Pode existir pecado mortal nos beijos e nos toques? São Tomás responde.

EDITADO: cremos que os leitores poderão se instruir melhor no artigo abaixo, que contém a doutrina de S. Tomás no tema, e a de outras grandes autoridades:

Papas, Santos e Teólogos sobre o beijo na boca, de língua, toques e outros atos sem perigo de polução (entre namorados e casados)

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Eis um tema que muitos falsa-direitas não falam, se não desconhecem. Sem contar os progressistas que, na prática, não acreditam em moralidade.

Ora, a impureza faz o homem ter menor contemplação de Deus, pois a sublimidade não habita na baixeza e na vontade animal.

Ao calar-se sobre o tema, o falsa-direita, ou o progressista, corrói pela base a tradição moral da Igreja, volta o tomismo maritainista, quando não quietista e um tanto apastoral como um Concílio que muitos falsa-direitas dizem criticar.

Agradecemos a oportunidade de seguir o legado Plinio Corrêa de Oliveira, recordamos os inúmeros auditórios em silêncio, pois incapazes de olhar uns para os outros, devido ao constrangimento que por vezes traz o choque entre a verdade e o mundo. Grande Plinio, causador do divórcio entre homens e o mundo usando o bom e velho Aquinate (e Santo Afonso também, moralista de primeira).

Por último, convém mencionar o abismo entre nós e os tomistas modernos, relatando um caso: falando sobre modéstia e pureza em S. Tomás contentou-se em dar fatos curiosos sobre a obra do mesmo e ignorar os diversos artigos do Aquinate no assunto, os quais dispomos aqui.

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S. Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, questão 154, artigo 4.

Pode existir pecado mortal nos beijos e nos toques?

Objeções: parece que não pode existir pecado mortal no toque, no abraço e no beijo.
1. O apóstolo diz em Efésios 5, 3: Nem sequer se nomeie entre vós a fornicação ou qualquer impureza ou avareza, como convém aos santos. E adiciona (v.4): nada de obscenidades, de conversas tolas ou levianas. Tudo isto interpreta a Glosa, obscenidades (beijos e abraços), conversas tolas (conversa mole e obscena), e levianas ( jocosidade, o que os néscios chamam chocarrice). E depois ele continua (Ef.5,5): “Porque sabei-o bem: nenhum dissoluto, ou impuro, ou avarento - verdadeiros idólatras! - terá herança no Reino de Cristo e de Deus.”. Isto é, não fazer menção nesse versículo à obscenidades, à conversas tolas, e à conversas levianas, anteriormente citadas, é dizer que estas não são pecados mortais.
2. Ainda, dizemos que a fornicação é pecado mortal porque impede o bem da geração e educação da prole. Mas isto não fazem necessariamente os beijos, toques e abraços. Logo, neles não se dá pecado mortal
3. E também: as coisas que são em si mesmas pecados mortais não podem ser nunca boas ações. E os beijos, toques, etc, podem se fazer sem pecado. Então eles não são pecados mortais neles mesmos.

Pelo contrário...um olhar luxurioso é menos obsceno que um toque, um abraço ou beijo. Mas de acordo com Mateus 5, 28: “Todo aquele que olha uma mulher com desejo, já cometeu adultério com ela no seu coração”. Por isso, com maior razão será pecado mortal beijos sensuais e atos similares. Ainda São Cipriano em sua obra Ad Pomponium de Virginitate (Ad Pompon, De Virgin., Ep. LXII): “Pelo contato carnal, pelos abraços, pelas conversações obscenas, aqueles que estão associados numa cama que não conhece nem honra nem vergonha, quanto tem de desonroso e criminoso”. Por isso, ao fazer estes atos, o homem é culpado de crime, isto é, pecado mortal.

Solução. Uma coisa é dita pecado mortal em duplo aspecto. Em primeiro lugar, por sua espécie. E assim considerado, os beijos, abraços e toques não são necessariamente pecados mortais, pois podem ser feitos tais atos sem sensualidade, por ser costume da pátria, ou por necessidade ou por outra circunstância ou causa razoável.
Em segundo lugar, dizemos que uma coisa é pecado mortal por razão de sua causa: aquele que dá esmola para induzir alguém à heresia, peca mortalmente pela corrupção existente na intenção com que o faz. Agora, já foi dito antes (I-II, 74, 8), que é pecado mortal não só consentir com um ato, mas também se deleitar com o pecado mortal. Por isso, dado que a fornicação é pecado mortal, e os são muitos mais outras espécies de luxúrias, segue que nesses pecados não só consentir com o ato mas deleitar-se com ele é pecado mortal. Consequentemente, quando os beijos, abraços, etc, tem por fim este deleite, segue que são pecados mortais. E só nesse sentido eles são tomados como libidinosos e, como tais, são pecados graves.

Respostas às objeções
1. O apóstolo não menciona os três últimos atos porque não são graves senão enquanto direcionados aos anteriores mencionados.
2. Apesar dos beijos e toques não impedirem pela própria natureza o bem da prole, são frutos da sensualidade, que é a raiz desse impedimento, e por isso são mortalmente pecaminosos.
3. Da objeção se deduz que estes atos não são pecados mortais por sua natureza mesma.


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Nosso resumo
" (...) os beijos, abraços e toques não são necessariamente pecados mortais, pois podem ser feitos tais atos sem sensualidade, por ser costume da pátria, ou por necessidade ou por outra circunstância ou causa razoável."

Mas...

"(...) dado que a fornicação é pecado mortal, e os são muitos mais outras espécies de luxúrias, segue que nesses pecados não só consentir com o ato mas deleitar-se com ele é pecado mortal. Consequentemente, quando os beijos, abraços, etc, tem por fim este deleite, segue que são pecados mortais. E só nesse sentido eles são tomados como libidinosos e, como tais, são pecados graves." S. Tomás, Doutor Comum da Igreja