Vidas de Santos: davam bênçãos mesmo sendo leigos, as pessoas ajoelhavam-se diante deles e osculavam-lhes os pés

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte 2, 3a edição)".

“Quando Abdias ia a caminho, Elias encontrou-se com ele. Abdias, tendo-o conhecido, prostrou-se com o rosto em terra e disse: És tu Elias, meu Senhor? Ele respondeu-lhe: Sou eu. Vai e dize a teu amo: Elias está aqui” I Reis XVIII, 7-8.

São Bernardo de Claraval (1050-1153): muitos beijavam-lhes os pés

“Esperado no caminho por uma enorme multidão, não pôde esquivar-se aos sinais de veneração que lhe prodigalizavam. Os que se achavam perto dele, beijavam-lhe os pés, outros, mais ousados, cortavam ou rasgavam os panos da sua vestimenta para os conservar como relíquias (...)” [1]

Bem-aventurado Jordão da Saxônia (1185-1237), discípulo e sucessor de São Domingos: beijavam-lhe os pés

“E tendo assim começado, continuou o bem-aventurado (Jordão da Saxônia) o seu discurso, e quando chegou o momento da separação, os cavaleiros vertiam lágrimas, beijavam seus pés e suas vestes, recomendando-se às suas orações” [2]

São Francisco Xavier (1506-1552) relata como escreveu ao seu pai Santo Inácio de Loyola de joelhos

“Assim termino, meu Pai zelosíssimo de minha alma, com os joelhos em terra enquanto esta escrevo como se vos tivesse presente, pedindo a vossa Caridade que me recomendeis muito a Deus Nosso Senhor em vossos santos e devotos sacrifícios e orações, para que Ele me faça sentir a sua santíssima vontade nesta vida presente e me dê graças para a cumprir perfeitamente. Amén. E o mesmo peço a todos da Companhia / de Cochim, em 12 de Janeiro de 1549” [3].

Santa Teresa de Jesus (1515-1582): abençoava a multidão e até os gados a pedido, outros ajoelhavam-se pedindo sua bênção

“À medida que a carroça que a levava (a Santa Teresa) ia atravessando os povoados do campo frio, o povo saía ao seu encontro para vê-la, pois já então se havia estendido largamente o seu prestígio, e corria rapidamente a notícia de sua passagem por ali.
Em uma casa de Villarrobledo, onde se deteve para comer, as pessoas se alvoroçaram de tal maneira que quebraram a porta e as janelas para vê-la, e as autoridades tiveram que deter alguns. Em outro povoado, ela precisou sair horas antes do amanhecer, para escapar à nervosa curiosidade do público. Pediam-lhe que abençoasse a multidão e, em alguns lugares, inclusive que abençoasse o gado. No mosteiro Descalço de Nossa Senhora do Socorro, os frades saíram para recebê-la em procissão e, depois de se terem ajoelhado diante dela, pedindo sua bênção, escoltaram-na até a Igreja cantando o Te Deum” [4]

São Paulo da Cruz, fundador dos Passionistas (1694-1775): osculavam-lhe os pés e tiravam pedaços de seu hábito como relíquia

“Quando ele saía de casa para ir à Igreja ou para fazer alguma visita indispensável, o cercavam uns para lhe tomar a bênção, outros para prostrar-se diante dele e beijar-lhe os pés, outros enfim para lhe cortar algum pedacinho do hábito e leva-lo consigo, guardando como relíquia, e tão grande era a massa do povo que o cercava, que não conseguia livrar-se daquela santa importunidade” [5].

Santa Teresa de Jesus (1515-1582): abençoou até um Arcebispo, que se colocou de joelhos para tal

“Como nada se opunha à abertura da nova casa, as Irmãs tomaram posse dela no dia 1 de Maio de 1576. Havia sido seu desejo fazê-lo no silêncio, às escondidas, mas o Padre Garcia Alvarez insistiu em que se devia fazer uma celebração pública, a qual se realizou, com grande pompa e regozijo, no dia 3 de Junho. Nela o venerável Arcebispo levou o Santíssimo Sacramento pelas ruas antigas, desse uma das igrejas paroquiais, seguido da maioria do clero da cidade e de grande número de confrarias, formando assim uma brilhante procissão, enquanto acorriam as multidões para aplaudir e admirar, davam-se salvas de artilharia. Foi uma grande festa de justificação e desagravo para a madre Teresa de Jesus (a Santa havia sido duramente caluniada anteriormente). Para que tudo alcançasse seu ponto culminante, quando ela pediu a bênção ao Arcebispo, este, ajoelhando-se diante da freira, pediu que ela lhe desse a sua bênção, o que ela fez diante de toda a multidão” [6]

Santa Rosa de Lima (1586-1617), terceira dominicana: abençoava os presentes e ausentes

“E depois, pedindo-lhe Dona Maria de Uzátegui, a rogo de algumas pessoas que estavam presentes, que lhes desse sua bênção, reparou um instante e levantou-se, por fim virou-se e disse erguendo o braço: “A bênção do Padre, do Filho e do Espírito Santo, com todos os seus dons e graças desça sobre estas senhoras e sobre todas as demais amigas e conhecidas que estão presentes e ausentes, e as cumule de seus bens, para que os gozem eternamente, depois pediu que chamassem as filhas do Contador e fez para elas uma prática espiritual, exortando-as à virtude (...) deu-lhes também sua bênção [7].

São João Berchmans (1599-1621), leigo jesuíta: sacerdotes ajoelhavam em seu leito e pediam-lhe a bênção, o que ele concedia

“Dizei-me, acrescentei ainda, dizei-me sinceramente, é certo que não morrereis senão amanhã? João ficou silencioso e olhando para mim, disse-me: ‘Sim, meu caro Nicolau, morrerei amanhã certamente, durante a manhã. Eu desejava estar aqui, poderei? Procurai estar, e abraçando-me de novo, disse-me adeus. Ajoelhei-me junto do seu leito e roguei-lhe que me desse a sua bênção; Berchmans (simples noviço) recusou energicamente. Insisti com força, recordando-lhe a nossa amizade tão antiga e nossa mútua confiança. Afinal cedeu, e sorrindo levantou a mão para abençoar-me duas vezes (...). Pouco depois, entrou o padre Reitor, conduzido por semelhante preocupação: ‘Eu tinha presenciado, diz ele, não somente escolásticos, mas sacerdotes ajoelharam-se junto do seu leito para implorarem sua bênção, tive medo que o demônio o tentasse com a vã glória” [8].

São Luís Gonzaga (1568-1591): abençoou sacerdotes

No processo de canonização de São João Berchmans, o Postulador da Causa apresentou como argumento:

“Luís de Gonzaga, moribundo, abençoou em presença do enfermeiro, um ancião, um sacerdote, o padre Luís Corbinelli, que solicitara do santo essa consolação e ninguém censurou a Luiz de Gonzaga como ato de orgulho, esse ato de caridade” [9].

O teólogo Pe. Antonio Royo Marín explica este procedimento dos santos e pessoas virtuosas em consulta:

“Resposta: Trata-se de simples bênçãos invocativas, a modo de oração, mas não constitutivas, como a dos Sacerdotes. A diferença consiste em que as bênçãos meramente invocativas não deixam benta a coisa mesma, mas se limitam a invocar sobre ela o favor ou a bênção de Deus ou da Santíssima Virgem. Pelo contrário, a bênção constitutiva, dada pelo Sacerdote, deixa benta a coisa mesma (por exemplo, um crucifixo, um terço, uma medalha, a comida, etc.). O leigo pede a Deus ou a Nossa Senhora que abençoe o que ele abençoa, o Sacerdote abençoa por si mesmo, em virtude de seus poderes sacerdotais. A bênção do Sacerdote é um sacramental, a do leigo ou do simples religioso não o é.

2ª pergunta: É lícito que simples leigos deem a bênção a outras pessoas, invocando o nome de Deus ou de sua Santíssima Mãe?

Resposta: Sim, no sentido que acabamos de explicar.

3ª pergunta: Em caso afirmativo, quais as condições para que o leigo possa dar essa bênção?

Resposta: Faça-o com humildade e devoção, sem se dar nenhuma importância.

4ª pergunta: Em que consiste propriamente essa bênção, do ponto de vista teológico e canônico?

Resposta: É uma simples deprecação, não um sacramental, como a do Sacerdote.

5ª pergunta: Em que se diferencia essa bênção, da bênção litúrgica dada pelo Sacerdote ou por um Superior Religioso, em nome da Igreja?

Resposta: Já está dito. Tome-se em consideração que o Superior Religioso, se não é Sacerdote, não abençoa em forma de sacramental. Somente os Sacerdotes e Diáconos gozam deste poder sagrado.

6ª pergunta: E, por outro lado, qual é a diferença entre a bênção dada por leigos e a que costumam dar, em certos lugares, os pais a seus filhos, os padrinhos a seus afilhados, os tios a seus sobrinhos, e até pessoas mais idosas a crianças ou jovens?

Resposta: Nenhuma diferença. Todos são leigos.

Antonio Royo Marín OP,
Madrid, 14 de Fevereiro de 1984” [10]

Considerados santos ainda em vida e venerados assim por outros santos, que os incluíam na ladainha dos santos e guardavam suas relíquias

Declaravam a sua missão como santa ou profética, ou mesmo se diziam predestinados

Eram chamados de: "guia de sua época", "árbitro da cristandade", "alma da Igreja", "suporte do Papado"

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Fontes:
[1] René Dumesnil, Saint Bernard Homme d’Action, Desclée de Brouwer et Cie, Editeurs, Paris, 1934, pp.87-88. Imprimatur: V. Dupin, v. g., 2-3-1934
[2] Ver. Pe. Fr. Joseph-Pie Mothon, Vie du Bienheureux Jourdain de Saxe, Société Générale de Librairie Catholique, Paris, 1885, p. 306. Imprimatur: Fr; Thomas Faucillon, Prior Provincialis, 10-9-1884
[3] San Francisco Javier, Cartas y Escritos de San Francisco Javier, BAC, Madrid, 1953, p.286. Imprimatur: José María, Ob. Aux. Y Vic. Gen., Madrid, 1-5-1953
[4] William Thomas Walsh, Santa Teresa de Ávila, Espasa-Calpe, Madrid, 1951, pp.572-573
[5] Pe.Pio do Nome de Maria, Vida de São Paulo da Cruz, Imprensa Pontifícia do Instituto Pio IX, Roma, 1914, p.125. Imprimatur: Fr.Albertus Lepidi OP, SPA Magister 
[6] Walsh, Op.Cit. pgs.486-487
[7] Fray Pedro de Loayza OP, Vida de Santa Rosa de Lima, Iberia, Lima, 1965, p. 100. Pode reimprimir-se: Mario Cornejo, Obispo Auxiliar e Vicario General
[8] Pe. L. J. M. Cros SJ, Vida de S.João Berchmans, Duprat & Comp., São Paulo, 1912, pp.369-371 / Com licença da autoridade eclesiástica 
[9] Idem. pgs.408.
[10] Refutação da TFP a uma investida Frustra Volume II, pg.346-349