Papas, Santos e teólogos contra a participação ativa liturgicista na missa em desprezo do terço e piedades não-litúrgicas. Resposta a objeções

Ven. Pe. Reus (1868-1947), perito em liturgia 
com fama de santidade, tinha êxtases quando celebrava
a Santa Missa na forma da época
S. Pio X, rogai por nós!

Extraído de:
"O Príncipe dos Cruzados (Volume II, 2a edição)".


O liturgicismo foi um movimento que se disse herdeiro do movimento litúrgico iniciado por D. Gueranger e S. Pio X. Porém, usando palavra-talismãs, e outras táticas progressistas, por vezes se esconde, por vezes se mostra, tendo tido êxito em instaurar o caos litúrgico atual em perfeita sintonia com o desenvolvimento das outras facetas do modernismo expostas por S. Pio X em sua encíclica "Pascendi Domini Gregis".

Por isso, é conveniente enumerar os princípios errados do já antigo liturgicismo, erro hoje dominante seja implicitamente, seja explicitamente, em virtude da celebração generalizada do rito novo de Paulo VI e de todas as reformas com o mesmo espírito. E não nos referimos somente a essa missa celebrada com inovações arbitrárias (mais comum), mas também à celebrada fielmente ao missal, como se constata na leitura dos erros antes apontados por trechos doutrinários abaixo.

Ao final, propomos certas teses liturgicistas como errôneas após as leituras da Tradição que as combatem, abordando objeções a tudo isso por falta de texto mais autorizado para tanto.

Veja também: Resumo do problema da missa nova segundo o tradicionalismo. Plinio Corrêa de Oliveira introduz o livro de Arnaldo Xavier da Silveira

->Tradição contra teses liturgicistas

Concílio de Trento (1545-1566)

"Cân. IX - Se alguém disser que deve ser condenado o ritual da Igreja Romana devido ao fato que algumas palavras do Cânon, e as palavras da consagração são ditas em voz baixa, ou que a Missa deve ser dita sempre em língua vulgar, ou que não se deve misturar água ao vinho do cálice que será oferecido, porque isto é contra a instituição de Cristo, seja excomungado" (Sessão XXII).

Clemente XI (1700-1721) condenando uma proposição de Quesnell

"Impedir o povo fiel este consolo de unir sua voz à voz de toda a Igreja, é costume contrário à prática apostólica e à intenção divina" [1].

Pio VI (1775-1799) condenando proposições do Sínodo jansenista de Pistóia com semelhança ao liturgicismo anti-hierárquico

PROP. 15: “A doutrina que propõe — que a Igreja deve ser considerada como um só corpo místico, formado de Cristo, como Cabeça, e dos fiéis, que são os membros dEle [de Cristo] por uma união inefável, e pela qual, de modo admirável, nos tornamos com Ele um só sacerdote, uma só vítima, um só adorador perfeito de Deus Pai, em espírito e verdade — entendida no sentido que ao Corpo da Igreja não pertencem senão os fiéis que são perfeitos adoradores em espírito e verdade, É HERÉTICA”.

PROP. 28: “A doutrina do Sínodo, pela qual, depois de estabelecer — que a participação da Vítima é parte essencial do Sacrifício — acrescenta — que, entretanto, não condena como ilícitas as Missas nas quais os assistentes não comungam, por isso que estes participam, embora de modo imperfeito, da mesma Vítima, recebendo-A espiritualmente — enquanto insinua que falta algo de essencial ao Sacrifício que seja celebrado sem assistente, ou com assistentes que nem sacramental, nem espiritualmente participem da Vítima; e como se se devessem condenar como ilícitas as Missas, nas quais só o Sacerdote, e nenhum outro assistente comungasse, nem ao menos espiritualmente — FALSA, ERRÔNEA, SUSPEITA DE HERESIA, E COM SABOR DE HERESIA”.

Leão XIII (1878-1903) citado por Plinio Corrêa de Oliveira em livro elogiado por Pio XII e Paulo VI (quando secretário de Estado)

"O Santo Rosário e a Via Sacra são devoções inúmeras vezes aprovadas pela Santa Igreja, recomendadas pelos Pontífices, cumuladas de indulgências, incorporadas de tal maneira à piedade comum, que várias associações se estabeleceram, com todas as bênçãos da Igreja, para a sua difusão, várias Ordens e Congregações religiosas têm como ponto de honra e obrigação solene propagá-las, e o Código de Direito Canônico preceitua ao Bispo que estimule em seus clérigos a devoção ao Santo Rosário. S. Santidade o Papa Leão XIII tornou obrigatória a recitação do Terço durante a Sagrada Missa, no mês de outubro, por ato de 20 de agosto de 1885. É óbvio, pois, que se revolta contra a autoridade da Santa Sé quem não tributa a essas devoções todo o alto e respeitoso apreço, que tantos e tão louváveis atos da Igreja suscitam" [2].

São Pio X (1903-1914) contra os princípios teológicos modernistas sobre o culto: este é um mero símbolo sensível com eficácia oriunda do sentimento religioso, e os sacramentos são formas sensíveis que meramente propagam a religião. Teses que se coadunam, no caso da primeira, com a idéia liturgicista de que a missa deve acontecer somente com participação ativa (isto é, sensivelmente, dando espaço ao sentimento religioso), e no caso da segunda, com a idéia liturgicista de que todo culto extra-litúrgico (sem o símbolo sensível), como o terço, é imperfeito ou errado.

"Pretendem que o culto resulta de um duplo impulso; pois que, como vimos, pelo seu sistema, tudo se deve atribuir a íntimos impulsos. O primeiro é dar à religião, alguma coisa de sensível; o segundo é a necessidade de propagá-la, coisa esta que se não poderia realizar sem uma certa forma sensível e sem atos santificantes, que se chamam Sacramentos. Os modernistas, porém, consideram os Sacramentos como meros símbolos ou sinais, bem que não destituídos de eficácia. E para indicar essa eficácia, servem-lhes de exemplo certas palavras que facilmente vingam, por terem conseguido a força de divulgar certas idéias de grande eficácia, que muito impressionam os ânimos. E assim como aquelas palavras são destinadas a despertar as referidas idéias, assim também o são os Sacramentos com relação ao sentimento religioso; nada mais do que isto. Falariam mais claro afirmando logo que os Sacramentos foram só instituídos para nutrirem a fé. Mas esta proposição é condenada pelo Concílio de Trento (Sess. VII, de Sacramentis in genere, cân.5): "Se alguém disser que estes Sacramentos foram só instituídos para nutrirem a fé, seja anátema" [3].

Pio XII (1939-1958)

"75 (...) Afirmam, em conseqüência, que o sacrifício eucarístico é uma verdadeira e própria "concelebração", e que é melhor que os sacerdotes "concelebrem" junto com o povo presente, do que, na ausência destes, ofereçam privadamente o sacrifício.

76. É inútil explicar quanto esses capciosos erros estejam em contraste com as verdades acima demonstradas, quando falamos do lugar que compete ao sacerdote no corpo místico de Jesus (...)

83 (...) Quando, pois, se diz que o povo oferece juntamente com o sacerdote, não se afirma que os membros da Igreja de maneira idêntica à do próprio sacerdote realizam o rito litúrgico visível – o que pertence somente ao ministro de Deus para isso designado – mas sim que une os seus votos de louvor, de impetração, de expiação e a sua ação de graças à intenção do sacerdote, aliás do próprio sumo pontífice, a fim de que sejam apresentados a Deus Pai na própria oblação da vítima, embora com o rito externo do sacerdote. É necessário, com efeito, que o rito externo do sacrifício manifeste, por sua natureza, o culto interno; ora, o sacrifício da nova Lei significa aquele obséquio supremo com o qual o próprio principal ofertante, que é Cristo, e com ele e por ele todos os seus membros místicos, honram devidamente a Deus (...).

85. Efetivamente, alguns reprovam de todo as Missas privadas sem assistência do povo, como não conformes ao costume primitivo (...) assim como também não falta quem chegue ao ponto de dizer que é necessária a confirmação e ratificação do povo, para que o Sacrifício possa ter força e eficácia (...)

95. São, pois, dignos de louvor aqueles que, com o fim de tornar mais fácil e frutuosa ao povo cristão a participação no sacrifício eucarístico, se esforçam em colocar oportunamente nas mãos do povo o "Missal romano" de modo que os fiéis, unidos ao sacerdote, orem com ele, com as suas próprias palavras e com os mesmos sentimentos da Igreja; como também os que visam a fazer da liturgia, ainda que externamente, uma ação sagrada, na qual têm parte de fato todos os assistentes. Isso pode acontecer de vários modos: quando todo o povo, segundo as normas rituais, responde disciplinadamente às palavras do sacerdote ou executa cânticos correspondentes às várias partes do sacrifício, ou faz uma e outra coisa, ou, enfim, quando, na missa solene, responde alternadamente às orações dos ministros de Jesus Cristo e se associa ao canto litúrgico.

96. Todavia, essas maneiras de participar do sacrifício são para louvar e aconselhar, quando obedecem escrupulosamente aos preceitos da Igreja e às normas dos sagrados ritos. São ordenadas sobretudo para alimentar e fomentar a piedade dos cristãos e a sua íntima união com Cristo e com o seu ministro visível e a estimular aqueles sentimentos e aquelas disposições interiores com as quais é necessário que a nossa alma se assemelhe ao sumo sacerdote do Novo testamento. Não obstante, se bem que isto demonstre no modo exterior, que o sacrifício por sua natureza, enquanto é realizado pelo mediador de Deus e dos homens deve ser considerado obra de todo o corpo místico de Cristo, não são porém necessárias para constituir-lhe o caráter público e comum. Além disso, a missa "dialogada" não pode substituir a missa solene, a qual, ainda que celebrada na presença apenas dos ministros, goza de uma particular dignidade pela majestade dos ritos e aparato das cerimônias; se bem que o seu esplendor e solenidade muito ganhem se, como o prefere a Igreja, o povo numeroso e devoto a ela assistir (...).

98. Não poucos fiéis, com efeito, são incapazes de usar o "Missal Romano" ainda quando escrito em língua vulgar; nem todos são capazes de compreender corretamente, como convém, os ritos e as cerimônias litúrgicas. A inteligência, o caráter e a índole dos homens são tão vários e dissemelhantes que nem todos podem igualmente impressionar-se e serem guiados pelas orações, pelos cantos ou pelas ações sagradas feitas em comum. Além disso, as necessidades e as disposições das almas não são iguais em todos, nem ficam sempre as mesmas em cada um. Quem, pois, poderá dizer, levado por tal preconceito, que tantos cristãos não podem participar do sacrifício eucarístico e aproveitar-lhe os benefícios? Certamente que o podem fazer de outra maneira, e para alguns mais fácil: por exemplo, meditando piamente os mistérios de Jesus Cristo ou fazendo exercícios de piedade e outras orações que, embora na forma difiram dos sagrados ritos, a eles todavia correspondem pela sua natureza (...).

159. Ora, desejamos que também o povo cristão não fique alheio destes exercícios. Estes são – para falar apenas dos principais – a meditação de assuntos espirituais, o exame de consciência, os retiros espirituais, instituídos para a reflexão mais intensa das verdades eternas, a visita ao santíssimo sacramento e as orações particulares em honra da bem-aventurada virgem Maria, entre as quais excele, como todos sabem, o rosário (...).

161. Não vos canseis, pois, veneráveis irmãos, no vosso zelo pastoral, recomendando e encorajando esses exercícios de piedade, dos quais brotam sem dúvida para o povo que vos foi confiado frutos salutares. Sobretudo, não permitais – como alguns pretendem, ou com a desculpa de renovação da liturgia, ou falando com leviandade de uma eficácia e dignidade exclusivas dos ritos litúrgicos – que as Igrejas sejam fechadas durante as horas não destinadas às funções públicas, como já acontece em algumas regiões; que a adoração e a visita ao santíssimo sacramento sejam menosprezadas; que se desaconselhe a confissão dos pecados feita com o fim único de devoção; que se desleixe, especialmente entre a juventude, o culto da virgem Mãe de Deus, que, no dizer dos santos, é sinal de predestinação. São esses frutos envenenados, sumamente nocivos à piedade cristã, que repontam de ramos infectos de uma árvore sã; é necessário, por isso, extirpá-los, para que a seiva da árvore possa nutrir somente frutos agradáveis e ótimos (...).

167. Além disso, há outros exercícios de piedade que, se bem não pertençam a rigor e de direito à sagrada liturgia, se revestem de particular dignidade e importância, de modo que são tidos por insertos no quadro litúrgico, e gozam de repetidas aprovações e louvores desta Sé Apostólica e dos bispos. Entre esses se devem enumerar as orações que se costuma fazer durante o mês de maio em honra da virgem Mãe de Deus, ou durante o mês de junho em honra do sacratíssimo coração de Jesus, os tríduos e novenas, a "Via sacra" e outros semelhantes.

(...) 169. Por isso faria obra perniciosa e de todo errônea quem ousasse temerariamente assumir a reforma desses exercícios de piedade, para enquadrá-los apenas nos esquemas litúrgicos (...)" [4].

S. Gregório Magno, Pio XII e seu Santo Ofício citados pelo Pe. João Batista Reus (1868-1947)

"18.      4. A excelência da Liturgia foi intensivamente salientada pelo movimento litúrgico moderno. O seu precursor foi Gueranger com o seu "Ano Litúrgico" (1841). O movimento litúrgico atual tem a sua origem na reforma da música sacra por Pio X (1903). Se o povo toma parte no canto litúrgico, é natural exigir que entenda as palavras do texto. E se assiste à missa solene, é lógico adverti-lo que compareça á missa rezada e outros atos litúrgicos.

O movimento litúrgico quer, portanto, proporcionar ao povo a possibilidade de entender melhor a Liturgia e, pelos ensinamentos nela contidos, contribuir para a reforma e perfeição da vida cristã. Consegue este fim teórica e praticamente. A teoria compreende as instruções sobre a liturgia dos sacramentos e sacramentais, as práticas litúrgicas, semanas e revistas litúrgicas, a arte litúrgica, a tradução dos textos litúrgicos. A prática é de maior importância. Abrange a assistência à missa, a celebração das missas solenes e cantadas e o canto do povo, o uso piedoso dos sacramentos e sacramentais, as procissões, exposições do Santíssimo, a vida com os tempos litúrgicos, as devoções públicas e privadas correspondentes aos tempos litúrgicos. Tudo isto é louvável e próprio para remediar a ignorância de não poucos que não sabem distinguir a missa da bênção eucarística. O movimento litúrgico promove especialmente a missa dialogada.

19.     5. Missa dialogada chama-se o santo sacrifício celebrado não só com assistência mais ou menos passiva do povo, mas com a assistência decididamente ativa. O sacerdote reza no altar e o povo responde. É diálogo.

Esta forma de celebrar a missa tem o seu sólido fundamento na qualidade da missa como ação litúrgica comum do sacerdote e do povo e na verdade do Corpo Místico de Jesus Cristo. Rege-se pelas rubricas do missal e pelos decretos da S. Congregação dos Ritos.

1. Na missa rezada os fiéis podem responder junto com o ministro (ajudante) aquelas fórmulas, pelas quais o celebrante se dirige ao povo. Não existe rubrica que o proíba.

2. Sem licença do Bispo é permitido aos fiéis responder junto com o ministro ao Confiteor (Rit. cel. III, 9, 10), Kyrie (IV, 2) e Orate fratres (VII, 7). Por isso podem os fiéis rezar em latim o Confiteor com o ajudante para a comunhão, dentro e fora da missa.

3. Só com licença do Bispo, especial para cada comunidade (in singulis casibus, S. C. R. 30 nov. 1935), é permitido aos fiéis responder ao C junto com o ministro, em todas as partes em que o ministro responde, p. ex., Deo gratias; Laus tibi, Christe; etc.

20.     4. Sem a dita licença especial do Bispo não se permite recitar junto com o sacerdote o Glória, o Credo, o Sanctus, o Benedictus, o Agnus Dei. (S. C. R., 30 de nov., 1935.) Nem o Glória, nem o Credo, nem salmo algum, ao menos no século IX, foi cantado pelo povo. E não se pode provar que mais tarde os fiéis tivessem o direito de dizer na missa rezada, junto com o C, aquelas partes que podiam cantar na missa solene. As partes que na missa solene são cantadas pelo côro e pelo povo, por lei constante da Igreja, foram confiadas na missa rezada exclusivamente ao sacerdote.

5. É contra a tradição constante e antiqüíssima o povo recitar em comum com o sacerdote o Pater noster. (S. Greg. Mag., ep. 12.)

6. Outras fórmulas, p. ex. Domine non sum dignus, não foram permitidas ao povo.

7. É proibido que se diga a missa sem ajudante varão, e que o povo responda em seu lugar. (Can. 813.)

8. É proibido que os fiéis leiam em voz alta as secretas, o cânon, e as palavras santas da consagração. Estas partes devem ser rezadas pelo sacerdote, em voz baixa, com exceção de poucas palavras. O que se não concede ao C, não se pode conceder ao povo. (d. 4375.)

21.     9. Supõe-se sempre que o celebrante consinta em se dizer a missa dialogada. Em diversos decretos a S. Congregação dos Ritos declara: nem tudo o que é licito é também oportuno, por causa dos inconvenientes que facilmente resultam, pela perturbação que podem sofrer os sacerdotes com detrimento da ação santa e das rubricas (d. 4375), e isto ainda mais na recitação em comum do Glória, Credo, etc. (30 de nov. 1935.)

22.     10. Impropriamente chamam missa dialogada àquela em que um leitor reza as partes do sacerdote ou parte de oração litúrgica e o povo responde ou continua os orações começadas. Também para este método vale a proibição de não ler em voz alta as secretas e o cânon. (d. 4375; Periódica 1936, p. 57*, Eph. Lit. 1934, p. 121.) A S. C. R. não favorece a missa dialogada. Por isso diz o C. B. (n. 199): "§ 1. Segundo a mente da S. Sé convém guardar a praxe comum, conforme a qual a reunião dos fiéis, que assistem à missa, não responda em comum ao celebrante. § 2. Nem se pode aprovar o uso, que leiam em voz alta a secreta, o cânon e mesmo as palavras da consagração."

Por Pio XII (Encic. 29-6-1943) foi condenado o liturgismo deprimente que tira o valor da oração privada, mina o amor à Igreja que é venerável também nos seus representantes, descura da devoção, a Maria Santíssima, descuida-se da honra divina de Jesus Cristo, e exagera o mistério do Corpo Místico de Cristo, querendo identificar o homem com Cristo, ao passo que este mistério é "a união da fé em Cristo e na Igreja e pela Igreja"." [5]

S. Leonardo de Porto Maurício (1676-1751) ao não querer impor um método de assistir ao Santo Sacrifício, mas sugerindo um melhor (sem livro algum)

"Como, porém, muitas maneiras de assistir à Santa Missa, todas louváveis e santas, têm sido ensinadas até hoje, não tenho a intenção de impor-vos a minha. 

Deixo-vos, portanto, a liberdade de escolher aquele modo que mais vos agradar e vos parecer mais conforme à vossa devoção e capacidade, e farei junto de vós apenas o ofício de Anjo da Guarda, propondo-vos o método mais frutuoso, quero dizer, o que, a meu humilde julgamento, poderá ser para vós mais vantajoso e fácil. Neste fim, distinguimos três classes de métodos.

O primeiro é o das pessoas que, de livro na mão, seguem atentamente todas as ações do sacerdote, a cada uma recitam outra prece vocal que lêem no livro, e assim passam todo o tempo da Missa a ler. Não há dúvida que, se a essa leitura se junta a meditação dos grandes mistérios, é uma excelente maneira de assistir ao Santo Sacrifício e produz também grandes frutos.

Visto, porém, exigir atenção excessiva, pois é necessário seguir todas as cerimônias que o sacerdote efetua, e em seguida dirigir os olhos ao livro para aí ler a oração correspondente, torna-se uma prática fatigante, na qual poucas pessoas, creio, hão de persistir, dada a fraqueza do nosso espírito que se enfada facilmente de refletir sobre tantas ações diversas que o sacerdote executa no altar. Enfim, aquele que se acha bem assim e tira proveito espiritual, continue a seguir este sistema; pois à prática tão laboriosa não faltará uma recompensa da parte de Deus.

A segunda maneira de assistir à Santa Missa é a das pessoas que não se servem de livros e não lêem absolutamente nada durante todo o tempo do santo Sacrifício, mas que, com viva fé, fixam os olhos da alma em JESUS crucificado, e, apoiadas na árvore da Cruz, dela recolhem os frutos por meio de doce contemplação. Passam todo esse tempo em piedoso recolhimento interior e na consideração dos sagrados mistérios da Paixão de Jesus Cristo, que são, não somente representados, mas misticamente reproduzidos na Santa Missa. É certo que estas pessoas, mantendo suas almas assim recolhidas em Deus, exercem atos heróicos de Fé, Esperança e  Caridade e de outras virtudes, e não há dúvida que esta maneira de assistir à Santa Missa é muito mais perfeita que a primeira, e também mais doce e mais suave, como o atesta a experiência de um bom irmão converso (...)" [6].

->Teses liturgicistas errôneas

- A missa dialogada (em que o povo responde ao sacerdote junto do acólito), como manifestação da participação ativa do povo, é o modo mais eficaz ou o único de participar do Sacrifício eucarístico. Assim, durante a liturgia é pior ou errôneo meditar piamente os mistérios de Jesus Cristo ou fazer exercícios de piedade (o terço por exemplo) e outras orações que, embora na forma difiram dos sagrados ritos, correspondam pela sua natureza.

- A missa dialogada, sendo uma manifestação da participação ativa do povo, há de tomar o lugar das missas solenes ou todas as missas devem ser assim.

- A participação ativa do povo na missa é necessária para que o Sacrifício possa ter força e eficácia, isto é, a missa celebrada sem acólito ou sem povo é sempre menos eficaz do que a missa com acólito ou com o povo.

- A comunhão extra-litúrgica fora dos dias de preceito é condenável para quem pode comungar na missa participando ativamente nesta.

- Ao fiel leigo, as devoções como o breviário e as completas, por serem litúrgicas, são melhores do que devoções como o rosário, a adoração e a visita ao Santíssimo Sacramento, Via-Sacra, e outras orações ou meditações privadas, as quais, por isso, devem ser abandonadas ou preteridas em relações às devoções litúrgicas.

Objeções liturgicistas

Obj. 1: São Pio X apoiou a participação ativa na missa no seu motu proprio "Tra le Sollecitudini", ao falar e incentivar "a participação ativa nos sacrossantos mistérios e na oração pública e solene da Igreja". "Procure-se nomeadamente restabelecer o canto gregoriano no uso do povo, para que os fiéis tomem de novo parte mais ativa nos ofícios litúrgicos, como se fazia antigamente".

Resp: A primeira frase provém de má tradução, uma inserção de uma palavra inexistente no Motu Proprio em latim, e a qual a Dra. Carol Byrne, escrevendo ao site "Tradition in Action" [7], chega a apontar indícios de manipulação consciente da versão vernácula do documento. De qualquer forma, a frase correta é "quae est participatio divinorum mysteriorum atque Ecclesiae communium et solemnium precum", portanto, a palavra "attiva" (ativa), está ausente da frase.

A frase "procure-se nomeadamente restabelecer o canto gregoriano no uso do povo", também sofreu modificações na tradução. Mesmo se a pessoa não soubesse disso, perceberia a contradição, dada as normas Papais seguintes sobre formar corais, e distingui-los do povo, etc, o que seria contraditório se todos devem cantar. Em latim a frase é: "Praesertim apud populum cantus gregorianus est instaurandus, quo vehementius Christicolae, more maiorum, sacrae liturgiae sint rursus participes". 

"Apud populum" é "entre o povo", e não "no uso do povo", o qual deveria levar a palavra "usum". Já "vehementius", traduzido por "mais ativo", é relacionado com o advérbio "vehenmenter", que indica intensidade de emoções, sentimentos e disposições interiores. O Papa usou "vehementer optemus" (vivíssimo desejo) na introdução para indicar um desejo ardente. E também usou na Encíclica "Vehementer Nos". "Vehementius", forma comparativa de "vehementer", pode ser traduzida por “mais ardentemente / mais fervorosamente / em um maior grau". É o que explica a mesma Dra. Carol citada.

Isso é uma das inúmeras manipulações do movimento modernista em sua forma liturgicista, abusando do conceito de "participação ativa", que intrinsecamente não é mau. Para dar a impressão de que S. Pio X, um Papa Santo e tradicionalista, fosse o fundador ou tivesse posto a pedra fundamental da revolução litúrgica, distorceram o significado das palavras do Motu Proprio. Algo que começou com o verdadeiro fundador do liturgicismo, Dom Beauduin, sendo repetido por seguidores como Romano Guardini, Gerald Ellard, Theodor Klauser, Pius Parsch, Jungmann, Bugnini, Reinhold, Alcuin Reid, Joseph Ratzinger e outros.

Além disso, os liturgicistas não são capazes de citar em nenhum outro lugar o apoio de S. Pio X aos seus conceitos. Como se o Papa tivesse, em poucas palavras, vislumbrado ou profetizado um futuro que só eles entenderam, desenvolveram e aplicaram.

Obj. 2: Pio XII apoiou a participação ativa e os reformistas da liturgia.

Resp: Não se pode negar que Pio XII tenha se rodeado de liturgicistas e futuros propulsores do Concílio Vaticano II, inclusive dando-os cargos importantes em comissões da Santa Sé sobre assuntos litúrgicos. Alguns podem ser citados: Bugnini, Bea, Antonelli. O depois Cardeal Bea inclusive tornou-se confessor de Pio XII.

No entanto, suas Encíclicas foram distorcidas pelos progressistas liturgicistas, assim como passou com S. Pio X e seu Motu Proprio. Não parece verídica a opinião de certos tradicionalistas, como a já citada Dra. Carol Bryne [8], de que suas condenações aos reformistas na encíclica "Mediator Dei" são confusas já que o Papa teria apoiado os mesmos ali, ao ter aplaudido os esforços de beneditinos no movimento litúrgico ou falado da "participação ativa". O movimento litúrgico foi sequestrado por liturgicistas, como a própria Dra. Carol admite no caso de S. Pio X, pois esses se dizem continuadores desse Papa. E de fato houve beneditinos que faziam parte do movimento litúrgico verdadeiro, como D. Gueranger.

Quanto à "participação ativa": foi um conceito usado largamente pelos liturgicistas, que lhe deram vários significados eivados de princípios modernistas, como denunciado em trechos da "Pascendi". Em si, "participação ativa", incluindo missa dialogada, não é ruim, e foi isso que Pio XII disse, com o aplauso do eminente católico tradicionalista Dr. Plinio Corrêa de Oliveira [9]. O problema jaz no conceito por trás de querer fazer esta a única forma de missa, ou seja, de querer que o povo responda sempre tudo que o ajudante ou coroinha responde ao sacerdote, ou até mesmo recite em alta voz as palavras do sacerdote, porque dessa idéia vem uma mudança de mentalidade sobre a estrutura da Igreja e a compreensão da hierarquia, propaga-se o sentimento religioso dos modernistas, despreza-se o latim, as outras piedades, e tudo que o liturgicismo visa. No fim, "participação ativa" torna-se uma palavra-talismã à serviço de uma baldeação ideológica inadvertida, como explicitou Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro do mesmo nome, embora seja mais correto falar de "baldeação doutrinária inadvertida".

Por que a "participação ativa" não é intrinsecamente má? A razão foi dada pelo Pe. Reus no trecho citado acima, padre servo de Deus considerado santo também por Plinio Corrêa de Oliveira [10]. Ora, as almas são diversas, e diversas são as aberturas para a graça, e os modos preferidos de assistir a Santa Missa. Assim, alguns podem se beneficiar acompanhando pelo missal, meditando nas palavras do sacerdote e nas respostas do acólito. Isso requer, evidentemente, uma atitude de alma anti-liturgicista, pois se se pensa, com isso, que se está "celebrando" junto ao sacerdote, é uma meditação errônea. Agora, é certo que meditar sobre o missal em silêncio é bem diferente do que é feito na missa dialogada, na qual o povo responde junto do acólito, mas o mal não está em responder, pois o acólito também pode tirar frutos da missa respondendo: o mal está em sempre e em todo lugar haver gente respondendo tudo com o acólito sem motivo particular, como o Pe. Reus diz, por ser fora do costume da Igreja. Um exemplo de missa em que seria benéfico o uso da participação ativa com todo o povo respondendo: a que assistem futuros acólitos e pessoas em catequese sobre a liturgia. São, portanto, exceções.

As atitudes de Pio XII em comparação com os ensinamentos nas encíclicas contra a doutrina progressista também combatida por Dr. Plinio em seu primeiro livro em 1943, só mostram o pulso fraco do Papa Pacelli em relação a esses problemas na Igreja.

Obj. 3: Pio XI apoiou a participação ativa como se entende no liturgicismo: o uso do vernáculo. Inclusive chegou a celebrar a missa dialogada [11]. Da sua Carta Apostólica: "A fim de que os fiéis tomem parte mais ativa no culto divino, restitua-se para o povo o uso do canto gregoriano, no que ao povo tocar. É necessário, na verdade, que os fiéis, não como estranhos ou mudos espectadores, mas verdadeiramente compreendedores e compenetrados da beleza da Liturgia, assistam às sagradas funções de tal modo que alternem a sua voz - segundo as devidas normas e instruções, mesmo em procissões e outros momentos solenes -, com a voz do sacerdote e a do coro. Porque, se isto felizmente suceder, não haverá já mais que lamentar esse triste espetáculo em que o povo nada responde, ou apenas responde com um murmúrio fraco e confuso às orações mais comuns expressas na língua litúrgica e até em língua vulgar" [12].

Resp: A celebração da missa dialogada por parte de Pio XI uma só vez prova a importância de manter este tipo de missa somente como coisa rara, e não como comum. Logo, é um argumento em prol da ortodoxia e contra o liturgicismo.

Na sua Carta Apostólica, Pio XI não deixa de citar "as devidas normas e instruções", isto é, não se trata de responder a tudo. Depois, o Papa reclama de responder mal às "orações mais comuns", o que deixa mais claro ainda não se tratar de todas. A referência ao vernáculo é entendida no mesmo sentido, como orações aprovadas para se rezarem naquela língua em determinado lugar, conforme o costume antigo ou exceção justificada para rezá-las ali.

Isso, entretanto, não isenta o então Pontífice dos mesmos erros pastorais que os de Pio XII, citados acima, sobre a falta de pulso firme contra os erros liturgicistas.

Obj. 4: São Leornardo de Porto Maurício, em seu livro "Excelências da Santa Missa" fala da participação ativa na missa, e de um método de assistir a missa com o livro, citado acima, embora o considere menos frutífero.

Resp: A referência à "participação ativa na missa" existe somente em uma versão na língua portuguesa, adicionada no final, e com prévio aviso de que era uma adição (embora não do santo). Entretanto, ele não obriga a nenhum método como o liturgicismo autoritário, igualitário e internacionalista (pois quer obrigar a todos os povos) visa fazer.

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Papas, santos e teólogos contra o liturgicismo do uso da língua vernácula

Papas e tradição contra o liturgicismo pró altar-mesa, altar único, padre voltado ao povo, e oposto a imagens sagradas. Resposta a objeções

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[1] Prop. n. 86 Denzinger 1436. Bu Unigenitus 8 de Setembro de 1713, proposição de Quesnell condenada.
[2] Em Defesa da Ação católica, 1943, Segunda Parte, Cap. III.
[3] Encíclica Pascendi Dominici Gregis, 8 de setembro de 1907.
[4] Encíclica Mediator Dei, 20 de Novembro de 1947.
[5] Curso de Liturgia, Introdução, 1944, § 5. Excelência.
[6] S.Leonardo de Porto Maurício, Excelências da Santa Missa, Cap.II § 2.
[7] Dialogue Mass - I , A Plea for Silent Participation in the Liturgy, Dr. Carol Byrne, Great Britain. Link:  http://traditioninaction.org/HotTopics/f073_Dialogue_1.htm 
[8] Dialogue Mass - XIII , "The Appeasement Process:  Feeding the German Crocodile (1)", Dr. Carol Byrne, Great Britain. Link: http://traditioninaction.org/HotTopics/f088_Dialogue_13.htm
[9] "A publicação da Encíclica Mediator Dei constitui assim, para todos nós, motivo de santo e vibrante júbilo". "O Legionário", N.º 800, 7 de dezembro de 1947.
[10] Minha Vida Pública, pg.284, Parte V, Cap.IX
[11] 27 de Maio de 1922, Sagrada Congregação dos Ritos, decreto "Missa Dialogata", 4 de Agosto de 1022. AAS 14 (1922) 505-506.
[12] "Divini cultus sanctitatem". Carta Apostólica de Pio XI Sobre a música sagrada. 20 de dezembro de 1928, A participação do povo.