Escritura, Papas e Santos falaram contra o racionalismo que coloca a filosofia antes da teologia?


Cardeal S. Boaventura, rogai por nós!


Extraído de:
"O Príncipe dos Cruzados: manual do tradicionalista contra-revolucionário: Bíblia, Papas, Santos e Teólogos (Volume II, 2a edição)".


Sagrada Escritura


"O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Os insensatos desprezam a sabedoria e a doutrina" Prov I, 7.

"O Eclesiastes, como era muito sábio, ensinou o povo, contou o que tinha feito, e, depois de um maduro exame, compôs muitas parábolas. Procurou palavras úteis e escreveu discursos retíssimos e cheios de verdade. As palavras dos sábios são como aguilhões e como cravos profundamente pregados, que por meio do conselho dos mestres nos foram comunicados pelo único pastor.

Não busques, pois, meu filho, mais alguma coisa além destas. Não se põe termo em multiplicar livros e a meditação frequente é aflição da carne. Ouçamos todos juntos o fim deste discurso: Teme a Deus e observa os seus mandamentos, porque nisto está o homem todo. E lembremo-nos que Deus fará dar contas no seu juízo de todas as faltas e de todo o bem e mal feito" Ecl XII, 9-14.

"Buscai pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo" S. Mateus VI, 33.

Bonifácio VIII

"As palavras do Evangelho nos ensinam: esta potência comporta duas espadas, todas as duas estão em poder da Igreja: a espada espiritual e a espada temporal. Mas esta última deve ser usada para a Igreja enquanto que a primeira deve ser usada pela Igreja. O espiritual deve ser manuseado pela mão do padre; o temporal, pela mão dos reis e cavaleiros, com o consenso e segundo a vontade do padre. Uma espada deve estar subordinada à outra espada; a autoridade temporal deve ser submissa à autoridade espiritual.

O poder espiritual deve superar em dignidade e nobreza toda espécie de poder terrestre. Devemos reconhecer isso quando mais nitidamente percebemos que as coisas espirituais sobrepujam as temporais. A verdade o atesta: o poder espiritual pode estabelecer o poder terrestre e julgá-lo se este não for bom. Ora, se o poder terrestre se desvia, será julgado pelo poder espiritual. Se o poder espiritual inferior se desvia, será julgado pelo poder superior. Mas, se o poder superior se desvia, somente Deus poderá julgá-lo e não o homem. Assim testemunha o apóstolo: "O homem espiritual julga a respeito de tudo e por ninguém é julgado" (1 Cor II, 15)" [1].

João XXII

O Papa João XXII mandou queimar o livro de Dante Alighieri "De Monarchia", condenado pelo Cardeal Bertrand el Poggetto em 1328 [2]. O Livro continha a tese de que os príncipes seriam os representantes da filosofia, e os príncipes da Igreja, os da teologia, e as duas viveriam separadas.

Pio IX (proposições condenadas no Syllabus de erros)

8. Dado que a razão humana e a religião estão num mesmo plano, as ciências teológicas devem ser tratadas como ciências filosóficas (Alocução Singulari quadam perfusi, 9 de Dezembro de 1854).


10. Dado que uma coisa é o filósofo e outra a filosofia, aquele tem o direito de submeter-se à autoridade que ele próprio reconhece como verdadeira; mas a filosofia não pode nem deve reconhecer autoridade alguma (Carta Gravissimus inter ao Arcebispo de Munique-Freising, 11 de Dezembro de 1862, carta Tuas libenter ao mesmo, 21 de Dezembro de 1863).

11. A Igreja não só não deve, em caso algum, ocupar-se da filosofia, mas antes deve tolerar os erros da filosofia e reconhecer-lhe o direito de se corrigir a si própria (Carta Gravissimus inter ao Arcebispo de Munique-Freising, 11 de Dezembro de 1862).

14. Deve-se estudar a filosofia sem ter em consideração a revelação sobrenatural (Carta Tuas libenter ao mesmo, 21 de Dezembro de 1863).

Santo Agostinho

"Como ardia, Deus meu, como ardia em desejos de voar das coisas terrenas para Vós, sem saber como procedíeis comigo? "Em Vós está, verdadeiramente, a sabedoria" (Jo 12, 13). Porém, o amor da sabedoria, pelo qual aqueles estudos literários me apaixonavam, tem o nome grego de FILOSOFIA. Alguns há que nos seduzem por meio dela, colorindo e adornando os seus erros com um nome grandioso, suave e honesto. Quase todos os filósofos daquela época ou anteriores que assim erram são apontados e refutados nesse livro. Nele transparece aquele salutar conselho do vosso espírito, dado por meio do vosso bom e piedoso servo: "Vede não vos iluda alguém com a filosofia e com miragens, conforme as tradições dos homens e dos ensinamentos do mundo, e não segundo Cristo, porque é N'ele que habita corporalmente toda a plenitude da Divindade" (Col 2, 8) [3].

São Pio X (condenando os erros do Sillon)

"Eis uma associação interconfessional, fundada por católicos, para trabalhar na reforma da civilização, obra eminentemente religiosa, porque não há civilização verdadeira sem civilização moral, e não há verdadeira civilização moral sem a verdadeira religião: é uma verdade demonstrada, é um fato histórico. E os novos sillonistas não poderão pretextar que eles só trabalharão “no terreno das realidades práticas” onde a diversidade das crenças não importa. Seu chefe tão bem percebe esta influência das convicções do espírito sobre o resultado da ação, que ele os convida, qualquer que seja a religião a que pertençam, a “fazer no terreno das realidades práticas a prova da excelência de suas convicções pessoais”. E com razão, porque as realizações práticas revestem o caráter das convicções religiosas, como os membros de um corpo, até às últimas extremidades, recebem sua forma do princípio vital que o anima.

Isto posto, que se deve pensar da promiscuidade em que se acharão agrupados os jovens católicos com heterodoxos e incrédulos de toda a espécie, numa obra desta natureza ? Esta não será mil vezes mais perigosa para eles do que uma associação neutra ? (...) Que se deve pensar deste respeito por todos os erros e de estranho convite, feito por um católico a todos os dissidentes, a fortificarem suas convicções pelo estudo e delas fazer as fontes sempre mais abundantes de novas forças ? Que se deve pensar de uma associação em que todas as religiões, e mesmo o livre-pensamento, podem manifestar-se altamente à vontade ? Porque os sillonistas que, nas conferências públicas e em outras ocasiões proclamam altivamente sua fé individual, não pretendem certamente fechar a boca aos outros e impedir que o protestante afirme seu protestantismo e o cético, seu ceticismo. Que pensar, enfim, de um católico que, ao entrar em seu círculo de estudos, deixa na porta seu catolicismo, para não assustar seus camaradas que, “sonhando com uma ação social desinteressada, têm repugnância de a fazer servir ao triunfo de interesses, facções, ou mesmo de convicções, quaisquer que sejam” ?" [4].

Santo Tomás de Aquino

"Era necessário existir para a salvação do homem, além das disciplinas filosóficas, que são pesquisadas pela razão humana, uma doutrina fundada na revelação Divina. Primeiro, porque o homem está ordenado para Deus, como para um fim que ultrapassa a compreensão da razão, como diz Isaías: "O olho não viu, ó Deus, fora de ti, o que preparaste para aqueles que te amam". Ora, é preciso que o homem, que dirige suas intenções e suas ações para um fim, antes conheça este fim. Era, pois, necessário para a salvação do homem que estas coisas que ultrapassam sua razão lhe fossem comunicadas por revelação divina" [5].

"A ciência sagrada é a mais excelente das ciências ? Parece que não (...). Em sentido contrário, as outras ciências são chamadas suas servas, como lemos no livro dos Provérbios: (a Sabedoria) "enviou suas servas a clamar nos altos da cidade" (Prov 9, 3).

Solução: Como esta ciência é a um só tempo especulativa e prática, ultrapassa todas as outras, tanto as especulativas como as práticas. Entre as ciências especulativas como as práticas. Entre as ciências especulativas deve-se considerar como a mais excelente aquela quue é mais certa ou a que tem a matéria mais excelente. Ora, sob esse duplo aspecto, a doutrina sagrada supera as outras ciências especulativas. É a mais certa, porque as outras recebem sua certeza da luz natural da razão humana, que pode errar; ao passo que ela recebe a sua da luz da ciência divina, que não pode enganar-se; E ela tem a matéria mais excelente, pois se refere principalmente ao que, por sua sublimidade, ultrapassa a razão, ao passo que as outras disciplinas consideram apenas o que está sujeito à razão.

Entre as ciências práticas, a mais excelente é a que está ordenada a um fim mais alto como acontece com a política em relação à arte militar, pois o bem do exército está ordenado ao bem da cidade. Ora, o fim desta doutrina, como prática, é a bem-aventurança eterna, à qual se ordenam todos os outros fins das ciências práticas. Portanto, é claro que sob qualquer dos ângulos, a ciência sagrada é a mais excelente" [6].

"Deve-se dizer que a ciência sagrada pode tomar emprestada alguma coisa às ciências filosóficas. Não que lhe seja necessário, mas em vista de melhor manifestar o que ela própria ensina. Seus princípios não lhe vem de nenhuma outra ciência, mas de Deus imediatamente, por revelação. Por conseguinte, ela não toma emprestado das outras ciências como se lhe fossem superiores, mas delas se vale como de inferiores e servas, como as ciências arquitetônicas se valem das que lhes são auxiliares, ou a política, da arte militar. Que a ciência sagrada se valha das outras ciências, não é por uma falha ou deficiência sua, mas por falha de nosso intelecto. A partir dos conhecimentos naturais, de onde procedem as outras ciências, nosso intelecto é mais facilmente introduzido nos objetos que ultrapassam a razão e são a matéria desta ciência" [7].

São Boaventura

"E assim fica manifesto como a "multiforme sabedoria de Deus" (Ef III, 10), que lucidamente se nos manifesta na Sagrada Escritura, oculta-se em todo o conhecimento e em toda a criatura. Fica manifesto também como todo o conhecimento está subordinado à Teologia, e por isto ela assume nos exemplos e utiliza a linguagem pertencentes a qualquer outro gênero de conhecimento. Fica manifesto, igualmente, quão ampla é a via iluminativa, e como no íntimo de toda a coisa que se sente ou se conhece está presente o próprio Deus. E este há de ser o fruto de todas as ciências que por meio delas se edifique a fé, "Deus seja louvado" (I Pd IV, 11), reformem-se os costumes, hauram-se as consolações provenientes da união entre o esposo e a esposa, o que se realiza pela caridade, para a qual converge toda a intenção da Sagrada Escritura e, consequentemente, toda a iluminação que desce do alto. Sem esta castidade todo o conhecimento é vão, pois que nunca chegamos ao Filho, a não ser pelo Espírito Santo, que nos "ensina toda a verdade" (Jo XVI, 13), o qual é bendito pelos séculos dos séculos. Amém" [8].

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[1] Bula Unam Sanctam, 18 de novembro de 1302.
[2] Critical Companion to Dante, Jay Ruud, pg.298
[3] Confissões, Livro III, 4
[4] Carta Apostólica de S. S. Pio X sobre “Le Sillon” de 25 de agosto de 1910, "Notre Charge Apostolique".
[5] Suma Teológica, Parte I, Q.1, art.1, resp.
[6] Suma Teológica, Parte I, Q.1, art.5, resp.
[7] Idem, ad.2.
[8] Redução das ciências à Teologia, 26