Bíblia Sagrada Católica, santos e teólogos sobre modéstia no trato social

Contraste entre a indumentária antiga
de um rei e a nova, de estilo
burguês. Também o trato social
decaiu

São João Batista de La Salle, rogai por nós!

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Volume II, 2a edição)".

Bíblia Sagrada Católica

"Eu não me envergonharei de saudar o meu amigo, nem me esconderei da sua presença, e, se me vierem males por causa dele, sofrê-los-ei." Eclo XXII

São João Batista de La Salle sobre alguns aspectos universais do trato social

"Para falar com prudência, deve-se também observar o momento propício para falar ou para calar; porque o Sábio diz que é ser muito imprudente e leviano não observar o momento e falar quando somente a vontade de falar nos leva a isso.

De acordo com São Paulo (Col 4:6), todas as palavras que dizemos, devem ser acompanhadas pela graça e temperadas pelo sal de tal maneira que se saiba por que
e como as dizemos.

Por fim, segundo o conselho do Sábio (Eclo 18:19), precisamos informar-nos antes de falar e assim nunca falar de uma coisa que não conhecemos bem, e dizer o que temos a dizer com tanta sabedoria e honestidade que nos tornemos amáveis em nossas palavras" [1].

"Ao falar sempre se devem utilizar termos honestos, ordinários e inteligíveis e próprios do tema de que se fala e não termos particulares e rebuscados. Deve-se particularmente evitar as expressões impróprias que não são francesas [língua do santo] e que não correspondam à pureza da língua. Embora não seja correto usar no discurso termos e expressões muito rebuscadas, é preciso evitar um certo francês corrupto que não poucas pessoas usam com freqüência por não prestarem bastante atenção a sua maneira de falar" [2].

Exemplo de noção não igualitária de trato social retirado de um manual de civilidade antigo

"Ponto importantíssimo em matéria de civilidade é a arte de tratar cada um segundo a dignidade, a precedência e os méritos adquiridos. Conta-se que o príncipe de Talleyrand era mestre consumado nesta arte. Num jantar familiar de alta sociedade, eis como distribuiu as fatias de um pernil. Ao seu vizinho da direita, o Sr. Barão de... principal conviva, disse:

"Sr. Barão de..., poderia eu ter a ousadia de lhe oferecer uma fatia de pernil?"

Ao comensal da esquerda, segundo conviva em dignidade, disse:

"O sr. teria a gentileza de aceitar um pouco de pernil?"

Ao terceiro falou: "O sr. quer pernil?"

Ao quarto: "Um pouco de pernil?"

Enfim ao quinto, disse apenas com um gestinho da faca: "Pernil?" " [3].

Plinio Corrêa de Oliveira sobre o trato e santidade

"A santidade necessariamente conduz a um trato muito elevado no primeiro sentido da palavra que é um sentido fundamental da palavra, quer dizer o trato no seu aspecto profundo. Uma pessoa que é santa, pelo fato de ser santa, porque a santidade é a raiz de toda a conduta perfeita que tem em relação aos outros, [tem] uma conduta e um trato exemplar. E trata então os outros com toda a distinção com todo o esmero, com todo o respeito ou com toda a força, e com toda a energia e com todo o espírito vindicativo que as circunstâncias exigem. Então, a santidade é coincidência aí com a perfeição do trato. 

Pode haver pessoas não santas que tem um trato bom? Pode haver pessoas, ainda nesse sentido pro-fuso do trato, pode haver pessoas não santas que tratam os outros eximiamente? Pode. Pode haver quando há uma grande tradição de civilização católica, essa tradição não morre de um momento para o outro. E se bem que a moralidade possa cair muito rapidamente, a tradição do trato ainda continua. 

Usando uma imagem de São Pio X que ele aplicava a outra coisa: nós podemos pôr rosas num jarro sem que o jarro possa se impregnar do perfume da rosa e continuar até depois da rosa ser retirada do jarro. Assim também, certo cavalheirismo de trato, certa fidalguia de trato, mas no melhor sentido, no sentido mais profundo da palavra, pode subsistir como uma tradição católica num ambiente que já é muito pouco católico, que não é mais católico (...)

Por exemplo, alguma coisa da nobreza de trato de certos lordes ainda é uma remota tradição do tempo que a Inglaterra era católica, mas é uma coisa que vai morrendo" [4].

"(...) Existe a respeito dos operários um preconceito revolucionário que existe também a respeito, existia no meu tempo de moço, a respeito dos moços não operários, mas nos moços operários como nos moços de qualquer idade. O preconceito era esse: moço ou moço, estão todos começando a vida, tratam-se aos pontapés, tratam-se com brutalidade, tratam-se sem cerimônia, tratam-se sem cortesia. Eu toda vida detestei isso. E com os meus colegas eu queria impor que tivessem para comigo um trato respeitoso. O que eu procurava obter dando a eles um trato respeitoso.

Me lembro que uma vez convidei um colega moço como eu, mocinho, para jantar em casa. Estávamos jantando e tinha uma cesta de pães ao alcance da mão dele e não da minha mão. Eu queria um pedaço de pão. E eu disse de propósito a ele: “Fulano, você quereria me fazer o favor de me passar aquela cesta de pão?” Ele me disse baixinho, porque ele não queria que o resto da família ouvisse o comentário, ele não sabia o que é que a família ia achar do comentário dele.

Ele me disse baixinho: “Você está vendo? É isso que eu estranho em você. Qualquer companheiro me diria: Fulano, me passa o pão. Você não, você me pergunta se eu quereria fazer a você o favor de passar um pão que, em última análise é seu, porque em sua casa tudo é seu. Você me diz passa o pão”.

Eu disse: É, mas pelo que você me passa eu te dei muito melhor do que um pão, uma cortesia, e eu sou cerimonioso.

Assim também os senhores não devem pensar o seguinte: que porque o operariado é uma classe que ganha menos, é uma classe cujos membros não devem ter educação e respeito uns com os outros. Isso é um erro brutal. Pelo contrário, todo o mundo tem obrigação de ter educação e respeito para com todo o mundo. E por causa disso os senhores todos devem gostar de tratar os outros com respeito, se tratarem com respeito, com gentileza, com amabilidade.

Os senhores talvez não calculem como o trato humano fica mais agradável por causa disso, e como assim deve ser o trato humano!

Mas o peso da Revolução é tão grande que eu tenho impressão de que os senhores mesmos nunca, alguns dos senhores, pelo menos, nunca se puseram claramente o problema diante dos olhos, e se habituam a um trato assim. Então, por exemplo, estão dois operários voltando a pé para casa. Estão juntos, um pensa: “Eu não estou com vontade de falar com ele, ele veio ficar perto de mim, não tenho obrigação de falar com ele, eu vou quieto”.

Pois se ele veio para junto de mim, ele estava querendo uma palavra de minha parte, se ele está querendo uma palavra de minha parte, entre cristãos, entre católicos, isso não se recusa. Ainda que eu não esteja com vontade de conversar com ele, ainda assim ele está me pedindo isto, eu devo dar isto a ele. Se ele me pedisse um pedaço de pão, eu não daria a ele? Ele está me pedindo um pão para o espírito. Quem sabe se ele está aborrecido, quem sabe se ele está preocupado, quem sabe se por causa disso ele quer pensar em outras coisas, quer se distrair um pouco, então está falando comigo.

Alguém objetará: “Bom, mas olha a besteira que ele está dizendo.”

Pode ser, mas coitado, se ele está precisando de uma boa palavra, eu não vou dizer por que ele está dizendo besteira… Depois, será mesmo besteira? Não será megalice minha achar que ele está dizendo besteira? Por que o que ele diz vale muito menos do que eu digo? Coitado. Ele aproximou-se de mim, quer fazer o trajeto dele na minha companhia, vamos conversar (...)". [5]


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[1] Regras de Cortesia e de Civilidade Cristã, Cap.vii, Seção iv 
[2] Idem. cap.vii, art.vi
[3] Pequeno Manual de civilidade para uso da mocidade, preliminares, pg.5
[4] Santo do Dia —  18.12.65a — Sábado
[5] Sede do Reino de Maria, 25 de novembro de 1990. Retirado dia 5/9/2024 do site: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/como-deve-ser-o-trato-entre-iguais-superiores-e-inferiores-dos-operarios-aos-principes