S. Paulo Apóstolo, rogai por nós!
Artigo antigo, agora corrigido e organizado em um só para melhor leitura em:
Bíblia e santos sobre a modéstia no falar, como palavrões, chocarrice, etc. Respostas às objeções
Continuação do post anterior, disponível em:
A Escritura dá medida de modéstia e pudor no falar, como o jeito ou falar inadequado, como palavrões, chocarrice, etc?
CLIQUE: Modéstia, Pureza e Elegância: masculina e feminina
Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. II, 2a edição)".
São João Crisóstomo
“(...) [o apóstolo] coloca as conversas obscenas e gracejos como
veículos da luxúria, porque ele procede, ‘Nada de obscenidades, de
conversas tolas ou levianas, que são coisas inconvenientes, mas antes
prefiram ações de graças a Deus’.
Com nenhuma leviandade, nem obscenidade, seja em palavras ou em ações, e
vocês irão apagar a chama – deixe que elas nem sejam nomeadas, disse
ele, entre vós, isto é, não deixe que sequer apareçam. Isso ele diz
escrevendo aos Coríntios. ‘Sei que atualmente há fornicadores dentre
vós’ 1 Cor 5:1, o que é dizer: sejam todos puros. Porque palavras são
uma via para a ação. Então, para que ele não pareça uma pessoa austera e
autoritária, e destruidora das ludicidades, São Paulo adiciona a razão,
dizendo que elas são inconvenientes, porque nada tem a ver conosco –
melhor são ações de graças a Deus.” [1]
Santo Ambrósio
"Não aprovo nas palavras ou gestos nada afetado, nem tampouco nada
selvagem ou rústico. imitemos a natureza, que é exemplo de disciplina e
modelo de honestidade". [2]
Santo Tomás de Aquino
Falando sobre os divertimentos excessivos, Santo Tomás fala do “caso da
brincadeira chamada por Túlio de “grosseira, insolente, indecente e
obscena”: que acontece quando se empregam, por divertimento, palavras ou
atos vergonhosos ou prejudiciais ao próximo e são, em si mesmos,
pecados mortais. E assim, o excesso nos jogos é pecado mortal” [3]
“Objeção 1: O Apóstolo diz em Efésios 5, 3: Nem sequer se nomeie entre
vós a fornicação ou qualquer impureza ou avareza, como convém a santos. E
adiciona (v.4): nada de obscenidades, de conversas tolas ou levianas.
Tudo isto interpreta a Glosa, obscenidades (beijos e abraços), conversas
tolas (conversa mole e obscena), e levianas (jocosidade, o que os
néscios chamam chocarrice). E depois ele continua (Ef.5,5): “Porque
sabei-o bem: nenhum dissoluto, ou impuro, ou avarento - verdadeiros
idólatras! - terá herança no Reino de Cristo e de Deus.”. Isto é, não
fazer menção nesse versículo à obscenidades, à conversa tolas, e à
conversas levianas, anteriormente citadas, é dizer que estas não são
pecados mortais.
Quanto ao 1, o apóstolo não menciona os três últimos atos porque não são
graves senão enquanto direcionados aos anteriores mencionados.” [4]
São Francisco de Sales
“Se alguém não peca por palavras, é um homem perfeito, diz São Tiago.
Tem todo o cuidado em não deixar sair de teus lábios alguma palavra
desonesta, porque, embora não proceda de uma má intenção, os que a
escutam a podem interpretar de outra forma. Uma palavra desonesta que
penetra num coração frágil estende-se como uma gota de azeite e às vezes
toma posse de tal modo dele que o enche de mil pensamentos e tentações
sensuais. É ela um veneno do coração, que entra pelo ouvido; e a língua
que serve de instrumento a esse fim é culpada de todo o mal que o
coração pode vir a sofrer, porque, ainda que neste se achem disposições
tão boas que frustrem os efeitos do veneno, a língua desonesta, quanto
dela dependia, procurou levar esta alma à perdição. Nem se diga que não
se prestou atenção, porque Nosso Senhor disse que a boca fala da
abundância do coração. E, mesmo que não se pensasse nada de mal, o
espírito maligno o pensa, e por meio dessas palavras suscita o
sentimento mau nos corações das pessoas que as ouvem.
Diz-se que quem comeu a raiz denominada angélica fica com um hálito doce
e agradável, e os que possuem no coração o amor à castidade, que torna
os homens em anjos na terra, só tem palavras castas e respeitosas.
Quanto às coisas indecentes e desonestas, o apóstolo nem quer que se
nomeiem nas conversas, afirmando que nada corrompe tanto os bons
costumes como as más conversas. (...) Assim, se um louco te disser
palavras indecentes, testemunha-lhe logo a tua indignação, voltando-se
para falar com uma outra pessoa ou de algum outro modo que sugerir a
prudência.
Muito má qualidade é ter um espírito motejador. Deus odeia extremamente
este vício e puniu-o, como se lê no Antigo Testamento, com muita
severidade. Nada é mais contrário à caridade e máxime à devoção que o
desprezo do próximo, mas a irrisão e mofa trazem forçosamente consigo
este desprezo; é, pois, um pecado muito grave e dizem os moralistas que,
entre todos os modos de ofender o próximo por palavras, este é o pior,
porque tem sempre unido o desprezo, ao passo que nos outros a estima
ainda pode subsistir. Mas, quanto a esses jogos de palavras espirituosas
com que pessoas honestas costumam divertir-se, com uma certa animação,
sem pecar contra a caridade ou a modéstia, são até uma virtude, que os
gregos chamam eutrapelia ou arte de sustentar uma conversa agradável;
servem-se para recrear o espírito das ocasiões insignificantes que as
imperfeições humanas gerais fornecem ao divertimento. Somente deve-se
tomar o cuidado que essa alegria inocente não se vá tornando em mofa
(...)” [5]
“Dois extremos me parece que devem ser evitados cuidadosamente.
O primeiro consiste em assumir, nas conversas de que se participa, um ar
orgulhoso e austero, de um silêncio afetado, manifestando desconfiança
ou desprezo.
O segundo consiste em falar demais, se deixar ao interlocutor nem tempo
nem ocasião de dizer algumas palavras, o que deixa transparecer um
espírito presunçoso e leviano.” [6]
Santo Afonso M. de Ligório citando S. Bernardino de Siena, S. Bernardo e S. Agostinho
“Explicando o Salmo 140, Santo Agostinho chama aqueles que falam
obscenidades de mediadores de satanás, ministros de Lúcifer, porque,
pela sua linguagem obscena, o demônio da impureza ganha acesso às almas
(...). A língua obscena pode se dizer que é a língua da terceira pessoa,
da qual o Eclesiástico 28:16 diz “A má língua de um terceiro inquietou a
muitos, e dispersou-os de povo em povo.” A língua espiritual fala de
Deus, a língua mundana fala das cosias mundanas, mas a língua da
terceira pessoa é uma língua do inferno, que fala da impurezas da carne,
e essa é a língua que perverte a muitos, levando-os à perdição. (...)
São Bernardino de Siena relata que uma virgem, que levava uma vida
santa, ouvindo uma palavra obscena de um jovem, começou a ter maus
pensamentos, e depois caiu no vício da impureza de tal modo, que se o
demônio tomasse corpo humano, ele não seria capaz de cometer tantos
pecados desse gênero quanto ela. (...)
Palavras imodestas, faladas na frente de pessoas do sexo diferente, são
sempre acompanhadas com complacência pecaminosa. E não é o escândalo que
você faz aos outros criminoso? Solte uma só palavra obscena, e levará
ao pecado todos aqueles que o ouvem. Tal é doutrina de São Bernardo.”
[7]
Respondendo objeções várias tiradas da Bíblia e de casos de santos (parte do artigo sujeita à censura eclesiástica)
Obj.1:
“Porque na mão do Senhor está o Cálice de vinho puro cheio de uma
mistura, E deitou deste naquele: certamente as suas fezes não se
esvaziaram: delas beberão todos os pecadores da terra”, Sl 74, 9. Isso
confirma o uso de palavras de baixo nível com os ímpios.
R: Deus se refere aos ímpios dessa maneira de modo profético, isto é, os
ímpios estão já destinados a tomar o cálice do furor de Deus. Ora,
ninguém pode dizer de outra pessoa que ela já está destinada à
impiedade. Por isso, a Escritura diz “os pecadores” genericamente.
Para
responder com precisão as palavras que devemos rechaçar e o versículo
acima, dividamos as palavras e/ou xingamentos nas seguintes categorias:
1 - Obscena/imoral (ex: evocadores de imagens impudicas, como partes
impudendas do corpo, atos imorais, contra a natureza, homossexualidade,
bestialidade, etc)
2 - Desonroso (ex: à família, a quem se dirige a palavra, sua mulher, pais, etc)
3 - Nojento: dependendo de cada local (ex: evocadores de imagens de
todas as coisas que vão ao lixo ou servem de adubo, ou de atos que dão
origem a algo de lixo, podridão, etc).
4 - Socialmente ruins: não são intrinsecamente más, mas tomaram o
caráter de palavrão por um costume local, ou por uma questão social, ou
por outra razão (exemplos: "fezes" e "prostituta" aparecem na Escritura,
mas algumas palavras que designam as mesmas coisas são palavrões em
certos locais. Além disso, outras palavras, antes inexistentes, que em
certos locais são usadas como palavrões, ou evocativas de obscenidades).
Antes de avaliarmos cada uma, é importante notar duas coisas: muitas
vezes uma palavra se encaixa em mais de uma categoria, e muitas vezes
alguém, no mundo neo-pagão hodierno, fala um palavrão por
desconhecimento dessas questões. Entretanto, o homem simples, que tem
muito respeito por si e pelos outros, e que evita toda imoralidade,
naturalmente é avesso às palavras de qualquer categoria acima exposta.
Sobre palavras obscenas/imorais e palavras desonrosas:
ferem algum mandamento da lei de Deus, seja evocando imagens que não
devem ser evocadas, seja desonrando alguém, através de falsas alegações,
relacionado a quem a palavra é dirigida. Não devem ser usadas por
brincadeira, pois a brincadeira tende a amolecer a seriedade do mau que
há nesses atos.
Sobre palavras socialmente ruins:
não devemos falar, mesmo se em outro lugar ou em nossa terra de origem a
palavra não for um palavrão, porque isso pode causar um escândalo
local, por causa da sensibilidade social que relaciona a palavra à
alguma das outras categorias (obscena/imoral, nojenta ou desonrosa). É
preciso lembrar que uma palavra usada antigamente pode ter tido, ao
longo do tempo, o seu sentido modificado de tal modo que se tornou um
palavrão ou tomou um sentido ruim: isso não culpa quem a proferiu no
passado, obviamente. Além disso, a mesma advertência acima sobre o uso
dessas palavras em brincadeiras vale aqui: não se brinca com o demônio, nem com suas artimanhas.
Sobre palavras nojentas:
embora não sejam também intrinsecamente más, aquilo que é nojento de
alguma forma atinge a dignidade do homem, que não deve pensar nestas
coisas ou tomar gosto em evocá-las, por serem baixas, embora precisem
estar no vocabulário (como "fezes" está na Bíblia), por causa que esta
vida requer que saibamos nomeá-las. Muitas vezes, por causa da
sensibilidade social às coisas vis, essas palavras precisam ser trocadas
por outras menos socialmente sensíveis. Nestes casos, a palavra entra
em duas categorias, isto é, a 3 e a 4.
Assim, quando o salmista, no versículo da objeção acima, fala da
dignidade dos pecadores, que no inferno futuro é nula, evoca-a com uma
imagem fortemente nojenta para causar repulsa em quem lê. Mas o salmista
não queria, certamente, deixar nas pessoas um gosto em tratar dessas
coisas vis como fazem, querendo ou não, os que habitualmente usam
palavras dessa categoria.
Obj.2: Nosso Senhor (S. Mateus XXIII) chama os escribas e
fariseus de coisas baixas, logo, é possível usar um vocabulário
semelhante com os outros, pois “filho do inferno” significa o produto da
pior coisa possível. Assim, quaisquer outras palavras podem ser
empregadas no vocabulário ou em xingamento, pois nunca chegarão à
hediondez de “filho do inferno”.
R: Nosso Senhor usa tais palavras em repreensões, que podem ser usadas em certos contextos, e não no vocabulário cotidiano.
Ademais, inferno é conhecido como o lugar onde estão as piores coisas,
mas a imagem destas coisas não vem à mente quando pensamos no inferno,
uma vez que há outras coisas no inferno. Diga-se o mesmo de outros
vocábulos usados por Nosso Senhor, e ao longo da história por muitos
santos.
Quanto ao termo “meretriz”, tantas vezes usado na
Escritura, também não necessariamente nos lembra algo imoral, pois
quando alguém relaciona a palavra com seu sentido não necessariamente
imagina toda a licenciosidade por trás, o que provavelmente aconteceria
se fossem mencionados os atos sexuais e assuntos a estes relacionados.
No entanto, não podemos acusar ninguém de algo que não é, mas pode vir a
ser, como fornicador, assassino, etc. Por isso, a palavra “meretriz”
não pode ser usada contra outra pessoa que não o é.
Obj.3: "Mas Saul irado contra Jônatas, disse-lhe: Filho de
mulher perversa e rebelde, não sei eu por ventura que amas ao filho de
Isai para confusão tua, e para confusão da tua infame mãe?" I Samuel XX.
Aqui vemos um palavrão contra a mãe do outro, mas a Bíblia não o
reproduziria se fosse obsceno.
R: Saul desonra Jônatas tão
somente, mas não com uma palavra socialmente relacionada à obscenidade,
pois comenta o Padre francês Fillion sobre esse versículo:
"30-34.
Furor de Saul contra Jônatas - Fili mulieris... Literal no hebraico:
filho da (mulher) perversa em rebelião. Maneira de dizer à Jonatas que
ele é mau desde o nascimento. No oriente, um insulto desse gênero não é
considerado como ataque à mãe; mas é considerado extremamente cruel ao
filho".
Assim, o contexto social em que o insulto foi empregado
(no oriente antigo) encaixa-o na categoria de desonroso a quem foi
dirigido o insulto, mas não socialmente ruim relacionado a algo obsceno,
como pretendem aqueles que citam esse versículo para justificar suas
palavras.
Obj.4: São Thomas More [8] fez uso de palavras obscenas.
Ele foi canonizado por causa da virtude heroica em relação aos eventos que envolveram seu martírio, e não pela vida toda.
Obj.5: São Francisco de Assis recomendou dizer ao Frei Rufino que
era tentado por uma visita do demônio: “Abre a boca para eu te cagar
aí” [9].
O que se deve dizer ao demônio é diferente do que se deve dizer aos
homens, pois o homem vivo não é nem precito, nem totalmente do diabo,
que é um obstinado.
Ademais, temos um caso semelhante ao caso do
Salmo 74, respondido acima, pois o verbo encaixa-se nas categorias de
palavras nojentas e socialmente ruins, embora talvez não se encaixasse
no tempo e língua de S. Francisco de Assis.
Obj.6: O fundador da Opus Dei falava em “apostolado dos
palavrões” [10], e foi canonizado no novo processo de canonização criado
por João Paulo II.
No começo deste volume há um artigo sobre as novas canonizações. De
qualquer forma, a pessoa de bom senso vê, nesse artigo, a contradição
entre a posição dos santos antigos com o Monsenhor espanhol, e reflete
sobre a infalibilidade dos novos processos.
Sobre o vício do falar imodesto, por Santo Afonso Maria de Ligório
CLIQUE: Modéstia, Pureza e Elegância: masculina e feminina
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[1] João Crisóstomo, Comentários em Efésios 5. Translated by Gross
Alexander. From Nicene and Post-Nicene Fathers, First Series, Vol. 13.
Edited by Philip Schaff, Buffalo, NY: Christian Literature Publishing
Co., 1889.
[2] I De Offic C. 19, n. 84: ML 16, 49 A.
[3] Suma Teológica, II-II, q. 168, a.3, Ed.Loyola
[4] Idem, II-II, q. 154, a.4
[5] Filotéia, Parte III, Cap. 27, Ed.Vozes
[6] Idem, Parte III, Cap.30
[7] The Sermons of St.Alphonsus Liguori for All Sundays of the year, Sermon XL, pg. 300
[8]
The Complete Works of St. Thomas More, ed. John M. Headley, vol. V,
New Haven: Yale University Press, 1969, Responsio ad Lutherum, pp. 181
ss.
[9] I Fioretti, cap.29.
[10] Josemaría Escrivá, O Caminho, cap.40