Sobre a influência de fatores sociais e psicológicos em interpretações sobre o futuro e profecias. Estamos isentos disso?

S. Norberto, rogai por nós!
Este santo disse ter recebido
revelações sobre a vinda do
Anticristo ainda em seu tempo,
segundo contou S. Bernardo
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Veja outros artigos de interesse: Doutrina católica sobre as revelações públicas e particulares (parte útil para a interpretação das mesmas)

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Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. I)".

Neste artigo faremos observações de ordem sociológica e psicológica para entendermos certas interpretações do passado e do presente.

Quem trata de profecia costuma ser levado pela pessoalidade, isto é, imbui algo de psicológico em suas interpretações sobre o futuro. Como vimos neste capítulo, até mesmo santos disseram ter recebido revelações, e não meras interpretações, de que o Anticristo viria em suas épocas. Vimos também como isto foi tratado por teólogos antigos que explicaram o porquê destes acontecimentos.

Fatores sociopsicológicos que influenciam interpretações sobre o futuro e profecias

Fatores sociopsicológicos são o ambiente social e a percepção da pessoa em relação a esse ambiente.

Assim, é fácil perceber esta relação:

Na época do Pe. Vieira, causava desamparo ver a ordem política católica, representada pelos reinos, perder força por diversas razões.

Em nossa época, depois que as monarquias caíram e há tempos vivemos tempos piores que o do Pe. Vieira, é a ordem espiritual a causadora de maior desamparo.

Ademais, causa demasiado desamparo ver a mudança na ordem temporal, isto é, o fim da Civilização Cristã e tudo que ela inspirou: cultura, valores, ambientes e costumes.

Assim, o desejo de um Monarca restaurador na época do Pe. Vieira vinha da observação da história que então acontecia, assim como o desejo atual de um Pontífice Santo e um Grande General que restaurem, respectivamente, a ordem espiritual e temporal.

Fatores psico-microssociais que influenciam interpretações sobre o futuro e profecias

Fatores psico-micro-sociais são fatores restritos à pessoa e ao contexto no qual ela se insere.

Dito isso, é fácil ver a seguinte relação: 

O Pe. Vieira, desejoso de ver restaurada a ordem política cristã restaurada no mundo inteiro a partir de sua pátria, acreditou na volta do Rei Dom Sebastião, assim como acreditou na ressurreição de Dom João IV.

Alguns lefebvristas, desejosos de ver a ordem espiritual restaurada e seus bispos tidos como heróis em seu tempo, acreditam na ressurreição de Dom Lefebvre e de Dom Castro Mayer.

E alguns tefepistas, desejosos de ver a ordem temporal restaurada e seu principal inspirador e combatente, Plinio Corrêa de Oliveira, tido como herói de seu tempo, acreditam na ressurreição deste.
 

A ressurreição de alguém antes da ressurreição geral, salvo melhor juízo da Santa Igreja, não nos parece impossível teologicamente, porque não só os mortos ressuscitaram no tempo da crucificação e morte do Salvador do mundo, conforme conta um dos Evangelistas, mas sabemos de outros casos, como o da Madre Mariana de Jesus Torres, que recebeu as revelações de Nossa Senhora do Bom Sucesso, e ressuscitou duas vezes. 

Assim, é uma ressurreição nesses moldes que cremos possível teologicamente, embora não a sustentemos para nenhum dos casos acima, como falamos ao longo deste volume.

Fatores puramente psicológicos
 
Fatores puramente psicológicos também influenciam as interpretações sobre o futuro.

Por exemplo, se a pessoa é muito ativa, ela poderá crer que da sua ação virá uma reação ao que considera ruim. Já se a pessoa não possui ação alguma, ela poderá crer que da ação de um outro virá uma reação.


Entretanto, essa análise é a mais difícil de ser feita, pois exige análise particular de cada pessoa, isto é, todas as tendências aos pecados que podem influenciar essas crenças, como preguiça, inveja, orgulho, vaidade, etc. E também envolve fatores psico-microssociais, como explicado neste artigo.

Este trabalho está imune a qualquer influência desses tipos?

É de muita ingenuidade acreditar que estamos imunes à qualquer influência dos tipos vistas aqui, como se estivéssemos elevados, em distância psíquica, acima dos santos de outrora, já citados neste capítulo. Como todo e qualquer outro que já viveu e viverá na terra (com única exceção, talvez, da Virgem Santíssima e seu Filho Deus), estamos inseridos e afetados por um contexto social.

No entanto, assim como o Pe. Vieira se esforçou para fundar suas teses sobre o futuro em profecias antigas, tentamos basear as nossas em profecias do passado, e em raciocínios sobre Teologia da História do próprio Pe. Vieira, além de outros autores.

Além disso, para embasar nossa crença sobre o futuro, sustentamos uma noção sociológica da sociedade em três esferas, e e tentaremos provar essa noção.

Divisão das esferas da sociedade baseada em uma interpretação da sociologia católica

Nosso Senhor Jesus Cristo foi: Rei - Profeta - Sacerdote

Esferas da sociedade: Política - Temporal - Espiritual

A maioria das pessoas atua na esfera temporal, pois chamamos de esfera temporal a sociedade através de modas, artes, ambientes, costumes, economia, direito, educação, cultura, ideologias, etc. A esfera temporal está muito atrelada à opinião pública, mas é importante notar que a opinião pública pode variar de um tema para outro. Se uma pessoa não trabalha diretamente nessas áreas, ela trabalha auxiliando-as direta ou indiretamente com serviços diversos, como um engenheiro, transportador, agricultor, etc.

Exemplo de como as esferas se inter-relacionam: alguém com noção de moral católica julgará a moralidade de determinada roupa. Alguém com noção da esfera temporal pela ótica católica, ou noção contra-revolucionária, julgará uma roupa pela sua função de pudor, ornato e adequação (roupa de rei, sacerdote, porteiro, etc). Alguém atuando na esfera política pode favorecer uma visão temporal dessa roupa, fazendo uso de seu poder público. Outro exemplo: um teólogo dirá sobre a moralidade em comprar um certo negócio empresarial. Alguém católico na esfera temporal julgará a melhor ação, tendo em vista vários cenários, mas antes a moralidade católica; a esfera política pode favorecer uma visão sobre esse negócio.


Outro exemplo: quando o objeto pertence à esfera temporal, como uma roupa, um negócio empresarial, etc; a esfera espiritual julga se o objeto é bom ou ruim; a esfera temporal, representada pela opinião pública, julga qual é o melhor; e a política favorece uma visão da esfera temporal. Quando o objeto é da esfera espiritual, como uma arte ou música sacra, direito canônico, etc; a esfera espiritual julga se é bom ou ruim, e qual objeto é o melhor, mas atualmente costuma precisar do trabalho da esfera temporal para que possa ter seu objeto. Quando o objeto é da esfera política, como algo pertencente ao direito público, administração pública, etc, a esfera política julga se o objeto é bom ou ruim e julga também qual é o melhor; já a esfera temporal pode opinar sobre qual objeto é o melhor; e a esfera espiritual julga se o objeto é bom ou ruim.

Observemos o seguinte: não há uma separação completa das esferas, mas uma inter-relação entre todas as três, e os "objetos" dos quais tratamos não necessariamente servem a uma só esfera. Por fim, frisamos que a esfera espiritual é a mais importante dentre todas não só porque julga tudo de princípio, mas porque a Sabedoria Eterna e Encarnada, quando veio ao mundo como Rei, Profeta e Sacerdote, mostrou como Sua pessoa englobava a todas, ao mesmo tempo que indicou a divisão correta das esferas da sociedade. 

Resumo

Muitos portugueses, após o sumiço do cristianíssimo Rei D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir, esperavam o retorno do Rei Virgem em cima de um cavalo branco para aumentar a Cristandade a partir de Portugal. Isso era uma das características do que ficou conhecido como sebastianismo.

Dizia Plinio Corrêa de Oliveira que não veio o Rei Virgem em um cavalo branco, para aumentar a Cristandade a partir de Portugal, mas veio a Rainha das rainhas, Virgem das virgens, de branco, em Fátima, Portugal, prometer que por fim, seu Imaculado Coração triunfará.

Assim também os essênios* esperavam a vinda do Rei, do Sacerdote e do Profeta, para pôr fim à seita dos saduceus e à seita dos fariseus, mas veio o Messias prometido: Rei, Profeta e Sacerdote, para criticar ambos os grupos e remir os pecados do mundo.

As relações se fecharão quando as expectativas dos essênios se cumprirem unidas às promessas da Virgem em Fátima: virá um Rei, um Profeta e um Sacerdote, para que triunfe o Imaculado Coração de Maria.

Isso é o que sustentamos, e tentamos mostrar neste singelo trabalho.

Resumo esquemático

Nosso Senhor Jesus Cristo foi:

Rei - Profeta - Sacerdote


Esferas do mundo:

Política - Temporal - Espiritual

Três Apóstolos vindouros:

Grande Monarca - Grande General - Papa Santo

O nome dado a estes três apóstolos vindouros não é invenção nossa, como veremos nos capítulos seguintes.


Abaixo, o Prof. Plinio, falecido catedrático da PUC-SP, explica o papel da ordem temporal na salvação das almas
 

Próximo deste capítulo: É possível determinar uma data limite mínima para o fim do mundo?

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* Segundo os manuscritos do Mar Morto que veremos no capítulo III