S. Paulo Apóstolo fala do advento da apostasia e dos falsos doutores: "nos últimos dias virão homens de falsa piedade". Exegese

S. Paulo Apóstolo, rogai por nós!

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Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. IV)".

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Em negritos, as palavras Sagradas.

I Timóteo IV, 1-4

Ora, o Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé,

Em outra epístola, o apóstolo volta a falar em apostasia, mas agora, aquela "da fé". Ao comentarmos a epístola Sagrada anterior, argumentamos que significava a apostasia (separação) não só do Império Romano, já ocorrida, como do vindouro Reino de Maria, prefigurado, em certo sentido, pelo Império Romano. Agora argumentamos que a apostasia é também da fé católica. Entretanto, não surgiu esse "império romano" em extensão e influência sobre o mundo habitado, o que nos leva a dizer que nos nossos tempos teremos somente a apostasia da fé como prefigura dessa apostasia geral vindoura com o Anticristo, embora haja discussões a respeito dessa última apostasia do mundo, dado que alguns sustentam que só haverá apostasia com o Anticristo. Já os "últimos tempos" simbolizam os fins das Eras, como temos dito.

dando ouvido a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios, que com hipocrisia propagam a mentira e têm cauterizada a sua consciência,

"Espíritos enganadores": as diversas seitas e chefes de seitas, heresias e pessoas de língua dupla, que pervertem a fé. "Doutrinas de demônios" são as reivindicações contrárias à fé, tanto no campo político, como no religioso. Esses espíritos podem suscitar essas doutrinas, mas uma coisa não está necessariamente relacionada a outra, por isso são mencionadas separadamente.

A hipocrisia é o espírito duplo, e aquele que é herege tem esse espírito, ou seja, parece que o Apóstolo fala das heresias dominando o mundo, se propagando e cauterizando as consciências. Como dissemos no comentário aos Tessalonicenses, o ambiente será propício para isso.

que proíbem o matrimônio e o uso dos alimentos, que Deus criou, para que, com ação de graças, participem deles os fiéis e aqueles que conheceram a verdade.

Santo Tomás argumenta que tais práticas lembram as dos maniqueus, mas nossa interpretação se foca em algo mais geral.

Parece-nos que fala do matrimônio espiritual e sacramental, que correspondem à vida religiosa e ao casamento respectivamente, ou seja, o casamento natural e o estado religioso será combatido. Isso nos faz lembrar as reivindicações em nossa época dos sodomitas modernos, bem como as perseguições religiosas, ou até mesmo a destruição das vocações através das falsas doutrinas. Assim, o matrimônio religioso não será mais reconhecível, pois terá outra aparência.


O errôneo "uso dos alimentos" lembra a prática judaizante, que podemos estender para o judaísmo em si, da qual o Anticristo nasce, segundo alguns argumentam. Mas também o alimento, por ter o sentido de mantimento natural do corpo, isto é, pelo uso de certos animais para fabricar roupas e outras coisas. Nos nossos dias a revolução ecológica que visa colocar o homem no mesmo nível dos animais (e depois abaixo) visa tirar o direito humano de sacrificar animais para roupas, alimento, remédios, pesquisa, etc. Parece que os alimentos querem denotar tudo que é natural ao homem, a que se oporão esses enganadores, por isso o apóstolo falou dos "fiéis "e aqueles que conheceram a verdade", pois não só os fiéis sabem pela palavra de Deus, mas todo aquele que conhece a ordem natural das coisas.


II Timóteo III


Sabe, porém, que nos últimos dias sobrevirão tempos perigosos,

"Perigo": ou vem para a alma, ou para o corpo. A totalidade do sentido dessa passagem só se cumpre quando vem para ambos. Na época de São Paulo, o "perigo" era mais para o corpo, mas em tempos de crise na Igreja e disseminação de seitas, o perigo para a alma existe, e também pode vir junto do perigo ao corpo, como acreditamos que será com o Anticristo que destruirá o vindouro Reino de Maria destruindo a fé, e tentará acabar fisicamente com os poucos fiéis que sobrarão.

porque haverá homens egoístas, avarentos, altivos, soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos, malvados, sem afeição, sem paz, caluniadores, incontinentes, desumanos, sem benignidade, traidores, protervos, orgulhosos

Os ídolos do século serão a própria pessoa e o dinheiro. As blasfêmias normalmente vêm por causa do ódio à ordem que Deus instituiu, por exemplo, no caso da filha do pecado da luxúria. Ajunta a isso a incontinência citada. Desse gosto pelo sensível virá a traição, a falta de afeição, a calúnia, a desumanidade, tudo para salvar as aparências, da qual fala o apóstolo em seguida.

e mais amigos dos prazeres do que de Deus, tendo uma aparência de piedade, porém não tendo a realidade.

Eles serão amantes dos prazeres, porque "aqueles dias serão como nos dias de Noé", e "como nos dias de Lot em Sodoma e Gomorra", segundo Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme vimos. A falsa aparência de piedade para se cumprir em todo o sentido profético precisará existir entre sacerdotes e leigos: o que cremos que se cumpre nos dias de hoje com a crise na Igreja.

Também esse versículo refuta os que dizem que foram certos grupos minoritários que mudaram a Igreja e que acabaram com a tradição, porque o apóstolo está sempre denunciando para toda Igreja Universal. Ora, esta mesma Igreja vive seu esplendor, segundo os últimos Papas. Estes, quando falam de problema, passam a impressão que são problemas pequenos, não uma crise global, como indica São Paulo.


Foge também destes, porque deles procedem os que entram pelas casas e levam cativas mulherinhas carregadas de pecados, movidas por várias paixões, as quais aprendem sempre e nunca chegam ao conhecimento da verdade.

Santo Tomás agrega que o "foge também" visa lembrar o "foge do herege, após repreendê-lo uma ou duas vezes", que aparece em Tito. Disso tiramos que esses serão ou hereges, ou infiéis mesmo, e por isso o "foge também", porque então há um sentido duplo.

E, assim como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, 

Janes e Jambres, segundo a tradição, foram os magos que resistiram a Moisés quando este foi pedir a liberação do povo ao Faraó, que chamou esses dois magos que batalharam com Moisés e tiveram suas varas transformadas em serpentes. Eles são a prefigura, então, desses homens perversos que São Paulo nos denuncia.


Em sentido histórico, são o sinal do começo de um êxodo, o sinal de uma praga, o sinal de uma luta entre grandes potências enganadoras e grandes profetas, profetas estes, que levarão o povo a um êxodo que, como temos dito, visa chegar ao Reino de Maria.

A magia não só tinha o sentido de comércio com o demônio, mas também tinha o sentido de tecnologia, pelo menos era assim até à época medieval, por isso houve muitas confusões, e a ciência experimental foi, a princípio, cheia de superstições. Sabendo disso, podemos dizer com mais clareza que a tecnologia, nos gozos que ela oferece e ciladas que coloca ao homem (embora seja uma ferramenta muito útil, é usada para isso também) é o motivo pelo qual o Apóstolo lembrou a resistência dos magos à Moisés. Não queremos com isso dizer que Moisés significava a falta de tecnologia, mas sim a fé, que os magos recusaram para se aterem ao material
. Não quer dizer também que na futura batalha entre o profetismo e a magia, o primeiro não fará uso da tecnologia. Afinal, o profetismo pode usar a tecnologia, mas os milagres falam mais alto.


homens corrompidos do espírito, réprobos acerca da fé; todavia não irão avante, porque se tornará manifesta a todos a sua loucura, como também se tornou a daqueles.
 
O santo apóstolo faz um paralelo com a heresia dos magos com a dos tempos desses homens orgulhosos. Como será será manifesta a todos sua loucura? Assim como a dos magos do Faraó foi manifesta: com milagres, etc, mas também com pragas.

Se será "manifesta a todos",
até a manifestação nem todos conhecerão a essência desses homens enganadores. E de que modo será manifesta? Pensamos que, segundo revelações particulares como a da Beata Taigi vistas no capítulo V, será manifesta pela vinda de um Papa Santo eleito de forma extraordinária, o qual escancarará toda a enganação.

Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, a minha maneira de viver, as intenções, a fé, a loganimidade, a caridade, a paciência, as (minhas) perseguições, sofrimentos,

Um apelo à tradição e exemplo de São Paulo, bastião desta. A maneira de viver de sempre, as intenções de sempre, a fé de sempre ajudarão o fiel naquela hora. O fiel terá que suportar perseguições, sofrimentos, e ter paciência e caridade, pois "a caridade de muitos esfriará" disse Nosso Senhor. O pecado contra a caridade é o cisma, e o apóstolo aqui parece indicar o quanto é urgente evitar o cisma e estar unido à Igreja naquele tempo quando "a abominação da desolação estiver no lugar santo".


quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e em Listra, perseguições que sofri, mas de que me livrou o Senhor.
 
De tudo aquilo livrou Deus aquele justo. Esses eventos são as prefiguras daqueles tempos, se serviu de exemplo para o Apóstolo. Faremos uma análise desses eventos, mas antes os descreveremos.

Antioquia não só era onde São Paulo resistiu em face a S. Pedro pelas práticas judaizantes, e foi contrariado por outros apóstolos (Gl II), como foi palco de evangelização de pagãos (At XV). De lá também vieram parte dos judeus que o apedrejaram em Icônio (At XIV).


Em Icônio, o povo, que era composto por gentios e judeus, ficou dividido entre os judeus e os apóstolos, os quais, no fim, fugiram por causa do motim dos inimigos da religião que queriam apedrejá-los (At XIV).
 
Em Listra aconteceu o milagre do homem aleijado das pernas que S. Paulo curou e, em seguida, os pagãos aclamaram os santos Barnabé e Paulo como Deuses e queriam sacrificar em adoração, mas foram impedidos pelos mesmos. Logo em seguida, Judeus de Antioquia e Icônio apedrejaram S. Paulo, que ficou como morto, mas depois foi milagrosamente curado (At XIV).

Por ter sido finalmente apedrejado em Listra, o apóstolo cita esse local por último, já que foi a última perseguição: representa o martírio. Esses três lugares de evangelização representam, no contexto profético que São Paulo fornece, a perseguição religiosa, pelos próprios membros da religião (as heresias), as divisões (cismas) e ao final, o apedrejamento (martírio, morte). Essas são as fases que a Escritura Sagrada, pensamos, quer que tenhamos atenção nos últimos tempos, e que chegarão ao ápice na época do Anticristo, embora antes existam em prefigura.

Mas só faremos uma análise geral do paralelo desses eventos, assim como o apóstolo faz aplicando para outros contextos, caso contrário cairíamos em mil opiniões, ou seja, a interpretação estará muito nebulosa. Então, junto a esses homens prevaricadores dos últimos tempos existirão três fases: a das heresias, a dos cismas, e a dos confrontos, resultado das anteriores. Parecerá que a Igreja, simbolizada pelo apóstolo, morreu. Mas nesse momento, Se levantará.


Todos os que querem viver piamente em Jesus Cristo, padecerão perseguição. Porém os homens maus e sedutores irão de mal a pior, errando e induzindo outros a erro.

Mas tu persevera no que aprendeste e que te foi confiado, sabendo de quem aprendeste; desde a infância tiveste conhecimento das sagradas letras, que te podem instruir para a salvação, pela fé que está em Jesus Cristo. 

São Paulo exorta novamente para se ater às Escrituras Sagradas, aos textos antigos e ensinamentos da tradição, o que garante sempre a fé íntegra.

Toda a Escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para formar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, apto para toda a obra boa.


Além da Escritura, pode-se dizer dos escritos da Igreja imbuídos de infalibilidade: aqueles notoriamente conhecidos como tais, e o ensinamento tradicional da Igreja, pois a Santa Igreja, pelas promessas evangélicas, não pode ter ensinado o erro durante tanto tempo.

***


A
dendo da 3a edição:
o próximo capítulo da Epístola é comentado por Plinio Corrêa de Oliveira em 1967, quando muitos ainda não tinham a dimensão da crise na Igreja que se tem hoje. Inserimos nesta edição por antes não ter conhecimento do texto.

II Timóteo IV

“Há de vir um tempo em que muitos já não suportarão a doutrina, mas desejosos de ouvir coisas agradáveis cercar-se-ão de mestres segundo seus desejos”

"Isso exatamente acontece em nossa época, mais do que em todas as anteriores. As pessoas não querem ouvir os mestres ortodoxos que dizem o que Jesus Cristo ensinou. Mas querem ouvir mestres segundo seus desejos. Ou seja, querem que a moral católica fosse relaxada para assim também levar uma vida relaxada. Então não dar ouvidos aos católicos que ensinam a moral católica como ela é, mas sim conforme diz o mau católico, o sacerdote traficante, que ensina a doutrina católica como ela não é, mas como se gostaria que fosse. Aceita-se qualquer nova heresia porque é agradável de ouvi-la. Esses que assim ensinam são mestres falsos, de acordo com os desejos dos homens. E exatamente em nossa época se dá isso. Muitíssimos não querem mais os mestres verdadeiros, muitíssimos querem mestres falsos segundo os seus desejos".

"E apartarão os ouvidos da verdade".

"Quando se procura ensinar a verdade, mostrar qual é a doutrina católica verdadeira, eles desviam os ouvidos".

"E os aplicarão à fábula".

"A “fábula” é mentira, imaginação, embuste. Eles não ouvirão a verdade, mas vão ouvir as fábulas, vão ouvir tantos erros que infelizmente circulam dentro da Santa Igreja e que as almas aceitam porque estão de acordo com seus instintos depravados, que facilitam a circulação de seus vícios e nos quais, portanto, eles acreditam.

Timóteo estava posto, assim, por São Paulo, em face da proximidade de heresias que iam se dar dentro da Igreja daquele tempo.

De fato, no tempo das catacumbas houve heresias. Mas sobretudo São Paulo previa os nossos tempos e os tempos do Anticristo. Seus conselhos não são apenas para Timóteo, mas para todos que ao longo dos séculos se encontrassem em condições análogas às de Timóteo e que lutariam contra os fautores do erro, e isto (é valido) até o fim do mundo para os que lutarão contra o Anticristo. São, portanto, conselhos diretamente aos que lutamos contra o precursor do Anticristo.

E quais são esses conselhos?"

"Persevera no que aprendeste e que te foi confiado, sabendo de quem aprendeste e que te foi confiado".

"Quer dizer, antes de tudo, primeira recomendação: persevera na fé, persevera  na fé antiga, persevera na fé tradicional que tu aprendeste, porque sabem quem é que ensinou. Era uma pessoa digna de crédito, digna de confiança, que transmitia verdadeiramente a verdadeira fé. Então, primeira recomendação: atitude de fidelidade, de eco, de docilidade ao ensinamento tradicional da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.

Os sacerdotes das gerações antigas, verdadeiros depositários da verdadeira fé, deram um ensinamento que chegou até nós. Podemos saber qual é a tradição e, com esta, qual é a verdade. Porque o que a Igreja ensinou ontem, não pode ter ficado erro hoje, tem que ser verdade sempre. E se há uma contradição, está no novo.

Então, devemos ser homens que perseveram, quer dizer, que continuam, que estão na mesma fé de antigamente e que nela permanecem fiéis. Essa é a primeira recomendação" (Reunião "Santo do dia", 25 de janeiro de 1967). 


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