Para entender o artigo, recomendamos:
Sobre a condenação do Pe. Antônio Vieira, seus erros e as características do que ele chamou Quinto Império
A vinda do Reino de Maria provada pelos profetas do Antigo Testamento, baseada em parte nas indicações do Pe. Antônio Vieira
A vinda do Reino de Maria provada pelo livro do Apocalipse, baseada em parte nas indicações do Pe. Antônio Vieira
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Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. II)".
Anterior deste capítulo: A Teologia da História prova a vinda do Reino de Maria, por Plinio Corrêa de Oliveira em 1971
A Teologia da história prova o Reino de Maria, ou a plenitude temporal da Igreja na terra. Aqui apresentamos as justificativas que nós consideramos corretas do Pe. Antônio Vieira, podendo ser aplicadas ao Reino de Maria, embora ele não usasse esse nome e suas teses fossem diferentes em muitos aspectos.
Prova pela perfeição do Corpo de Cristo, a Igreja
A tese de Dr. Plinio, já tratada, havia sido vislumbrada pelo Pe. Antônio Vieira em outras palavras. Cristo ama a sua Igreja, logo, não deixará que ela não chegue em um auge maior que todos os impérios que já existentes na terra.
"A primeira e maior razão para se poder esperar no Mundo esta santa reformação e transformação (ainda quando não estivera tão prometida e profetizada) é a mesma divina bondade fonte e origem de todos os bens, e o merecimento infinito do sangue de Cristo, a cujo super-abundatíssimo preço nenhuma coisa há tão rara e tão grande, que lhe não seja devida. E pois ele ama esta sua esposa, a Igreja, com o excesso que declaram os extremos que fez por ela, e padeceu a morte, e tal morte pela santificar, purificar e ornar e aperfeiçoar de tal modo sua formosura que não haja nela, como dizia S. Paulo, mácula nem ruga; porque havemos de duvidar, que haja tempo e estado em que a Igreja chegue a conseguir esta perfeição, sendo de tanta glória para o mesmo Cristo, cuja copiosa redenção verdadeiramente parece que não está bastantemente satisfeita e correspondida, enquanto os efeitos dela se não estendem universalmente a todo o Mundo, e enquanto na reformação do mesmo mundo, até agora tão perdido se não conhece com geral, e uniforme mudança a imensa e infinita virtude de seu soberano restaurador!" [1].
Prova-se que o estado consumado da Igreja requer o estado consumado da esfera temporal subordinada a ela
"Ainda no caso em que o Império de Cristo fora somente espiritual, para poder conseguir o estado perfeito e consumado que lhe está prometido, e se poder sustentar e conservar nele, depois de alcançado, lhe era necessário o poder, autoridade e união deste segundo Império temporal. Porque é tal a condição das coisas humanas, que nunca as espirituais e divinas se conseguirão, crescerão e conservarão neste mundo, senão assistidas, defendidas e ajudadas poderosamente das temporais" [2].
Prova-se que este estado durará bom tempo, como muitos séculos, etc
"Porque não é verossímil nem quase imaginável, que um estado tão excelente e perfeito, ao qual se ordenarão todos os outros do Mundo, e para o qual se preparou por espaço de tantos séculos a Igreja com tão custosas disposições, se não haja de lograr e continuar por tempo e duração competente a sua mesma perfeição, sendo estilo de Deus, ainda enquanto autor da Natureza, ajuntar sempre o mais durável a mais perfeito, como vemos na matéria celeste, em respeito da sublunar, e entre as mesmas coisas sublunares, nas árvores em respeito das plantas, e nos homens, em respeito dos animais. E se o tempo de cegueira, de infidelidade, dos vícios, das guerras e das perseguições, e o da soltura, e império do Demônio, que começou em Adão, tem durado e afligido o Mundo por tantos centos de anos e ainda milhares (pois, segundo o computo mais estreito, se contam desde seu princípio cinquenta e sete séculos, dos quais pertencem à Igreja de Cristo dezesseis e meio); o tempo da Fé, da Luz, da Paz, da Razão, da Justiça, da Virtude e do consumado Império, conhecimento, adoração, serviço e glória de Cristo, porque não terá alguma proporção (já que não seja igualdade) com esta duração? É verossímil que aquele supremo rei conquiste tantos anos o seu reino, para, depois de conquistado, o extinguir? E que aquele piedoso Pastor, que deu por suas ovelhas o sangue, ajunto com tanto trabalho o seu rebanho para depois de junto logo o degolar? É verossímil que aquele arquiteto divino e soberano, que nos primeiros dois mil anos da natureza ajunta os materiais para a fábrica de sua Igreja, e nos dois mil anos da escrita, que vai continuando e crescendo o edifício, tanto que estiver acabado e perfeito, ou antes que o esteja de todo, o arruine outra vez e o desfaça totalmente? É a Igreja a Torre de Babel, ou Templo de Salomão? E se este, edificado com o intento de não permanecer, antes afim de acabar, esteve em pé por tantos anos depois de posto em sua perfeição, a fábrica de que ele somente foi rascunho (sendo tanto melhor a Igreja do que o templo, quanto é melhor Cristo que Salomão), porque não terá, depois de consumada e perfeita, alguma parte da mesma ventura? Será melhor a esperança da opinião contrária; mas para o rebanho de Cristo não pode deixar de parecer cruel, pois o leva logo a cutelo, e para o edifício da Igreja, de parecer triste e lastimosa, pois antes de chegar a última perfeição ou acaba, ou juntamente com ela lhe setencia a ruína" [3].
Prova-se que a instalação do Reino de Maria precede o anti-Cristo
"Se o mundo inteiro não fosse cristão antes do Anticristo, o Anticristo tão-pouco seria Anticristo. Ora, suponhamos que o Anticristo tinha vindo na época atual, de acordo com o cariz que os negócios humanos hoje apresentam: seria o Anticristo? Decerto que não. Para os judeus seria o Antimoisés, para os turcos o Antimafoma, para os pagãos o Antiamida ou o Antixaca, e para os falsos cristãos, isto é, os hereges, seria o Anticalvino e o Antilutero. Mas o Anticristo deveras e realmente há de ser o Anticristo, e será chamado Anticristo porque, desejando vivamente o senhorio do mundo inteiro e, movido pela soberba e inveja, atrevendo-se a arrancar a Cristo a posse dele, com o mesmo nome se dará a conhecer não só a si mas também a este desmedido atentado que planejou. Logo, é necessário que naquele tempo o mundo inteiro já se encontre sujeito a Cristo mediante a fé e a obediência e que este "domine de mar a mar e desde o rio até os confins da redondeza da terra" (Sl 71, 8), caso contrário, o Anticristo já não seria o Anticristo, se outras seitas e soberanias supremas ainda existissem" [4].
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[1] Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício, tomo II, n.465, pg. 191.
[2] Idem. n.287, pg. 69.
[3] Idem, n.519, pg. 225-226
[4] A Chave dos Profetas, livro segundo, cap.III, pg.318, Ed. Loyola