Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças. Prova pela Sagrada Escritura, Papas, liturgias tradicionais da Igreja e Santos.

Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, rogai por nós!

Certos argumentos dados aqui exigem a noção de que Nossa Senhora foi a primeira a ver Nosso Senhor Ressuscitado. Para isso, veja o anterior deste capítulo:

Nossa Senhora dos Prazeres, a primeira pessoa a quem Jesus Cristo ressuscitado apareceu. Provas pela Escritura, Santos e tradições litúrgicas

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. III)".

 

Primeiro, apresentemos textos da Tradição Católica confirmando esta doutrina. Depois, tentaremos explicar com alguns raciocínios, sempre antepondo o julgamento da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, mestra da verdade.

Santo Efrém (+373)

"Com o mediador, você (Maria) é a Medianeira do mundo inteiro". "Dispensadora de todos os dons (...). Medianeira do mundo todo" [1]

S. Cirilo de Alexandria (+444)

Em um dos maiores sermões marianos da antiguidade, disse: "Ave Maria Theotokos (Mãe de Deus), venerável tesouro de todo o mundo (...) é por vós que a Santíssima Trindade é glorificada e adorada (...) por vós o tentador, o diabo é jogado fora do céu, por vós a criatura caída é elevada aos céus, por vós toda a criação, no passado aprisionada pela idolatria, alcançou o conhecimento da verdade, por vós o santo batismo chegou aos fiéis (...) por vós as nações são levadas a penitência (...)" [2].

S. Germano de Constantinopla (+733), S. Beda (+735), S. André de Creta (+740) e S. Anselmo citados pelo Pe. Garrigou-Lagrange

"A partir do oitavo século nós podemos citar o Venerável Beda [3]. S. André de Creta chama Maria Medianeira da graça, dispensadora e causa da vida [4]. S. Germano de Constantinopla diz que ninguém foi salvo sem a cooperação da Mãe de Deus [5]. O título de Medianeira é dado por S. João Damasceno também, que afirma que nós devemos a ela todos os benefícios conferidos a nós por Jesus [6]. No nono século encontramos S. Pedro Damião ensinando que nada é alcançado na obra da salvação sem ela [7]. O ensinamento de S. Anselmo [8], Eadmer, e de S. Bernardo no décimo segundo século é o mesmo” [9].

São João Damasceno (+749)

"Como Jacó viu uma escada unindo o céu e a terra (...), assim vós também, cumprindo o papel de Medianeira tornastes a escada que Deus desce até nós para que Ele possa assumir nossa natureza fraca e juntar e unir ela a Ele (...). Vós sois a fonte perene de verdadeira luz (...) a causa de todos os nossos bens (...) [do céu] vós abençoas todo o mundo, vós santificas o universo" [10]

S. Tarásio de Constantinopla (+806)

Chamou-a de “Medianeira de todos que estão debaixo do céu” [11]

São Boaventura (+1274)

"toda graça vem a nós por intervenção de Maria" [12]

S. Afonso Maria de Ligório (+1787) citando S. Gregório Taumaturgo (+270), S. Antonino (+625), S. Antônio (+1231), S. Pedro Damião (+1072), S. Alberto Magno (+1280), S. Bernardino de Siena (+1444) e Crisipo de Jerusalém e outros teólogos da Igreja.

"Tem, portanto, razão S. Antonino ao aplicar a Maria estas palavras da Sabedoria (7, 11): Juntamente com ela me vieram todos os bens. Já que Maria é a Mãe e a dispensadora de todos os bens, diz ele, bem se pode afirmar que todos os homens, especialmente os que vivem no mundo como devotos desta Soberana, justamente com a devoção de Maria adquiriram todos os bens" [13]

"A mesma coisa declara Santo Antônio. Todas as misericórdias dispensadas aos homens lhes têm vindo por meio de Maria.

É por isso Maria comparada à lua. Colocada entre o sol e a terra, a lua dá a esta o que recebe daquele, diz São Boaventura; do mesmo modo recebe Maria os influxos da graça para no-los transmitir aqui na terra.

Pelo mesmo motivo chama-lhe a Igreja “porta do Céu”. Como todo indulto do rei passa pela porta de seu palácio, observa São Bernardo, assim também graça nenhuma desce do céu à terra sem passar pelas mãos de Maria. Ajunta São Boaventura que Maria é chamada porta do céu porque ninguém pode entrar no céu, senão pela porta que é Maria.

Nesse sentimento confirma-nos São Jerônimo no sermão da Assunção, que vem inserido nas suas obras. Nele lemos que em Jesus Cristo reside a plenitude da graça, como na cabeça, de onde se transfunde para nós, que somos seus membros, o vivificador espírito dos auxílios divinos necessários à nossa salvação. Em Maria reside a mesma plenitude como no pescoço, pelo qual passa esse espírito para comunicar-se ao resto do corpo. Com cores mais vivas dá São Bernardo o mesmo pensamento: Por meio de Maria transmitem-se aos fiéis, que são o corpo místico de Jesus Cristo, todas as graças da vida espiritual emanadas de Jesus Cristo, que lhes é cabeça. E com as seguintes palavras procura confirmar isto: Tendo-se Deus dignado habitar no ventre desta Virgem Santíssima, adquiriu ela uma certa jurisdição sobre todas as graças: porque, saindo Jesus Cristo do seu ventre sacrossanto, dele saíram juntamente como de um oceano celeste todos os rios das divinas dádivas. Escrevendo com maior clareza ainda, diz o Santo: A partir do momento que esta Virgem Mãe concebeu em seu ventre o Divino Verbo, adquiriu, por assim dizer, um direito especial sobre os dons que nos provêm do Espírito Santo, de tal modo que criatura alguma recebe graças de Deus, senão por mãos de Maria" [14].

“Acertadamente, portanto, chamam esta divina Mãe de tesouro, de tesoureira e de dispensadora das divinas mercês. Lembremos aqui Raimundo Jordão, Abade de Celes, S. Pedro Damião, S. Alberto Magno, S. Bernardino e Crisipo de Jerusalém, escritor grego que é citado por Petávio. O mesmo lemos nas Homilias sobre Maria, entre os escritos de S. Gregório Taumaturgo: É a Virgem chamada cheia de graça porque nela está oculto todo o tesouro das graças. Segundo Ricardo de S. Lourenço, Deus depositou em Maria, como num erário de misericórdia, todos os dons da graça e desse tesouro enriquece aos que o servem” [15]

S. Luís Maria Grignion de Montfort (+1716)

"Todos os dons virtudes e graças do Espírito Santo são distribuídos pelas mãos de Maria, a quem ela quer, quando quer, como quer, e quanto quer” [16].

Nas liturgias Orientais e Ocidentais da Santa Igreja

Em um dos tropários da Liturgia Copta lemos que nossa salvação é assegurada "porque toda ajuda vem aos fiéis por Maria, a Mãe de Deus" [17]. A liturgia Armena tem a seguinte prece: "Jubile-se, ó Mãe de Deus, trono da salvação e esperança da raça humana, medianeira da graça e da lei" [18]. A liturgia Caldaica tem esta bela oração: "Ó Rainha das rainhas, toda rica, enriqueça seus servos com benefícios, ó Mãe do Altíssimo. Pois Ele a fez dispensadora de seus tesouros e Rainha universal. É nesse seio que Ele colocou todos os Seus tesouros, e nele Ele juntou todas as graças como em um mar, e Ele fez vós a fonte de vida para os mortais (...)" [19]. Uma prece no liturgia Siríaca diz: "Como eu posso louvá-la devidamente, ó mais casta entre as virgens ? Pois vós somente entre os homens é toda santa, e vós concedes a todos toda a ajuda e graça que eles precisam" [20]

No Ocidente, em 1921, uma festa em honra a "Maria, Medianeira de todas as graças" foi autorizada pelo Vaticano para ser celebrada na Bélgica. Nos Missais Antigos ela figurava como "missa para alguns lugares" (Missae pro aliquibus locis) [21].

Bento XIV

Chamou-a de "fonte celeste que traz aos corações dos miseráveis mortais todos os dons e graças de Deus" [22].

Pio VII

Chamou-a de "dispensadora de todas as graças (gratiarum omnium dispensatricem)" [23].

Leão XIII

"Por consequência, pode-se com toda verdade e rigor afirmar que, por divina disposição, nada nos pode ser comunicado, do imenso tesouro da graça de Cristo - sabe-se que "a glória e a verdade vieram de Jesus Cristo" (Jo 1, 17), - senão por meio de Maria. De modo que, assim como ninguém pode achegar-se ao Pai Supremo senão por meio do Filho, assim também, ordinariamente, ninguém pode achegar-se a Cristo senão por meio de sua Mãe" [24]

S. Pio X citando Pio IX

"Em consequência dessa comunhão de sentimentos e de dores entre Maria e Jesus, a Virgem fez jus ao mérito de se tornar legitimamente a reparadora da humanidade decaída (Eadmeri Mon., De Excellentia Virginis Mariæ,c. IX) e, portanto, dispensadora de todos os tesouros que Jesus nos adquiriu por sua morte e por seu sangue (...).

Contudo, em vista dessa comunhão de dores e de angústia, já mencionada, entre a Mãe e o Filho, foi concedido à Virgem o ser, junto do Filho unigênito, a medianeira poderosíssima e advogada de todo o mundo (Pio IX, Bula Ineffabilis)" [25]

Bento XV

"Ela deixou seu direitos de Mãe sobre seu Filho para conseguir a salvação da humanidade e para apaziguar a divina justiça, ela, ao máximo que pode, imolou seu Filho, para que se possa realmente afirmar que junto com Cristo ela redimiu a raça humana. Mas se por esta razão, todo o tipo de graça nós recebemos do tesouro da redenção é ministrado como se fosse pelas mãos da mesma dolorosa Virgem, todo mundo pode ver que uma santa morte poderia ser esperada dela, visto que é precisamente por esse dom que o trabalho da redenção é efetivamente e permanentemente completado em cada um (...)" [26].

Pio XI

“Convidamos a todos os fiéis para conosco agradecerem a Deus por termos recuperado a saúde. Como em outra parte já havemos dito, atribuímos essa graça à intercessão de Santa Teresinha do Menino Jesus, mas sabemos também que tudo quanto nos vem de Deus, o recebemos das mãos de Maria Santíssima” [27]

Pio XII

" (...). sendo associada, como Mãe e Ministra, com o Rei dos Mártires, no inefável trabalho da Redenção humana, ela é sempre associada, com um poder praticamente incomensurável, na distribuição das graças que derivam da Redenção (...) E o reino dela é tão vasto quanto o de seu Filho e Deus, dado que nada é excluído de seu domínio" [28].

- Explanação sujeita à censura eclesiástica

Esta interpretação parte do seguinte pressuposto: a Virgem Maria nasceu sem pecado original e assim faleceu.


"Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galileia, e achava-se ali a mãe de Jesus. Também foram convidados Jesus e os seus discípulos. Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles já não têm vinho. Respondeu-lhe Jesus: Mulher, que nos importa a mim e a ti isso? Ainda não chegou a minha hora. Disse a sua mãe aos serventes: Fazei o que ele vos disser. Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas. Disse-lhes Jesus: Enchei as talhas de água. Eles encheram-nas até em cima. Então disse-lhes Jesus: Tirai agora, e levai ao chefe dos serventes. E levaram. Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois tinham tirado a água), chamou o noivo e disse-lhe: É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já tem bebido bem, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora. Este foi o primeiro milagre de Jesus" S. João II, 1-11. 

A afirmação "minha hora não chegou" é uma estipulação Divina prévia, e a mediação de Nossa Senhora, ou o seu pedido de intervenção, mostrou seu direito Divino de intervir na missão de Cristo na terra, o que não lhe seria dado se não fosse por Deus. Ela sabia disso pelo simples fato de que se não soubesse estaria tentando a Deus ao querer que sua missão comece, apesar do que a providência estipulou. Não O tentou porque equivaleria a dizer que Nosso Senhor caiu em tentação, o que é absurdo, pois Ele fez o milagre pedido. A Imaculada Conceição também torna absurdo outra interpretação, pois: 1 - Tentar alguém é pecado, 2 - Sua inteligência funcionava de modo muito perfeito e unido a Deus, por isso, o pedido dEla não foi um erro de cálculo ou um pedido extravagante.

Além disso, o fato do primeiro milagre ter ocorrido em uma festa de bodas simples, e não em nenhum evento específico de magna importância para a salvação dos homens, mostra que a poder de Nossa Senhora alcança os menores detalhes. Seria uma diminuição da dignidade da Missão do Salvador começar por um milagre tão simples em um evento mundano, se não fosse um pedido de Sua Mãe, e a confirmação dEla como Medianeira de todas as graças, mesmo as menores, isto é, as não diretamente relacionadas com a salvação. No capítulo IV mostramos como esse evento, mundano em um primeiro olhar, simbolicamente analisado era muito importante. 
 
"Jesus vendo sua Mãe e junto dela o discípulo que ele amava, disse a sua Mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua Mãe. E desta hora por diante, a levou o discípulo para sua casa" S. João XIX, 26-27.

Santo Afonso, em perfeita exegese, diz que o apóstolo S. João recebeu a ordem, como discípulo, de tomar Nossa Senhora como sua Mãe, ou seja, foi o exemplo de verdadeiro discípulo de Nosso Senhor. Deus não instituiria Sua Mãe como Mãe de todos os discípulos, inclusive do discípulo "mais amado", se ela não estivesse confirmada na prática das virtudes, se não fosse Medianeira de todas as graças, e se não tivesse o direito de ser venerada. A Lei de Deus manda honrar pai e mãe.

Sua virtude confirmada se prova não só por ser Imaculada, mas pelo fato de que se Nosso Senhor nomeou-a Mãe dos Apóstolos, o que poderia contradizê-Lo? Se tivesse perdido o posto depois, não teria desmerecido as palavras divinas? Não teria a Escritura falhado em avisar isso também? Se sim, Deus falhou, o que é absurdo.

Então, a mediação de todas as graças vem dessa Mãe que engendra, porque toda Mãe é aquela que engendra. Não podendo ser Mãe biológica de todo gênero humano, Maria Santíssima é Mãe espiritual, pois engendra espiritualmente os seus filhos. É nesse sentido que deve ser tomada a palavra de Deus acima para este contexto. Por isso, a devoção mariana é bem explicitada nesse mesmo versículo em virtude do preceito Divino: "honrar pai e mãe". 

Além disso, a Escritura atesta que, "daquela hora em diante, o discípulo a levou para sua casa", porém, é claro que Nossa Senhora ainda ficou junto à Cruz até descer o Corpo Divino de seu Filho e, pode-se pensar piedosamente, junto das Santas Mulheres acompanhou o sepultamento, e o Corpo de Cristo até o último momento em que puderam vê-Lo, quando a pedra foi colocada no sepulcro pelos romanos. Como não podemos pensar em erro histórico ou temporal do Espírito Santo nas Sagradas Letras, deve-se focar em outros sentidos para esse versículo. Um é a Tradição: S. João realmente morou junto de Nossa Senhora, mais especificamente em Éfeso, na atual Turquia, não muito longe da ilha de Patmos, onde recebeu a revelação do Apocalipse. Portanto, desta frase sagrada, ele entendeu a necessidade de cumprir tal desígnio Divino. Em outra dimensão exegética do versículo, o verdadeiro discípulo de Nosso Senhor deve levar a Mãe de Deus para perto de si, para a sua alma, e sendo Nossa Senhora sua Mãe, vai servi-lo e cuidá-lo, como cuidou de S. João na Turquia. Trazer a Virgem Santíssima para a sua residência é trazê-la para junto de si, levá-la para mais perto da onde reside Nosso Senhor sob a aparência de pão quando comungamos, porque é junto dEla que Deus Encarnado quis estar primeiramente.

"Então, abriu no céu o templo de Deus, apareceu a arca do seu testamento, no seu templo, sobrevieram relâmpagos, vozes, um terremoto e uma grande chuva de pedra" Ap XI, 19

"Depois apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo de seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. Estava grávida, e clamava com dores de parto e sofria tormentos para dar à luz (...). Ora, ela deu à luz um filho varão, que havia de reger todas as gentes com vara de ferro, e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono" Ap XII, 1-2, 5.

No livro profético do Novo Testamento, a Mãe de Deus claramente aparece como a mulher grávida que gera um varão que vai reger todas as nações. E aparece coroada com a coroa de doze estrelas. A coroa representa a realeza e domínio da Mãe de Deus, por ser a Mãe do Salvador, que "foi arrebatado para Deus e para o seu trono", e também representa a Mediação Universal de Todas as Graças, visto que o número doze, numericamente falando, de acordo com o simbolismo dos números na Escritura, é o número da totalidade do povo de Deus, como era a totalidade nas doze tribos de Israel. Os profetas também anunciaram o retorno das tribos perdidas, e a conversão do mundo todo simultaneamente, por causa do sentido que foi dado para essas tribos por Deus: elas regeriam todo o Orbe. Ora, nunca houve o retorno das tribos até mesmo depois da morte de Nosso Senhor, como vemos no primeiro versículo da Carta de S. Tiago Apóstolo, e o povo judaico foi dispersado com a destruição do segundo templo. Portanto, como mostrado em artigo específico neste capítulo III, o retorno das tribos à Israel simbolizava um momento de plena conquista da Fé Católica no mundo, pois as tribos representam a totalidade dos homens. Por conseguinte, a coroa de doze estrelas evidencia o reinado da Virgem Maria sobre os homens. A coroa está "no céu", pois ela é Medianeira Universal de todas as graças.

Nota-se outro sentido para a passagem "lua debaixo dos pés": é o mundo sublunar, onde existe a vida, conforme os filósofos antigos. Nossa Senhora está acima desse mundo. O Sol pode significar o milagre do Sol em Fátima, ou a própria Santa Igreja, Sol para todo o planeta, sendo a luz da fé e da verdade. Então, a Virgem Maria está revestida da Igreja, de quem é Mãe. Em outro sentido, revestida do Corpo de Nosso Senhor, que é Corpo Místico da Igreja, porque a carne Dele veio dEla, em união ao Espírito Santo.

Suas dores de parto parecem refutar a Imaculada Conceição, visto que as dores no parto, conforme o livro do Gênesis, representam os danos do pecado original. Ora, Nossa Senhora também chora e sofre ao parir (espiritualmente) novos membros do Corpo de Cristo. Esse recurso simbólico é recorrente, pois o dragão, ali mencionado, quer devorar o Filho dEla, porém, é óbvio que Nosso Senhor não pode ser literalmente devorado. Também o contexto da visão não significa uma perseguição do diabo ao Messias em vida, já ocorrida no Evangelho. Provavelmente significa o povo de Deus em alguma época histórica de perseguição religiosa, referida pela profecia também, porém, fora do escopo deste artigo.

Prova pela relação dos eventos evangélicos com Maria Santíssima

Todos os principais milagres que Nosso Senhor fez, e que eram relacionados diretamente com o universo, isto é, aqueles milagres relacionados diretamente com o que aconteceu com o gênero humano, tiveram Maria Santíssima em primeiro plano. Vejamos:

A Encarnação do Verbo, que veio para redimir a humanidade, foi no seio da Virgem Maria. O convívio de Deus Filho junto aos homens na terra (tempo em que Ele viveu como um homem comum) se deu na casa de Sua Mãe. Seu primeiro milagre público em prol dos homens foi por intervenção de Nossa Senhora. Sua paixão, pela qual o gênero humano foi redimido, se deu na presença dEla, que foi, nessa paixão, decretada Mãe de todos os discípulos cristãos, como dito. Sua ressurreição também teve a Virgem Maria como testemunha, como argumentado. Em Pentecostes, conforme prometido por Jesus Cristo, o Espírito Santo iniciou a ação pública da Santa Igreja, assim como A fortaleceu para ser servidora de todos os homens. Ali Nossa Senhora estava presente também.

Portanto, o desígnio da Providência e ordem das Sagradas Letras é mais que um sinal para colocarmos Nossa Senhora em posição de destaque, quando a ação de Deus vem em prol de todos os homens, que se dá em virtude de sua Mediação Universal. Nenhuma graça passa aos homens, senão pelas mãos virginais de Nossa Senhora. A palavra de Deus atesta isso.

Ademais, o paralelo entre Maria e Eva, voz corrente na mariologia, é impressionante: Eva trouxe a morte a todos os homens que nasceram dela (toda a raça humana), já a Virgem Maria trouxe a vida à todos os homens que, não podendo nascer dEla materialmente, nasceram de novo por meio de Nosso Senhor, seu filho. Se toda a morte tem causa primeira em Eva, toda a vida ganha, através da Igreja, tem causa primeira em Maria. Portanto, Nossa Senhora é Medianeira natural do povo de Deus.

Próximo deste capítulo: Bíblia, Papas, Santos e Teólogos afirmam que Maria é Co-Redentora


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[1] "Syri opera graeca et latine", ed., Assemani, v. 3, Romae, pp. 525, 528-9, 532 
[2] Hom. Deiparam, PG 65, p.681
[3] homil. I na fest. Annunc. e hom. I na fest. Visit.; P.L., t. XCIV, col. 91, 16
[4] Em Nativit. B. M. , hom. Iv, e em Dormit. S.M., III; P.G.. t. XCVII, cols. 813 and 1108
[5] Em dormit. B.M., P.G., t. XCVIII, c. 349
[6] Em dormit. B.M., hom. 1, 3, 8, 12; 11, 16; P.G., t. XCVI, cols. 705, 713, 717, 744
[7] Serm. 15; P.L. . t. CXLIV, cols. 741, 743
[8] Orat. 47, 52; PL, t. CLVIII, cols. 741, 743
[9] Frei Garrigou-Lagrange, La Mère du Sauveur et notre vie intérieure, pg.175 
[10] Homilia 1 Sobre a Dormição da Bem-Aventurada Virgem Maria, 8, PG 96, 712bc-713a. e 716c, 717a
[11] Em SS. Deiparae Praesentionem. PG 98, 1499
[12] Opera Omnia, Vol.IX, p.641a
[13] Glórias de Maria, Parte I, Cap.III, item 2
[14] Glórias de Maria, Parte 1, cap. V, item 4
[15] Glórias de Maria, parte 2, tratado I, capítulo V, ponto primeiro, item 2
[16] Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Santíssima, no.141
[17] Armand J. Robischaud, S.M., "Mary, Dispensatrix of All Graces," pg. 438.
[18] Robischaud, pg. 438. 
[19] Robischaud, pgs. 436‑439.
[20] D. Attwater, Prayers from the Eastern Liturgy (London, 1931), p. 20.
[21] Mark Miravilla (editor), 2008, Mariology: A Guide for Priests, Deacons, Seminarians, and Consecrated Persons, pg.448
[22] 27 de Setembro de 1748, Bula "Gloriosae Dominae"
[23] Pio VII, Ampliatio previlegiorum ecclesiae B.M. Virginis ab angelo salutatae in cenobio Fratrum Ordinis Servorum B.M.V. Florentiae, A.D., 1806, #1, in J.J.Bourassé, Summa Aurea de laudibus Beatissimae Virginis Mariae, Dei Genitricis sine labe conceptae...,Tomus VII, Paris 1862, col.546 
[24] 22 de Setembro de 1891, Octobri Mense, no.12, Leão XIII 
[25] 2 de Fevereiro de 1904, Ad Diem Illum, item 8, 9
[26] 22 de Março de 1918, Litterae Apostolicae, Inter Sodalicia, AAS 10, 1918, 182:
[27] Ingravescentibus Malis, 29 de setembro de 1937, no.32, Pio XI
[28] 13 de Maio de 1946, Radio-menssagem para Fátima, "Bendito seja", AAS 38, 1946, 266