Papas e Teólogos contra a arte imoral. Comentário sobre a Capela Sistina

Mosaico, Catedral Monreale. Dois filhos de Noé cobrem o pai,
depois que este ficou embriagado sem intenção

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Volume II, 2a edição)".

-> Contra a arte imoral

Concílio Tridentino


"Ainda, na invocação dos santos, na veneração das relíquias, no sagrado uso das imagens, toda superstição seja removida, toda ganância sórdida seja abolida, e finalmente, toda lascívia seja evitada, de modo que nas figuras nada seja pintado ou adornado com uma beleza excitando a luxúria" [1].

Pio XI

"Não é mais arte racional ou arte humana (e queremos dizer digna do homem e conforme à sua natureza) a arte amoral, como dizem, que nega e esquece e não respeita a sua razão suprema de ser, que é ser um aperfeiçoamento de uma natureza essencialmente moral.

As poucas idéias fundamentais, que temos mais bem indicado que exposto, deixam entender suficientemente o nosso juízo prático sobre a chamada nova arte sacra. Já dissemos outras vezes a homens de arte e a Sagrados Pastores: a Nossa esperança, o Nosso ardente desejo, a Nossa vontade só pode ser que se obedeça à lei canônica, claramente formulada e sancionada também no Código de Direito Canônico, isto é: que tal arte não seja admitida nas nossas igrejas e menos ainda seja chamada a construí-las, a transformá-las e decorá-las" [2].

"Toda a arte nobre tem como fim e como razão-de-ser, tornar-se para o homem um meio de se aperfeiçoar pela probidade e virtude; e por isso mesmo deve ater-se aos princípios e preceitos da moral" [3].

Pio XII

"São portando condenáveis todos os que pensam e afirmam que se pode usar, estimar e louvar determinada forma de difusão, mesmo que falte gravemente à ordem moral, contanto que encerre valor artístico e técnico. "É verdade que arte, para ser tal, – como recordámos por ocasião do V Centenário da morte do Angélico – não requer explícita missão étnica ou religiosa". Mas "se a linguagem artística servisse, com as suas palavras e cadências, espíritos falsos vazios e túrbidos, isto é, não conformes ao plano do Criador; se, em vez de elevar o coração a nobres sentimentos, excitasse as mais vulgares paixões, não deixaria de encontrar eco e aceitação nalguns, mesmo só pela novidade, que não é sempre um valor, e pela diminuta parte de realidade, que toda a linguagem contém; mas tal arte degradar-se-ia a si mesma, renegando o seu aspecto primordial e essencial, nem seria universal e perene, como é o espirito humano, a que se destina (...)

Deverão recordar-se também que um dos fins principais da classificação moral é esclarecer a opinião pública e educá-la no respeito e apreço dos valores morais; sem estes não se pode ter nem verdadeira cultura nem civilização. Seria portanto reprovável qualquer indulgência com os filmes que, apresentando embora valores técnicos, ofendem a ordem moral, ou, respeitando na aparência os bons costumes, contêm elementos contrários à fé católica[4].

Beata Anna Maria Taigi, confirmada pelo Cardeal Pedicini

"Pela manhã, ao se levantarem, oração em comum; depois da comida, recitação do rosário de joelhos; leitura da vida do santo do dia. Às vezes se agregava um cântico e depois, uma vez recebida a bênção dos pais, vão dormir, as meninas em um quarto, os meninos em outro; além disso, cada leito estava rodeado de cortinas (...).

O Cardeal Pedicini adiciona, sobre estas saídas, uma observação não desprovida de sabor a um romano. Anna se negava a visitar os museus aos que Domenico teria querido levá-la e todos os seus filhos. "Ela sabia que galerias e museus contêm coisas indecentes, inclusive, é preciso dizê-lo, nesta cidade de Roma. Mesmo as Igrejas não estão isentas delas. Umas das alocuções celestiais, que ouviu a Servidora de Deus, se refere às nudezes indecente com que representam crianças. Enquanto a pobre mulher contemplava o mistério da Encarnação diante de um quadro da Igreja de São Silvestre no Quirinal, a Santa Virgem se queixou deste abuso que não se opõe menos à santa pureza que à realidade Evangélica" [5].


Cardeal Celso Constantini

Os artistas têm freqüentemente concepções muito largas no que se refere ao nu. Mas devem persuadir-se de que, quando trabalham para a arte litúrgica, são chamados a servir, e não a dar livre curso a seu talento. É inútil invocar o nome de Michelangelo, G. Della Porta (Monumento a Paulo III) e outros exemplos, como o de G. Pillon, que representou Henrique II e Catarina de Medicis nus sobre o leito funerário na catedral de Saint-Denis.

É preciso que os artistas modernos saibam que a Igreja não tolera mais semelhantes liberdades" [6].

Pe. Royo Marín

"c) Pinturas e estátuas

Se consideram como gravemente obscenas as pinturas ou estátuas que representam pessoas adultas totalmente desnudas ou cobertas tão somente com um véu transparente, que talvez excitem ainda mais a sensualidade, ou representam cenas, posturas, etc., gravemente provocativas para a maior parte da gente. São réus de grave escândalo os que as pintam o esculpem, os que as exibem ao público em oficinas, escaparates, jardins, cinemas, etc., ou as vendem indistintamente a qualquer um, ainda que só com pretexto de que são obras de arte (...).

Sem chegar a este extremo de perigo, são também mais ou menos escandalosas as pinturas e estátuas que por sua desnudez parcial ou atitude provocativa são aptas para excitar as paixões humanas.

d) Teatros e espetáculos em geral

Os espetáculos, em geral, não são maus em si mesmos, e inclusive poderiam ser altamente educadores do povo (...)

I.° São gravemente escandalosos os espetáculos em que se representam coisas notavelmente obscenas, ou nos que aparecem pessoas meio desnudas, ou se dizem coisas altamente provocativas, piadas ou rimas indecentes, etc., ou se ridicularizam os bons costumes, ou se preconiza o vício ou a imoralidade. Tais são a maior parte das chamadas revistas, muitos espetáculos de variedades (...), muitas emissões de rádio e televisão e outras coisas semelhantes. 

Cometem gravíssimo pecado de escândalo os compositores de letra e música, as empresas que os representam em seus salões, os atores que atuam neles e os que contribuem com seu dinheiro e aplauso a sustentar estes espetáculos. E pecam gravemente os que assistem a eles sabendo de sua imoralidade ou perigo. Se animam outros a fazer o mesmo, são réus de grave escândalo.

2º. Em outro aspecto, cometem gravíssimo pecado de escândalo o autor, compositor, empresário, atores e colaboradores de uma representação na que se impugna ou ridiculariza a religião, ou a fé, ou os costumes cristãos. Pecam gravemente os que assistem a ela, ainda descontando o perigo próprio e toda aprovação do irreligioso em quanto tal" [7].

Pe. André Beltrami

"Satanás, em nossos dias, encarna-se nos livros ímpios que ridicularizam a nossa santa religião (...); nos romances que ensinam descaradamente o vício e espezinham a virtude; nas estátuas, nos monumentos e nos quadros obscenos trabalhados sob o ridículo pretexto de arte, como se a arte não devesse respeitar a honestidade dos costumes e não fosse feita para nobilitar o homem."

"As tipografias e as livrarias que publicam maus livros, a oficina dum artista que reproduz nudez na tela, no mármore, no papel, as reuniões tenebrosas da maçonaria, são querenças de Lúcifer" [8].


Objeção: E a Capela Sistina? Dirão os obstinados progressistas que odeiam a tradição.

Resposta: É notório entre os estudiosos da arte que Paulo IV, sob influxos do contra-revolucionário Concílio de Trento, mandou cobrir os nus da Capela Sistina, e para tanto convocou um dos discípulos de Michelangelo, Daniel de Volterra. 

Entretanto, o pudor completo não foi aplicado, isto é, quando se cobre todas as partes impudicas do corpo. Talvez fossem estas as razões:

1- Estão inseridas em cenas de movimento, como no caso das guerras do Juízo Final, e da criação e queda no Gênesis, portanto, sem traços de sensualismo.

2 - A nudez é representada de modo toscamente musculosa, sempre deformada, com aspecto de movimento. Assim, o observador tem a impressão de não estar vendo a nudez que se vê neste mundo, o que o artista queria incutir visto que retratava corpos gloriosos, imaculados, anjos, etc.

3 -
A maior parte está longe demais do observador para que as veja em detalhes, ou estão sombreadas, ou pequenas.

4 - Em vista dos motivos anteriores, os Papas não quiseram alterá-las além do cobrimento inicial, para manter o valor artístico do movimento (embora seja inferior a muitas imagens mais piedosas de cenas semelhantes) e, posteriormente, para manter o patrimônio histórico.




A decadência da indumentária ou aonde aquele que preza a elegância deve mirar, por Plinio Corrêa de Oliveira


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[1] Sess. XXV, De invocatione, vener. et Reliquiis Sanct. et sacris Imaginibus
[2] Sermo diei 27 oct. 1932, A.A.S., XXIV, (1932), p. 356. Link: http://w2.vatican.va/content/pius-xi/it/speeches/documents/hf_p-xi_spe_19321027_abbiamo-poco.html 
[3] Encíclica Vigilanti Cura: sobre o cinema, 29 de junho de 1936 
[4] Encíclica Miranda Prorsus, 8 de Setembro de 1957. Link: http://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_08091957_miranda-prorsus.html 
[5] La Beata Ana María Taigi - Madre de Familia, Albert Bessiéres, S. I., 1942. Imprimatur Mons. Dr. Antonio Rocca, Obispo de Augusta y Vicario General, p. 31
[6] A propósito de Arte Figurativa, Revista Catolicismo n° 23, novembro de 1952. Link: http://catolicismo.com.br/Acervo/Num/0023/P04-05.html 

[7] Teología Moral para Seglares, no.551
[8] O Inferno existe: provas e exemplos,
Capítulo XI, pg. 26, 1945