Dos escritos de São Francisco de Assis, 22.º Exortação aos Irmãos
1 Todos nós, irmãos, consideremos com atenção o que o Senhor diz: Amai
os vossos inimigos, e fazei bem aos que vos odeiam (Mt 5, 44). Porque
também nosso Senhor Jesus Cristo, cujos passos devemos seguir (1Pe 2,
21), ao que o entregou chamou amigo (Mt 26, 50), e aos que o
crucificaram, espontaneamente se lhes pôs nas mãos.
Portanto, todos os que injustamente nos causam tribulações e angústias,
opróbrios e injúrias, dores e tormentos, martírio e morte, são nossos
amigos, aos quais muito devemos amar, pois que por tudo isto que nos
fazem, temos a vida eterna.
E com ódio tratemos, sim, o nosso corpo com seus vícios e pecados,
porque, vivendo nós segundo a carne, quer o diabo roubar-nos o amor de
nosso Senhor Jesus Cristo e a vida eterna, e perder-se com todos no
inferno.
Porque nós, pela nossa culpa, somos asquerosos, miseráveis, e
contrários ao bem, mas prontos e inclinados para o mal, pois, segundo o
Senhor diz no Evangelho, do coração do homem é que procedem e vêm os
maus pensamentos, os adultérios, as fornicações, os homicídios, os
roubos, a avareza, a maldade, o embuste, a impudicícia, os maus
olhares, os falsos testemunhos, as blasfémias, os desatinos (Mc 7, 21;
Mt 15, 19). Todos estes males brotam do interior do coração do homem
(Mc 7, 23); e estes, sim, que mancham o homem (Mt 15, 20).