Paixão desmedida pela Eucaristia e por Nosso Senhor segundo São Pedro Julião Eymard

 São Pedro Julião Eymard (1811-1868), fundador da admirável obra da adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento e da Congregação dos Sacramentinos, escreveu:

Nosso Senhor quer estabelecer em nós um amor apaixonado por Ele.

Toda virtude, todo pensamento que não se termina em uma paixão, que não acaba por tornar-se uma paixão, nada de grande produzirá jamais. (...).

O amor só triunfa quando é em nós uma paixão vital. Sem isso, podem produzir-se atos isolados de amor, mais ou menos frequentes; a vida não é tomada, não é dada. (...).

Nosso Senhor, decerto, nesse Sacramento (da Sagrada Eucaristia), ama-nos com paixão, ama-nos cegamente, sem pensar em Si, devotando-Se inteiramente por nós: é preciso corresponder-Lhe.

Nosso amor, para ser uma paixão, deve sofrer as leis das paixões humanas. Falo das paixões honestas, naturalmente boas; pois as paixões são indiferentes em si mesmas; nós as tornamos más quando as dirigimos para o mal, mas só de nós depende utilizá-las para o bem.

Ora, a paixão que domina um homem, concentra-o.

Tal homem quer chegar a uma determinada posição honrosa e elevada. Só para isso trabalhará: dez, vinte anos, não importa. Chegarei, diz ele; faz unidade: tudo se acha reduzido a servir esse pensamento, esse desejo, deixa de lado tudo quanto não o conduzisse a seu objetivo.

Eis como se chega no mundo ao que se deseja; essas paixões podem tornar-se más, e ai! muitas vezes não são mais que um crime contínuo; mas enfim podem ser e são ainda honoríficas.

Sem uma paixão, nada se alcança: a vida carece de objetivo; arrasta-se uma vida inútil.

Pois bem, na ordem da salvação, é preciso ter também uma paixão que nos domine a vida e a faça produzir, para a glória de Deus, todos os frutos que o Senhor espera.

Amai tal virtude, tal verdade, tal mistério apaixonadamente. Devotai-lhe a vossa vida, consagrai-lhe os vossos pensamentos e trabalhos; sem isso, nada alcançareis jamais, sereis apenas um assalariado, jamais um herói!

Tende um amor apaixonado pela Eucaristia. Amai Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento com todo o ardor com que se ama no mundo, mas por motivos sobrenaturais. (...).

Considerai os santos; seu amor os transporta, abrasa, faz sofrer; é um fogo que os consome, despende as suas forças e acaba por lhes causar a morte.

Morte feliz!

Mas, se não chegamos todos a esse ponto, ao menos podemos amar apaixonadamente a Nosso Senhor, deixar que nos domine o seu amor.

Há pessoas que amam até à loucura os pais, os amigos, e não sabem amar o bom Deus! Mas o que se faz com a criatura, é o que se deve fazer com Deus: somente, ao bom Deus, é preciso amá-Lo sem medida, e cada vez mais. (...).

Mas poderíamos dizer: Somos então obrigados a amar assim?

Bem sei que o preceito de amar assim não se acha escrito; não há necessidade! Nada o diz, tudo o clama: a lei está em nosso coração. (...).

A Eucaristia é a mais nobre aspiração de nosso coração: amemo-la pois apaixonadamente.

Dizem: Mas é exagero tudo isso.

Mas que é o amor, senão exagero? Exagerar é ultrapassar a lei; pois bem, o amor deve exagerar!

O amor que nos testemunha Nosso Senhor permanecendo conosco sem honras, sem servidores, não é também exagerado?

Quem se limita ao que é absolutamente de seu dever, não ama. - Só se ama quando se sente interiormente a paixão do amor.

E tereis a paixão da Eucaristia quando Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento for o vosso pensamento habitual; a vossa felicidade, a de achar-se a seus pés; e vosso constante desejo, o de Lhe causar prazer.

Vamos! Entremos em Nosso Senhor! Amemo-lO um pouco por Ele; saibamos esquecer-nos e dar-nos a esse bom Salvador! Imolemo-nos um pouco! Considerai estes círios, esta lâmpada, que se consomem sem deixar vestígios, sem nada reservar.

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Fonte:
São Pedro Julião Eymard, O Santíssimo Sacramento, Coleção "Os grandes Autores Espirituais", nº 24, Edições Paulinas, São Paulo, 1956, pp. 27 a 32 / Pode imprimir-se: Mons. Caruso, Pró-Vigário geral, Rio, 8-7-1953.