Bíblia, Papas e santos contra a anarquia
S. João Crisóstomo, rogai por nós!
Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Volume II, 2a edição)"
Sagrada Escritura
"Toda alma esteja sujeita aos poderes superiores, porque não há poder que não venha de Deus e os que existem foram instituídos por Deus. Aquele, pois, que resiste à autoridade, resiste à ordenação de Deus. E os que resistem, atraem sobre si próprios a condenação. Com efeito, os príncipes não são para temer pelas ações boas, mas pelas más. Queres, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás o louvor dela, porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, porque não é debalde que ela traz a espada. Porquanto ela é ministro de Deus vingador, para punir aquele que faz o mal. É, pois, necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo temor da ira, mas também por motivo de consciência" Rm XIII.
"Onde não há quem governe perecerá o povo; onde há muitos conselheiros, ali haverá salvação." Prov XI.
Leão XIII citando a Escritura
"4. Não é muito difícil estabelecer que aspecto e que forma terá a sociedade se a filosofia cristã governa a coisa pública. O homem nasceu para viver em sociedade, portanto, não podendo no isolamento nem se proporcionar o que é necessário e útil à vida, nem adquirir a perfeição do espírito e do coração, a Providência o fez para se unir aos seus semelhantes, numa sociedade tanto doméstica quanto civil, única capaz de fornecer o que é preciso à perfeição da existência. Mas, como nenhuma sociedade pode existir sem um chefe supremo e sem que a cada um imprima um mesmo impulso eficaz para um fim comum, daí resulta ser necessária aos homens constituídos em sociedade uma autoridade para regê-los; autoridade que, tanto como a sociedade, procede da natureza e, por conseqüência, tem a Deus por autor.
5. Daí resulta ainda que o poder público só pode vir de Deus. Só Deus, com efeito, é o verdadeiro e soberano Senhor das coisas; todas, quaisquer que sejam, devem necessariamente ser-lhes sujeitas e obedecer-lhe; de tal sorte que todo aquele que tem o direito de mandar não recebe esse direito senão de Deus, Chefe supremo de todos. “Todo poder vem de Deus” (Rm 13,1)" [1].
São João Crisóstomo comentando as Escrituras
"Obedecei aos vossos superiores, e sede-lhes sujeitos, porque eles velam, como quem há de dar conta das vossas almas, para que façam isto com alegria, e não gemendo, o que não vos seria vantajoso" Hb XIII, 17.
"1. A anarquia é um mal, e ocasião de muitas calamidades, e a fonte de desordem e confusão. Se se tira o maestro do coral, o coral não estará afinado e em ordem, e se de uma linha de batalha de um exército se remove o comandante, modificações não serão mais feitas em tempo e ordem, e se de um barco se tira o leme, afundar-se-á esse barco, se se tira de um rebanho o pastor, ter-se-á abandonado e destruído tudo" [2].
S. Tomás de Aquino citando as Escrituras
"Em todas as coisas que estão ordenadas a um fim, em que essa ou aquela via possa ser adotada, algum princípio diretor é necessário, por meio do qual o devido fim possa ser alcançado pelo caminho mais direto. Um navio, por exemplo, que se move em diferentes direções, de acordo com o impulso variante dos ventos, não alcançaria nunca seu destino se não fosse levado ao porto pela atividade do piloto. Ora, o homem tem um fim para o qual sua vida inteira e todas as suas ações estão ordenadas; porquanto o homem age pelo intelecto, e é claramente próprio de um agente inteligente operar em vista de um fim. Acontece, porém, que os homens agem de modos diversos em vista do fim, o que a própria diversidade dos esforços e ações humanos patenteia. Consequentemente, o homem precisa de algum princípio diretor que o guie para sua finalidade.
Sem dúvida, todo homem tem, por natureza, a luz da razão, que o dirige, nos seus atos, ao seu fim. Se conviesse ao homem viver separadamente, como muitos animais, não precisaria de quem o dirigisse para o fim. Cada homem seria rei para si mesmo sob o supremo rei, Deus, uma vez que, pela luz da razão, dada do alto, dirigiria a si mesmo nos seus atos. Contudo, o homem é, por natureza, animal sociável e político, destinado a viver em grupo.
Essa é claramente uma necessidade da natureza do homem. Realmente, para os outros animais a natureza preparou o alimento, a vestimenta dos pelos, a defesa, tal como os dentes, os chifres, as unhas ou, pelo menos, a velocidade para a fuga. O homem, porém, foi criado sem nenhuma dessas provisões da natureza, e, em lugar de tudo, coube-lhe a razão, pela qual pudesse granjear, por meio de suas próprias mãos, todas essas coisas. Contudo, um homem sozinho é insuficiente para garantir a si mesmo tudo isso, uma vez que o homem, sem assistência, não poderia levar a vida suficientemente por si. Logo, é natural ao homem viver na sociedade de muitos.
Ademais: têm os outros animais inato o discernimento natural do que lhes é útil ou nocivo, como a ovelha vê, naturalmente, no lobo, um inimigo. Há, até, certos animais que, por aptidão natural, conhecem ervas medicinais e outras coisas necessárias à vida deles. O homem, no entanto, só de forma geral tem o conhecimento natural das coisas que são necessárias à sua vida, na medida em que ele é capaz de adquirir conhecimento das coisas necessárias para a vida humana raciocinando a partir dos princípios naturais. Para o homem, porém, não é possível individualmente alcançar todas as coisas pela razão. Por isso é necessário ao homem viver em multidão, para que um seja ajudado pelos outros e cada um faça descobertas em campos diferentes -- por exemplo, um na medicina, outro nisto, aquele outro em outra coisa.
Isso patenteia-se com muita evidência no fato de ser próprio do homem usar da linguagem, pela qual pode exprimir totalmente a outrem as suas concepções, enquanto os outros animais expressam apenas de forma geral as suas paixões, como o cão a ira pelo latido, e os demais animais de diversos modos. É, pois, o homem mais comunicativo que qualquer outro animal gregário, como o grou, a formiga e a abelha. Considerando isso, diz Salomão em Eclesiastes: "Melhor é ser dois juntos do que um, por terem o proveito da mútua sociedade" (4,9).
Logo, se é natural ao homem viver em sociedade de muitos, é necessário que haja, entre os homens, meios pelos quais o agrupamento seja governado. Se houvesse muitos homens e cada um cuidasse apenas do próprio interesse, dispersar-se-ia a multidão, quebrando-se, a menos que houvesse um responsável por cuidar do que pertence à comunidade. Da mesma maneira, corromper-se-ia o corpo de um homem ou de qualquer animal, se não existisse alguma potência reguladora comum, visando ao bem comum de todos os membros. Considerando isso, diz Salomão: "Onde não há governante, dissipar-se-á o povo" (Pv 11, 14).
Por certo, isso é razoável, pois não são idênticos o próprio e o comum. O que é próprio divide, e o comum une. A diversidade de efeitos é devida por causas diversas. Assim, importa existir, além do que move ao bem particular de cada um, o que mova ao bem comum de muitos. Pelo que, nas coisas que estão direcionadas a único fim, uma coisa é destinada a regular as demais. E, no mundo dos corpos, o primeiro corpo, isto é, o celeste, dirige os demais, por certa ordem da divina providência, e todos os corpos são regidos pela criatura racional. Igualmente, no homem, a alma rege o corpo, e, entre as partes da alma, o irascível e o concupiscível são dirigidos pela razão. Também, entre os membros do corpo, um é o principal, que move todos, como o coração e a cabeça. Cumpre, por conseguinte, que, em toda multidão, haja um poder governante" [3].
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[1] Encíclica Immortale Dei, 1 de novembro de 1885
[2] Tradução do inglês: http://www.newadvent.org/fathers/240234.htm
[3] "Do Reino ou do Governo dos Príncipes ao Rei de Chipre", Cap. I: De como é necessário que o homem, vivendo em sociedade, seja governado por alguém