Hipótese Teológica sobre a mudança na indumentária com o Papa Santo

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Anterior deste capítulo: Hipóteses teológicas sobre o começo do Castigo Mundial na natureza, por Plinio Corrêa de Oliveira (1973)

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. III)".

As hipóteses a seguir se fundam no "princípio de beleza", visto no capítulo I. Este é alcançado com uma conjectura de extrema beleza, contendo o máximo de aspectos belos. Tal modo de hipotetizar, calcado neste princípio, é o mais próximo possível que alguém pode chegar da verdade (se Deus quiser), ou seja, é em si limitada e não necessariamente verdadeira. É possível elaborar teses a partir desta mesma hipótese. Tais teses dependem muitas vezes de questões doutrinais, por isso, é preciso estar imbuído da doutrina tradicional católica.

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Partindo da hipótese de que as Eras da Igreja são as Eras já tratadas antes neste capítulo, afirmamos a tese histórica de que os cumes das Eras, em sua maioria, foram acompanhadas por uma mudança nas vestes Papais. Isso será provado mais adiante.

Ora, se o decaimento no uso das vestes Papais no pós-concílio clama por resgate ou por mudança, logo, serão retomados os símbolos de poder Papal na restauração.

Em harmonia com o que já vimos nesse volume, e seguindo as teses anteriores, propõe-se: a vinda do Papa Santo é o marco do início da restauração (a sexta Era), um marco que precisa estar explícito nos símbolos também.

No caso das vestes Papais habituais, a conveniência de uma mudança realizada pelo Papa Santo se apoia nas seguintes razões:

1 -
A roupa anterior será um símbolo da Igreja antiga, que com o Papa Santo toma novo rumo em conjunto com a Tradição.
2 -
O uso das vestes Pontificais por qualquer ex-Papa que renunciou não causará mais confusão, ou seja, será magnificamente resolvida com a mudança das vestes papais.
3 - Se um ou mais ex-papas que renunciaram (até a vinda do Papado profetizado) se fantasiassem igual ao Papa Santo, seria uma afronta ao Pontífice Reinante e um claro sinal de igualitarismo revolucionário.

No caso das vestes litúrgicas, a conveniência do uso tradicional se observa pelo seguinte motivo: em relação à liturgia, o Papa Santo virá para resgatá-la.

- O começo, o ápice, ou o fim de uma Era, em maioria, foi acompanhado por uma mudança nas vestes Papais

Resta provar a afirmação com argumentos históricos. Contudo, primeiro é preciso investigar se a mudança ocorre por razões sociais, ou por mera casualidade.

Os sinais exteriores refletem a dignidade da pessoa, assim como sua personalidade, como visto no volume II desta série. Assim, se um Papa resolve se vestir com maior esplendor, ou mostrará a grandeza de seu cargo ou estará cheio de vaidade. A segunda opção não é possível por duas razões: o Papado é atemporal, e é o mais digno ofício que um homem pode exercer (chefe da única e verdadeira religião como Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo). Então, a indumentária Papal não precisa estar alinhada aos costumes temporais, e deve ser aquela mais de acordo com a dignidade do cargo. Em resumo, nunca haverá vaidade Papal no justo esplendor de suas vestes.

Porém, há a possibilidade do Papa sugerir vaidade caso use roupas belas sem continuidade com os Papados anteriores, seja para se adequar ao mundo, ou outro motivo. Por exemplo, ao desprezar as cores vermelhas e brancas, comuns na história da indumentária Papal, ou ao trocar a cruz peitoral por uma cruz grudada na roupa, ainda que feita em diamantes ou pedras preciosas, etc. Mais trágico seria se usasse roupas semelhantes ou idênticas às de outros, de modo que não só seria algo igualitário, mas constrangeria quem as usa, assemelhando-os ao Sumo Pontífice.

Isso até hoje não houve, embora os últimos Papas tenham abandonado muitos símbolos esplêndidos e representantes da grandeza do Papado. A prova da tendência dos últimos pontificados à mentalidade do mundo revolucionário pertence a outro volume desta série.

Portanto, se o Papa, ao usar vestes mais belas, quer mostrar a nobreza de seu posto, podemos dizer que isso ocorre por dois motivos:

1. Impulsionado pelo próprio Papa.
2. Impulsionado pelo Papa, por causa de uma mudança social, seja em reação ao cambio social, seja em conformidade a este.

O segundo motivo indica mudança de Era, pois esta é marcada por um mudança da sociedade, que afeta também a Igreja. Já o primeiro pode vir simplesmente "motu proprio", ou seja, sem influência social. No entanto, como a indumentária reflete o homem, se esta for boa (de acordo com a dignidade Papal), ela denota bons tempos espirituais
.

Em conclusão, uma mudança na indumentária Papal acompanha uma mudança social, isto é, o ápice, começo ou fim de uma Era. Mostraremos a seguir com provas históricas em conformidade com a hipótese das Eras.

Épocas em que a veste Papal se estabilizou - Indumentária - Era

Obs: O ápice referido ocorre no Papado.

(1) Séc. IV - Pálio - Fim da Era 2

(2) Séc. VIII - Fano - Começo da Era 4

(3) Séc. VIII - Tiara ou Camelaucum - Começo da Era 4

(4) Séc. VII -  Manto vermelho - Começo da Era 4

(5) Séc. XIII -  Veste branca - Ápice da glória na Era 4

(6) Séc. XIV, Bonifácio VIII e Bento XI e Clemente V -  Tríplice Tiara Papal - Começo da Era 5

(7) Séc. XVI, São Pio V - Hábito Dominicano branco - Ápice da glória na Era 5

(8) Séc. XXI, Papa Santo - Veste Papal profética do Reino de Maria - Começo da Era 6

- Respondendo objeções prévias antes das provas históricas

Objeção 1: O Reinado de Pio V obteve menos glórias que o de Pio IX, pois neste floresceram João Bosco, João Maria Vianney, Antônio Maria Claret, Bernadette Soubirous, Francisco Palau, a fundação dos Salesianos e dos Claretianos, houve boa parte das grandes aparições Mariais, o Concílio Vaticano I, o dogma da Infalibilidade Papal, etc.

Resp: No Pontificado de Pio V semelhantes coisas aconteceram: santos como João da Cruz, Teresa de Ávila, José de Anchieta, a reforma do Carmelo, o legado da Companhia de Jesus, a Contra-Reforma, Nossa Senhora de Lepanto, Concílio de Trento, e a forma final da Missa Latina.

Podemos dizer que no Reinado de Pio IX houve eventos mais ligados ao espírito da profecia, tanto que seus santos eram mais inclinados a isso do que os santos sob Pio V, mais combativos. Isso era conveniente ao tempo de cada um. Anterior e mais combativo, o pontificado de Pio V alcançou mais conquistas, mesmo no sentido material, algo não ocorrido com Pio IX, que acabou perdendo os Estados Pontifícios, embora no âmbito sobrenatural tenha sido um glorioso pontificado.

Observamos somente as conquistas sociais (ligadas ao sobrenatural, é claro), pois a Igreja pode perder tudo no âmbito material e estar gloriosa no sobrenatural, como na época dos mártires. Por esse motivo também é difícil encontrar um marco na indumentária Papal da época.

Objeção 2: Se o ápice da glória é simbolizado mais pelas conquistas sociais do que as sobrenaturais, como dito antes, como dizer que o Papa Santo é quem trará uma mudança nas vestes, e não algum outro glorioso pontificado no Reino de Maria?

Resp: O Reino de Maria, segundo já visto, vem após a Bagarre ou Castigo Mundial, quando haverá uma grande graça, mas se deve ter em conta que o mundo ainda estará em ruínas, por causa do Castigo. Apesar disso, a conquista social será grande pois voltarão os Estados Pontifícios, e os remanescentes serão católicos autênticos, sobrando quase nenhum revolucionário. Enfim, será uma grande conquista, também marcada pela conversão da Inglaterra e da China, conforme revelações particulares vistas no capítulo V.

Objeção 3: Segundo as noções anteriores, a Era 4 não tem começo definido, assim como o fim da Era 3. Isso dá mais liberdade para inserir mudanças nas vestes nessa Era.

Resp:
A definição de Era histórica não está escrita nas estrelas, pois depende de uma sociologia histórica católica. A virada da terceira para a quarta Era costuma ser relacionada com a queda do Império Romano do Ocidente, que passou a ser governado pelo Império Bizantino. Então, não há uma data exata para a queda do Império Romano. Essa virada de Era, na verdade, é a "mudança" do poder de Roma para o poder da Igreja. A Igreja, fundada em Roma, é o novo Império Romano, já o sendo no âmbito sobrenatural. O poder do Império da Igreja ficou patente quando o Império Romano era considerado história, mas a Igreja resistia. Nesse momento já estamos na Idade Média, a Era 4, na qual a Igreja, como nunca antes, mostrou ser o verdadeiro Império.

(1) Séc. IV - Pálio - Fim da Era 2


Bento XVI impondo um Pálio com a cruz preta,
e usando um com a cruz vermelha
A Enciclopédia Católica [1] diz que "de acordo com o "Liber Pontificalis", foi usado na primeira metade do século IV. Esse livro relata que, na vida do Papa São Marcos (+336), ele conferiu o direito de usar o pálio ao Bispo de Ostia, porque a consagração do [futuro] Papa lhe pertencia." Na mesma fonte é mencionado o uso comum dessa vestimenta, no século VI, pelo Papa e alguns outros bispos que dele recebiam. Cita-se o caso de São Cesário de Arles que recebeu o pálio do Papa Símaco em 513.

Outro caso que mostra o significado do pálio é a do papa São Félix IV. Quando ficou doente no ano de 530, quis assegurar a paz na Igreja de Roma nomeando um sucessor no leito de morte. Para isso, deu ao Arquidiácono Bonifácio seu pálio, o que ficou publicamente conhecido como um gesto de escolha de um sucessor [2]. Isso causou problemas, pois não quiseram aceitar Bonifácio II e escolheram outro Papa, o qual morreu 22 dias depois. Após isso, Bonifácio se tornou Papa mesmo.


(2) Séc. VIII - Fano - Começo da Era 4

Pio XII com pálio sobre o fano.
Na cabeça, a Tríplice Tiara
É citado no mais antigo Ordo Romanus, isto é, sua existência pode ser provada para o século VIII. Era então chamado de anabolagium (angolagium), mas não era uma vestimenta exclusiva do Papa.

(3) Séc. VIII - Tiara ou Camelaucum - Começo da Era 4

"A mitra Papal é de origem romana, e vem de uma veste não litúrgica que distinguia o Papa: o camelaucum, do qual a tiara também vem. Esse camelaucum foi usado tão cedo quanto o começo do século VIII, como é evidenciado na biografia do Papa Constantino I (780-815) no Liber Pontificalis". "As moedas de Sérgio III (904-11) e de Bento VII (974-83), nas quais São Pedro é desenhado usando um camelaucum, dão ao chapéu a forma de cone, geometria original da mitra" [3].

(4) Séc. VII -  Manto vermelho - Começo da Era 4

Já no século XI, São Pedro Damião descreveu a cappa rubea dada ao Papa na sua eleição como uma vestimenta única do Papa [4], pois significava a supremacia da esfera espiritual sobre a temporal. São Gregório VII (1073-1085) avisou que "somente o Papa pode usar a capa vermelha como sinal de sua autoridade imperial e martírio" [5].

Isso já indicava um costume da época, que estendemos para o século VII, como evidencia a imagem abaixo no lado esquerdo com São Gregório Magno usando a capa vermelha, em um desenho do século XII de um mosaico da Basílica de "Santa Agnese fuori le mura", em Roma, feita pelo Papa Honório (625-38). Este Papa é mostrado com o manto vermelho.

(5) Séc. XIII -  Veste branca - Ápice da glória da Era 4
Júlio II, por Raphael

Embora tenha sido São Pio V o primeiro a usar o hábito branco dominicano, como mostraremos a seguir, seu uso era anterior, como evidencia a pintura de Raphael de Júlio II (1503-13). O Ordo XIII do Papa Gregório X em 1274 é o mais antigo a mencionar a veste branca como uma veste Papal, e que de certa forma nos diz que foram consolidados nessa época a veste branca e o manto vermelho, apesar deste último já ser de uso mais antigo. Isso corrobora o fato de que, a partir desse Ordo, essas duas vestimentas foram sempre lembradas como tipicamente Pontificais.

William Duranti, o bispo de Mende,
em 1284 interpretava simbolicamente estas duas vestimentas, o que leva a crer que a consolidação destas trouxe a questão à tona.

(6) Séc. XIV, Bonifácio VIII e Bento XI e Clemente V - Tríplice Tiara Papal - Começo da Era 5

Bento XI com a Tríplice Tiara
e o pálio
É notório que o primeiro a usar a Tríplice Tiara foi Bonifácio VIII em resposta aos que tentavam tirar o poder temporal da Igreja. Entretanto, a tiara ou camelaucum, como foi visto, é mais antiga.

Os papas
Bonifácio VIII, Bento XI e Clemente V, por estarem no meio da confusão, a virada de uma Era e o exílio em Avignon, resolveram marcar o poder Papal e incrementaram a tiara Papal, constituindo a Tríplice Tiara [6].


Bento XVI com o
hábito dominicano

(7) Séc. XVI, São Pio V - Hábito Dominicano branco - Ápice da glória da Era 5

São Pio V foi o primeiro a usar propriamente o hábito de dominicano, embora, como já dito, não foi o primeiro a usar vestes brancas por baixo.

(8) Séc.XXI, Papa Santo - Veste Papal profética do Reino de Maria - Começo da Era 6

No próximo artigo discutiremos a hipótese da roupa do Papa Santo.

 

 

Próximo deste capítulo: Hipótese teológica: A futura indumentária do Papa Santo

 
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[1] Catholic Encyclopedia, Palium, by Joseph Braun, 1909  
[2] “Neues Archiv”, XI, 1886, 367; Duchesne, “Liber Pontificalis”, I, 282, note 4 
[3] Church Vestments: Their Origin and Development, pg.108, Herbert Norris, 1950 
[4] Peter Damian, Epist., book 1, 20 (1073) in Carol M Richardson, The Cardinal’s Red Hat, The Open University, UK, p. 6
[5] “Descriptio sanctuarii Lateranensis ecclesiae”, in ibid., p. 7.
[6] A History of the Crown Jewels of Europe, (London: B. T. Batsford, 1960) pp. 377-378