Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Volume II, 3a edição)".
Muitos dizem que direita e esquerda são termos inadequados, que não se deve usá-los, ou que se deve apoiar uma "terceira via", ou algo do gênero. Citam também a frase de São Paulo "não faça nada por partidarismo" (Fl II, 3) como se "direita e esquerda" fossem conceitos meramente partidários, de administração temporal e disputa passageira, e não de ideologia envolvendo uma cosmo-visão metafísica, a qual, segundo os textos a seguir, a da direita, bem entendida, é a da Igreja, e a da esquerda, a do Diabo.
A Cidade de Deus e a Cidade do Demônio.
Erram aqueles que recusam os conceitos de "direita e esquerda" por descontentamento com as encarnações atuais de direita ou esquerda. Eis a falha de raciocínio: recusar os conceitos por causa de falsas-direitas é o mesmo que recusar falar em "família", ou recusar aceitar uma só definição de família porque a sociedade neopagã diz que família também consiste em dois homens, ou duas mulheres e um homem, etc.
A luta católica é também por símbolos, é também contra a torre de babel que ainda se ergue nas nações.
Outra falha é a imediata queda em novo dualismo. Afinal, recusando "direita e esquerda", a pessoa se põe na chamada "terceira via", isto é, em um dualismo novo, visto que ainda subsiste a pergunta: quem garantirá que a terceira via também não é ou não será pervertida? Mais vale precisar o sentido de direita, como disse o eminente teólogo Garrigou-Lagrange, conforme visto abaixo. Não o fazendo, faz-se a vontade da Revolução, que deseja que sejamos confundidos em nova Babel, alienígenas a própria língua, para que sejamos nunca compreendidos, sempre exilados.
Se não escolhermos as definições dadas por Deus, de novo se repetirá a velha e trágica conversa: "A serpente disse à mulher: Vós de nenhum modo morrereis" Gn III, 4. Antes morrer a acreditar nos conceitos que Satanás quer impor para escravizar o mundo.
Sagrada Escritura
"Quando pois vier o Filho do homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então se sentará sobre o trono da sua majestade. Serão todas as gentes congregadas diante dele, o qual separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à esquerda" S. Mateus XXV, 31-33.
"Então, o rei dirá aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo," S. Mateus XXV, 34
"Então dirá também aos que estiverem à esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que foi preparado para o demônio e para os seus anjos" S. Mateus XXV, 41.
"Todas as coisas se acham aos pares, e uma oposta à outra, e nada fez que fosse incompleto" Eclo XLII, 25.
A destra na Escritura sempre foi a mais nobre:
"E disse ao pai: Não está assim bem, pai, visto que este é o primogênito, põe a tua direita sobre sua cabeça. Ele, porém, recusando, disse: Eu o sei, meu filho, eu o sei, este também será chefe de povos, e se multiplicará, mas seu irmão mais novo será maior do que ele, e a sua descendência se dilatará em nações" Gn XLVIII, 18-19.
Leão XIII (1878-1903) citando Santo Agostinho (354-430)
"1. O Gênero Humano, após sua miserável queda de Deus, o Criador e Doador dos dons celestes, "pela inveja do demônio," separou-se em duas partes diferentes e opostas, das quais uma resolutamente luta pela verdade e virtude, e a outra por aquelas coisas que são contrárias à virtude e à verdade. Uma é o reino de Deus na terra, especificamente, a verdadeira Igreja de Jesus Cristo; e aqueles que desejam em seus corações estar unidos a ela, de modo a receber a salvação, devem necessariamente servir a Deus e Seu único Filho com toda a sua mente e com um desejo completo. A outra é o reino de Satanás, em cuja possessão e controle estão todos e quaisquer que sigam o exemplo fatal de seu líder e de nossos primeiros pais, aqueles que se recusam a obedecer à lei divina e eterna, e que têm muitos objetivos próprios em desprezo a Deus, e também muitos objetivos contra Deus.
2. Este reino dividido Sto. Agostinho penetrantemente discerniu e descreveu ao modo de duas cidades, contrárias em suas leis porque lutando por objetivos contrários; e com sutil brevidade ele expressou a causa eficiente de cada uma nessas palavras: "Dois amores formaram duas cidades: o amor de si mesmo, atingindo até o desprezo de Deus, uma cidade terrena; e o amor de Deus, atingindo até o desprezo de si mesmo, uma cidade celestial" [1]. Em cada período do tempo uma tem estado em conflito com a outra, com uma variedade e multiplicidade de armas e de batalhas, embora nem sempre com igual ardor e assalto" [2].

"2° - Os Dois Partidos
A) O partido de Jesus e do mundo
7. Eis aqui, meus caros Confrades, eis aqui dois partidos que se defrotam todos os dias; o de Jesus Cristo e o do mundo.
O de nosso amável Salvador está à direita, em aclive, num caminho estreito e que assim cada vez se tornou devido à corrupção do mundo.
Caminha à frente o bom Mestre, os pés descalços, a cabeça coroada de espinhos, o corpo todo ensanguentado, e carregando uma pesada Cruz. Apenas algumas pessoas, e das mais corajosas, o seguem, porque sua voz tão delicada não se ouve no meio do tumulto do mundo; ou então, não se tem coragem para segui-lo em sua pobreza, suas dores, suas humilhações e suas outras cruzes, que necessariamente é preciso carregar, a seu serviço, todos os dias da vida.
8. À esquerda está o partido do mundo, ou do demônio, que é o mais numeroso, o mais signífico e o mais brilhante, pelo menos na aparência. Todos os indivíduos mais brilhantes correm para ele; apressam-se, apesar de serem os caminhos largos, mais largos, do que nunca em virtude das multidões que por eles passam como torrentes, e de estarem juncados de flores, marginados de prazeres e divertimentos, cobertos de ouro e de prata" [3].
Santo Inácio de Loyola (1491-1556)
"136 - QUARTO DIA
MEDITAÇÃO DAS DUAS BANDEIRAS UMA DE CRISTO, CHEFE SUPREMO E SENHOR DE TODOS NÓS, A OUTRA DE LÚCIFER, INIMIGO MORTAL DE NOSSA NATUREZA HUMANA
A oração preparatória habitual.
137 - O 1º preâmbulo é recordar a história. Será aqui como Cristo chama e quer a todos os homens sob a sua bandeira. E Lúcifer, ao contrário, debaixo da sua.
138 - O 2º preâmbulo é a composição do lugar. Será aqui ver um grande campo em toda aquela região de Jerusalém, onde o supremo chefe dos bons é Cristo, nosso Senhor. Outro campo, na região de Babilônia, onde o caudilho dos inimigos é Lúcifer" [4].
Frei Reginald Garrigou-Lagrange (1877-1964), O.P.
Em entrevista para o jornal "O Legionário", então dirigido por Plinio Corrêa de Oliveira:
"Pessoalmente, sou um homem de direita, e não vejo porque o haveria de esconder. Creio que muitos daqueles que se servem da fórmula citada, fazem uso dela porque abandonam a direita para se inclinar à esquerda, e querendo evitar um excesso, caem no excesso contrário como aconteceu em França nos últimos anos. Creio, também, que é preciso não confundir a verdadeira direita com as falsas direitas, que defendem uma ordem falsa e não a verdadeira.
Mas a direita verdadeira, que defende a ordem fundada sobre a justiça, parece ser um reflexo do que a Escritura chama a direita de Deus, quando diz que Cristo está sentado à direita do seu Pai e que os eleitos estarão à direita do Altíssimo" [5].
Plinio Corrêa de Oliveira (1970)
"Existem em todos os Parlamentos do mundo três posições: a direita, o centro e a esquerda. Essa classificação serve igualmente na opinião pública dos povos para qualificar as diversas correntes. Trata-se, portanto, de um fenômeno universal (...).
Não deveriam ser elas substituídas por outras expressões mais de acordo com o nosso tempo?
Muitos pensam assim. Porém essa é uma conclusão apressada e simplificante. Sem dúvida, mostra-se nessa desvalorização e relativização das palavras, que se deu ao longo dos últimos decênios, não apenas uma crise da língua, mas também uma crise mais profunda do pensamento. Por isso, não tem sentido substituir os vocábulos direita, centro, esquerda por outros. Devemos empregá-los, mas com prudência e cuidado.
Isso nos ajuda – pelo menos em determinado sentido – e nos oferece também a necessária clareza no exprimir. A monarquia, por exemplo, é vista no mundo inteiro como a forma de governo da direita. Na esfera religiosa os presbiterianos estão muito mais à esquerda do que os anglicanos e os luteranos. Na esfera social são consideradas leis de esquerda as que suprimem o patronato em contraposição às leis que protegem este direito. A esse respeito ninguém tem dúvidas.
Uma investigação desses fatos conduz à constatação de que a posição de direita se harmoniza mais com os princípios de ordem, hierarquia, austeridade e disciplina que caracterizaram a ordem medieval. “Esquerda” significa, então, o afastar-se desses princípios e, portanto, ipso facto o estar ligado aos princípios opostos.
Assim conservam as palavras “centro, esquerda, direita” um sentido profundo, lógico, se bem que sutil. Se se tomar dois pólos espirituais, num se encontra a direita e no oposto a esquerda (...).
Também os homens podem ser classificados de acordo com três tendências: aqueles que reconhecem a Revolução – pelo menos de modo pouco claro – e se lhe contrapõem: a direita; aqueles que sabem da existência da Revolução e a conduzem rápida ou lentamente rumo ao seu objetivo: a esquerda; aqueles que não conhecem a Revolução enquanto tal ou que lhe percebem apenas aspectos superficiais e que se empenham mantendo o status quo por estabelecer uma paz com a Revolução: o centro. O centro e a direita juntos empenham-se na luta contra a Revolução. O centro e a esquerda juntos se esforçam em promover o progresso da Revolução, sem, contudo, cair em excessos.
Por mais diferentes que possam ser os grupos parlamentares ou políticos, no fundo são essas as três posições possíveis face à Revolução.
Os movimentos que se dedicam a promoverem a Revolução trabalham muitas vezes com a roupagem do centro, a fim de poderem fazer seu jogo às ocultas. Correntes de esquerda falam também a linguagem da direita para poderem ganhar os incautos. Esses disfarces não afetam, contudo, nossa classificação, pois o lobo em pele de ovelha permanece sempre lobo.” [6].
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[1] De civ. Dei, 14, 28 (PL 41, 436).
[2] Encíclica Humanum Genus, 20 de Abril de 1884.
[3] Carta aos Amigos da Cruz, Primeira Parte.
[4] Exercícios espirituais de Santo Inácio.
[5] O Legionário, n° 313 (11 de Setembro de 1938). Na ocasião o padre veio para a "Primeira Semana de Estudos Tomistas", no Rio de Janeiro. Em seguida viajou depois a São Paulo, onde visitou a equipe do Legionário e seu diretor, Plinio Corrêa de Oliveira.
[6] Prefácio redigido para uma edição alemã de “Revolução e Contra-Revolução”. Nota do editor da fonte: o presente texto é uma tradução do alemão. A versão original em português, escrita na década dos anos 70, não veio a lume, ao menos até o presente momento (5 de maio de 2008). Visto em 28/8/2025: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/pre_1970_rcremalemao/#gsc.tab=0