São João da Cruz recomenda dar mais tempo à oração do que ao apostolado


 Quando alguma alma tiver algo deste grau de solitário amor, grande agravo se lhe faria, e à Igreja, se, ainda por pouco tempo, a quisessem ocupar em coisas exteriores ou ativas, embora de muita importância. Pois, uma vez que Deus conjura a que "não a acordem deste amor", quem a isto se atreverá e ficará sem repreensão ? Afinal de contas, para este fim de amor fomos criados. 

Advirtam pois aqui os que são muito ativos, que pensam abraçar o mundo com suas pregações e obras exteriores, que muito mais proveito trariam à Igreja e muito mais agradariam a Deus, sem contar o bom exemplo que dariam, se gastassem sequer a metade desse tempo em estar com Deus em oração, ainda que não tivessem chegado tão alto como aquela alma. Certamente, então fariam mais e com menos trabalho com uma obra do que com mil, merecendo-o sua oração, e tendo cobrado forças espirituais nela; porque de outra maneira tudo é martelar e fazer pouco mais que nada, e às vezes nada, e ainda às vezes, dano.

Porque Deus nos livre de que começar o "sal a perder o sabor", pois embora pareça que se faz algo por fora, em substância não será nada, quando é certo que as boas obras não se podem fazer senão em virtude de Deus.

(Cântico Espiritual, Anotação para a Canção XXIX)