Papas e Santos a favor da ida ao limbo das crianças não batizadas. A polêmica sobre a posição de S. Agostinho

Papa Sisto V
S. Tomás de Aquino, rogai por nós!

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados" (volume II, 2a edição).

Para complementar esta leitura, sugerimos:

Existe um batismo de desejo e um batismo de sangue? A Doutrina Católica responde com a Bíblia, Papas e Santos

Pio VI (1794) ao bispo cismático de Pistóia

“A doutrina segundo a qual deve ser rechaçado como fábula pelagiana aquele lugar dos infernos (que os fiéis têm por hábito designar com o nome de ‘limbo das crianças’), no qual as almas dos que morrem apenas com o pecado original são castigadas com a pena de dano e sem a pena do fogo — ou, descartando para estas almas a pena de fogo, 'ressuscite' a fábula pelagiana segundo a qual haveria um lugar e um estado intermédio isentos de culpa e de pena, entre o reino dos céus e a condenação eterna — é falsa, temerária e injuriosa para as escolas católicas” [1].

Segundo Concílio de Lion (1274)


"As almas dos que morrem em pecado mortal, ou somente com o pecado original, descem no ato ao inferno, para serem castigadas com penas distintas ou díspares" [2].

João XXII 

"Ela [Igreja Romana] ensina. (..) que as almas (...) daqueles que morreram em pecado mortal, ou somente com pecado original descem imediatamente ao inferno, no entanto, para serem punidas com penas e em lugares distintos" [3].

Concílio de Florença (1439)

“As almas dos que morrem em pecado mortal ou somente com o pecado original descem imediatamente ao inferno, para serem castigadas, embora com penas desiguais” [4].

Sisto V contra o aborto citando o destino das almas sem batismo

"Quem não abominará e detestará tão execrável delito pelo qual certamente se perdem não somente os corpos, mas o que é que é mais grave, as almas? Quem não condenará a gravíssimos suplícios a impiedade daquele que exclui uma alma criada à imagem de Deus, pela redenção na qual Nosso Senhor Jesus Cristo derramou seu preciosíssimo Sangue e que é capaz da Bem-aventurança eterna e que é destinada para o consórcio dos Anjos, da bem-aventurada visão de Deus, e assim impediu em quanto podia a reparação das celestiais mansões e moradas e tirou de Deus o serviço de sua criatura? " [5].

Pio XII

"E, no entanto, o estado de graça no momento da morte é absolutamente necessário para a salvação: sem ele não é possível chegar à felicidade sobrenatural e à visão beatífica de Deus. Um ato de amor pode bastar ao adulto para conseguir a graça santificante e suprir o defeito do batismo; todavia, ao que não é nascido ou à criança recém-nascida este caminho não está aberto. Se se considera, pois, que a caridade ao próximo impõe assisti-lo em caso de necessidade, que esta obrigação é tão mais grave e urgente quanto mais grande é o bem que se precisa procurar ou o mal que se quer evitar, e quanto menos o necessitado é capaz de ajudar-se e de salvar-se por si mesmo, então é fácil compreender a grande importância de prover ao batismo de uma criança privada do uso da razão e que se encontra em grave perigo ou diante de uma morte certa" [6].

Catecismo Maior de São Pio X 

"560) Por que se deve ter tanta solicitude em levar as crianças ao Batismo?

Deve-se ter suma solicitude em levar a batizar as crianças, porque elas pela sua tenra idade estão expostas a muitos perigos de morrer, e não podem salvar-se sem o Batismo.

561) Pecam então os pais e as mães que, pela sua negligência, deixam morrer os filhos sem Batismo ou simplesmente demoram em fazê-lo?

Sim, os pais e as mães, que pela sua negligência deixam morrer os filhos sem Batismo, pecam gravemente, porque os privam da vida eterna; e pecam também gravemente, demorando muito tempo o Batismo, porque os expõem ao perigo de morrer sem o terem recebido".


S. Gregório de Nazianzeno

“Isso vai acontecer, eu creio (...) que esses últimos mencionados [crianças que morrem sem batismo] não serão nem admitidos pelo justo julgamento a glória do Céu, nem condenados a sofrer punição, uma vez que, embora não selados [pelo batismo], eles não são maus (...). Pois do fato de que não merecem punição não se conclui que são dignos de serem honrados, nem se conclui que aquele que não é digno de uma certa honra merece, por conta disso, ser punido” [7].

São Tomás de Aquino


"Parece que a alma das crianças não batizadas sofrerá uma pena espiritual.

1. ─ Pois, como diz Crisóstomo, para os danados será mais grave a pena de serem privados da visão de Deus que a de serem queimados pelo fogo do inferno. Ora, as crianças ficarão privadas da visão divina. Logo, sofrerão com isso uma pena espiritual.

2. Demais. ─ Ficarmos privados do que queremos ter não pode ser sem algum sofrimento. Ora, as crianças quererão gozar da visão de Deus, do contrário teriam uma vontade atualmente perversa, Logo, não gozando dela, hão de sofrer.

3. Demais. ─ Se se disser que nada sofrerão por saberem que dela não foram privados por culpa própria, objeta-se em contrário. ─ A imunidade da culpa, longe de diminuir, aumenta a dor da pena; pois, não é por ser deserdado ou mutilado sem culpa, que alguém sofrerá menos. Logo, não será por serem privadas sem culpa de um tão grande bem, que as crianças ficarão isentas de dor.

4. Demais. ─ Assim como as crianças batizadas estão para os méritos de Cristo, assim os não-batizados para o demérito de Adão. Ora, as crianças batizadas alcançam, pelo mérito de Cristo, o prêmio da vida eterna. Logo, também as não batizadas sofrem dor por serem privadas da vida eterna, pelo demérito de Adão.

5. Demais. ─ Não é possível separarmo-nos do bem amado sem sofrermos dor. Ora, as crianças terão um conhecimento natural de Deus e, pela mesma razão, o amarão naturalmente. Logo, ficando perpetuamente separados dele, parece que não poderão sem dor sofrer essa separação.

Mas, em contrário. ─ Se as crianças não-batizadas sofrerem interiormente depois da morte, sê-lo-á por culpa ou por pena. ─ Se da culpa, como dessa não poderão mais purificar-se, essa dor lhes será uma causa de desesperação. Ora, essa dor nos condenados é o verme da consciência. Logo, as crianças sofrerão a pena do verme de consciência. E assim, a pena delas não será a mais fraca de todas, como diz o Mestre. ─ Se porém sofressem uma pena, como essa pena lhes teria sido justamente imposta por Deus, a vontade delas se oporia à justiça divina. E então teria uma deformidade atual. O que é inadmissível. Logo, não sentirão nenhuma dor.

2. Demais. ─ A razão reta não sofre que nos perturbemos pelo que não podemos evitar; e assim, como o demonstra Sêneca, o sábio não é susceptível de nenhuma turbação. Ora, nas crianças a razão reta não sofreu nenhum desvio pelo pecado atual. Logo, nenhuma perturbação sofrerão por padecerem uma pena que não puderam evitar.

SOLUÇÃO. ─ Nesta matéria há três opiniões.

Uns dizem que as referidas crianças não padecerão nenhuma dor, porque de forma lhes estará obscurecida a razão, que não saberão o bem que perderam. ─ Mas não é provável, que a alma, livre do liame do corpo, não conheça aquilo que a razão tem o poder de investigar e ainda muito mais.

Por isso outros dizem, que tem um conhecimento perfeito de tudo o que a razão natural pode investigar, conhecem a Deus, sabem estarem privados da contemplação divina, e por isso de certo modo sofrem. Esse sofrimento porém lhes ficará mitigado, por não terem voluntariamente incorrido na culpa pela qual foram condenadas, ─ Mas esta opinião também não parece provável. Porque a dor não pode ser pequena, causada pela perda de um tão grande bem e sem esperança de recuperá-lo. A pena delas não poderá pois ser brandíssima. ─ Além disso, absolutamente pela mesma razão pela qual não serão punidas pelo agente externo da dor sensível, não sentirão também a dor interna. Porque a dor da pena corresponde ao prazer da culpa. Portanto, não sendo a culpa original acompanhada de nenhum prazer, dela ficará excluída toda dor penal.

Por isso outros opinam que terão conhecimento perfeito de tudo o que pode ser alcançado pela razão natural, saberão que estão privados da vida eterna, conhecerão a causa dessa privação, mas isso tudo não lhes causará nenhuma espécie de sofrimento. Vejamos, porém, como isso é possível.

Devemos saber, que ninguém, de razão reta, se afligirá por ficar privado do que lhe excede a capacidade, senão só se o for daquilo a que tem direito. Assim, nenhum homem sensato sofrerá por não poder voar como a ave; nem por não ser rei ou imperador, se a isso não tem direito. Sofreria porém ficando privado do que de certo modo lhe corresponde à capacidade. Ora, afirmo que todo homem dotado de livre arbítrio é capaz de alcançar a vida eterna; pois pode preparar-se para a graça, que o fará merecer. Portanto, perdendo-a, sofrerá a máxima das dores, por ter perdido um bem que poderia ter alcançado. Ora, as crianças não foram nunca de porte a poderem chegar à vida eterna. Pois, esta, excedente à toda capacidade natural, não lhes é devida em virtude do princípio da natureza; nem podem praticar qualquer ato capaz de as fazer alcançar tão grande bem. Por onde, nenhum sofrimento padecerão, por ficarem privadas da visão divina; ao contrário, terão grande gozo por participarem largamente da bondade divina e das suas perfeições naturais.

Nem se pode dizer que fossem proporcionadas à consecução da vida eterna, se não por atos próprios, ao menos mediante atos de outros, que as teriam podido batizar. Assim, muitas crianças nas mesmas condições foram batizadas e ganharam a vida eterna. Pois tal explicação não colhe, porque só por uma graça mui especial poderíamos ser premiados por atos que não praticamos. Por onde, a privação dessa graça não causa às crianças mortas sem batismo maior pena que as que houvesse de sofrer um homem sensato por não ter recebido as mesmas graças conferidas aos seus semelhantes.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Os condenados por uma culpa atual, tendo tido o uso do livre arbítrio, tinham também a capacidade de alcançar a vida eterna; mas tal não se dá com as crianças, como dissemos. Logo, não há símil em ambos os casos.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Embora a vontade possa querer tanto o possível como o impossível, conforme o ensina Aristóteles, contudo uma vontade ordenada e completa não pode querer senão aquilo do que o sujeito é de certo modo ordenado. E quem não puder satisfazer à sua vontade nessas condições, com isso sofrerá; mas não sofrerá não conseguindo o que não lhe era possível obter. E a isto se chamaria antes veleidade que vontade; pois, tal objeto ninguém o quereria absolutamente falando, mas só se fosse possível.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Todos temos a possibilidade de conseguir um patrimônio e de conservar a integridade do nosso corpo. Nada há pois de admirar se sofrermos, perdendo-os, por culpa quer nossa, quer alheia. Por onde é claro que a objeção, fundada em tal símile, não colhe.

RESPOSTA À QUARTA. ─ O dom de Cristo excede ao pecado de Adão, como diz o Apóstolo. Por isso, não é forçoso haja entre uma criança não-batizada, e o mal que sofre, a mesma correlação existente entre a batizada e o bem que frui.

RESPOSTA À QUINTA. ─ Embora as crianças não-batizadas fiquem privadas da união com Deus pela glória, contudo dele não ficam totalmente separadas. Ao contrário, com ele ficam unidas pela participação dos bens naturais. E assim de Deus poderão gozar pelo conhecimento e amor naturais" [8].


A polêmica sobre a posição de S. Agostinho

Alguns acusam a Igreja de erro, seja por causa de S. Agostinho, seja por causa do Concílio de Cartago, no qual o santo exerceu influência, pois S. Agostinho teria escrito favoravelmente às penas eternas das crianças não-batizadas. Assim também esse Concílio condenou a tese pelagiana de "um lugar intermediário, ou qualquer outro lugar (ullus alicubi locus), no qual as crianças que morreram não-batizadas vivem na felicidade" [9].

A Enciclopédia católica [10] aponta que o Concílio de Cartago queria condenar os Pelagianos que falavam desse estado de felicidade, o qual identificavam como a "vida eterna" do Evangelho, baseando-se na negação da Queda e do pecado original.


A mesma enciclopédia diz que São Boaventura acusou Santo Agostinho de exagero. De modo análogo afirma S. Tomás de Aquino: "Demais, Agostinho diz: "mui branda é a pena dos meninos mortos só com o pecado original". Ora, nenhuma pena era mais branda que a sofrida pelos santos Patriarcas. Logo, ambos sofrem suas penas no mesmo lugar (...).

Resposta: S. Agostinho se refere às penas incorridas por uma culpa pessoal; e essa a sofrem brandíssima todos os culpados apenas do pecado original. Ainda mais branda, porém, é a pena de aqueles impedidos de gozar a glória, não por culpa pessoal, mas por uma falha da natureza; e nesse sentido, a dilação mesma da glória é considerada pena" [11].


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[1] Denzinger, 1526
[2] Denzinger, 464
[3] Denzinger, 493a, da carta "Nequaquam sine dolore" aos Armênios, 21 de Novembro de 1321.
[4] Denzinger, 693, Decretum pro Graecis, Bula Laetentur coeli.
[5] Constituição Apostólica Effraenatam contra o aborto, 29 de Novembro de 1588.
[6] 29 de Octubre de 1951, Discurso ao Congresso da União Católica Italiana de Obstetras com a colaboração da Federação Nacional de Colégios de parteiras católicas. Link: http://w2.vatican.va/content/pius-xii/es/speeches/1951/documents/hf_p-xii_spe_19511029_ostetriche.html
[7] Oração 40 sobre o sagrado batismo, no. 23. Link (inglês): http://www.newadvent.org/fathers/310240.htm
[8] Suma Teológica, Suplemento, Apêndice, Q.1, Art.2
[9] Denzinger 102.
[10] Toner, P. (1910). Limbo. In The Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. Acessado 7-1-2017: http://www.newadvent.org/cathen/09256a.htm
[11] Suma Teológica, Suplemento, Q.69, Art.6, resp.2