Segundo jornalista, Papa Francisco disse não existir inferno e imortalidade da alma. Vaticano nega textualidade, mas não conteúdo

No dia 28 de Março de 2018, foi publicado em vários jornais do mundo o relato do jornal italiano La Repubblica, em conversa com o jornalista Eugenio Scalfari, de 93 anos. O Sumo Pontífice teria dito que as almas dos pecadores simplesmente desapareciam após a morte.

Scalfari intitulou o seu artigo atribuindo ao Papa Francisco a frase: "É uma honra ser chamado de revolucionário" [1].

A resposta da Santa Sé às palavras do jornalista ateu Scalfari que repercutiram na imprensa mundial foram as seguintes:

"O Santo Padre Francisco recebeu recentemente o fundador do jornal 'La Repubblica' em uma reunião privada por ocasião da Páscoa, sem lhe dar nenhuma entrevista. O que é relatado pelo autor no artigo de hoje é o resultado de sua reconstrução, em que as palavras textuais pronunciadas pelo Papa não são citadas. Nenhuma aspa do artigo mencionado deve ser considerada, portanto, como uma transcrição fiel das palavras do Santo Padre" [2].

Já as reações e impressões que ela suscitou, são em parte bem expressadas pelo Cardeal Burke em uma entrevista:

"Que um ateu pretenda anunciar uma revolução no ensino da Igreja católica, afirme falar em nome do Papa, e negue a imortalidade da alma humana e a existência do inferno, suscitou um escândalo tremendo, não só para muitos católicos, mas também para numerosos não crentes que respeitam a Igreja Católica e seus ensinamentos, embora não compartilhe deles.

Ademais, na quinta-feira Santa, um dos dias mais sagrados do ano (...).

Além disso, a resposta da Santa Sé às reações escandalizadas de todo o mundo foi extremamente inadequada. Em vez de reafirmar claramente a verdade sobre a imortalidade da alma humana e o inferno, o desmentido se limita a dizer que certas palavras citadas não são do Papa. Não diz que o Sumo Pontífice não está de acordo com as idéias errôneas, e inclusive heréticas, expressas por tais palavras, nem que as repudia por serem contrárias à Fé Católica".

Por fim, afirma convenientemente o Prelado americano:

"Esta situação me leva a refletir cada vez mais sobre a mensagem da Virgem de Fátima, que nos adverte do mal — pior ainda que os gravíssimos males originados da difusão do comunismo ateu — que é a apostasia da fé no seio da Igreja (...).

Diante de tal situação, os bispos e cardeais têm o dever de anunciar a verdadeira doutrina. Ao mesmo tempo, devem orientar aos fiéis para que ofereçam reparações pelas ofensas a Cristo e às feridas infligidas a seu Corpo Místico, a Igreja, quando a fé e a disciplina não são devidamente salvaguardadas e promovidas pelos pastores. O grande canonista do século XIII, Enrico da Susa, o Ostiense, diante da grave situação de como corrigir a um romano pontífice que age de modo contrário ao que seu cargo obriga, afirma que o colégio cardinalício é, de fato, um mecanismo de controle dos erros papais. Se o Papa não exerce bem o seu ofício para o bem das almas, não só é possível, como, inclusive, é necessário criticá-lo. Essa crítica deve se ajustar aos ensinamentos de Cristo sobre a correção fraterna (Mt.18, 15-18). Primeiro, o fiel ou pastor deve expressar a sua crítica em privado, para que o Pontífice possa se emendar. Se o Papa se nega a corrigir o seu modo gravemente deficiente de ensinar e agir, a crítica deve ser feita pública, porque dela depende o bem da Igreja e do mundo. Alguns criticaram aqueles que expressaram publicamente críticas ao Sumo Pontífice, como se se tratasse de uma manifestação de rebeldia ou desobediência, mas pedir — com o devido respeito ao cargo — a correção de uma confusão ou erro não é um ato de desobediência, mas de obediência a Cristo, e, portanto, também, a seu Vigário na Terra" [3].

Salmo em reparação (Salmo 6)

"Senhor, não me arguas no teu furor, nem me castigues na tua ira. Tem misericórdia de mim, Senhor, porque sou enfermo; sara-me, Senhor, porque meus ossos estremeceram. E a minha alma turbou-se em extremo, mas Tu, Senhor, até quando? Volta-te, Senhor, e livra a minha alma, e salva-me pela tua misericórdia.

Porque na morte não há quem se lembre de Ti, e na habitação dos mortos, quem Te louvará? Estou esgotado à força de tanto gemer, lavarei meu leito com lágrimas todas as noites, regarei com elas o lugar do meu descanso. 

Os meus olhos se turbaram por causa do furor, envelheci no meio de todos os meus inimigos. Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade, porque o Senhor ouviu a voz do meu pranto.

O Senhor ouviu a minha súplica, o Senhor ouviu a minha oração. Sejam confundidos, e em extremo conturbados todos os meus inimigos, retirem-se e sejam num momento cobertos de vergonha".

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[1] "Papa disse que o inferno não existe em uma nova entrevista? Vaticano responde", Vaticano, 29 Mar. 18 / 02:00 pm. ACI. Link: http://www.acidigital.com/noticias/papa-disse-que-o-inferno-nao-existe-em-uma-nova-entrevista-vaticano-responde-95759
[2] Papa Francisco afirma que 'inferno não existe', diz jornal italiano, G1, 29/03/2018. Link: https://g1.globo.com/mundo/noticia/papa-francisco-afirma-que-inferno-nao-existe-diz-jornal-italiano.ghtml
[3] Cardenal Burke: lo de la entrevista de Scalfari «fue más allá de lo tolerable», 6/04/18 9:39 AM. InfoCatólica. Link: http://www.infocatolica.com/?t=noticia&cod=31975