As lamentações do profeta Jeremias falam da crise da Igreja

Santo profeta Jeremias, rogai por nós!

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Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. IV)". 

Anterior deste capítulo: O Profeta Ezequiel vê a infiltração no clero, a abominação no templo, e o extermínio para todos que não tiverem a cruz do "tau"

Compilado de duas interpretações de Plinio Corrêa de Oliveira a partir de duas reuniões (em 1968 e 1970). Palavras do profeta Jeremias em negritos.

“Início da lamentação do profeta Jeremias”.

Os Profetas foram mandados por Deus ao povo de Israel para orientá-los ao reto caminho. Acontece que todos foram mal recebidos pelo povo eleito. E eles, então, registraram na Bíblia as suas lamentações por esse fato, que são reveladas pelo Divino Espírito Santo. Ou são lamentações por causa do estado de pecado em que está o povo, ou são lamentações porque o povo rejeitou. Às vezes eles consideram o estado de pecado do povo como modo de se dirigir ao povo. Então fazem uma lamentação. Outras vezes eles foram rejeitados e lamentam porque foram rejeitados.

Estas lamentações são proféticas, quer dizer, elas têm um duplo sentido. A gente as lê e vê que elas se aplicam à situação do profeta que as faz. Mas vemos que elas são proféticas porque tem uma extraordinária aplicação ao que se passou com Nosso Senhor Jesus Cristo nas suas relações com o povo eleito e durante a Sua Paixão. De maneira que elas são, à justiça, um título a considerar que são profecias do que se passou com Nosso Senhor Jesus Cristo depois (...).

Aleph e Beth são letras do alfabeto grego. Os vários pontos da lamentação foram enumerados com o alfabeto grego (...).

Aleph – Como te achas solitária cidade, havia há pouco tão populosa. A que dominava as nações tornou-se como viúva. A primeira dentre as províncias ficou sujeita ao tributo (Lm I, 1).

Beth – Chorou sem parar durante a noite e pelas faces lhe correu o pranto. Entre todos os que lhe são caros, não há sequer um que a console. Todos os seus amigos a desprezaram e se tornaram seus inimigos (Lm I, 2).


O que quer dizer isto aqui no que diz respeito à Jerusalém. O profeta lamenta o fato de Jerusalém estar abandonada. Era uma cidade populosa, mas cuja população foi levada ao cativeiro. Então apresentava um aspecto impressionante de uma cidade vazia. Cidade gloriosa no mundo inteiro, especialmente gloriosa naquele Oriente Próximo onde era uma cidade muito importante. A cidade de Jerusalém estava vazia. E o profeta, então, chora a tristeza da cidade vazia (...), aí a idéia da desolação que dá uma grande capital quase completamente abandonada. Com os seus palácios vazios, com os seus tesouros saqueados, com uns pangarés habitando numas casinholas, com aquilo tudo de pé, dando a impressão de uma cidade cadáver (...).

A primeira dentre as províncias ficou sujeita ao tributo. 


Ela era a primeira dentre as nações, a primeira dentre as províncias a "princips provinciorum", quer dizer, a cabeça dentre as províncias; não é a maior dentre as províncias mas é a cabeça dentre as províncias. Aquela que mandava nas províncias, que era capital, está sujeita ao tributo. Porque aquele restinho de população ainda paga o tributo ao rei dos assírios que dominou a cidade, dominou o país, e levou a população para o cativeiro. Então esse é um estado de ruína. 
Agora, isto se aplica a Nosso Senhor Jesus Cristo também. É Nosso Senhor Jesus Cristo abandonado pelos seus apóstolos; completamente isolado. E Aquele que pouco antes passara como um rei no meio de Jerusalém, a aclamado como príncipe da Casa de David que fora rei de Jerusalém, Aquele agora está completamente isolado, está como uma cidade abandonada. Ele está sozinho, está derrotado.

Beth: Chorou sem cessar durante a noite e pelas faces lhe correu o pranto. Entre todos os que lhe são caros não há sequer um que a console. 

A cidade que chorou sem cessar durante a noite é uma figura. Aquelas noites melancólicas, quietas e a cidade como que chora. E então o pranto correu pela face, quer dizer, é uma mágoa tão grande, dá origem a um pranto tão sentido e as lágrimas lhe escorrem pela face. 
Então, entre todos os que lhe são caros não há sequer um que a console. Quer dizer, todos os filhos mais diletos foram todos mandados embora. Todos os seus amigos a desprezaram e se tornarem os seus inimigos. Ninguém mais quer saber de Jerusalém. A aplicação é tão pujante! Porque durante a noite que precedeu a sua Paixão Ele chorou sem cessar e pelas faces lhe correu o pranto. Ele até suou sangue no Horto das Oliveiras. 

Entre todos os que lhe são caros não há um sequer que a console. 


Os apóstolos todos O abandonaram. São para Ele uma fonte de tristeza e de desolação, Todos os seus amigos O desprezaram e se tornaram os seus inimigos. Os próprios apóstolos abandonaram a Ele, deixaram-no de lado como que se tornaram os seus adversários. São Pedro o renegou, Judas o vendeu, os outros procederam com uma frieza completa diante dEle. É um fato trágico, uma profecia trágica do que aconteceu com Nosso Senhor 
(...).

A última frase [da canção das lamentações] não está escrita aqui [nos primeiros versículos]: Jerusalem, Jerusalem, convertere ad Dominum Deum tuum, Jerusalém converte-te a teu Deus, a teu Senhor.

Que é a conclusão que faz a liturgia. Durante a Semana Santa a Igreja cantava, - não sei se ainda canta - ofícios trágicos da Semana Santa, lindíssimos, para chamar povo à penitência, o povo católico dos nossos dias. Por quê? Porque a Igreja faz uma terceira aplicação desses versos aqui. É a atitude de Deus Nosso Senhor, de Nosso Senhor Jesus Cristo diante da alma pecadora. É a atitude de Nosso Senhor Jesus Cristo também diante dos sofrimentos da Igreja Católica. É uma aplicação que é posterior a partir de Cristo. Temos, portanto, três aplicações deste texto e todas três muito adequadas. Uma para o profeta, outra é para Nosso Senhor Jesus Cristo (é a aplicação por excelência) e depois uma outra aplicação para a situação da Igreja ou da alma pecadora (...).


Como te achas solitária cidade, ainda há pouco tão populosa. 


Ainda há pouco a Igreja Católica era tão populosa! Nós conhecemos a Igreja Católica com tanta gente, não direi fervorosamente católica, mas pelos menos autenticamente católica, freqüentando as igrejas. O progressismo entrou, o liturgicismo entrou, o comunismo entrou, o IDOC e os “Grupos Proféticos”
 [1] entraram e a Igreja está deserta de verdadeiros fiéis! Quão poucos são os que ainda têm o espírito da Igreja, desses que freqüentam a Igreja! 

Aquela que dominava as nações tornou-se como uma viúva. 


A Igreja Católica dominava as nações e a Idade Média. Aos poucos Ela foi perdendo o seu poder, foi perdendo o seu poder. Ela hoje é abandonada, isolada, desprezada como uma viúva que não tem quem a apoie. É bem a posição da Igreja. Dir-se-ia, não é verdade, mas se diria que o próprio Esposo dEla, Nosso Senhor Jesus Cristo, dEla se distancia. E Ela geme as amarguras, abandonada. Na aparência abandonada, somente.


A primeira dentre as províncias – a cabeça das províncias – ficou sujeita ao tributo! 


Aquela que era a primeira das entidades do gênero humano, a primeira das associações, a mais gloriosa, superior a todos os Estados, a entidade espiritual, a Igreja Católica, Ela que era a primeira coisa do mundo, Ela hoje paga tributo! Ela é arrastada por influências políticas (..). A lamentação se aplica, portanto, à presente lamentação da Igreja de modo pungente.


Chorou sem cessar durante a noite e pelas faces lhe correu o pranto.

Durante a noite, quer dizer, durante a amargura, durante a tristeza, durante as trevas. Chorou sem cessar. Qual é esse pranto da Igreja? É o pranto dos verdadeiros filhos da Igreja. Daqueles que amam a Igreja e que choram sem cessar a ridícula situação em que a Igreja está. Pelo rosto deles o pranto corre.


Entre todos os que lhe são caros, não há sequer um que a console! 
Meu Deus, que horror! Entre todos os que são caros à Igreja Católica não há um que A console. São Pio X dizia já no tempo dele. Como a luta que ele movia contra o Modernismo: De gentibus non est vir mecum, “Entre todos os povos não há um varão que esteja comigo”, um varão que esteja do meu lado! Estou completamente abandonado, estou completamente sozinho! dizia ele. Isto de um Papa falecido em 1914. Nós estamos em 1970 e de lá para cá as coisas não têm feito senão rolar espetacularmente. 

Como é verdade que a Igreja pode dizer que não há um varão que A apóie, que Ela está isolada como Nosso Senhor Jesus Cristo no Horto das Oliveiras. Ela tem Nossa Senhora e tem na terra aqueles pouquíssimos que são de Nossa Senhora e representam Nossa Senhora na terra. Mas que pinguinho de gente!


Todos os seus amigos a desprezaram e se tornaram os seus inimigos. 


Quais são os amigos de Nosso Senhor Jesus Cristo? Os Apóstolos, não é? Quais são hoje os amigos de Nosso Senhor Jesus Cristo: os sucessores dos Apóstolos? Como que todos O desprezaram e se tornaram os seus inimigos. Cleresia idem, religiosos idem, fiéis idem. E depois está bem apropriado, o ódio deles é feito de desprezo. A Igreja constantiniana elas a desprezaram. Aquela Rainha sagrada da qual emanaram toda santidade, toda beleza do mundo, e da qual emana toda santidade e toda a beleza do mundo, eles têm em conta de nada. 


É que a história de Nosso Senhor Jesus Cristo teve adeptos ao longo da história dos povos, da história da Igreja, até o fim do mundo, então, nós temos aqui uma repetição. Estamos no calvário da Igreja Católica! Ela está crucificada e está a ponto de gritar "Eli Eli, lamma sabactani”, “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?”. Não morrerá porque é imortal, mas pouco faltará (...)
 [2].

Como se obscureceu o ouro? Como se mudou a sua bela cor? (Lm IV, 1)

Aqui é a lamentação: como é que tal alma tão amada e tão eleita, como é que tal alma tão chamada e tão querida, perdeu aquele ouro inicial de sua vocação, aquele ouro inicial de sua fidelidade plena e esse ouro, que era rutilante, se foi obscurecendo até se tornar preto?
Mas também se pode perguntar da civilização cristã. Como aquele ouro da Idade Média, como aquela rutilância da Idade Média, aquela nobreza da Idade Média foi aos poucos se obscurecendo, até dar início à Revolução?

Como foram espalhadas as pedras do santuário pelos ângulos de todas as praças? (Lm
IV, 1)

A metáfora representa outra ruína. Não é mais o ouro que perdeu o seu brilho, mas é o santuário no edifício sagrado, o edifício digno, altivo, como costumam ser os santuários, que foi destruído e todas as suas pedras foram espalhadas por todos os cantos de todas as praças. 

Houve, portanto, não apenas uma destruição, mas uma dispersão das pedras. Foi uma ordem de coisas que foi depurada segundo um certo modelo, um certo conceito, que foi arrasada completamente e os elementos constitutivos daquela ordem foram dispersos sobre a face da terra. Dessa ordem nada mais resta. É algo de parecido com o ouro que perdeu o seu brilho e que se tornou negro.

Os ilustres filhos de Sião vestidos de fino ouro, como foram considerados quais vasos de terra, obras das mãos do oleiro? (Lm IV, 2) 

É uma classe social eminente: a classe dos filhos ilustres de Sião, dos homens que representavam a aristocracia de Israel, que representavam a elite de Israel e que exteriorizavam a sua categoria com o fato de se vestirem de ouro fino. Eles de repente entraram em decadência, e eles foram tidos como sendo zero, eles foram sendo tidos como sendo a plebe. Negou-se a diferença que havia entre eles e a plebe. Eles foram reputados vasos de argila fabricados pela mão do oleiro. 


Há uma diferença enorme entre a jóia feita pelo ourives e o vago vaso de barro feito por um oleiro qualquer. Como é que se deu isso? Que a jóia decaiu tanto, que ela acabou sendo tratada como sendo uma coisa de barro fabricada pelo oleiro? Pior: como é que se deu o caso de que a jóia se deteriorou de tal maneira, que não só ela foi tida como isso, mas ela se tornou realmente tão vil como o vaso feito pelo oleiro? Mais ainda: como é que os homens se tornaram tais e tão vis, que são souberam mais distinguir o ouro verdadeiro do vaso ordinário fabricado pelo oleiro? É
 ao mesmo tempo o prenúncio da decadência da ordem hierárquica e do espírito revolucionário, que leva a toda espécie de igualdade.

“Jerusalém, Jerusalém, converte-te ao Senhor teu Deus”.

Quer dizer, ó ouro que obscureceste, recobra tua cor antiga. Ó fidalgos que degenerastes, recuperai a vossa antiga beleza, a vossa antiga nobreza, recuperai-a na fidelidade à Igreja Católica, Apostólica, Romana. Ó povos que entrastes em desvario e que já não sabeis diferenciar o ouro verdadeiro do barro, retomai os caminhos da sabedoria e convertei-vos a vosso Deus e Senhor, que é o Deus que personifica toda a sabedoria. 


Então, essa música é cheia de tristeza. Ela canta por várias formas essa tragédia dessa sucessiva destruição, mas acaba com um convite para a Contra-Revolução e para o Reino de Maria. Eu acentuo o modo muito bonito pelo qual a música marca-lhes perdão: dispersae sunt, dispersae sunt, dá a impressão, ao mesmo tempo, da tristeza de algo que é jogado à mão cheia por todos os lados e de alguém que corre atrás e que contempla a dispersão: dispersae sunt, dilacerado, estraçalhado [pela] dispersão. É o que seriam as nossas almas, se elas fossem verdadeiramente fiéis, considerando essa tremenda dispersão. 
Essa dispersão do santuário, tão marcantemente clara hoje por obra do Concílio [3]

Próximo deste capítulo: O profeta Daniel fala da abominação no templo, do fim das iniquidades no mundo, e de uma guerra depois da vinda de um ungido

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[1] Grupos que tramavam a subversão na Igreja, entre elas: na eucaristia, no modo de vestir dentro da Igreja, na doutrina, etc. Uma denúncia destes dois grupos está no livro de Plinio Corrêa de Oliveira, “Catolicismo” no. 220-221, Abril/Maio de 1969, "Grupos ocultos tramam a subversão na Igreja". Link: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/1969_220_221_CAT_IDOC_Grupos_Profeticos.htm
[2] Reunião do Santo do Dia, 13 de Novembro de 1970, Sexta-feira.
[3] Cerimônia, 25 de Dezembro de 1968, Quarta-feira.