Sobre a condenação do Pe. Antônio Vieira, seus erros e o que ele chamou "Quinto Império" (similar ao Reino de Maria de S.Luís de Montfort)

São Luís Maria Grignion de Montfort profetiza o Reino de Maria e os apóstolos dos últimos tempos 
 
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Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição)".

Anterior deste capítulo:
A vinda do Reino de Maria provada por Teologia da História, "segundo" o Pe. Antonio Vieira
 
Sobre a condenação do Pe. Antônio Vieira pela Inquisição


"Os dominicanos que detinham o poder eclesiástico central na época do julgamento e decisão da pena de Antônio Vieira condenaram-no por seu envolvimento com os judeus, e também por suspeitas contra as idéias contidas em alguns de seus manuscritos. Mas, enfim, que produções são essas que se classificam como obras “heréticas”? Trata-se, especialmente, de “Esperanças de Portugal, Quinto Império do Mundo”, da “História do Futuro” e de sua inacabada “Clavis Prophetarum”. Estes três textos encerram as frustradas profecias de Vieira quanto à consolidação de Portugal como o Império do mundo católico, centrado no seu rei" [1].
 

"No entanto, a sua condenação pelo Santo Ofício português acabou por ser anulada pelo Papa [2], na sequência de uma viagem de peregrinação que Vieira fez a Roma no final da década de 60 e onde permaneceu depois até 1675. Durante a sua estadia em Roma, depois de ter aprendido rapidamente italiano, voltou a destacar-se como um pregador brilhante, de tal modo que conquistou a admiração do papa e até da Rainha Cristina da Suécia então exilada com a sua corte na Cidade Eterna. O Sumo Pontífice convidou-o para pregar à corte papal, a Rainha Cristina quis insistentemente nomeá-lo seu pregador pessoal. Mas o desejo do grande pregador português não era ficar longe de Portugal por maior que fosse o prestígio dos convites de tão poderosos senhores europeus para permanência longe do seu país.

O Papa deixou-o regressar e fez mais do que Vieira poderia esperar: usou da sua autoridade para moderar os excessos da inquisição portuguesa. Reconhecendo as injustiças e erros praticados nos processos judiciais do tribunal, o Sumo Pontífice chegou a suspender a inquisição durante 7 anos (1675-1681), na sequência da apresentação provada dos relatórios críticos de António Vieira sobre os modos de procedimentos Inquisição. Foi de facto Vieira que pioneiramente contribuiu para que a inquisição fechasse as portas pela primeira vez em Portugal" [3].


Erros nas obras do Pe. Antônio Vieira

Apesar da anulação do decreto contra o Padre português, sabemos que ele errou em muitos pontos sobre profecias. Citamos alguns aqui:


1. Acreditava que Dom João IV era o Monarca das quais falavam as profecias, isto é, aquele que cumpriria todos esses vaticínios.
2. Depois da morte de D. João IV, passou a acreditar na ressurreição deste por causa da crença anterior.
3. Dava demasiado valor para profecias de procedência duvidosa e de pessoas não santas
4. Não possuía uma clave interpretativa segura.

Os dois primeiros pontos erros eram por causa da deficiência do quarto, não de um erro teológico, pois ressuscitar era possível, pois São Mateus no Evangelho fala dos Santos 
que saíram dos túmulos depois de Nosso Senhor, Santo Tomás de Aquino sustenta em relação a S. João Evangelista, etc. Fato é que o padre português fez um trabalho crucial compilando e escrevendo textos de teologia da história, e interpretações dos padres e teólogos da Igreja sobre profecias, mas não possuía uma teologia da história sobre a interpretação das diversas profecias e questões relacionadas, o que o levou a tratar certos personagens como meio único pelo qual se daria o cumprimento das profecias, como foi o caso do Rei de Portugal daquela época.

Também vem do quarto ponto o erro de considerar todas as profecias, desde as do Sapateiro Bandarra até as das Sibilas pagãs. É claro, não é necessário ser santo ou até mesmo católico para profetizar algo, mas deve-se dar preferência ao católico em odor de santidade, considerado pela Igreja como um mensageiro Divina em seu tempo. Isso evita não só confusões e possíveis erros, mas mantém a noção de que o profeta é alguém todo de Deus. Afinal, se havia tantos profetas, por que Deus escolheu só os livros dos profetas judeus para serem considerados pela Santa Igreja como revelação divina, incontestável e sem erros? Havia na Era pré-cristã muitos outros profetas judeus, e isso nós sabemos pela própria Escritura, mas por que só tiveram seus escritos legados aos cânones Sagrados alguns poucos? Pois esses eram suficientes, eram inspirados, e continham a harmonia necessária para as Sagradas Escrituras, isto é, em conjunto com os outros livros faziam a beleza sublime das santas letras, de modo que nenhum outro poderia fazê-lo. Além disso, é absurdo dizer que Deus escolheu mal ou de modo insuficiente.

De modo análogo são as profecias particulares: precisam ser escolhidas em razão da santidade da pessoa, do apoio da Igreja e de outros santos (no capítulo V, o critério para seleção de profecia privadas é exposto em detalhe). Para alguns, Deus confere a santidade, de modo que as obras justifiquem as profecias. Para outros, dá a sabedoria, de modo que as interpretações e teologia da história, como no caso do Pe. Vieira, justificasse seu grande valor. Se o eminente jesuíta julgou mal ao escolher tantos profetas estranhos, foi porque sua época não suscitou, como as posteriores, inúmeros profetas nos quais podemos nos ater com segurança hoje. Portanto, este trabalho é um desagravo, e também uma homenagem a sua memória.

O Quinto Império e suas características

Como salientamos antes nesse capítulo, o Reino de Maria não é uma criação de Plinio Corrêa de Oliveira, mas algo fundamentado na Escritura, nos Padres e Teólogos da Igreja. Esse estado mais perfeito do Reino de Jesus Cristo na terra, isto é, o Reinado Social, que chamamos Reino de Maria, Pe. Antônio Vieira, com suas variações, chamava Quinto Império, por fazer parte de suas interpretações sobre o livro de Daniel.

"Não é minha esta opinião, não é minha esta esperança, nem é meu este invento deste novo e futuro estado do Império completo e consumado de Cristo, posto que seja meu, e só meu, o estudo e diligência que de muitos anos a esta parte tenho posto no descobrimento deste tesouro" [4].

"Digo – Império – conforme o cômputo dos impérios de Daniel, entendendo-se por Império Consumado de Cristo não algum império que Cristo havia de ter nos tempos futuros, senão um novo e maior estado do mesmo império e reino que Cristo hoje tem e sempre teve, depois que veio ao mundo, que vem a ser um novo e perfeito Estado da Igreja Católica, que é o único e verdadeiro Reino de Cristo" [5].

Algumas características dessa Civilização segundo o padre português, excluídos certos detalhes e coisas que discordamos:

1. Todos serão batizados [6].
2. Todos serão católicos.
3. É anti-milenarista, isto é, Cristo não reinará visivelmente, isto é, ressurrecto, durante mil anos ou mais até a vinda do anti-Cristo.
4. Este império durará até a vinda do anti-Cristo [7].
5. Todas as nações se converterão, até os confins da terra.
6. Após o estrago do anti-Cristo, o mundo se converterá novamente com a pregação de Elias e Enoch [8].
7. A conversão universal será por meio de uma graça especial do Espírito Santo, com intercessão da Santa Mãe de Deus. Graça dada também aos pregadores. E serão meios para essa conversão também o poder das armas, e os milagres que Deus fará em prol dessa conversão [9].
8. Os principais instrumentos do estabelecimento do Quinto Império serão: um Imperador e um Sumo Pontífice [10].
9. A maior parte que viverá neste tempo será salva, porque serão poucos os pecados e pecadores, e menor ainda o número dos que perseverarão maus [11].
10. Este Império durará por muitos anos e séculos [12].

Deve-se falar da instauração de um Quinto Império?

Não, nunca se deve trocar o nome "Reino de Maria" por "Quinto Império" porque este foi criação do Pe. Antônio Vieira, já o Reino de Maria é um nome alcunhado por São Luís Maria Grignion de Montfort em seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, mas que foi largamente usado por Dr. Plinio, muito apropriadamente, a uma Civilização mundial que cumpre boa parte das características do Quinto Império, por isso identificamos, mais ou menos, ambos aqui, pois o Reino de Maria não possuirá muitas das coisas que sustentou o grande padre português. Assim, o desejo sebastianista de uma Civilização Cristã no seu auge, desprovido dos erros do sebastianismo antigo, deve ser nutrido e tem base, conforme mostramos ao longo desse volume.

Próximo deste capítulo:
As características do Reino de Maria provadas pela Teologia da História, por Plinio Corrêa de Oliveira


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[1] História e Quinto Império em Antônio Vieira, Alessandro Manduco, TOPOI, v. 6, n. 11, jul.-dez. 2005, pp. 246-260
[2] Clemente X ao Pe.Antônio Vieira, 17 de Abril de 1675
[3]  Padre António Vieira: um génio inquieto, José Eduardo Franco, Revista Espaço Acadêmico, no.85, Mensal, Junho de 2008.
[4] Defesa perante o Tribunal do Santo Ofício, Livraria Progresso Editora, tomo I, Rep.2, q.1, pgs.222-223.
[5] História do Futuro, Introdução e atualização de texto e notas por M. Leonor C. Buescu, Lisboa, Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1982, p.24
[6] Defesa, tomo I, q.10, 4. pg.306-307
[7] Defesa, Tomo II, rep.2, q.27, pg.232-254
[8] A chave dos profetas, Vol.VI, Tomo II, livro segundo, Ed.Loyola, pg.316-321 
[9] Defesa, Tomo II, rep.2, q.17, pg.49-60
[10] Idem, q.18, pg.60-80
[11] Idem, q.24, pg.162-205
[12] Idem, q.26, pg.217-232 e q.28, pg.240-255