Sabatino promulgada pelo Papa João XXII no dia 3 de março de 1322, entre outros Alexandre V, Sixto IV, Clemente VII, Clemente X, Bento XIII e Bento XIV. Em sua Bula de 13 de fevereiro de 1566, São Pio V nos diz: “Nós [...] aprovamos as letras de todos e cada um dos privilégios, indulgências e outras graças, inclusive o [privilégio] Sabatino, a teor dos presentes ...” [11].
Falando desse privilégio, assim se expressa o Papa Paulo V: “É permitido pregar [...] que, após a morte, a Santíssima Virgem socorrerá, com a sua contínua intercessão, com os seus sufrágios e méritos, e com a sua especial proteção, sobretudo no sábado, dia particularmente consagrado pela Igreja à mesma Santíssima Virgem Maria, as almas dos Irmãos e Irmãs da Confraria da Santíssima Virgem Maria do Monte Carmelo que, durante a vida, tiverem usado o hábito [Escapulário], guardado castidade segundo o estado, e recitado o Ofício Menor [ou a oração indicada pelo sacerdote que o impôs] ... ou, não sabendo recitar o Ofício, tiverem observado os jejuns da Igreja e guardado abstinência de carne nas quartas-feiras e sábados (a menos que qualquer destes dias coincida com a festa do Natal)” [12].
É possível que alguns leitores não se dêem inteiramente conta do grande tesouro que representa o Escapulário. Como afirmou o Papa Pio XII, “não é coisa de pequena importância procurar-se a aquisição da vida eterna segundo a tradicional promessa da Virgem Santíssima [ao Escapulário]; trata-se, com efeito, da empresa mais importante e do modo mais seguro de a levar a cabo” [13]. E o mesmo Pontífice acentua a importância do Escapulário como meio de incrementar a tão necessária devoção mariana. Eis suas palavras: “Certamente ninguém ignora quanto contribuiu para avivar a fé católica e emendar os costumes o amor à santíssima Mãe de Deus, especialmente através daquelas expressões de devoção com as quais, preferivelmente às outras, parece que as mentes se enriquecem de doutrina sobrenatural e as almas são solicitadas ao cultivo da virtude cristã. Entre estas, figura em primeiro lugar a devoção ao santo escapulário dos carmelitas que, adaptando-se por sua simplicidade à índole de todas as pessoas, com ubérrimos frutos espirituais está amplissimamente difundida entre os fiéis cristãos” [14]
Uma jovem foi confessar-se com o Cura D'Ars. Antes que ela se acusasse de seus pecados, disse-lhe o Santo: “Lembra-te de que, no baile a que foste há alguns dias, apareceu um vistoso jovem, que dançou com todas as moças, menos contigo? E que ficaste muito vexada por isso? E que, no momento em que ele saía, pareceu-te ver faíscas em seus pés? Pois saibas que era o demônio em forma humana, e que só não dançou contigo porque levavas o Escapulário. Dá graças à Virgem por isso” [15]
Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja, não só trazia o Escapulário consigo, como o louva em seus livros e o recomendava a todos como sinal de santidade e fortaleza. Dizia que, quando somos tentados, devemos apertar o santo escapulário com as mãos para que o demônio deixe de nos atormentar.
E o Beato Cláudio de la Colombière, confessor de Santa Margarida Maria Alacquoque, confidente do Sagrado Coração de Jesus, afirmava:
"Creio que às vantagens que se atribuem aos devotos de Maria, se podem acrescentar outras mais notáveis em favor dos confrades do Carmo, que são todos os que usam o escapulário. E prosseguia: "Não; não basta dizer que o Escapulário é um sinal de salvação. Eu estou certo de que não há outro que faça nossa predestinação tão certa como este do Escapulário, e sob o qual nos devemos acolher com o maior zelo e "constância".
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*Artigo editado baseado nos artigos publicados na Revista Catolicismo, por Plinio Maria Solimeo (Fev/1999, Jul/2013), e do Mons. José Villac (Jul/1998)
[1] Frei Afonso Maria, O Escapulário do Carmo e a medalha, Caixa Postal, 532, Recife. Imprimatur D. Miugel de Lima Valverde, Arcebispo de Olinda e Recife, 3-12-1941.
[2] Qualquer pessoa poderá confeccionar seu próprio Escapulário, desde que encontre dificuldade em obter algum já feito. Para isso, basta seguir rigorosamente o que estabelece o item b acima.
[3] Cfr. The Catholic Encyclopedia, p. 510, Cfr. Enciclopédia Espasa-Calpe, Tomo XI, pp. 1118 e ss.
[4] São citados muitos exemplos de autênticos milagres obtidos através do Escapulário, por exemplo, na Enciclopédia del Escapulario del Carmen do Pe. Simón María Besalduch (Luis Gili, Editor, Librería Católica Internacional, Barcelona, 1931, que passaremos a citar com a sigla E.E.).EE, p. 324
[5] Fica assim refutado, por exemplo, Joseph Hilgers, entre outros autor dos verbetes Sabbatine Privilege e Scapular em The Catholic Encyclopedia, Caxton Publishing Company, Limited, London, 1912, vol. XIII, pp. 289,290, 508 e ss.
[6] E.E., pp. 99, 203 entre outras
[7] Op. cit., p. 150
[8] Cfr. op. cit., pp. de 243 a 293
[9] Cfr. Enciclopédia Espasa-Calpe tomo XX, p. 667
[10] Cfr. The Catholic Encyclopedia, Caxton Publishing Company, Limited, London, 1912, vol. XIII, pp. 508 e ss.
[11] Cfr. “Enquiridion”, pp. 100-101. “La Virgen del Carmen – Historia y Culto”, p. 38[12] Analecta O. Carm., vol. IV, p. 250. Apud Haffert, p. 113
[13] The Catholic Encyclopedia p. 626
[14] Pio XII, Epístola de 11/2/1950 aos Gerais dos Padres Carmelitas, por ocasião do VII Centenário do Escapulário do Carmo, apud DOCTRINA PONTIFICIA, IV, Documentos Marianos, Hilario Marín, S.I., BAC, Madrid, 1954, pp. 626-627 (Grifos nossos)
[15] Cfr. O Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, p. 12