A vinda do Reino de Maria provada pelos profetas do Antigo Testamento, baseada em parte nas indicações do Pe. Antônio Vieira

Santos profetas antigos, rogai por nós!

Para entender melhor o artigo, recomendamos:

Sobre a condenação do Pe. Antônio Vieira (1608-1697), seus erros e as características do que ele chamou Quinto Império (similar ao Reino de Maria de S. Luís de Montfort)
 
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Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. IV)".

Anterior deste capítulo:
A vinda do Reino de Maria provada pelos Salmos, baseada em parte nas indicações do Pe. Antônio Vieira

No capítulo II desta parte do volume 1, falamos do Pe. Vieira, sua condenação pela Santa Sé, sua absolvição, seus erros e acertos em matéria de profecia. Tratamos do que o grande jesuíta português chamava de "Quinto Império", e como se harmoniza, abstraindo os erros de sua época, com a noção de uma restauração da Civilização Cristã, mas não meramente política, e sim social, espiritual e política. A isso chamamos de Reino de Maria, seguindo a S. Luís Grignion de Montfort, que viveu após o padre jesuíta.

Portanto, todos os artigos deste volume sobre o pensamento do Pe. Vieira em temas de profecia são parte de um estudo só. Abaixo realçamos algumas de suas indicações de provas bíblicas da vinda do "Quinto Império". Aplicáveis a uma Civilização Cristã no auge, as indicações também valem ao Reino de Maria.


Antigo Testamento


"Façamos o homem à nossa imagem e semelhança e que domine sobre os peixes do mar e as aves do céu e da Terra inteira" Gn I, 26.

Nessa interpretação, que se assemelha à do Pe. Vieira [1] podemos dizer que, conforme São Paulo e todos os santos da Igreja, Adão é a prefigura do novo Adão, Cristo. Adão é colocado como príncipe e pai de toda a raça humana (pois aos pais os filhos devem tributo), de todos os animais, etc. Como a prefigura costuma ser menor que o prefigurado, Cristo tem um domínio maior, pois Ele tem o poder espiritual e o temporal igualmente. Ademais, conforme sustentamos no
capítulo III, os sete primeiros dias da criação são prefiguras das sete Eras da Igreja, e na sexta Era se inclui o futuro Reino de Maria. Assim, é natural que haja algum paralelo com o futuro império de Cristo sobre a terra na criação de Adão e seu poderio sob a terra então.

"Azarias, filho de Obed, movido pelo espírito de Deus, foi ao encontro de Asa e disse-lhe: Ouvi-me, Asa e todos vós, povo de Judá e de Benjamim: O Senhor foi convosco porque vós fostes com ele. Se o buscardes, achá-lo-eis, mas, se o abandonardes, ele vos abandonará. Muito tempo passará Israel sem o verdadeiro Deus, sem sacerdote que instrua e sem lei. E, se eles na  sua angústia se converterem para o Senhor Deus de Israel e o buscarem, achá-lo-ão. Nesse tempo não haverá paz para o que sai nem para o que entra, mas de todas as partes haverá terror em todos os habitantes da terra, porque se levantará nação contra outra nação, e uma cidade contra outra cidade, porque o Senhor os conturbará com toda sorte de aflições. Vós porém, ganhai coragem, não se enfraqueçam as vossas mãos, porque a vossa obra será recompensada". II Cr XV, 1-7.

Esse profeta, com tanta antecedência, profetizou a ruína de Jerusalém ao mesmo tempo que o Castigo Mundial, quando disse: "de todas as partes haverá terror em todos os habitantes da terra...", o que só pode se harmonizar com esse evento. Então, acabando o Castigo Mundial, convertendo-se o povo judeu, cumprir-se-á a profecia.


"Porque os que são retos, habitarão na terra, e nela permanecerão os simples. Porém os ímpios serão exterminados da terra, e os que procedem iniquamente serão arrancados dela" Provérbios II, 21-22. Não é o juízo final, porque depois haverá o céu, não terra.

"Visão que teve Isaías, filho de Amós, sobre Judá e Jerusalém. E acontecerá nos últimos dias que o monte da casa do Senhor terá o seus fundamentos no cume dos montes, elevar-se-á sobre os outeiros e concorrerão a ele todas as gentes. Irão muitos povos e dirão: Vinde, subamos ao monte do Senhor e à casa do Deus de Jacó, e ele nos ensinará os seus caminhos, e nós andaremos pelas suas veredas, porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor. Julgará as nações e convencerá de erro a muitos povos; os quais das suas espadas forjarão relhas de arados e das suas lanças foices; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem daí por diante se adestrarão mais para a guerra". Is II, 1-4.

"Todo mundo há de ser cristão, porque todo há de ser batizado. No Salmo 71, diz David: "Nos seus dias aparecerá a justiça e a abundância da paz, até que a lua deixe de existir. E dominará de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da terra (Et dominabitur a mari usque ad mare, et a flumine usque ad terminos orbis terrarum)". E no Eclesiástico, cap. XLIV, pelos mesmos termos: "que lhes daria por herança de mar a mar, e desde o rio até as extremidades da terra (hereditare illos a mari usque ad mare et a flumine usque ad terminos orbis terrarum)" (...).

Só pode fazer dúvida que rio seja este do qual há de começar o domínio de Cristo, e estender-se dali até os fins da terra: et a flumine usque ad terminos orbis terrarum? Ao que se responde, com S. Basílio Magno, e outros muitos Padres e Doutores, que é o rio Jordão, onde se batizou Cristo, porque deste rio e deste sacramento começa o Reino e Império, no qual nenhum homem pode entrar, senão por esta porta: "Aquele que não renascer da água e do espírito Santo não pode entrar no Reino de Deus (S. João III, 5)". A qual porta se há de dilatar tanto, que entre por ela todo o Mundo, quando todo ele se lavar nestas sagradas águas do Jordão, isto é, quando todos seus habitantes se batizarem e forem cristãos. Por isso diz David e o Eclesiástico que o domínio e herança universal de Cristo, começando no Jordão, se estenderá a todos os fins do mundo: et a flumine usque ad terminos orbis terrarum" [2].


"Não temas, porque não serás confundida nem envergonhada; porquanto não terás de que te envergonhar, pois te esquecerás da confusão da tua mocidade, e não te lembrarás mais do opróprio da tua viuvez. Porque dominará em ti o que te criou, o seu nome é o Senhor dos exércitos; o teu redentor, o Santo de Israel, será chamado o Deus de toda a terra". Is XLIV, 4-5. A conversão universal dos judeus com o advento do Quinto Império, segundo o Pe. Antônio Vieira. Para o Reino de Maria, tanto os judeus, como muitos outros povos converter-se-ão.


Cabe mencionar a parte do livro de Daniel (Dn II, 28-45) da onde o Pe. Vieira tira o nome de Quinto Império. De fato, a interpretação que dá o profeta ao sonho do Rei é correta, mas não especifica os quatro reinos. Mesmo assim, sabe-se que falam dos antigos grandes impérios, e o último era o Romano, até a vinda do império eterno, o reino representado pela pedra, o quinto reino, o de Cristo, a Igreja. No entanto, o padre dá uma interpretação material para esse império também, o que parece contraditória com: "No tempo, porém, daqueles reinos suscitará o Deus do céu um reino que não será jamais destruído" (Dn II, 44). Essa contradição se resolve dizendo que acima disso, o Reino é espiritual, eterno, e não falhará, mas materialmente pode falhar. Dado que a Escritura possui várias dimensões interpretativas, e o sonho fala de reinos de modo geral, e de modo específico de reinos materiais, a chave para entender a profecia é saber que sentido ela tem nestas duas dimensões. Se na primeira é o reino eterno, a segunda é o reino que esmagará os outros não porque fará guerra, mas sim porque será mais poderoso, e esmagará todos os erros materiais daqueles antigos impérios renascidos no neo-paganismo hodierno, ou seja, no sentido geral a interpretação comum dos quatro impérios é correta, pois se remete aos erros destes, já no sentido específico, ou material, é o Reino neo-pagão atual. De fato, quando o Reino de Maria estiver instalado ele terá vencido um império espiritual do demônio, maior que o império que o demônio tinha naqueles quatro reinos juntos. 

"E acontecerá que, nos últimos tempos, o monte da casa do Senhor será fundado sobre o alto dos (outros) montes e ele se elevará sobre os outeiros; e os povos concorrerão a ele. As nações hão de correr (para lá) em multidão, dizendo: Vinde, subamos ao monte do Senhor e à casa do Deus de Jacó, e ele nos ensinará os seus caminhos, e nós andaremos nas suas veredas, porque a lei sairá de Sião, e a palavra do Senhor de Jerusalém. E (o Senhor) será árbitro de numerosos povos e castigará nações poderosas, até aos lugares mais remotos; e eles converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças em enxadões; um povo tirará mais da espada contra outro povo; e não aprenderão mais a pelejar. Cada um repousará debaixo da sua parreira e debaixo da sua figueira, e não haverá quem os intimide; porque assim o disse pela sua boca o Senhor dos exércitos. Porque todos os povos andarão cada um em nome do seu deus; nós, porém, andaremos em nome do Senhor nosso Deus, por todos os séculos dos séculos. Naquele dia, diz o Senhor, congregarei a que coxeava e recolherei a que eu tinha expulsado a que eu tinha afligido; salvarei os restos da que coxeava e formarei um povo possante daquela (mesma nação) que tinha sido afligida; o Senhor reinará sobre eles no monte de Sião, desde então e para sempre" Mq IV, 1-7.

Essa parte da Escritura fala claramente de um Castigo Mundial, e depois uma paz universal, a qual nota o Pe. Vieira.

Próximo deste capítulo:
A vinda do Reino de Maria provada pelo livro do Apocalipse, baseada em parte nas indicações do Pe. Antônio Vieira

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[1] A chave dos profetas, livro primeiro, cap.I, pg.158, Ed. Loyola
[2] Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício, tomo I, q.10, 4. pg.306-307, Ed. Progresso