Bíblia, Papas, santos e teólogos sobre a real possibilidade de um Papa ser herege

Acima, áudio que fala da história e livro de Dr. Arnaldo Xavier da Silveira

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Volume II, 2a edição)".


Este artigo bebe das fontes do livro de Dr. Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira: "Considerações sobre o ordo missae de Paulo VI", 1970, onde a primeira parte trata exaustivamente das possibilidades do Papa herege. Este livro foi revisado e tinha adesão do eminente católico Plinio Corrêa de Oliveira.

-> Um Papa pode ser herege

Bíblia

"Roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos" S. Lucas XXII, 32. Adendo da 3ª edição: diferente do afirmado antes, deste versículo não segue que necessariamente Nosso Senhor admitiu que S. Pedro e, consequentemente, todo chefe da Santa Igreja pudesse cair em heresia. Porém, admitiu algum abalo quanto à fé, que parece explanado quanto ao grau nos textos a seguir. Talvez Nosso Senhor quisesse com isso ressaltar que não passaria muito tempo com o Papado no erro de fé, como fora com S. Pedro após a negação, pois Deus interveio e o olhou. Da mesma forma, a alma piedosa espera a intervenção de Nossa Senhora.

Papa Adriano II

"Lemos que o Pontífice Romano sempre julgou os chefes de todas as igrejas (isto é, os Patriarcas e Bispos); mas não lemos que jamais alguém o tenha julgado. É verdade que, depois de morto, Honório foi anatematizado pelos orientais; mas deve-se recordar que ele foi acusado de heresia, único crime que torna legítima a resistência dos inferiores aos superiores, bem como a rejeição de suas doutrinas perniciosas" [1].

III Concílio de Constantinopla, VI Ecumênico considerando um Papa do passado herege

"Julgamos que, juntamente com esses, foi lançado fora da Santa e Católica Igreja de Deus, e anatematizado, também Honório, outrora Papa de Roma, pois verificamos, por seus escritos enviados a Sérgio, que em tudo seguiu o pensamento deste último e confirmou seus princípios ímpios" [2].
Papa São Leão II, rogai por nós!

Papa São Leão II (+ 683)

"Anatematizamos também os inventores do novo erro: Teodoro, Bispo de Pharan, Ciro de Alexandria, Sérgio, Pirro (...) e também Honório, que não ilustrou esta Igreja apostólica com a doutrina da tradição apostólica, mas permitiu, por uma traição sacrílega, que fosse maculada a fé imaculada" [3].

Papa Adriano VI († 1523)

“Se por Igreja Romana se quer dizer a sua cabeça ou pontífice, é fora de dúvida que ele pode errar, mesmo em matérias que tocam a fé. Ele faz isso quando ensina heresia por seu próprio julgamento ou decreto. Na verdade, muitos pontífices romanos foram hereges. O último deles foi o Papa João XXII († 1334)“ [4].

São Francisco de Sales


“Nos termos da Lei antiga, o Sumo Sacerdote não usava o Rational, exceto quando estava investido com as vestes pontificais e entrava diante do Senhor. Assim nós não dizemos que o Papa não pode errar em suas opiniões privadas, como fez João XXII; ou não ser totalmente um herege, como, talvez, Honório era” [5].

São Bruno ao Papa Pascoal II insinuando que ele podia cair em heresia obstinada

"(...) Eu vos estimo como a meu pai e senhor (...). Devo amar-vos; porém devo amar mais ainda Àquele que criou a vós e a mim. (...) Eu não louvo o pacto (assinado pelo Papa), tão horrendo, tão violento, feito com tanta traição, e tão contrário a toda piedade e religião. (...) Temos os Cânones; temos as constituições dos Santos Padres, desde os tempos dos Apóstolos até vós. (...) Os Apóstolos condenam e expulsam da comunhão dos fiéis todos aqueles que obtêm cargos na Igreja através do poder secular. (...) Esta determinação dos Apóstolos (...) é santa, é católica, e quem quer que a ela contradiga, não é católico. Pois somente são católicos os que não se opõem à fé e à doutrina da Igreja católica. E, pelo contrário, são hereges os que se opõem obstinadamente à fé e à doutrina da Igreja católica. (...)" [6].

Santo Ivo de Chartres

"(...) não queremos privar as chaves principais da Igreja (isto é, o Papa) de seu poder, qualquer que seja a pessoa colocada na Sé de Pedro, a menos que se afaste manifestamente da verdade evangélica" [7].

Fatos a favor desta doutrina

Principalmente a partir da época do Concílio Vaticano II, documentos pontifícios foram acusados de apoiar heresia. Mesmo que o contraste com a Tradição esteja escancarado, a condenação por heresia só poderá ser ratificada por um futuro Papa. Considerando as teses teológicas que sustentam que o Papa continua Papa, em determinadas condições, essa situação só corrobora a possibilidade de um Papa herege.

Outras autoridades contra esta doutrina

São Roberto Belarmino pessoalmente se alinhou ao o que ele próprio chamou de “parecer piedoso” de Albert Pighius [8], ou seja, que um Papa não poderia cair em heresia pessoal, mas admitiu que “a opinião comum é a contrária” [9]. Cardeal Billot e Suarez também acreditaram ser esta sentença a mais provável, mas só Matthaeuccius a considerou de fé [10].

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[1] Adriano II, alloc. III lecta in Conc. VIII, Act. 7 - citado por Billot, Tract. de Eccl. Christi, tom. I, p. 619 - Ver também Hefele-Leclercq, tome V, pp. 471-472
[2] Denz.-Sch. 552. 
[3] Denz.-Sch. 563
[4] Quaest. in IV Sent. Quote in: “L’Infaillibilité du pape et le Syllabus”, (Besançon: Jacquin; Paris: P. Lethielleux, 1904) 
[5] St. Francis de Sales, The Catholic Controversy (TAN Books) p 305-306 
[6] Carta de São Bruno de Segni a Pascoal II, escrita em 1111 - P.L., tom. 163, col. 463. Ver também: Baronius, Annales, ad ann. 1111, n.º 30, p. 228; Hefele-Leclercq, tom. V, part. I, p. 530 
[7] P.L., tom. 162, col. 240
[8] Hierarch. Eccles., lib. 4, cap. 8
[9] De Romano Pontifice, lib II, cap. 30
[10] Op.Cit. A.Xavier, pg. 8