A decadência da indumentária ou aonde aquele que preza a elegância deve mirar, por Plinio Corrêa de Oliveira

Para entender alguns pontos do artigo, recomendamos:

A escritura e os Papas falaram de medida de modéstia e pudor nas vestes? 

Santos e prelados deram medida de modéstia e pudor para as vestes?
 
Por que devemos nos vestir bem, por Plinio Corrêa de Oliveira

Tudo quanto é belo conduz a Deus então a Revolução quer diminuir o belo, quer eliminá-lo do mundo, por isso a decadência na beleza das vestes 

"Acontece que como tudo quanto é belo conduz a Deus – desde que não seja o belo imoral, que é um abuso do belo a serviço da imoralidade, mas disso nem falemos; é claro que afasta de Deus, não por ser belo, mas por ser imoral – tudo quanto é belo conduz a Deus, é natural que a Revolução queira diminuir o belo, queira eliminar o belo do mundo. E que ela proceda aos poucos, por meio de um processo como eu descrevi na RCR [1]. Quer dizer, Protestantismo, Humanismo, Renascença – primeira Revolução. Segunda Revolução: a Revolução Francesa. Terceira Revolução: a Revolução comunista; e a quarta Revolução, a Revolução hippie, é a Revolução estruturalista. Em cada uma dessas Revoluções, a beleza da arte vai diminuindo, vai se perdendo, até chegar a um completo arrasamento.

Considerem a Igreja Católica. Ela é toda ornada – a tradicional, eu não digo essas igrejas monstruosas construídas sobre o influxo do Concílio – mas as igrejas tradicionais são todas ornadas, todas pintadas, têm mármores. Se são de populações ricas, têm até pedras preciosas, têm esculturas, têm pinturas, têm bonitos móveis, tudo lindo! Não há o que baste para a glória de Deus.

As igrejas protestantes são frias, secas, tristonhas, melancólicas e sem beleza. É que da primeira para a segunda Revolução, sob o pretexto – na primeira Revolução quero dizer – de combater o luxo, de combater o esbanjamento do dinheiro, de combater a complicação da vida a favor de uma vida barata e simples, igualitária, os protestantes suprimiram o luxo da igreja. E o resultado: eles tiraram do culto, tiraram do rito, tiraram da religiosidade a beleza que tinha nos antigos tempos (...).


"Em 1918 houve uma mudança enorme nas modas. E tudo amoleceu. Primeiro, a cartola praticamente desapareceu. Só ficou sendo usada para as grandes cerimônias. Antigamente era uma cobertura de cabeça diária. Só foi usada para as grandes cerimônias. E foi substituída pelo chapéu mole de feltro. O chapéu de feltro é inferior à cartola. Ele é baixo. Ele tira algo da imponência do homem. Ele não é de seda, ele é de um feltro qualquer. E sobretudo o que tem é que, todo mole como ele é, a beleza dele está em ser amassado.

"Há uma coisa curiosa na história da arte: antes de um traje desaparecer ele amolece, depois ele desaparece. Dir-se-ia que é um processo mortal ao qual ele é sujeito (...). As camisas deixaram de ser engomadas e passaram a ser essas camisas comuns. Depois, o colarinho deixou de ser alto, o que obriga a cabeça a uma posição de sobranceria. O paletó deixou de ter aquela distinção preta de outrora, para ter uma cor assim qualquer, sem distinção nenhuma, como cor de papel de embrulho (...)

Peguem pinturas de antes de 1789, antes da revolução francesa, representando empregadas domésticas, estão tão bem vestidas, e com tanta distinção que a gente tem vontade de perguntar: quem é essa marquesa? Era a empregada ... Hoje as marquesas se vestem como as empregadas não se vestiam no tempo da Revolução Francesa"
[2]. 

Esta decadência nos trajes foi gradualDr.Plinio em 1962 já a descrevia

"A partir do século XIX o traje masculino se foi modificando de maneira a acentuar sempre mais a igualdade entre os homens. Enquanto outrora se admitia como postulado de bom senso que o vestuário é um complemento da fisionomia e da atitude do homem, uma expressão adequada de sua personalidade, e portanto de sua categoria e de sua função, um meio que o ajuda a exercer na sociedade uma influência condizente com essas circunstâncias, a partir do século XIX — exceção feita dos clérigos e dos militares — o traje se tornou burguês. E ninguém teve mais o direito de se vestir senão à burguesa. Foi esta uma das muitas tiranias impostas pelo igualitarismo vitorioso, O vestuário burguês ainda existe hoje, embora cada vez mais despojado de seus valores ornamentais. E é este contraste entre a condição burguesa e a de Rei, que se manifesta de modo tão chocante na foto que hoje reproduzimos.
 
Traje do Rei do século XVI e do burguês de 1962
A Revolução, como todas as formas de deterioração e decadência, está sujeita a uma lei de algum modo parecida à aceleração inerente à queda dos corpos. Nos últimos 20 anos, ela progrediu mais do que nos 50 ou 75 anos anteriores. Enquanto, no afã de nivelar, se manifesta sempre mais em certas pessoas uma tendência para suprimir o fardão dos diplomatas, o uniforme militar, a beca do professor, a toga do magistrado, e até a batina, o traje civil se vai "play-boyzando" e se degradando a um nível e a um estilo que não têm mais qualificativo em linguagem civilizada. Qual será, dentro de 20 anos, o contraste entre um "play-boy" de hoje e um burguês de então? Sob alguns pontos de vista, maior que o contraste entre um burguês atual e um monarca de há 400 anos atrás!

Quer isto dizer que achamos que os homens se deveriam vestir hoje copiando os trajes do século XVI? A esta pergunta infantil respondemos: não. Mas queremos que saibam respeitar na escolha de seus trajes o princípio de que estes devem refletir a justa diversidade das condições e categorias existentes em toda sociedade bem ordenada, em lugar de tender a um igualitarismo e a uma monotonia antinaturais"
[3].

Razão pela qual, neste contexto, Dr.Plinio e a TFP usam os melhores trajes da época, com paletó e gravata

"Usamos esse traje porque é o modo de, pelo exemplo, darmos a entender que nós não aceitamos os trajes novos com o que eles têm de horroroso; que nós reagimos, protestamos contra eles, usando esse traje antigo. Depois, é claro, esse traje tem mais beleza do que o novo, e é, portanto, um modo de tornar mais evidente a glória de Deus.
Me dirão: "Mas Dr. Plinio, se fosse assim o senhor em moço deveria ter usado a casaca de D. Pedro II. Ora o senhor não usou. O senhor usou os trajes que se usava no seu tempo de moço. Por que é que nós havemos de usar esse traje e não havemos de usar um traje novo?"

O paletó e o traje como se usa atualmente não está completamente fora de uso. Ele é ainda usado por muita gente, sobretudo para o trabalho. Enquanto ele estiver em uso convém usar esse traje. Mas quando ele estiver completamente fora de uso não se deve usar, pela mesma razão pela qual eu não me vestia como no tempo de D. Pedro II. Quer dizer, há uma certa distância entre nosso ambiente e nós, uma certa decalagem entre nosso ambiente e nós.

Devemos levar a nossa reação até um ponto em que não seja uma ruptura insuportável e completa. Se der numa ruptura insuportável e completa, desde que não seja pecado, nós transigimos um tanto. Transigimos o menos possível, mas transigimos. Haverá, portanto, um dia em que a TFP terá que cessar o uso do paletó e da gravata para não ficar os únicos homens existentes na terra, porque então a distância entre ela e o ambiente terá crescido tanto que ela quase não se torna capaz de atuar dentro do ambiente.

Como as modas do meu tempo não eram modas imorais, e que eu usava, e nem eram modas extravagantes e malucas como as de hoje, uma reação não era necessariamente tão vigorosa quanto a que as circunstância atual. Assim mesmo eu me vestia sempre, eu era sempre o moço mais conservador da roda em que eu estava.

Por minha sugestão a TFP têm acompanhado isto até aqui e faz uma reação no ambiente em que se encontra. Esta reação é boa para a Causa da Contra-Revolução, essa reação é boa também para a alma da pessoa. Porque evitando usar os trajes modernos, evita-se a extravagância moderna, o delírio moderno. E evitar o delírio moderno faz bem para a própria alma" [4].


Fotos dessa decadência (basta comparar com as roupas modernas)

Idade Média (nobreza)


 

Idade Média (burguesia)


Idade Média (camponeses, servos)





Renascimento, fim do século XVI (nobres com o Rei sentado, tirado de um filme)


Agora o Rei com um homem de baixa classe 



Belle Epoque, fim do século XX (burguesia)


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Fontes:

[1] Revolução e Contra-Revolução, Plinio Corrêa de Oliveira, 1959
[2] Reunião do Santo do Dia, 9 de Agosto de 1975, Sábado, A-IPCO 
[3] Plinio Corrêa de Oliveira "Revista Catolicismo" Nº 133 - Janeiro de 1962 
[4] Reunião do Santo do Dia, 9 de Agosto de 1975, Sábado, A-IPCO