Bíblia Sagrada, Santos e teólogos sobre erros no débito conjugal do matrimônio

S. Francisco de Sales, rogai por nós!

Extraído de: O Príncipe dos Cruzados (volume II, 2a edição).

Sagrada Escritura


"Todo o pão é doce para o homem voluptuoso; não se cansará de pecar até ao fim da vida. Todo o homem que desonra o seu tálamo (conjugal) despreza a sua alma, dizendo: Quem me vê? As trevas cercam-me, as paredes escondem-me, e ninguém de parte alguma olha para mim; de quem tenho eu receio? O Altíssimo não se lembrará dos meus pecados. (Esse homem) não considera que os olhos do Senhor vêem todas as coisas, que um semelhante temor humano expele de si o temor de Deus, e que os olhos dos homens são unicamente os que o fazem temer. Não sabe que os olhos do Senhor são muito mais luminosos do que o Sol, que em torno estão vendo todos os caminhos dos homens, que penetram o profundo do abismo e os corações dos mesmos homens, até aos mais ocultos esconderijos. Com efeito, o Senhor Deus, assim como conhecia todas as coisas antes de as ter criado, assim também agora, depois que as criou, as vê todas. Este tal será punido nas praças da cidade, será posto em fuga como um potro de égua e, onde ele menos o esperar, será apanhado. Será vexado diante de todos." Eclo XXIII.


São Francisco de Sales

"O leito conjugal deve ser imaculado, como o chama o Apóstolo, isto é, isento de desonestidades e outras torpezas profanas. Porque o santo matrimônio foi primariamente instituído no paraíso terreal, onde até então nunca tinha havido nenhum desconcerto da concupiscência, nem coisa desonesta.

Há alguma semelhança entre os deleites vergonhosos e os do comer; porque ambos dizem respeito à carne, embora os primeiros, em razão da sua veemência brutal, chamem-se simplesmente carnais. Explicarei, pois, o que não posso dizer de uns pelo que direi dos outros.

1. O comer é destinado a conservar as pessoas. Ora, como o comer simplesmente, para alimentar e conservar a pessoa, é uma coisa boa, santa e prescrita, assim o que se requer no matrimônio para a geração dos filhos, e multiplicação das pessoas, é uma coisa boa e muito santa, porque é o fim principal do casamento.

2. Comer, não para conservar a vida, mas para conservar a recíproca conversação e condescendência que devemos uns aos outros, é coisa sobremaneira justa e honesta: e da mesma sorte a recíproca e legítima satisfação dos cônjuges no santo matrimônio é chamada por São Paulo dívida; mas dívida tão grande que ele não quer que uma das partes se possa dela isentar sem o livre e voluntário consentimento da outra; e isso nem mesmo para as práticas da devoção, que é o que me levou a dizer as palavras que a este respeito deixei no capítulo da Santa Comunhão, quanto menos, pois, poder-se-ão eximir por caprichosas afetações de virtude, ou pelas rixas e arrufos (...).

5. Comer, não por simples apetite, mas por excesso e desordem, é coisa mais ou menos censurável, conforme o grande ou pequeno excesso.

6. Ora, o excesso no comer não consiste somente na grandíssima quantidade, mas também no modo e maneira como se come. É caso para notar, cara Filotéia, que o mel, tão próprio e salutar para as abelhas, pode-lhes contudo ser tão nocivo que às vezes as põe doentes, como quando comem em demasia na primavera: porque isto traz-lhes fluxo do ventre, e algumas vezes fá-las morrer inevitavelmente, como quando estão cobertas de mel no focinho e nas asas (...).

7. É uma verdadeira prova de um espírito truanesco, vil, abjeto, e infame, pensar nas iguarias e nos manjares antes do tempo da refeição, e ainda mais, quando depois dela se saboreia o prazer que se teve, comendo, tomando-o por assunto de conversas e pensamentos, e refocilando o espírito na lembrança do prazer que se sentiu ao tragar os bocados, como fazem aqueles que antes do jantar estão com o espírito preocupado no assador, e depois de jantar nos pratos; pessoas dignas de serem moços de cozinha, que fazem, como diz São Paulo, do seu ventre um Deus; as pessoas honradas e dignas não pensam na mesa senão quando se sentam a ela, e depois da refeição lavam as mãos e a boca para não ficar com o gosto, nem com o cheiro do que comeram. 

O elefante não passa de um grande animal, mas é o mais digno que vive sobre a terra, e quem mais estimo; eu quero dizer-te aqui um rasgo da sua honestidade: nunca muda de fêmea e ama ternamente a que se escolheu, com a qual não tem coito senão de três em três anos, e isto apenas por cinco dias, e tão secretamente, que nunca é visto neste ato; é porém bem-visto ao sexto dia, no qual, antes de tudo, vai direto a algum rio, onde lava todo o corpo, sem querer de modo algum voltar ao rebanho antes de se ter purificado. Não são belas e honestas as qualidades deste animal pelas quais convida os casados a não ficarem presos de afeição às sensualidades e prazeres, que segundo o seu estado tiveram; mas, passadas estas, a lavar delas o coração e o afeito, e a purificar-se o mais cedo possível, para poder depois praticar com toda a liberdade de espírito as outras ações mais puras e elevadas?" [1].

Santo Tomás de Aquino falando dos pecados contra a natureza

"E depois vem o pecado consistente em não guardar o devido modo de realizar o coito, mais grave se não se realiza no órgão próprio da geração do que se há alguma desordem em relação a outros detalhes relativos ao modo de realizar o coito" [2].

Santo Afonso Maria de Ligório

“Se o marido se retira após seu clímax, mas antes do clímax da mulher, é possível para ela se excitar imediatamente com toques para alcançar o clímax?”

O santo responde pela negativa.

“A razão: porque o clímax da mulher não é necessário para a procriação, e também porque o prazer sexual da esposa, enquanto está separado do homem, não ocorre como uma só carne com o marido[3].

Pe. Antonio Royo Marín

"V. Anomalias Sexuais

604. I. Noção. Designam-se com o nome de anomalias sexuais certas formas de perversão sexual, nativas ou adquiridas por hábitos viciosos, nas quais o instinto sexual se manifesta por meios extraviadas e anormais. A maioria são desvios adquiridos, embora em algumas se possa mesclar algum fator hereditário ou da constituição.

3) Hiperestesia Sexual. Consiste na veemência extraordinária com que habitualmente se atua o instinto. Frequentemente vai unida a outro desvio chamado parestesia.

4) Parestesia Sexual. Consiste na anormalidade dos instintos, que não se excitam com os estímulos normais, e sim com outros alheios à sexualidade. Suas principais formas são:

a. Sadismo: o instinto se excita por representações ou atos de crueldade ativas (golpear, ferir, perfurar, açoitar, matar...). É mais frequente no homem que na mulher.

b. Masoquismo: a atuação do instinto se logra com imaginações ou atos de crueldade passivos. É más frequente na mulher que no homem.

c. Fetichismo: o instinto atua por estímulos que nenhuma relação tem com o sexual; isto é, a vista ou imaginação de sapatos, camisas, cabelos, luvas e até objetos de limpeza, chaves, fechaduras, etc.

d. Exibicionismo: se sente, como suprema expressão do instinto, o impulso de mostrar as próprias partes desonestas às pessoas do sexo distinto.

5) Narcisismo: o instinto se compraz admirativamente no próprio corpo (às vezes até extremos ridículos, como beijar-se a si mesmo no espelho), permanecendo indiferente diante dos demais.

5. Inversão Sexual (chamada também homossexualismo), na que o instinto só atua diante do próprio sexo, com aversão ao contrário.

606.3. Responsabilidade moral. Tenha-se em conta as seguintes observações:

1ª O fato de padecer alguma destas anomalias não significa necessariamente um crime. Às vezes são tendências hereditárias ou da constituição corporal; mas normalmente se adquirem ou se solidificam pela repetição de atos viciosos.

2.a Aquele que padece alguma destas anomalias está obrigado a reprimi-la, como o homem normal deve reprimir seus instintos desordenados" [4].




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[1] Filotéia, Ed. Vozes, Parte III, Cap.39 
[2] Suma Teológica, II-II, q.154, art.12. resp.4
[3] Theologia Moralis, Livro VI, Q. 919. Tradução de Ronald L.Conte Jr. pelo link: https://ronconte.wordpress.com/2015/11/21/saint-alphonsus-liguori-on-marital-chastity/ 
[4] Teología Moral para Seglares