Papa Francisco: "nesta Igreja" a coisa funciona "como numa pirâmide invertida". "Uma salutar descentralização"

No dia 17 de Outubro de 2015, o Vigário de Cristo insistiu, como nunca antes, na Colegialidade em seu discurso na comemoração do cinquentenário da instituição do Sínodo dos Bispos, evento que, entre outras coisas, versava sobre a questão dos casais em adultérios (chamados "recasados").

Tal questão nem deveria ser cogitada por ter sido encerrada por Nosso Senhor Jesus Cristo "in illo tempore".

Dado as inúmeras resistências ao redor do mundo, desde Cardeais até um abaixo-assinado contendo mais de 800 mil assinaturas, por ocasião da radicalização do Sínodo, que caminhava para o estabelecimento taxativo da comunhão aos "recasados", conjecturou-se o porquê de o Papa insistir na colegialidade.

Alguns argumentaram que o discurso parece incentivar delegados Papais e entusiastas das novas pastorais a "ouvir a voz do povo", entretanto, não o povo constituído de 800 mil ao redor do mundo, mas os admiradores de sacrilégios. Assim, instaurar-se-á a abominação com o auxílio da "colegialidade", ou da "Igreja da pirâmide invertida".

A seguir trechos do discurso (grifos nossos):

"Na exortação apostólica Evangelii gaudium, sublinhei como "o povo de Deus é santo em virtude desta unção, que o torna infalível “in credendo”", acrescentando que "cada um dos baptizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito activo de evangelização, e seria inapropriado pensar num esquema de evangelização realizado por agentes qualificados enquanto o resto do povo fiel seria apenas receptor das suas acções". O sensus fidei impede uma rígida separação entre Ecclesia docens e Ecclesia discens, já que também o Rebanho possui a sua "intuição" para discernir as novas estradas que o Senhor revela à Igreja (...).

Jesus constituiu a Igreja, colocando no seu vértice o Colégio Apostólico, no qual o apóstolo Pedro é a "rocha" (Mt 16, 18), aquele que deve "confirmar" os irmãos na fé (Lc 22, 32). Mas nesta Igreja, como numa pirâmide invertida, o vértice encontra-se abaixo da base. Por isso, aqueles que exercem a autoridade chamam-se "ministros", porque, segundo o significado original da palavra, são os menores no meio de todos. É servindo o Povo de Deus que cada bispo se torna, para a porção do Rebanho que lhe está confiada, vicarius Christi, vigário daquele Jesus que, na Última Ceia, Se ajoelhou a lavar os pés dos Apóstolos (Jo 13, 1-15). E, num tal horizonte, o Sucessor de Pedro nada mais é do que servus servorum Dei (...).

O segundo nível é o das Províncias e das Regiões Eclesiásticas, dos Concílios Particulares e, de modo especial, das Conferências Episcopais. Devemos reflectir para se realizarem ainda mais, através destes organismos, as instâncias intermédias da colegialidade, talvez integrando e actualizando alguns aspectos do ordenamento eclesiástico antigo. O desejo do Concílio de que tais organismos possam contribuir para aumentar o espírito da colegialidade episcopal ainda não se realizou plenamente. Estamos a meio do caminho, com uma parte do caminho. Numa Igreja sinodal, como disse, "não convém que o Papa substitua os episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que sobressaem nos seus territórios. Neste sentido, sinto a necessidade de proceder a uma salutar “descentralização”" [1].

Salmo em reparação (Salmo 129)

"Desde o mais profundo clamei a Ti, Senhor. Senhor, ouve a minha voz. Estejam atentos os teus ouvidos à voz da minha súplica. Se examinares, Senhor, as nossas maldades, quem, Senhor, poderá subsistir?

Mas em Ti se acha a clemência, e por causa da tua lei pus em Ti, Senhor, a minha confiança. A minha alma está confiada na sua palavra, a minha alma esperou no Senhor.

Desde a vigília da manhã até a noite, espere Israel no Senhor. Porque no Senhor está a misericórdia, e há nele copiosa redenção. E Ele mesmo redimirá Israel de todas as suas iniquidades".

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[1] 17 de Outubro de 2015, Discurso na comemoração do cinquentenário da instituição do Sínodo dos Bispos. Link: http://press.vatican.va/content/salastampa/en/bollettino/pubblico/2015/10/17/0794/01750.html#por