Doutrina Católica sobre a Astrologia com textos de S. Tomás, S. Agostinho, S. Afonso, S. Boaventura, Sixto V, etc


S.
Afonso Maria de Ligório, rogai por nós!

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados" (volume II, 2a edição).
 
Sumário deste artigo

-> Introdução
-> Compilados da Tradição: Sagrada Escritura, Santos citando Papas e outros santos
-> Proposta de classificação dos tipos de Astrologia
-> Avaliação dos tipos de astrologia segundo os textos da Tradição e a simples lógica
-> Resumo da licitude dos tipos na classificação proposta, conforme o que foi visto até aqui
-> Conclusão Final

***
-> Introdução

Este artigo compila textos sobre a veracidade da astrologia e, portanto, sobre o seu uso da tão somente através da Doutrina Católica, e uma parte importante dessa, que é a metafísica de base tomista. Assim, põe-se de lado análises do ponto de vista da ciência experimental, a qual poderia contribuir também, como dito ao final. Uma análise metafísica e doutrinal, inclusive, já auxilia a ciência experimental a se ater ao mais importante. 
 

Convém notar que a astronomia é abaixo referida algumas vezes pelas fontes citadas como um tipo de astrologia (talvez pela etimologia da palavra), entretanto, esta avaliação deixa de lado a atual astronomia, muito diferente e razoável ao senso comum hodierno.

Primeiro, alguns trechos da Sagrada Escritura que podem ser usados para justificar ou não a Astrologia, depois as citações de santos teólogos que trataram do tema: S. Tomás, de um ponto de vista bem filosófico, e S. Afonso Maria de Ligório, que apresenta a questão no estilo teológico dogmático. Ambos se referem a muitos outros autores. Ao final, propomos uma divisão dos tipos de astrologia existentes até hoje, um resumo e uma conclusão na falta de resolução melhor e autorizada para tais temas candentes atualmente.
Deus, nas "exéquias de Seu Filho", mostrou Seu poder 
sobre os astros ao fazer surgir um eclipse solar em plena lua cheia

-> Compilados da Tradição

S
agrada Escritura


"Disse também Deus: Sejam feitos luzeiros no firmamento do céu, e separem o dia da noite, e sirvam para sinais e tempos, os dias e os anos; e resplandeçam no firmamento do céu, e alumiem a terra. E assim se fez" Gn I, 14-15

Comentário: Além de servir para marcar os relógios com "dias e os anos", e servir para "sinais e tempos", os luzeiros parecem indicar tipos de astrologia. Embora "tempos" possa simbolizar somente as estações do ano, "tempo" na Sagrada Escritura, principalmente no livro de Eclesiastes, é usado de forma ampla.


"Combateu-se do céu contra eles; as estrelas, permanecendo na sua ordem e no seu curso, combateram contra Sísara" Juízes V, 20

Comentário: parece indicar uma influência astrológica nos eventos nacionais, da qual se falará aqui.


"Esbanjaste teus esforços entre tantos conselheiros. Que eles então se levantem e te salvem, aqueles que preparam o mapa do céu e observam os astros, que comunicam a cada mês como irão as coisas" Is XLVII, 13

Comentário: o profeta fez esse oráculo contra a Babilônia. Pode-se entender como uma crítica aos astrólogos da Babilônia à qual se refere o profeta, e também às suas práticas. Essas práticas parecem se enquadrar melhor no hábito de consultar astrólogos para tudo, como referido a seguir, ou ainda a idéia de que tudo pode ser previsto por astrologia. Além disso, parece indicar mais especificamente a incapacidade de uma nação ou povo fugir do castigo de Deus, que não depende dos astros para agir.


"E serão expostos ao sol, à lua e à multidão das estrelas que tanto amaram e serviram, e que seguiram, a quem consultaram e adoraram; não serão recolhidos, nem enterrados, ficarão sobre a face da terra como esterco" Jr VIII

Comentário: mais uma advertência profética contra um povo ímpio. No caso, ao que passou das observações do céu a sua adoração, tomando as estrelas como deuses.

S. Tomás de Aquino citando S. Agostinho e S. João Damasceno

"No entanto, deve-se saber que embora os corpos celestes não possam ser causas dos nossos conhecimentos, indiretamente podem operar neste sentido. Porque, ainda que o entendimento não seja uma potência corporal, entretanto em nós não pode efetuar-se a operação intelectual sem a cooperação das potências corporais que são a imaginação, a memória e a cogitativa, conforme consta pelo que foi dito anteriormente (Livro II, c. LXVIII, fin.). E isto é de tal modo que, impedidas as ações desta potências, por alguma indisposição corporal, impede-se também a operação intelectual, como se vê nos frenéticos e letárgicos, etc. Por isso, a boa disposição do corpo humano o torna apto para bem entender, já que por ela se robustecem ditas potências, tendo por isso escrito o Filósofo: "Vermos serem os de composição delicada os mais aptos para a ordem intelectual" (II Livro "Sobre a alma" 9, 421a; Cmt 19, 485)

Mas a disposição do corpo humano está sujeita aos movimentos celestes. Pois diz Santo Agostinho No Livro V da "Cidade de Deus" (c. 6) que "não é totalmente absurdo o afirmar que as irradiações siderais possam produzir pelo menos mudanças nos corpos". E S. João Damasceno no "Da Fé ortodoxa" (Livro II, c.7), diz que os distintos planetas "provocam em nós diversos temperamentos, hábitos e disposições" Portanto, os corpos celestes cooperam indiretamente para a bondade da inteligência. E assim como os
médicos podem julgar da bondade do entendimento pela compleição corporal, tomada como disposição próxima, assim o pode fazer também o astrólogo, tomando os  movimentos dos corpos celestes como causa remota de tal disposição. E assim se pode verificar o que diz Ptolomeu: "Quando Mercúrio se acha em alguma das moradas de Saturno, dá inteligência capaz de penetrar as coisas, fazendo robusto a quem então nasce" (Centilóquio, Sentença 38)" [1].

"Entretanto, deve-se saber que, ainda que os corpos celestes não sejam diretamente causa de nossas eleições, como se influíssem diretamente em nossas vontades, podem ser, não obstante, indiretamente causas ocasionais, enquanto têm influência sobre nossos corpos.
E isto de dois modos: Primeiro, quando a influência dos corpos celestes nos corpos exteriores é para nós uma causa de alguma eleição, por exemplo, quando por disposição dos corpos celestes se esfria o ar intensamente, elegemos aquecer-nos junto ao fogo, ou outras coisas, em consonância com o tempo. Segundo, quando eles influem em nossos corpos, por cuja mudança despertam em nós alguns movimentos passionais, ou nos sentimos dispostos pela influência de certas paixões como os coléricos se inclinam à ira,
ou também, quando por sua influência se produz em nós certa disposição corporal que é ocasião de alguma eleição, como quando, ao adoecer, escolhemos tomar remédio.

Por vezes, os corpos celestes são também causa do ato humano, enquanto que alguns, por indisposição corporal se tornam loucos, privados de razão. Porém, nestes não há propriamente eleição, pois se movem por certo instinto natural, como os brutos.

Porém, é evidente e experimentalmente conhecido, que tais ocasiões, tanto externas como internas, não são causa necessária de eleição, porque o homem pode, pela razão, resistir a elas ou obedecê-las. Não obstante, são muitos os que seguem os impulsos naturais, e poucos, isto é, os sábios, os que não seguem as ocasiões de agir mal nem os impulsos naturais. E, por isso, diz Ptolomeu no "Centilóquio" que "a alma sábia colabora com a obra das estrelas", e que "o astrólogo não pode julgar do influxo dos astros se não conhece bem a capacidade da alma e o temperamento natural", e que "o astrólogo não pode dizer coisas particulares, mas só de um modo geral" (Centilógio, Sent. 8). Isto é, porque a influência dos astros surte seu efeito em todos os que não resistem à sua própria inclinação corporal; porém, não se dá neste ou naquele que, porventura, resiste pela razão à inclinação natural" [2].


"Parece que a adivinhação feita por meio dos astros não é ilícita.

1.Com efeito, é lícito conhecer o efeito pelo conhecimento da causa. Assim é que o médico conforme o estado do doente prenuncia a morte. Ora, os astros são a causa do que acontece na terra, segundo Dionísio. Logo, a adivinhação feita pela consulta aos astros não é ilícita.
2. Além disso, segundo o Filósofo, a ciência humana vem da experiência. Ora, mediante muitas experiências alguns chegaram à conclusão de que é possível conhecer alguns fatos futuros pela observação dos astros. Logo, também não será ilícito usar tal adivinhação.
3.Ademais, a adivinhação é ilícita quando resultante de um pacto com o demônio. Ora, na adivinhação feita pela observação dos astros, não há pacto com o demônio, mas só se considera a disposição das criaturas de Deus. Logo, essa adivinhação não é ilícita.

Em sentido contrário, diz Agostinho: "Eu não deixava de consultar aqueles astrólogos, que chamam de matemáticos, embora fossem inúteis os seus sacrifícios e as suas invocações dirigidos aos espíritos para adivinhação do futuro. Tudo isso a verdadeira piedade cristã rejeita e condena".


Respondo. Como acima foi dito, na adivinhação proveniente da falsa ou vã opinião interfere o demônio, para levar as almas ao que é falso e vão. Em vã e falsa opinião incorre quem pretende, mediante a observação dos astros, descobrir coisas futuras que não se podem conhecer por elas. Por isso, é necessário saber o que se pode conhecer do futuro pela observação dos astros. É evidente que eventos necessários no futuro podem ser previstos pela consulta dos astros, como os astrônomos preveem os eclipses. Muitas são as opiniões para explicar como, observando-se os astros, são previstos eventos futuros necessários.

Alguns disseram que os astros mais significam do que causam o que é prenunciado pela sua observação. Mas essa opinião parece irracional. Ora, o sinal corpóreo ou é efeito daquilo de que é sinal, como a fumaça é efeito do fogo do qual ela é sinal, ou resulta da mesma causa, e significando-a, designa também o efeito. Assim, o arco-iris às vezes é sinal de bom tempo, uma vez que sua causa é causa de bom tempo. Não se pode, contudo, afirmar que os movimentos e as disposições dos astros sejam efeitos dos eventos futuros, nem tampouco poderão ser efeitos de uma causa corpórea superior e comum. Poderão, no entanto, ter como causa comum a providência divina. Mas umas são as razões que dispõe os movimentos e disposições dos astros e outras as que dispõem eventos futuros; as disposições e movimentos dos astros são dispostos pela razão de necessidade para que sucedam sempre e do mesmo modo e os eventos futuros são dispostos pela razão de contingência para que aconteçam de modo variável.

Não será, pois, possível que pela observação dos astros se prevejam coisas futuras, a não ser pelo modo como nas causas os efeitos são previstos. Duas são as classes dos efeitos que não são causados pelos astros. Pertencem à primeira classe todos os efeitos acidentalmente contingentes, quer nas coisas humanas, quer nas coisas naturais. Porque, como prova o Filósofo, o ente por acidente não tem causa, sobretudo a natural, como seria a virtude dos corpos celestes, porque o que acontece acidentalmente não é propriamente ente nem uno, por exemplo, quando um aerolito provoca um terremoto, ou quando alguém cavando um sepulcro encontra um tesouro: estes fatos e semelhantes não constituem unidade, mas implicam multiplicidade. A ação natural, porém, sempre termina a algo uno, como também procede de um princípio que é forma da coisa natural.

Pertencem à segunda classe dos efeitos que não são produzidos pelos astros, os atos do livre-arbítrio, "que é faculdade da vontade e da razão". Pois, o intelecto ou razão não é corpo, nem ação de um órgão corpóreo; consequentemente nem a vontade, que está na razão, como diz o Filósofo. Ora, nenhum corpo pode agir sobre algo incorpóreo. Por isso, será impossível que um astro diretamente aja sobre o intelecto e a vontade; isto seria não estabelecer diferença entre o intelecto e os sentidos, opinião que o Filósofo atribui àqueles que diziam que "o pai dos homens e dos deuses determina diariamente a vontade dos homens", entendendo-se por "pai dos deuses", o sol e o céu. Logo, os astros não podem por si mesmos ser a causa do livre-arbítrio. - Poderão, contudo, causar uma disposição para isso, enquanto agem no corpo humano e consequentemente nas potências sensitivas, que são atos dos órgãos do corpo, que nos dispõem para os atos humanos. Como, porém, as potências sensitivas obedecem à razão, conforme o Filósofo, por isso não impõem necessidade alguma ao livre-arbítrio, até porque pode o homem agir pela razão contrariamente à influência dos astros.

Logo, quando alguém usa da observação dos astros para conhecer eventos futuros casuais ou contingentes ou para prever com certeza  as ações futuras dos homens, é movido por opinião falsa e vã. Então, intervém a influência dos demônios. Por isso, a adivinhação será supersticiosa e ilícita. Se, porém, se usa da observação dos astros para prever aquilo que os astros causarão aos corpos, como os tempos da seca e o das chuvas, a adivinhação não será ilícita nem supersticiosa.


Quanto ao 1°, portanto, pelo exposto está clara a resposta.


Quanto ao 2°, deve-se dizer que de duas maneiras acontece que os astrólogos prenunciam verdades pela observação dos astros. Primeiro, porque muitos homens seguem as paixões corporais e por isso os seus atos são dispostos geralmente segundo a influência dos astros; entretanto, poucos são os que, por serem sábios, moderam essas inclinações pela razão. É por isso que os astrólogos prenunciam muitos fatos verdadeiros, sobretudo, eventos comuns, que dependem da multidão.

Segundo, porque há influências demoníacas. Donde escreve Agostinho: "Deve-se dizer que, quando os astrólogos dizem verdades, dizem-nas devido a uma ocultíssima inspiração que a mente humana recebe sem que se dê conta. quando isso é feito para enganar os homens, é operação dos espíritos imundos e sedutores, aos quais foi permitido conhecer algumas verdades das coisas temporais." E, pouco adiante, conclui: "Por isso, o bom cristão deve se precaver desses astrólogos ou de qualquer outro adivinhador, máxime quando dizem verdades: evita-se assim que a alma enganada firme um pacto de união como os demônios".

Quanto ao 3°, deve-se dizer que pelo exposto está clara a resposta" [3].


S. Afonso Maria de Ligório citando o Papa Sixto V, S. Tomás de Aquino e inúmeros outros

"5) Se alguém fosse depender das estrelas, sonhos ou coisas similares que regulariam quase todas as suas ações e vida de acordo com elas, os doutores ensinam que esta pessoa peca mortalmente. Lessius, Suarez, Sanchez, loc.cit (os doutores de Salamanca ensinam o mesmo, tr.21, c.11, punct.5, n.64, com Navarro, Trullenchus e Palaus).

6) Deixar de fazer algo uma vez ou repetidamente pela observação de tais coisas, o que não se faria sem esta observação, é tido como pecado mortal, Cajetano e Armilla (v. Somnium) pensam que é somente venial temer ligeiramente que não aconteçam ou que pressagie o que pode acontecer, como Suarez nota (sup. loc. cit. os de Salamanca falam o mesmo, cit. n. 64) (...).

8) Os seguintes são lícitos: (...) Astrologia natural, que prediz efeitos corpóreos e outros efeitos como os ventos, um eclipse, fertilidade, saúde, pragas e coisas similares que são úteis à medicina e à agricultura, e mesmo quando a partir de um local de nascimento, ou um horóscopo se prediz a provável compleição do corpo e afeições da mente. Porque estas adivinhações são todas naturais e usam meios proporcionais. Lessius, l. 2, c.43, d.7.

10. - Outra coisa é a Astrologia Natural, a qual adivinha chuvas, tempestades, esterilidade da terra, e coisas similares, e não é ilícita, como Busembaum fala aqui (com os de Salamanca, ibid. punct.4, §1, n.35), embora a maior parte do tempo seja inútil e incerta. Outra coisa é a judiciária, que prediz contingências futuras a partir de sinais nas estrelas, os quais dependem da vontade do homem, e esta, se é feita para uma pessoa particular, é ilícita, como os autores dizem (de Salamanca ibid. §2, n.46, com Trullenchus, Sanchez, Sal, etc. contra Palaus e outros citados), mesmo se for feita como algo incerto, mas conjectural ou provável (A Constituição Moderator Coeli do Papa Sixto V, no ano de 1586, condena as predições que não ousam afirmar ou protestar qualquer coisa como certa). Além disso, [os autores] pensam ser lícitas se feitas de modo geral, como quando preveem guerras, rebeliões, etc. Os doutores de Salamanca concordam com isso (ibid. n.48) apoiando-se em S. Tomás, que assim fala na Suma Teológica Parte I, q.115, art.4: "Objeção 3. Os astrólogos predizem às vezes coisas verdadeiras sobre guerras e outros acontecimentos humanos que procedem do entendimento e da vontade. Isto não se poderia fazer se os corpos celestes não fossem causa dos atos humanos. Portanto, os corpos celestes são causa dos atos humanos (...).

3. À terceira é preciso dizer: São muitos os homens que seguem as paixões, que são movimentos do apetite sensitivo, nas quais podem influir os corpos celestes. Por outro lado, não são poucos os sábios que as resistem. Esta é a razão pela qual os astrólogos podem predizer na maioria das vezes coisas verdadeiras. E ainda mais se dizem generalidades.

Não sucede assim se falam pormenorizando, porque sempre fica a possibilidade de qualquer homem resistir às paixões por seu livre-arbítrio. É preciso ter presente que os mesmos astrólogos (S. Alberto Magno, In Sent. l.2 d.15 a.4, BO 27,276) afirmam que o homem sábio domina os astros ao dominar suas paixões".

Em vista disso, pergunta-se: é lícita a astrologia que prediz a partir de um horóscopo, um lugar de nascimento, as inclinações ou o temperamento de alguém?

Distingue: se prediz estas coisas como certas, é com certeza ilícita, porque todas estas coisas são incertas. Assim pensam os doutores de Salamanca, ibid. §3, n.50, com Sanchez, Trullench, Suárez, e outros, e assim pensam ser pecado leve (n.52) Laymann, Suárez, Sanchez, etc. contra Filliuci e Trullenchus. Mas se alguém prediz somente conjecturalmente ou provavelmente, é lícito (como dizem os de Salamanca ibid. no.53, com S. Tomás, Suárez, Palaus, Bonacina).

9) Todas as adivinhações anteriormente mencionadas são proibidas, se algo é sabido a partir delas, ou algo pretende-se saber em relação a elas, ao qual elas não são proporcionais, como no que diz respeito aos efeitos contingentes livres, ou efeitos que dependem de Deus, ou em relação ao estado da alma, dons de graças, riquezas, honras, fortuna, casamento, estado de vida e coisas similares nas quais a escolha é voluntária ou depende do livre-arbítrio do homem, e de modo semelhante coisas ocultas, como roubo, ou tesouros escondidos" [4].

S. Boaventura

"18. O segundo erro é o da necessidade fatal, como o das constelações: se o homem nasceu debaixo de tal constelação, será necessariamente ladrão, ou bom ou mau. Isto destrói o livre arbítrio, o mérito e o prêmio, porque se o homem faz necessariamente o que faz, o que faz o livre arbítrio? O que merecerá? Segue-se, assim mesmo, que Deus é a origem de todos os males. É verdade que as estrelas deixam alguma disposição, contudo, só Deus domina a alma racional" [5].

-> Proposta de classificação dos tipos de Astrologia

1. Que tratam do futuro

1.1. Da Natureza numa região ampla ou geral

Natural: visa determinar o tempo meteorológico futuro (meramente por mapas astrológicos vindouros de regiões). Exemplo: se haverá chuva, seca, vento, ou se haverá praga, etc.

1.2. Da Natureza numa região pequena ou singular
Horária da natureza: visa determinar o futuro de coisas singulares da natureza. Exemplo: se determinada árvore vai cair, ou um animal vai morrer por doença, ou um morro vai desabar, etc.

1.3. Do homem nos eventos singulares
Astrologia Horária: visa determinar eventos singulares.
Horária pessoal-pessoal: horária que visa determinar a relação de uma pessoa com alguém. Exemplo: se tal pessoa quer casar com a outra, se uma vai trair a outra, se ganhará um jogo contra outra pessoa, etc.
Horária pessoal-material: horária que visa determinar a relação de uma pessoa com algo. Exemplo: se certa pessoa vai largar o emprego, vai adoecer, vender a casa, se acertará todos os tiros no jogo de tiro, etc.
Horária pessoal-espiritual: horária que visa determinar a relação de uma pessoa com o espiritual. Exemplo: se tal pessoa vai apostatar, vai progredir na fé, etc.
Astrologia de horóscopo: visa determinar eventos gerais de um dia do homem. Em geral, o dia é um evento singular na vida do homem, por isso, aqui pertence o horóscopo.

1.4. Do homem nos eventos gerais 
Astrologia Profectiva Relativa, que usa Profecção, Firdaria, Lunar, Revolução Solar, entre outras técnicas.
Profectiva pessoal: 
visa determinar as relações pessoais da pessoa, em geral, em determinada época
. Exemplo: se tal pessoa vai casar, vai ter mais amigos, etc.
Profectiva materialvisa determinar as relações materiais da pessoa, em geral, em determinada época. Exemplo:  se tal pessoa vai largar o emprego, ter saúde, trocar de casa, etc.
Profectiva espiritual: visa determinar as relações espirituais da pessoa, em geral, em determinada época. Exemplo:  se tal pessoa vai apostatar, vai progredir na religião, etc.

1.5. Das nações ou conjuntos nos eventos gerais
Mundial ou Mundana: visa determinar os eventos principais que ocorrerão em uma nação ou povo. Exemplo: guerra ou desemprego, mudança no governo, fome ou baixas financeiras, etc, sem especificidade.
Horária mundial: visa determinar os eventos principais que ocorrerão em uma nação ou conjunto de pessoas, como dito anteriormente, através da técnica da astrologia horária.
Mundial profectiva: Mundial com as técnicas da Astrologia Profectiva e seus tipos acima descritos, usando um mapa natal da Nação ou conjunto, o qual pode ser uma empresa.

1.6. Das nações ou conjuntos nos eventos singulares

Horária empresarial ou de associação: visa determinar eventos singulares que ocorrerão a uma nação ou conjunto de pessoas. Esta horária tenta descobrir eventos de pouca influência para o conjunto determinado, caso contrário não seria de eventos singulares, e sim de eventos gerais. Exemplo: se haverá em uma empresa grande um tanto número de faltosos, ou se uma estatal do governo vai gerar lucro para ele.

2. Que tratam do presente

2.1. Do homem nos eventos gerais ou astrologia Natal 

Natal relativa pessoal: visa determinar as relações pessoais de alguém em geral. Exemplo: com os pais, amigos, superiores, etc.
Natal relativa material: visa determinar as relações materiais da alguém em geral. Exemplo: financeira, financeira dos pais, da família, etc.
Natal relativa espiritual: visa determinar as relações espirituais de alguém em geral. Exemplo: se é religiosa ou de pouca fé, que tipo de fé tem, etc.
Natal clássica: visa determinar o temperamento e disposições da pessoa em geral.

2.2. Das coisas nos eventos singulares
Horária de categoria: horária que visa rastrear uma ou mais das dez características do ser de uma coisa da natureza. Normalmente é utilizada a que pretende encontrar a posição, como a horária que faz a pergunta "onde estão as chaves que eu perdi?".

2.3. Das nações ou conjuntos no geral
Natal Mundial ou Natal Mundana: visa determinar a característica de uma nação ou conjunto pela data de fundação.

2.4. Das nações ou conjuntos nos eventos singulares
Horária empresarial ou de associação: visa determinar a situação de uma nação ou conjunto de pessoas.

3. Que tratam do passado

Todas as técnicas astrológicas do presente e do futuro são usadas para o passado, e n
ormalmente para testar a validade da técnica. Logo, não há uma astrologia única referente ao passado.

-> Avaliação dos tipos de astrologia segundo os textos da Tradição e a simples lógica

Horária em todos os tipos


A astrologia horária é inválida por causa da técnica empregada, que se baseia em perguntas para poder abrir um mapa. Ora, a pergunta, enquanto salta na mente, nada mais é do que um fato casual do homem, e por si só não teria influência dos astros, como vimos nos textos. O bom senso ainda ajunta, pois duas ou mais pessoas podiam ter a mesma pergunta em momentos diferentes e combinações astrológicas totalmente diferentes: qual seria o verdadeiro mapa da horária? Não se pode dizer que os mapas serão diferentes, mas as respostas iguais (abstraindo qualquer incompetência do astrólogo), porque isso equivale a admitir que todas perguntas que atiçam o homem são já definidas pelos astros, ou seja, mina-se o livre-arbítrio humano. Além disso, há a razão de que tratam de eventos contingentes, conforme os textos compilados.

Dos eventos singulares (1.3, 1.6, 2.2, 2.4)


Nos eventos singulares não há influência astral porque esses são acidentalmente contingentes, casuais, como os textos citados mostraram. Portanto, a astrologia de horóscopo, como a que se vê nos jornais de hoje sobre a influência diária nos signos, é falsa, mas diferente da astrologia citada nos textos, porque o horóscopo, historicamente, é posterior.


As que se referem ao espiritual

Falsas, pois a graça é dada livremente. O poder de Deus não é limitado ao curso dos astros. Não se pode de modo algum fazer uma astrologia das coisas espirituais. Do contrário o catolicismo pareceria uma religião de predestinados pelos astros.

Dos eventos gerais relativos (1.4, parte de 1.5, parte de 2.1
)

Também os astros não têm influência nos eventos nos quais entra o
livre-arbítrio do homem e sua capacidade de resistir às paixões, como os textos mencionam. São essas as relações pessoais, materiais e as espirituais já citadas, mesmo não especificamente em uma época, porque todas dependem da vontade do agente em um primeiro modo. De um segundo modo, elas dependem da graça que Deus dá para progredir espiritualmente, ou para ter relações adequadas ao avanço espiritual, sejam elas materiais ou pessoais. O mesmo se diga de uma bênção em uma nação. E de um terceiro modo, lembramos da análise de S. Agostinho sobre os gêmeos Esaú e Jacó que nasceram na mesma hora, sem mudança essencial no mapa astral de ambos, mas tinham temperamentos diferentes, e tiveram futuros diferentes. Ora, na vida de Jacó entrou a graça, entre outros fatores.

No entanto, conforme visto, essas relações podem ser influenciadas pelos astros quando o homem se sujeita às paixões corporais, mas prever a relação do homem com as coisas é pormenorizar e, portanto, tratar de eventos contingentes que os astros não podem influenciar.

Natal Mundial (2.3)

É inútil, pois estipular uma data de nascimento a uma nação ou povo é impossível. Alguns dizem que pode ser a data de independência, mas certos países caíram no jugo de outros países depois, e possuem mais de uma independência. Outros, mudaram o regime político de monarquia para república ou o inverso: isto pode significar um novo nascimento da nação, pois o Estado se inclui nesse contexto. Outros travaram uma batalha, ou ato de independência e uma proclamação independentista posterior, criando dificuldade sobre qual seria a data mais apropriada. Todas essas coisas são discussões inúteis e arbitrárias, pois diferente de uma pessoa, não há um momento em que um povo ou nação passa a respirar e viver neste mundo, passando a ser influenciado pelo ar deste mundo, pois sempre as nações e estados se formam com a mistura do existente e do novo. Portanto, é inútil utilizar um mapa natal para a astrologia mundial, a qual só faz sentido, conforme visto nos textos, quando se trata de avaliar a influência dos eventos astrológicos em relação a uma região, onde reside um determinado povo ou nação.  

-> Resumo da licitude dos tipos na classificação proposta, conforme o que foi visto até aqui

Lícitas: Natural, Mundial, Natal Clássica.


Ilícitas: Horária (todos os tipos), Horóscopo, Profectiva (todas as técnicas), Natal relativa (todas as relações), Natal Mundial.

-> Conclusão Final

Urge notar que a consideração doutrinal e metafísica de certos tipos de astrologia como lícitas não deve ser considerada um passe livre à consulta de astrólogos desses tipos. Primeiro, porque se alguém favorece ou promove um astrólogo de métodos errados, favorece a superstição, pecando por isto. Segundo, porque existem diversas técnicas mesmo dentro dessas lícitas, as quais podem estar equivocadas, ou seja, é preciso um estudo aprofundado para a avaliação de cada uma, começando desde as bases filosóficas da astrologia, para provar a veracidade do método usado, até a análise empírica do método aplicado à história. Terceiro, porque a análise do temperamento, por exemplo, precisa levar em conta fatores como a psicologia do povo em que está inserido a pessoa avaliada, fatores familiares, de ambiente, de saúde, graça divina, etc. Assim, a técnica empregada na astrologia natal clássica precisará ser sempre relativa ao geral, mesmo assim, será um tanto incompleta.

Por outro lado, não se pode dispensar tais considerações sob a alegação de que não há uma base na ciência experimental, ou que a cosmologia tomista é ultrapassada segundo os cientistas atuais. A cosmologia tomista é baseada na pura metafísica, distinta da ciência experimental e sólida como toda Doutrina da Igreja. Ela pode ser auxiliada pela ciência experimental, contudo, para chegar às verdades não a necessita. De fato, os textos demonstram como, somente a partir de metafísica, muitas astrologias devem ser reputadas por vãs e supersticiosas.

CLIQUE PARA VER MAIS: Defesa da Tradição Católica contra Falsas ciências ou superstições

Bíblia, Papas e Santos contra os milhões de anos do universo e da terra

Refutando a Geologia que alega milhões de anos da Terra

Refutando a Astronomia que alega milhões de anos do universo e da Terra

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[1] Suma Contra os Gentios, Livro III, Cap. LXXXIV, 11
[2] Idem, Livro III, Cap. LXXXV, 18,19 
[3] Suma Teológica, Parte II-II, q.95, art.5, ed.Loyola
[4] Theologia Moralis, Lib.III, Tract.I De I. Praec. Decal, pg.259. Tradução com ajuda e adaptação da tradução em inglês: Moral Theology Volume II: Book IVa: On the 1st-6th Commandments (Theologia Moralis), Vol. 2, Mediatrix Press, 2018, pg.11. 
[5] Colaciones sobre los dones del Espíritu Santo, Col.VIII, Ed.BAC, pg.579.