As Epístolas Católicas Bíblicas falam do advento de falsos doutores de palavras fingidas, cheios de sensualidade

S. Pedro Primeiro Papa, rogai por nós!

Veja outros artigos aqui para entender certas questões e o contexto da interpretação:

Hipótese Teológica da divisão das Eras da Igreja. Apreciação das divisões de S. Agostinho, S. Boaventura e outros

Profecias Católicas sobre a vinda do atual reino de impureza, laicismo, e corrupção sacerdotal

Clique: Profecias Católicas

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. IV)".

Anterior deste capítulo: S. Paulo Apóstolo fala do advento da apostasia e dos falsos doutores: "nos últimos dias virão homens de falsa piedade". Exegese

"Temos ainda a palavra mais firme dos profetas, à qual fazeis bem em prestar atenção, como a lucerna que alumia num lugar escuro, até que venha o dia, e a estrela da manhã nasça em vossos corações, atendendo antes de tudo a isso: que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular. Com efeito, a profecia nunca foi dada pela vontade dos homens, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo." II S. Pedro I, 19-21

Aqui São Pedro fala para se ater às profecias, como para iluminar um lugar escuro. Nos momentos em que parecerem os mais estranhos, caóticos, as profecias servirão como luz no escuro. Vivemos atualmente na crise da Igreja, e quantos se atem às profecias para saber o que se dará ou como devemos entender esse curso atual da história? Quase ninguém dentro da Igreja se interessa por um estudo profundo das profecias, enquanto os que se interessam iluminam o lugar escuro, e podem iluminar o "escuro dos outros". As profecias encerram a ciência da história, e é nesse sentido falará adiante São Pedro. Por isso, o primeiro Papa introduz a noção do entendimento das profecias.

"Até que venha o dia": isto é dito logo após o testemunho da natureza divina de Cristo, o que levou muitos a pensarem no dia do juízo. Essa interpretação está correta, mas em outra dimensão interpretativa o dia significa aquilo que sucedeu ao escuro, isto é, a graça ou a luz nas consciências que vem revelar as coisas.

Nenhuma profecia é de gosto pessoal, "de interpretação particular", "sola scriptura" etc. É preciso se ater ao que disse a Santa Igreja. E quando Ela nada disser ou só emitir uma aprovação negativa na interpretação ou profecia particular, isto é, dizer que não há nada na interpretação contra a fé? Então, ao homem cabe acreditar privadamente naquilo mais claro aos seus olhos, isto é, no que lhe parece ser a plenitude dos tempos, nos conselhos dos santos para os tempos perigosos que, parece, também se refere o Primeiro Papa ao falar de "lugar escuro".

É preciso acreditar somente nas profecias dos "homens santos de Deus", isto é, não só as públicas (bíblicas), mas as particulares autorizadas, embora a Igreja não nos obrigue a crer. A profecia foi lhes dada, e a estes pertence à interpretação mais autorizada, quando a Igreja não se pronunciou. No entanto, se não houver santo assim? Nesses momentos lembramos que podemos fazer hipóteses se não contrariam a fé, podemos fazer aproximações baseadas no conjunto dessas profecias. É um estudo teológico necessário para estes tempos.

"Ora, assim como entre o povo houve falsos profetas, do mesmo modo haverá entre vós falsos doutores, que introduzirão seitas de perdição e renegarão aquele Senhor que os resgatou, atraindo sobre si mesmos uma pronta ruína. Muitos seguirão as suas dissoluções, por causa dos quais será blasfemado o caminho da verdade, e, por avareza, com palavras fingidas, farão negócio de vós, mas a sua condenação já desde há muito tempo não repousa e a sua perdição não dorme". II S. Pedro II, 1-3

Não está escrito "haverá" falsos doutores, mas "entre vós haverá", ou seja, significa as inúmeras heresias. O Primeiro Papa se refere às heresias em geral ou algo em particular mais digno de atenção? A história conta que os hereges particulares foram as primícias de grandes heresias que assolam a Cristandade, quando não eram o motor destas.

A análise das outras partes desse epístola sagrada indica um tipo específico de época e heresia, embora toda boa profecia tenha a característica de valer para várias épocas. 

Junto com o que S. Paulo comenta da "falsa piedade", segundo vimos, o tipo de heresia que encontramos com esses "falsos doutores" é que serão avaros e de "palavras fingidas", mas "muitos os seguirão".

"Em realidade, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, precipitados no tártaro, os entregou às cadeias das trevas para serem atormentados e reservados até ao juízo, e se não perdoou ao mundo antigo, mas somente salvou, com outros sete, a Noé, pregador da justiça, quando fez vir o dilúvio sobre o mundo dos ímpios, e se condenou a uma total ruína as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinzas, para servir de exemplo àqueles que venham a viver impiamente, se, enfim, livrou o justo Lot oprimido pelas injúrias e pelo viver luxurioso desses infames, (esse justo que habitava entre eles sentia, diariamente, a sua alma atormentada, vendo e ouvindo as suas obras iníquas), (é porque) o Senhor sabe livrar os justos da tentação e reservar os maus para o dia do juízo, a fim de serem atormentados, principalmente aqueles que vão atrás da carne, na imunda concupiscência e desprezam a soberania (de Cristo). Audaciosos, arrogantes, não temem blasfemar das potestades superiores, enquanto que os anjos, que são maiores em fortaleza e robustez, não levam juízo de maldição contra elas". II S. Pedro II, 4-11

Reconhecemos episódios históricos que simbolizam o estado no tempo dos falsos doutores: a queda dos anjos, o dilúvio, Sodoma e Gomorra. Somando o simbolismo destes temos algo assim: será como a queda de algo que parecia ser muito grande (os anjos), que irá atingir e abalar o mundo inteiro (dilúvio), e virá para lavar as impurezas (Sodoma e Gomorra), e separando os poucos bons dos maus da época (Dilúvio, Sodoma e Gomorra). Ou seja, só pode se referir ao tempo próximo do Castigo, como vimos e veremos especialmente no capítulo das profecias privadas autorizadas, o V, que prevê o império da concupiscência e da imundice. Eles serão "audaciosos, arrogantes", não temerão "blasfemar das potestades superiores", o que significa, em um sentido, que recusarão obediência às autoridades superiores por serem cismáticos. Afinal, "a caridade de muitos esfriará" disse o Senhor: mostramos antes que isso significa o pecado contra a caridade, o cisma.

"São como fontes sem água, e névoas agitadas por turbilhões, para os quais está reservada a obscuridade das trevas, porque, falando palavras arrogantes de vaidade, atraem aos desejos impuros da carne aqueles que pouco antes tinham fugido dos que vivem no erro; prometendo-lhes a liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois que se é escravo daquele por quem se for vencido. Assim, se, depois de terem fugido das corrupções do mundo pelo conhecimento de Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador, por elas são novamente envolvidos e vencidos, o seu segundo estado tornou-se-lhes pior do que o primeiro". II S. Pedro II, 17-21

Novamente o Príncipe dos Apóstolos fala da impureza e da avareza, o amor pelo dinheiro e o sensível, peculiaridades de uma sociedade materialista. Os arautos dessa civilização prometerão a liberdade com todos esses vícios. 

O primeiro Papa Santo comenta depois que eles farão isso após conhecer Nosso Senhor, ou seja, uma espécie de apostasia.

Essa parte, portanto, precisa ser entendida de várias maneiras. Primeiro, em relação à sociedade, pois S. Pedro profetiza, como todo bom profeta, aos povos e nações. A nação é aquela que deixou de ser católica, o que se harmoniza mais à sociedade do fim do mundo e da época do Castigo Mundial, porque o povo decaiu cada vez mais na quinta Era que começa após a Idade Média, segundo já defendemos.

A segunda maneira visa denunciar a característica específica daqueles que são reprovados na profecia: os que eram católicos e passaram a não ser mais por amor aos prazeres do mundo. Estes são, a nosso ver, os homens não só do fim do mundo, como os do tempo da vinda do Papa Santo e do Grande Monarca, conforme já falamos ao longo deste volume. Por causa da grande graça que estas duas prefiguras das duas prefiguras das testemunhas do Apocalipse atrairão ao mundo, os que não se mantiverem nas suas linhas de atuação serão os réprobos desta profecia.

Outras partes da Epístola lembram o espírito de soberba destes falsos doutores por causa do caos na sociedade, esnobando a intervenção Divina, fazendo um paralelo com o que S. Paulo dizia em suas cartas, já visto neste capítulo.

"Efetivamente, introduziram-se entre vós certos homens ímpios (dos quais está escrito há muito tempo que viriam a cair nesta condenação), os quais trocam a graça de nosso Deus em luxúria, e negam a Jesus Cristo, único Dominador e Senhor.

Ora, eu quero recordar-vos, embora já saibas tudo, que Jesus, salvando o povo da terra do Egito, destruiu depois aqueles que não creram; e os anjos que não conservaram seu principado, mas abandonaram  seu domicílio, os reservou,  com cadeias eternas, em trevas, para o juízo do grande dia. Assim como Sodoma, Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que fornicaram com elas e se abandonaram ao prazer infame, foram postas por escarmento, sofrendo a pena do fogo eterno, da mesma maneira também estes contaminam a sua carne, desprezam a dominação (de Cristo) e blasfemam da majestade". S. Judas I, 4-8

Este modo de expor os falsos doutores está de acordo com o que já dissemos, pois em seguida S. Judas Tadeu lembra a luta de São Miguel, o que reforça o sentido simbólico dado na Epístola antes comentada.

"Eles são máculas nos seus festins, banqueteando-se sem respeito, apascentando-se a si mesmos, nuvens sem água, que os ventos levam de uma parte para a outra, árvores do outono, sem fruto, duas vezes mortas, desarraigadas, ondas furiosas do mar, que arrojam as espumas da sua torpeza, estrelas errantes, para quem está reservada uma tempestade de trevas por toda a eternidade.

Também Henoc, o sétimo patriarca depois de Adão, profetizou sobre destes, dizendo: "Eis que vem o Senhor, entre milhares dos seus santos, a fazer juízo contra todos, e a arguir todos os ímpios de todas as obras da sua impiedade, que impiamente fizeram, e de todas as palavras injuriosas, que os pecadores ímpios tem proferido contra Deus".


Eles são uns murmuradores queixosos, que andam segundo as suas paixões, e a sua boca profere coisas soberbas, as quais mostram admiração pelas pessoas segundo convém ao seu próprio interesse.

Mas vós, caríssimos, lembrai-vos das palavras preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam que nos últimos tempos virão impostores, que andarão segundo as suas paixões, cheios de impiedade. Estes são os que provocam divisões, homens sensuais que não tem espírito. Vós, porém, caríssimos, edificando-vos a vós mesmos sobre o fundamento da vossa santíssima fé, orando no Espírito Santos, conservai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia eterna".
S. Judas I, 12-21

Poucas palavras constituem novidade ao já observado, já que essa parte é similar à já interpretada. A presença de Henoc (ou Enoch) na Epístola de São Judas Tadeu parece querer lembrar da presença deste patriarca nos tempos do Anticristo, como vimos no capítulo I. O apóstolo também confirma nossa opinião de que os falsos doutores "provocam divisões", isto é, cismas, e que o remédio para aqueles que viverão nas diversas épocas profetizadas é o fortalecimento na "santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia eterna".


 Próximo deste capítulo: Êxodo e o livro da Sabedoria falam de três dias de escuridão, parte do castigo segundo uma exegese