O Fascismo é de esquerda e Papas o condenaram. Teria a Igreja aprovado o fascismo no Tratado de Latrão?



Extraído de:
"O Príncipe dos Cruzados (Volume II, 2a edição)".
 


Recomendamos a leitura prévia de:

Bíblia, Papas, Santos e Teólogos sobre a luta entre duas forças, sendo a Igreja a Direita. Refutando "direita e esquerda são ruins"

O Nazismo é de esquerda e Papas o condenaram. Refutação do suposto apoio de Pio XII ao nazismo

Dado a definição anterior de esquerda e direita, e o fato de que a Igreja condenou o socialismo, resta mostrar, a partir disso e de declarações diretas, que a Igreja condenou o fascismo e o nazismo, mais especificamente na figura de seus líderes, respectivamente, Benito Mussolini e Adolf Hitler.


Mussolini: passado socialista que se harmoniza com sua trajetória

De 1912 à 1919 Benito Mussolini foi do Partido Socialista Italiano, bem como diretor do jornal "Avanti!" do mesmo Partido. Após pedir demissão do jornal e ser expulso do partido por causa de sua posição contra a neutralidade na primeira guerra mundial.

Doutrina fascista socialista de colocar o Estado acima de tudo tirada dos próprios ideólogos fascistas

Algumas frases da doutrina fascista compiladas mostram seu caráter esquerdista, ou mais especificamente, sua "estadolatria", como bem chamou Pio XI:

Acima, vídeo em que o leigo católico militante Plinio Corrêa de Oliveira trata de como o jornal católico que dirigiu, nos anos 30, combateu o fascismo e o nazismo. 
A redação do jornal constituiu o núcleo que posteriormente deu origem à TFP,
associação de inspiração católica.


"Para o fascismo, o Estado é absoluto: perante ele os indivíduos e os grupos não são mais que o relativo. Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado. (...) O indivíduo só existe enquanto está no Estado: está subordinado às necessidades do Estado e, à medida que a civilização toma formas cada vez mais complexas, a liberdade do indivíduo restringe-se sempre mais. (...) Neste sentido, o fascismo é totalitário (...). Nem partidos, associações, sindicatos nem indivíduos fora do Estado. (...) Nós representamos um princípio novo no Mundo, representamos a antítese nítida, categórica, definitiva da democracia" (Benito Mussolini, O Fascismo, 1931)

"[fascismo é uma doutrina cujo] fundamento é a concepção do Estado, da sua essência, das suas competências, da sua finalidade. Para o fascismo o Estado é um absoluto, perante o qual indivíduos e grupos são o relativo. Indivíduos e grupos são “pensáveis” enquanto estejam no Estado” (Enciclopédia Italiana de 1931, Giovanni Gentile e Benito Mussolini)

"O estado deve abranger tudo: fora dele valores espirituais ou humanos têm pouco valor" (Giovanni Gentile e Benito Mussolini, The Doctrine of Fascism, edição kindle, posição 110).

"O estado fascista deve ser não apenas um criador de leis e instituições, mas um educador e provedor de vida espiritual. Deve ter como objetivo reformular não apenas a vida mas o seu conteúdo – o homem, sua personalidade, sua fé" (Giovanni Gentile e Benito Mussolini, "La Dottrina del fascismo", Idee fondamentali, no.13).
Jornal oficioso da Arquidiocese de S. Paulo
chamando o fascismo e o nazismo de
regimes de pseudo-direita já em 1938,
e notando como o Vaticano tinha mostrado
desgosto pela visita de Hitler à Itália.

"O estado deve educar os cidadãos à civilidade, torná-los conscientes de sua missão social, exortá-los à união; deve harmonizar interesses divergentes, transmitir às futuras gerações as conquistas da mente e da ciência, da arte, da lei e da solidariedade humana" (Giovanni Gentile e Benito Mussolini, "La Dottrina del fascismo", Dottrina politica e sociale, no.10).

"Nós vamos para a batalha contra as democracias reacionárias e plutocráticas do Ocidente. A itália proletária e fascista se levanta uma terceira vez, forte, orgulhosa e unida como nunca" (Discurso de Mussolini em Roma de declaração de guerra em 10 de Junho de 1940).

Papa Pio XI (1922-1939) condenando o fascismo

Sua Encíclica "Non abbiamo bisogno" de 29 de Junho de 1931 foi publicada quando a polícia fascista tomou controle de todos os círculos católicos, mais especificamente, a Ação Católica, movida por falsas acusações. Transcrevemos alguns trechos:

"14 (...) Nós, pelo contrário, Nós, a Igreja, a religião, os fiéis católicos (e não somente o Pontífice Romano), não podemos estar agradecidos a quem depois de haver dissolvido o socialismo e a maçonaria, nossos inimigos declarados (mas não só de Nós), lhes abriu uma ampla entrada, como todo mundo vê e deplora, e permitiu que cheguem a ser tanto mais fortes e perigosos quanto mais dissimulados e mais favorecidos pelo novo uniforme (...).

23 (...). Temos aqui em presença de um conjunto de autênticas afirmações e de feitos não menos autênticos, que põe fora de dúvida o propósito já executado em grande parte, de monopolizar inteiramente a juventude desde a primeira infância até a idade viril para a plena e exclusiva vantagem de um partido, de um regimem, sobre a base de uma ideología que explicitamente se resolve em uma verdadeira estadolatria pagã, em aberta contradição, tanto com os direitos naturais da família, como com os direitos sobre-naturais da Igreja. Propor e promover semelhante monopólio; perseguir como se vem fazendo, com esta intenção, de maneira mais ou menos dissimulada, a Ação Católica; desfazer com este fim, como se tem feito recentemente, as Associações de Juventude, equivale ao pé da letra a impedir que a juventude vá até Jesus Cristo, posto que é impedí-la que vá até a Igreja, e ali onde está a Igreja, está Cristo (...).

27 (...) Uma concepção que faz pertencer ao Estado as gerações jovens inteiramente e sem exceção, desde a primeira idade até a idade adulta, é inconciliável para um católico com a verdadeira doutrina católica; e não é menos inconciliável com o direito natural da família; para um católico é inconciliável com a doutrina católica o pretender que a Igreja, o Papa, devam limitar-se às práticas exteriores da religião (a Missa e os Sacramentos) e todo o restante da educação pertença ao Estado..."

Contra o juramento de fidelidade ao "Duce", o chefe, isto é, Mussolini

"30 (...). Conhecendo as múltiplas dificuldades da hora presente e sabendo que a inscrição no partido e o juramento são para um grande número a condição mesma de sua carreira, de seu pão e de seu sustento, Nós temos buscado um meio que desse a paz às consciências, reduzindo ao mínimo possível as dificuldades exteriores. Nos parece que este meio para os que estão já inscritos no partido poderia se fazer diante de Deus e de sua própria consciência esta reserva: "Salvo as leis de Deus e da Igreja, ou também: Salvo os deveres do bom cristão, com o firme propósito de declarar exteriormente esta reserva se a necessidade se apresentar.

Queríamos, ademais, fazer chegar Nossos rogos ao lugar de onde partem as disposições e as ordens (...) a fim de que esta reserva fosse introduzida na fórmula do juramento, a não ser que se faça todavia coisa melhor, muito melhor, isto é, que se omita o juramento, que é sempre um ato de religião e que não está certamente em seu lugar, na cédula de inscrição de um partido".

A Igreja aprovou o fascismo no Tratado de Latrão de 1929?

A resposta dessa calúnia está em que o Tratado não foi para "abençoar o Fascismo" como se vê pela condenação da doutrina fascista na encíclica "Non abbiamo bisogno" de 1931, mas foi uma concordata para assegurar diversos direitos da Igreja no Estado Italiano, e resolver a "questão Romana", iniciada quando o Papa tornou-se prisioneiro no Vaticano após a tomada dos Estados Pontíficios pelos revolucionários em 1870. Neste tratado o Papa tornou-se chefe de Estado, embora somente do Vaticano, e para citar outros exemplos de asseguração dos direitos: os casamentos feitos na Igreja passaram a ter reconhecimento civil (antes era necessário uma cerimônia civil), instrução religiosa passou a ser dada nos colégios públicos, e o Catolicismo passou a ser a religião oficial do Estado (o que é conforme a doutrina católica), sendo os outros cultos tolerados.

Pio XII (1939-1958) contra o fascismo

Eugenio Pacelli (futuro Pio XII), quando Cardeal, secretário de Estado, nunca contradisse, antes colaborava junto de Pio XI. No tempo de sua eleição, já era conhecido pelos mesmos esforços contra o nazismo e o fascismo.

Dimitri Cavalli, escrevendo para o "Inside the Vatican" [1], nos conta como os próprios judeus ficaram felizes com a eleição de Pio XII, quando a Itália estava implementando as leis raciais nazistas. Esses mesmos judeus agradeceram os esforços do Papa contra estas ideologias no fim da guerra:

"Aplaudindo a eleição do Cardeal Pacelli, o "Jewish Chronicle" (Crônica Judaica) de Londres, 10 de Março, citou um discruso anti-Nazista que ele fez em Lourdes, em Abril de 1935, e também citu as hostis declarações contra ele na imprensa Nazista. "É interessante lembrar (...) no dia 22 de Janeiro [1939], o "Voelkischer Beobachter" publicou fotos do Cardeal Pacelli e outros dignatários da Igreja sob o título de "Agitadores no Vaticano contra o Fascismo e o Nacional Socialismo"', citou o "Jewish Chronicle".

Também no dia 10 de Março, o "Canadian Jewish Chronicle" (Crônica Judaica Canadense) elogiou o Cole´gio de Cardeais por resistirem às tentativas nazistas de influenciar a eleição e impedir o Cardeal Pacelli de se tornar Papa. "O plano para abafar o anel do pescador foi embora com a fumaça branca" o editorial brincou.

Muitas organizações judaicas também expressaram seu entusiasmo pela novo Papa. De acordo com "Jewish Chronicle" de Londres (10 de Março), o Vaticano recebeu mensagens parabenizadoras da "Comunidade Anglo-Judaica, da "Sinagogue Council of America", do Congresso Judaico Canadense, e do Conselho Rabínico Polonês."

A decisão de Pio XII de nomear Luigi Cardeal Maglione como o novo Secretário de Estado do Vaticano também trouxe reações favoráveis. O "Zionist Review" no dia 16 de Março de 1939 em Londres disse que a nomeaçaõ do Cardeal "confirma a visão que o novo Papa pretende conduzir uma política anti-Nazista e anti-Fascista (...).

No dia 11 de Outubro, o "World Jewish Congress" (Congresso Mundial Judaico) doou $20,000 para os centros de caridade do Vaticano. De acordo com o "New York Times" (12 de Outubro de 1945), o presente foi "feito em reconhecimento do trabalho da Santa Sé em salvar judeus das perseguições dos nazistas e fascistas".

Clique para ver mais compilados da Doutrina católica contra erros sociais

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[1] The Good Samaritan: Jewish praise for Pope Pius XII, Dimitri Cavalli, Inside the Vatican © 2000, Urbi et Orbi Communications, October 2000, pages 72-77