S. Antão vivia em perfeita alegria, com semblante atraente, respeitava muito os padres, odiava a companhia dos hereges e cismáticos

Vida e conduta de Santo Antão, por Santo Atanásio, parte 6, Ed.Mosteiro da Virgem (Petrópolis-RJ). Negritos nossos.

Vivia em perfeita alegria, com semblante atraente, respeitava muito os padres

 
Era paciente por disposição e humilde de coração. Sendo homem de tanta fama, mostrava, no entanto, o mais profundo respeito aos ministros da Igreja, e exigia que a todo clérigo se desse maior honra do que a ele. Não se envergonhava de inclinar a cabeça diante de bispos e de sacerdotes. Se algum diácono chegava a ele pedindo-lhe ajuda, conversava com ele o que lhe fosse proveitoso, mas, chegando a oração, pedia-lhe que presidisse, não se envergonhando de aprender. De fato, muitas vezes propôs questões inquirindo os pontos de vista de seus companheiros, e se tirava proveito do que dizia o outro, mostrava-se grato.

Seu rosto tinha grande e indescritível encanto. E o Salvador lhe tinha dado por acréscimo este dom: se se achava presente numa reunião de monges e algum a quem não conhecia desejava vê-lo, esse tal, ao chegar, passava por alto os demais, como que atraído por seus olhos. Não eram nem sua estatura nem sua figura que o destacavam entre os demais, mas seu caráter sossegado e a pureza de sua alma. Ela era imperturbável e assim sua aparência externa era tranqüila. O gozo de sua alma transparecia na alegria de seu rosto, e pela forma de expressão de seu corpo se sabia e conhecia a estabilidade de sua alma, como o diz a Escritura: "O coração contente alegra o semblante, o coração triste deprime o espírito" (Pr 15,13). Também Jacó observou que Labão estava tramando algo contra ele e disse a suas mulheres: "Vejo que o pai de vocês não me olha com bons olhos" (Gn 31,5). Também Samuel reconheceu Davi porque tinha olhos que irradiavam alegria e dentes brancos como o leite (cf 1 Sm 16,12; cf tb.Gn 49,12). Assim também era reconhecido Antão: nunca estava agitado, pois sua alma estava em paz; nunca estava triste porque havia alegria em sua alma. 


Odiava a companhia dos hereges e cismáticos

Em assuntos de fé, sua devoção era sumamente admirável. Por exemplo, nunca se relacionou com os cismáticos melecianos, sabedor desde o começo de sua maldade e apostasia. Tampouco teve trato amistoso com os maniqueus nem com outros hereges, à exceção unicamente das admoestações que lhes fazia para que voltassem à verdadeira fé. Pensava e ensinava que amizade e associação com eles prejudicavam e arruinavam a alma. Detestava também a heresia dos arianos, e exortava a todos a não se acercarem deles nem compartilhar de sua perversa crença. Uma vez quando alguns desses ímpios arianos chegaram a ele, interrogou-os detalhadamente; e ao aperceber-se de sua ímpia fé, expulsou-os da montanha, dizendo que suas palavras eram piores que veneno de serpentes.

69. Quando numa ocasião os arianos espalharam a mentira de que partilhava de suas opiniões, demonstrou que estava enojado e irritado contra eles. Respondendo ao chamado dos bispos e de todos os irmãos, desceu a montanha e entrando em Alexandria denunciou os arianos. Dizia que sua heresia era a última e precursora do anticristo. Ensinava ao povo que o Filho de Deus não é uma criatura nem veio "da não existência" ao ser, mas "é Ele a eterna Palavra e Sabedoria da substância do Pai". Por isso é ímpio dizer: 'houve um tempo em que não existia', pois a Palavra foi sempre coexistente com o Pai. Por isso, não se metam em nada com estes arianos sumamente ímpios: simplesmente 'não há comunidade entre a luz e as trevas' (2 Cor 6,14). Vocês devem se lembrar de que são cristãos tementes a Deus, mas eles ao dizerem que o Filho e Palavra de Deus é uma criatura, não se diferenciam dos pagãos 'que adoram a criatura em lugar de Deus Criador' (Rm 1,25). E estejam seguros de que toda a criação está irritada contra eles, porque contam entre as coisas criadas o Criador e Senhor de tudo, pelo qual todas as coisas foram criadas" (cf Gl 1,16).