Nossa Senhora dos Prazeres, a primeira pessoa a quem Jesus Cristo ressuscitado apareceu. Provas pela Escritura, Santos e tradições litúrgicas

Nossa Senhora dos Prazeres, rogai por nós! 

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. III)".

Anterior deste capítulo: Hipótese Teológica sobre a eleição do Papa Santo

***

Maria, a Mãe de Deus, ou no seu título próprio, 
Nossa Senhora dos Prazeres, foi a primeira pessoa a quem Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitado apareceu.

Verifiquemos primeiro através de autoridades da Tradição Católica, depois, por uma exegese bíblica.


- Tradição Católica

S. Ambrósio, S. Anselmo e outros citados pelo Pe. Cornélio A Lapide, S. J.

"Primeiro, Ele apareceu para Sua mãe, segundo S. Ambrósio, S. Anselmo, e outros ensinam, e esta é a opinião comum dos Doutores e dos fiéis" [1].

Santo Afonso Maria de Ligório

"Era de justiça que Maria Santíssima, que mais do que qualquer outro tomou parte na Paixão de Jesus Cristo, fosse também a primeira a gozar da alegria da sua ressurreição. Imaginemos vê-la no momento em que lhe aparece o divino Redentor glorificado, acompanhado de grande multidão de Santos, entre os quais São José, São Joaquim e Santa Ana. Oh! Que ternos abraços! Que doces colóquios! Alegremo-nos com a nossa querida Mãe e digamos-lhe: Regina coeli, laetare, alleluia. “Rainha dos céus, alegrai-vos, aleluia!”.

I. Entre as muitas coisas que Jesus Cristo fez e os Evangelistas passaram em silêncio, deve, com certeza, ser contada a sua aparição a Maria Santíssima logo em seguida à sua ressurreição. Nem necessidade havia de referi-la, porquanto é evidente que o Senhor, que mandou honrar pais e mães, foi o primeiro a dar o exemplo, honrando sua Mãe com a sua presença visível. Demais, era de inteira justiça que o divino Redentor glorificado fosse, antes de mais ninguém, visitar a Santíssima Virgem; a fim de que, antes dos outros e mais do que estes, participasse da alegria da ressurreição quem mais do que os outros participara da paixão" [2].

Santo Inácio de Loyola

“A primeira contemplação. Como Cristo Nosso Senhor apareceu a Nossa Senhora” [3].


Liturgias Orientais

Entre os tropários da Ressurreição que a Liturgia Bizantina canta todos os domingos, o do sexto tom conservou também uma breve recordação do encontro de Jesus com Sua Mãe:

"Enquanto Maria estava diante do sepulcro
a procura de teu imaculado corpo,
os anjos apareceram em teu túmulo
e as sentinelas desfaleceram.
Sem ser vencido pela morte,
submeteste ao teu domínio o reino dos mortos,
e vieste ao encontro da Virgem revelando a Vida.
Senhor, que ressurgiste dos mortos, glória a Ti! "

Sagrada Escritura


Adendo da 3a edição: sem mudar o cerne do texto anterior, a defesa bíblica sobre a Virgem Maria ter sido a primeira a ver Nosso Senhor Ressuscitado foi reordenada, reescrita e corrigida.

Antes de tudo, exprimamos uma profunda submissão ao Papado e à Santa Igreja, cujo papel de Mestra da Verdade existe para a resolução de interpretações. Desta forma, imitamos Dom Duarte Leopoldo e Silva na “Concordância dos Santos Evangelhos”, notando também a dificuldade na concordância das narrações divinas da Ressurreição. “Uma gota no oceano”, ou melhor, no Mar de graças da Medianeira Universal, é o objetivo na interpretação seguinte. Pela alta estima a D. Duarte, e lamentando a prévia ignorância da sua importante obra antes desta edição, convém citá-lo como DLS, por brevidade.

- Resumo da tentativa de relato cronológico das primeiras 5 aparições de Nosso Senhor

Passado o sábado, no raiar do sol, quando era ainda escuro, tendo comprado e preparado aromas e bálsamos para o Corpo do Salvador, foram as Santas Mulheres ao Santo Sepulcro. As Santas mulheres eram: Maria (mulher de Cleófas e tia do Salvador), Maria Madalena, Maria Salomé (mulher de Zebedeu e mãe dos Santos Apóstolos Tiago e João), além de outras mulheres, dentre as quais estava Joana, pelo menos. Além destas, a Santa Mãe de Deus, que as seguia atrás. As Santas Mulheres, menos a Virgem Santíssima, "diziam entre si: Quem nos há de revolver a pedra da boca do sepulcro?" (S. Marcos XVI). Saindo, ouviram o terremoto. Ao se aproximarem e virem a pedra removida, S. Maria Madalena, sem entrar no sepulcro, voltou correndo para informar a S. Pedro e S. João, dizendo: “Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram" (S. João XX). Então, os três correram ao sepulcro.

Enquanto isso, as Santas Mulheres viram e ouviram o anjo no sepulcro. Não tendo entrado, Nossa Senhora dos Prazeres primeiro avistou o Salvador ressurrecto. O “grande gáudio”, relatado por S. Mateus, ao ver Nosso Salvador ressurrecto, define “Nossa Senhora dos Prazeres”.

No momento em que as Santas Mulheres fugiam dali, com medo, como relata o Evangelho, Nosso Senhor desapareceu e Maria Santíssima tentava acalmá-las, indo atrás. Iam em direção ao lugar dos Apóstolos e cruzaram com São João, na frente, São Pedro, atrás, e por último, S. Maria Madalena, de natureza feminina menos ágil. Esses, vendo o medo e confusão nas mulheres, correram mais diretamente ao sepulcro. Chegando lá, todos viram o sepulcro vazio e voltaram, porém, Maria Madalena ficou do lado de fora, chorando, e viu Nosso Senhor ressuscitado, como relata o Evangelho.

Em seguida, Ele apareceu para às Santas mulheres, quando ainda retornavam. Voltaram os dois Apóstolos do sepulcro para junto dos demais. Lá, ouviram as Santas Mulheres relatar a ressurreição, seguidas por S. Maria Madalena, que voltou do sepulcro testemunhando-a. Como São Pedro e São João tinham vindo do sepulcro também, e não haviam visto nada, não lhes davam crédito. Nossa Senhora neste momento provavelmente nada disse, por modéstia.

Confiante, São Pedro foi conferir o sepulcro novamente. Nosso Senhor apareceu-lhe nessa ocasião. Assim, a quinta aparição foi aos discípulos de Emaús, mas estes não receberam crédito primeiramente, porque São Pedro provavelmente não tinha contado aos discípulos que o Senhor lhe havia aparecido.

- Explicação de cada frase do resumo

Passado o sábado, no raiar do sol, quando era ainda escuro, tendo comprado e preparado aromas e bálsamos para o Corpo do Salvador, foram as Santas Mulheres ao Santo Sepulcro.

Elas “compraram e preparam aromas” porque S. Lucas XXIII: "prepararam aromas e bálsamos", e S. Marcos XVI: “Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para irem embalsamar Jesus".

Compraram e preparam, porque algumas podem ter comprado, outras preparado, ou ainda podem ter comprado e achando-o insuficiente, preparado algo para que oferecessem o melhor para o Salvador.

O resto desta parte consta na concordância de DLS.

As Santas Mulheres eram: Maria (mulher de Cleófas e tia do Salvador), Maria Madalena, Maria Salomé (mulher de Zebedeu e mãe dos santos Apóstolos Tiago e João), além de outras mulheres, dentre as quais estava Joana, pelo menos.


Assim como no Calvário estas foram as Santas Mulheres principais mencionadas, também elas madrugaram para ir ao Sepulcro.

A prova de que testemunharam o espetáculo doloroso da paixão vem de S. João XIX: "sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cleófas e Maria Madalena", e de S. Marcos XV: "e Salomé, as quais já o seguiam e serviam quando ele estava na Galiléia, e muitas outras, que, juntamente com ele, tinham subido a Jerusalém".

Isso não exclui outras acompanhantes das Santas Mulheres, conforme o já citado evangelista S. Marcos: "e muitas outras, que, juntamente com ele, tinham subido a Jerusalém" e, já no contexto da Ressurreição, S. Lucas XIV: “as que referiam estas coisas eram Maria Madalena, Joana, Maria (mãe) de Tiago, e as outras, que estavam com elas”.

Além destas, a Santa Mãe de Deus, que as seguia atrás.

A ausência de menção sua nas narrações da Ressurreição se resolve assim:

Pela fé da Mãe de Deus: quando as Santas Mulheres anunciaram aos Apóstolos a mensagem do anjo sobre a ressurreição, "estas palavras pareciam-lhes como que um delírio. Não lhes deram crédito" (S. Lucas XXIV). Não parece católico dizer que os Apóstolos, entre eles S. João, descreditaram a Virgem Mãe, dado a sua notável inteligência, que brotava de sua fé.

Pela esperança magnífica da Mãe de Deus, que a retirava do número das que "diziam entre si: Quem nos há de revolver a pedra da boca do sepulcro?" (S. Marcos XVI).

Pela caridade contínua da Mãe de Deus, pois de sua fé, que impedia que em si fosse "assaltado o temor e o pavor", não podia crescer uma caridade que levasse a não dizer "nada a ninguém pelo caminho" (S. Marcos XVI), caso das Santas Mulheres.

As Santas Mulheres, menos a Virgem Santíssima, "diziam entre si: Quem nos há de revolver a pedra da boca do sepulcro?" (S. Marcos XVI).

É católico imaginar como Maria Santíssima mantinha a fé das Santas Mulheres, dizendo que seu Filho havia ressuscitado, embora não repreendesse os aromas que traziam para embalsamar Seu Corpo, por ser aquilo um ato de piedade, mesmo sabendo que nenhum aroma era melhor do que o de Cristo ressuscitado. Apesar de garantidas pela Mãe de Deus que encontrariam o Salvador, "diziam entre si: Quem nos há de revolver a pedra da boca do sepulcro?" (S. Marcos XVI).

Saindo, ouviram o terremoto.

Conforme DLS põe como sequência do fato evangélico anterior. Talvez o terremoto no caminho as tenha tranquilizado sobre como conseguiriam encontrar o Senhor, conforme a Virgem Maria dizia.

O Santo Evangelho diz que, logo ao saírem as mulheres para o sepulcro, "eis que se deu um grande terremoto" (S. Mateus XXVIII), porque foi logo em seguida à saída das mulheres, e não quando estavam em frente ao sepulcro, pois ao chegarem lá, "encontram revolvida a pedra do sepulcro" (S. Lucas XXIV, S. Marcos XVI), "a qual era muito grande" (S. Marcos XVI).

Ao se aproximarem e virem a pedra removida, S. Maria Madalena, sem entrar no sepulcro, voltou correndo para informar a S. Pedro e S. João, dizendo: “Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram" (S. João XX). Então, ambos correram ao sepulcro.

Conforme sequência de Dom Duarte.

Não sabia onde O puseram, pois pensava que tinham-No roubado, já que não havia escutado o anjo dentro do sepulcro. Ao ver a pedra removida, invés de entrar no sepulcro, por ter se tornado obediente à Igreja após saída do pecado, foi rapidamente informar ao Papa S. Pedro e a S. João.

Enquanto isso, as Santas Mulheres viram e ouviram o anjo no sepulcro.

Sobre o anjo, sua fala e contexto, eis as hipóteses originais:

O anjo mais provavelmente era o Arcanjo S. Miguel, por ter vindo em grande força, removido o obstáculo para que a glória de Deus aparecesse, e aterrorizado os guardas, que eram militares, mas não da milícia celeste como S. Miguel. É este Arcanjo que abre o caminho para a ressurreição, como também se dará no fim do mundo, quando jogará Satanás, novamente, no inferno com o Anticristo, abrindo caminho para a ressurreição geral.

A Rainha dos Céus não estava, neste momento, dentre as Mulheres, pelas seguintes razões:

1 - Sua fé não permitia que estivesse dentre as “consternadas por isso”, isto é, a ausência do Corpo de Nosso Senhor, quando “apareceram junto delas dois homens com vestidos resplandecentes" (S. Lucas XXIV)

2 – Sua Imaculada confiança a tirava do número daquelas “medrosas e com os olhos no chão" (S. Lucas XXIV), ao ouvir o que o anjo dizia.

3 – Seu perfeito temor de Deus não a fazia temer situações, tendo que escutar do anjo: "Vós não temais" (S. Mateus XXVIII e S. Marcos XVI).

4 – Não convinha que um subordinado da Rainha dos Anjos se dirigisse sem reverência a sua Rainha, como aquele anjo falou às Santas Mulheres, razão pela qual ela não se encontra no meio destas naquele momento.

5 - A piedade angélica do anjo sentado na pedra, ao ver sua superiora, o obrigaria a fazer uma genuflexão diante dEla. Por isso, a Virgem Maria estava atrás das mulheres mais próximas do sepulcro, pois previa o mal-entendido com a genuflexão do Anjo diante de todas (Adendo da 3a edição: adicionamos que a noção de seu primado, aliada à sua humildade profunda, fez com que se mantivesse distante, não permitindo que isso se desse).

6 – Não estava entre as que ouviram o comando angélico: "Mas ide, dizei a seus discípulos" (S. Mateus XXVIII e S. Marcos XVI) "e a Pedro" (S. Marcos XVI), "que ele ressuscitou" (S. Mateus XXVIII), razão pela qual não era obrigada a confirmar as palavras das Santas Mulheres quando testemunhavam aos Apóstolos mais tarde, portanto, só às Santas Mulheres “não lhes deram crédito" (S. Lucas XXIV).

7 – Querendo confirmar os outros na fé, era quem estava "empurrando" as Santas Mulheres para olharem o sepulcro e, em seguida, o anjo.

Uma tentativa de resolução de detalhes do evento evangélico baseada em S. Mateus XXVIII, S. Lucas XXIV, S. Marcos XVI e S. João XX:

As mulheres, "entrando, não encontraram o corpo do Senhor Jesus. Aconteceu que, estando consternadas por isso, eis que apareceram junto delas dois homens com vestidos resplandecentes" (S. Lucas), e "viram um jovem sentado do lado direito, vestido de uma túnica branca, e ficaram assustadas" (S. Marcos), e "estando elas medrosas e com os olhos no chão" (S. Lucas), talvez porque acharam que eles O tinham levado, pois tinham uma aparência "como um relâmpago" (S. Mateus), espantando quem os encontrasse.

S. Marcos disse que viram o jovem sentado ao lado direito. A razão parece consistir nisso: não o reconheceram como anjo, assustaram-se e não se inclinaram ao sepulcro. Portanto, só notaram o anjo do lado direito, não vendo o da outra extremidade do sepulcro. Já Maria Madalena, quando voltou, "inclinou-se e olhou para o sepulcro" (S. João XX) e, por isso, "viu dois anjos vestidos de branco, sentados no lugar onde fora posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés" (S. João XX).

Então "disseram-lhes" (S. Lucas), isto é, os dois anjos disseram, embora S. Mateus diga que foi aquele que removeu a pedra, e S. Marcos, aquele que estava sentado do lado direito do sepulcro. Os Evangelistas põem assim para que, na harmonia dos textos, saibamos quais eram os dois. Parece que ouviram como se fosse um só, como uma voz de coral harmônico (embora não fosse absolutamente igual), razão do espanto das mulheres. Também é S. Marcos, sempre focado no lado mais palpável ou sensível do Evangelho, quem se atém ao que viram (túnica branca, etc), ouviram, e ressalta o medo: "não disseram nada a ninguém pelo caminho, tal era o medo que tinham" (S. Marcos). Já S. Mateus: "foram correndo dar a nova aos discípulos" (S. Mateus), porque se foca no que não foi visto, mas ouvido, isto é, o testemunho daquele anjo, crido com fé. Eis um sentido para a ordem desses versículos, conforme acreditamos.

A concordância seguinte, já sustentada por DLS também, estava desde a primeira edição aqui (S. Lucas XXIV, S. Mateus XXVIII, S. Marcos XVI):

"Vós não temais, buscais a Jesus Nazareno que foi crucificado" (S. Mateus, S. Marcos). "Por que buscais entre os mortos o que está vivo? Ele não está aqui, ressuscitou" (S. Lucas), "como tinha dito" (S. Mateus): "Lembrai-vos do que ele vos disse, quando estava na Galiléia: Importa que o Filho do homem seja entregue nas mãos dos homens pecadores, seja crucificado, ressuscite ao terceiro dia" (S. Lucas). "Vinde e vede o lugar, onde o Senhor esteve depositado" (S. Mateus, S. Marcos). "Mas ide, dizei a seus discípulos" (S. Mateus, S. Marcos) "e a Pedro" (S. Marcos), "que ele ressuscitou" (S. Mateus), "que ele vai adiante de vós para a Galiléia" (S. Mateus, S. Marcos), "lá o vereis, como ele vos disse" (S. Marcos). "Eis que eu vo-lo disse antes" (S. Mateus).

Não tendo entrado, Nossa Senhora dos Prazeres primeiro avistou o Salvador ressurrecto

Respondendo objeções comuns contra Nossa Senhora dos Prazeres, a primeira que avistou o Salvador ressurrecto:

Assim como a Ressurreição do Salvador representa a vitória sobre o pecado, a primeira aparição mencionada foi a uma pecadora e, por isso, “apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios" (S. Marcos XVI).

Assim como a primeira transgressora Eva é narrada como a primeira a ver o pecado e a morte (suas filhas podiam ter visto antes), aquela citada como primeira testemunha da Ressurreição e da Vida foi uma transgressora arrependida “da qual tinha expulsado sete demônios" (S. Marcos XVI). Isto está conforme ao que São Beda expõe.

Assim como Maria Madalena, a pecadora "da qual saiu sete demônios", representava o sexo feminino que, vendo Nosso Senhor ressuscitado, não carregaria mais o fardo perpétuo da culpa da transgressão entre os homens, nas palavras de S. Beda, ela precisava ser citada primeiro.

Assim como a Ressurreição do Salvador representa a vitória sob o pecado, a primeira aparição do Salvador devia ser a quem, via obra de Deus, nunca pecou e nunca passou pecado a Seu filho: a Virgem Maria.

Assim como uma mulher nascida sem pecado foi a primeira a testemunhar o pecado, também a mulher nascida sem pecado viu a vitória sob o pecado.

Assim como a aparição do Salvador ao sexo feminino indica que este não carregaria mais o fardo perpétuo da culpa da transgressão entre os homens, a primeira mulher a ver Nosso Senhor foi aquela que O ajudou a carregar o fardo, mais do que S. Paulo em: "Eu que, agora, me alegro nos sofrimentos por vós e que completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu corpo, que é a Igreja" Col I, 24.

O “grande gáudio”, relatado por S. Mateus, ao ver Nosso Salvador ressurrecto, define “Nossa Senhora dos Prazeres”.

Cremos também que foi ali, na entrada do local do sepulcro, onde Nosso Senhor apareceu pela primeira vez ressuscitado para alguém: Sua Mãe. Enquanto as Santas Mulheres ouviam os anjos no lugar do sepulcro, a Rainha dos Anjos, não tendo entrado, viu o anjo removedor da pedra, o Arcanjo S. Miguel, lhe fazer uma genuflexão, seguido pelos outros dois anjos dali (provavelmente S. Gabriel na direita e S. Rafael na outra ponta), o querubim com a espada de fogo que guarda a entrada do paraíso, outros possíveis anjos e, por fim, os patriarcas, profetas e todos os justos de outrora. Todos se ajoelharam diante dEla, e Nosso Senhor apareceu Ressurrecto, e foi o único a ficar de pé, e a Virgem Santíssima, ajoelhando-se diante Dele, adorou-O. Nosso Senhor a levantou e trocaram um olhar inenarrável. Neste momento, a Mãe de Deus já estava com o "grande gáudio" relatado por S. Mateus XXVIII [Et exierunt cito de monumento cum timore et gaudio magno]. Mesmo pretendendo dizê-lo às outras, sua humildade obediente a fez se calar, pois não havia recebido ordem alguma para isso, e Nosso Senhor desapareceu. Eis uma conjectura piedosa.

Nosso Senhor desapareceu quando as Santas Mulheres fugiam, “com medo” segundo o mesmo Evangelho, do sepulcro. A Rainha dos Céus tentava acalmá-las, indo atrás.

"Saíram logo do sepulcro com medo e grande gáudio e foram correndo dar a nova aos discípulos" (S. Mateus XXVIII). O "grande gáudio" era o de Maria Santíssima, cheia de motivos para afirmar a ressurreição do Senhor, e o "medo", das mulheres. Explica-se assim a distinção do Evangelista.

Iam em direção ao lugar dos Apóstolos e cruzaram com São João, na frente, São Pedro, atrás, e por último, S. Maria Madalena, de natureza feminina menos ágil.

Pelo medo, e por não terem-No visto, como a Virgem Maria, "fugiram; porque as tinha assaltado o temor e o pavor, e não disseram nada a ninguém pelo caminho, tal era o medo que tinham" (S. Marcos XVI). Ora, para quem não falaram nada? Aos Apóstolos que disparavam ao sepulcro. Na frente, S. João, que "corria mais do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro" (S. João XX), e mais atrás, S. Maria Madalena. Por isso, “não disseram nada a ninguém pelo caminho”. Deveriam ter dito, conforme o pedido angélico.

Esses, vendo o medo e confusão nas mulheres, correram mais diretamente ao sepulcro.

Como as mulheres fugiam e, em sentido inverso, corriam os dois Apóstolos, o encontro entre ambos foi rápido, ou pelo menos visual. Provavelmente Nossa Senhora estava mais atrás, pois as mulheres "fugiram" (S. Marcos XVI), ou seja, fugiram também da Virgem Maria. É mais provável que as mulheres tenham visto os Apóstolos, e os Apóstolos, vendo o estado de temor e fuga de quem voltava do sepulcro, seguiram mais rápido ainda ao sepulcro, presumindo que lá acontecia algo de urgente. Não pararam vendo a Mãe de Deus, visto que ela provavelmente ia atrás das outras, tentando acalmá-las. Com isso, talvez tivessem tido mais urgência em ir ao sepulcro.

Chegando lá, todos viram o sepulcro vazio e voltaram, porém, Maria Madalena ficou do lado de fora, chorando, e viu Nosso Senhor ressuscitado, como relata o Evangelho.

Conforme DLS, S. Pedro e S. João examinaram o sepulcro. Maria Madalena chegou um pouco depois. Porém, não viram ninguém, nem os anjos, nem Nosso Senhor "Com efeito, ainda não entendiam a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos. Voltaram, pois, outra vez os discípulos para sua casa" (S. João XX).

Saíram, contudo "Maria Madalena conservava-se da parte de fora do sepulcro, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se e olhou para o sepulcro, e viu dois anjos vestidos de branco, sentados no lugar onde fora posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Eles disseram-lhe: Mulher, por que choras? Respondeu-lhes: Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram. Ditas estas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus: de pé, mas não sabia que era Jesus. Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela julgando que era o hortelão, disse-lhe: Se tu o levaste, dize-me onde o puseste: eu irei buscá-lo. Disse-he Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe em hebraico: Rabouni! (que quer dizer Mestre). Disse-lhe Jesus: Não me toques, porque ainda não subi para meu Pai; mas vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Foi Maria Madalena dar a nova aos discípulos" (S. João XX).

Em seguida, Ele apareceu para às Santas mulheres, quando ainda retornavam.

No momento em que os dois grupos se cruzaram, Nossa Senhora não pôde dizer aos apóstolos por tentar acalmá-las. Identifica-se um simbolismo aqui: Maria Santíssima esgota suas forças para alcançar a ressurreição (representado pela aparição de Cristo) aos homens (representado pelas mulheres), do mesmo modo em que se esgotará todo conhecimento que se tem sobre ela no fim dos tempos [4]. Então, virá a ressurreição. Assim, nesse momento, "eis que Jesus lhe saiu ao encontro, dizendo: Deus vos salve. Elas aproximaram-se, abraçaram os seus pés e prostraram-se diante dele. Então disse-lhes Jesus: Não temais; ide, avisai meus irmãos, para que vão à Galiléia, lá me verão" (S. Mateus XXVIII). "Então lembraram-se elas das suas palavras" (S. Lucas XXIV).

Voltaram os dois Apóstolos do sepulcro para junto dos demais.

DLS relata como S. Maria Madalena, por suas lágrimas copiosas de fora do sepulcro, recebeu a primeira aparição de Cristo à humanidade pecadora.

Lá, ouviram as Santas Mulheres relatar a ressurreição, seguidas por S. Maria Madalena, que voltou do sepulcro testemunhando-a. Como São Pedro e São João tinham vindo do sepulcro também, e não haviam visto nada, não lhes davam crédito. Nossa Senhora neste momento provavelmente nada disse, por modéstia.

As outras mulheres, "tendo voltado do sepulcro, contaram todas estas coisas aos onze e a todos os outros. As que referiam aos apóstolos estas coisas eram Maria Madalena, Joana, Maria mãe de Tiago, e as outras, que estavam com elas. Mas estas palavras pareciam-lhes como que um delírio. Não lhes deram crédito" (S. Lucas XXIV). Não lhes deram crédito porque há pouco ouviram que o Corpo de Cristo havia sido levado. Não lhe deram crédito, porque antes o chefe da Igreja S. Pedro tinha chegado, e relatado a ausência de Cristo Ressuscitado, e sequer de Corpo. Relatou ter cruzado com as outras na ida ao sepulcro, que nada disseram. Por fim, não lhe deram crédito porque eles, "os quais estavam aflitos e chorosos" (S. Mateus XXVIII), tinham pouca fé.

Ora, se Nossa Senhora estava entre essas mulheres, como não lhes deram crédito? Provavelmente rejeitaram só o testemunho das que relataram, ou o testemunho de S. Maria Madalena por ter sido pecadora no passado, já que "tendo eles ouvido que ele estava vivo, e que fora visto por ela, não acreditaram" (S. Mateus XXVIII), ou simplesmente por serem todas mulheres (Adendo da 3a edição: antes acreditávamos ser possível que os Apóstolos não tivessem considerado a palavra da Mãe de Deus. Meditando melhor na devoção da Igreja à Virgem Maria e na sua humildade profunda já citada, o seu silêncio era mais provável).

De fato, os Santos Apóstolos, ouvindo os discípulos de Emaús relatar a ressurreição, "nem a estes deram crédito" (S. Marcos XVI, 13). Porém, após S. Pedro dar seu testemunho, disseram: "na verdade o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão" (S. Lucas XXIV), ou seja, só creram por causa de S. Pedro. Mais um episódio da influência do Papa S. Pedro, àquele que Nosso Senhor falou: "uma vez convertido, confirma teus irmãos" (S. Lucas XXII).

Confiante, São Pedro foi conferir o sepulcro novamente. Nosso Senhor apareceu-lhe nessa ocasião. Assim, a quinta aparição foi aos discípulos de Emaús, mas estes não receberam crédito primeiramente, porque São Pedro ainda não tinha contado aos discípulos sobre tê-Lo visto.

A segunda ida de S. Pedro ao sepulcro se defende assim:

"Todavia Pedro, levantando-se" (S. Lucas XXIV), talvez por estar cansado da corrida até lá e sua volta, "correu ao sepulcro, e, inclinando-se, viu só os lençóis por terra" (S. Lucas XXIV). E foi sozinho desta vez, visto que na primeira vez não viu só os lençóis, mas "os lençóis postos no chão, e o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus, o qual não estava com os lençóis, mas dobrado num lugar à parte" (S. João XX). Foi assim que passou a ter fé, "e retirou-se, admirando consigo mesmo o que sucedera" (S. Lucas XXIV). As duas idas também são evidenciadas pela incongruência nos Evangelhos. Em S. Lucas, mostra fé, mas não na primeira, relatada no Evangelho de S. João XX: "Com efeito, ainda não entendiam a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos".

Ao se retirar de lá, “admirado”, no mesmo lugar onde Ele apareceu primeiro para Sua Mãe, depois à Maria Madalena, hipotetizamos que lhe apareceu Nosso Senhor. Talvez ali tenha ouvido as mesmas palavras divinas antes ouvidas: "confirma teus irmãos".

***

Objeção final: S. Mateus XXVIII fala somente de duas mulheres indo ao sepulcro, invés das Santas Mulheres.  

S. Mateus, dando preferência ao que é crido, diz: "foi Maria Madalena e a outra Maria visitar o sepulcro", colocando em a “outra Maria” as Santas Mulheres que não tiveram o mesmo ânimo de S. Maria Madalena.

Em “a outra”, por causa do respeito devido não só à Mãe, como à Mãe de Deus, não poderia figurar a Rainha dos Anjos. Parece-nos mais crível a hipótese de que a Escritura não a chamaria de “a outra”, o que mesmo à época podia indicar uma menor importância para a Rainha dos Céus e da Terra. Já as Santas Mulheres mereciam esse tratamento naquele momento, por não terem testemunhado as palavras do anjo no caminho.

Se o Santo Evangelista quis separar duas atitudes católicas neste evento, persiste a dúvida sobre a não citação da terceira. Tentativas de resposta para essa ausência: 1 – Para possibilitar encontrá-la na concordância dos Evangelhos, algo que só um católico como Dom Duarte poderia fazer. 2 – Por brevidade harmônica misteriosa do Espírito Santo, pois se tudo fosse escrito, “não caberia em todos os livros da terra”, S. João XXI. 3 – Para que se achasse a resposta através de meditações sobre a grandeza da Mãe de Deus, como objetivado aqui.

Próximo deste capítulo:
Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças. Prova pela Sagrada Escritura, Papas, liturgias tradicionais da Igreja e Santos

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[1] Comentário nas Escrituras, Evangelho de S.Mateus, Cap.28, 10
[2] Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 17-19.
[3] Exercícios Espirituais, 218
[4] Esta é a opinião de Plinio Corrêa de Oliveira, embora provavelmente fosse também de almas piedosas mais antigas