Bíblia, Papas e santos sobre a necessidade de missas simultâneas e ininterruptas, que o liturgicismo rejeita


Famoso quadro de Victor Meirelles, “O descobrimento do Brasil”. Os portugueses bem sabiam da graça que se difundia com a missa tradicional e a mandaram celebrar ao chegar no novo mundo. Conta a carta de Pero Vaz Caminha que os índios apontavam para a liturgia e para o céu, claramente entendendo do que se tratava. Uma índia inclusive resolveu pôr mais roupa quando houve a missa seguinte.

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Volume II, 2a edição)". 

S. Odilon de Cluny, rogai por nós!

Todo este artigo se aplica mais ao sacrifício da missa segundo algum rito tradicional, em comunhão com a Sé Petrina. O leitor perspicaz pode verificar se sua liturgia é liturgicista lendo os seguintes compilados:

Papas e tradição contra o liturgicismo pró altar-mesa, altar único, padre voltado ao povo, e oposto a imagens sagradas

Papas, Santos e teólogos contra a participação ativa liturgicista na missa em desprezo do terço e piedades não-litúrgicas

Sagrada Escritura


É unânime entre os exegetas católicos: os sacrifícios da antiga lei eram meras figuras do Santo Sacrifício da Missa.

Holocausto contínuo: “O Senhor falou a Moisés, dizendo: Ordena a Aarão e a seus filhos: Esta é a lei do holocausto: O holocausto arderá sobre o altar toda a noite até de manhã, o fogo será tomado do mesmo altar.” Levítico VI

Aplaca a peste que assola: “David edificou ali um altar ao Senhor, e ofereceu holocaustos e hóstias pacificas. O Senhor compadeceu-se da terra, e cessou o flagelo que assolava Israel.” II Samuel XXIV

Apaga os efeitos temporais dos pecados confessados: “O rei Ezequias, levantando-se de madrugada, convocou todos os príncipes da cidade e subiu à casa do Senhor; todos juntos ofereceram sete touros, sete carneiros, sete cordeiros e sete bodes pelo pecado, pelo rei, pelo santuário e por Judá. Ele disse aos sacerdotes, descendentes de Aarão, que os oferecessem sobre o altar do Senhor. Os sacerdotes imolaram os touros, tomaram o sangue e derramaram-no sobre o altar; imolaram também os carneiros e derramaram o seu sangue sobre o altar; imolaram os cordeiros e derramaram o sangue sobre o altar. Levaram diante do rei e de toda a multidão os bodes pelo pecado e impuseram-lhes as mãos (confessando os seus pecados). Os sacerdotes imolaram-nos e derramaram o seu sangue diante do altar para expiação de todo o Israel, porque o rei tinha mandado que se oferecesse por todo o Israel o holocausto e o sacrifício expiatório.” II Cron XXIX

À objeção de que o sacrifício da lei antiga era prefigura só na qualidade e não na operação, e por isso não se exigem muitas missas:

“Todos os dias freqüentavam em perfeita harmonia o templo e, partindo o pão pelas casas, tomavam a comida com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e sendo bem vistos por todo o povo. O Senhor aumentava cada dia mais o número dos que estavam no caminho da salvação.” Atos II, 46

Mais adiante aqui, veremos um grande exegeta, o Pe. Cornélio A Lapide, apreciando opiniões e resolvendo pela existência de ágape após a Eucaristia.

Rubricas do missal do Rito Romano Antigo, usado por inúmeros Papas e santos

Dom Pedro Maria de Lacerda, 10º Bispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, mandou publicar no Jornal “O Apóstolo”, edição de 20/3/1889, um decreto sobre a peste que grassava (datado de 14 de março do mesmo ano), mostrando que as Rubricas da missa antiga serviam tanto para pedir chuva, quanto para aplacar peste, tal como os sacrifícios da antiga lei:

"Todos os sacerdotes hum e outro clero de Nossa Diocese, até o fim de Abril deste ano, todas as vezes que as Rubricas permittirem, logo depois das Orações prescriptas na Missa, recitem como Collecta as Orações que vêm no fim do Missal na Missa pro vitanda mortalitate vel tempore pestilentiae. Esta Collecta poderá ser substituída, quando assim for entendido e, sobretudo, em quanto houver necessidade de chuva, pelas Orações ad petendam pluviam, que vêm entre Orationes ad diversa, do Missal (...).

 "A Collecta pro Papa fica suspensa e adiada para depois da epidemia que nos está flagellando em castigo de nossos pecados (...)"

João Paulo II citando o Concílio Vaticano II


“Compreende-se, assim, quão importante seja para a sua vida espiritual, e depois para o bem da Igreja e do mundo, que o sacerdote ponha em prática a recomendação conciliar de celebrar diariamente a Eucaristia, porque, “mesmo que não possa ter a presença dos fiéis, é ato de Cristo e da Igreja” (Concílio Vaticano II, Presbyterorum Ordinis, 13). Deste modo, ele será capaz de vencer toda a dispersão ao longo do dia, encontrando no sacrifício eucarístico, verdadeiro centro da sua vida e do seu ministério, a energia espiritual necessária para enfrentar as diversas tarefas pastorais.” [1].

S. Odilon, do mosteiro de Cluny, mandava rezar missa ininterruptamente

Relata o historiador Daniel-Rops: “O prestígio de Cluny tornou-se imenso em breve tempo, e Glauber não deixa de prestar-lhe a sua homenagem: “Este mosteiro, que não tem igual no mundo românico para a salvação das almas” é um lugar em que, graças ao grande número de monges, “se celebram missas sem interrupção desde o romper da aurora até à refeição do meio-dia”, e onde a comunhão é tão abundante que todos os dias muitas almas são arrancadas do poder do maligno”. [2]


História da heresia jansenista que era louca por só uma missa, a paroquial, mostra como as simultâneas são importantes

Relata Fernando Furquim de Almeida, no mensário que então tinha o bispo de Campos, Dom Mayer, como responsável eclesiástico (1952): “Um dos princípios táticos do Jansenismo era o exagero do espírito paroquial: Missa e Sacramentos, só na igreja matriz. O Conciliábulo de Pistoia acentuou bem esta tendência jansenista, que no futuro era uma verdadeira campanha contra as igrejas das Ordens e Congregações. Pois todos estes Bispos são paroquialistas "à outrance". Mons. Bazin de Bezons e Mons. Tourouve perseguem os fiéis que aos domingos não assistem à Missa na igreja paroquial. Tourouve, já na sua primeira visita pastoral, fecha uma capela e interdiz a celebração do Santo Sacrifício em várias outras. Souillac excomunga os fiéis que em três domingos consecutivos não comparecem à Missa na igreja da paróquia.” [3].

Pe. Cornélio a Lapide, S. J. comentando a Sagrada Escritura (Atos II, 46) e citando outros exegetas

No rodapé, segue o original em latim além da fonte. A tradução podia ser melhor [1]:

“E PARTINDO O PÃO PELAS CASAS, diz-se em grego [N.E: palavra no alfabeto grego, impossível de ser transcrita aqui], ou seja, ao redor da casa, que se supõe a de Deus, que é o templo (OEcumen, PANEM).

Por isso, considera-se, com muitos outros, que este pão partido no templo era a Eucaristia. Daí, em Sírio se traduz por pão, o presente abençoado, como pão consagrado e transubstanciado, e como oferta de alimentos a Deus em sacrifício. E isso é muito provável, porque a Eucaristia é chamada por S. Paulo e S. Lucas (C. XIV) de fractio panis.

Não obsta que nosso grego, [N.E: palavra no alfabeto grego, impossível de ser transcrita aqui], traduza por casa no singular (...) porque o número de fiéis aumentava, era necessário distribuí-los entre as várias casas e celebrar a Eucaristia entre elas.

E a partir desse momento surgiu e distinguiu-se a paróquia, e cada um com seu próprio pároco ou pastor, pois no início havia um [N.E: palavra no alfabeto grego, impossível de ser transcrita aqui], ou casa e refeitório dos fiéis, como fica claro no cap. 1. 13.

Outros, no entanto, como Lyra. Caiet. e Carth. dizem que este pão era habitual e comum, q. d. Partiam, ou seja, distribuíam pão pelas suas casas, isto é, comida, segundo o número, a qualidade e a quantidade dos habitantes de cada casa. De onde nota Crisóstomo o ser chamado de pão, q. d. alimento necessário, e não luxo. Assim, favorece-se o que se segue: compartilharam sua comida com exaltação [N.E: “cum exultatione”, da vulgata. Na tradução do Pe. Matos Soares: “com alegria”], o que se entende corretamente em relação ao Ágape após a Eucaristia, q. d.

Após a Eucaristia eles compartilhavam o Ágape, ou comida em um banquete e convívio comum, estabelecido como memorial da última Ceia de Cristo, como símbolo e estímulo à caridade. Por isso, comiam, do grego [N.E: palavra no alfabeto grego, impossível de ser transcrita aqui], ou seja, comiam ao mesmo tempo um alimento comum, claramente em Ágape, que compartilhavam depois da Eucaristia.” [4].



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[1] Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, 2003, Link: https://www.vatican.va/holy_father/special_features/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_20030417_ecclesia_eucharistia_po.html. Visto primeiro em (visto em 23 de junho de 2022): https://padrepauloricardo.org/blog/mesmo-sem-fieis-os-padres-nao-so-podem-como-devem-rezar-a-missa.
[2] História da Igreja: a igreja nos tempos bárbaros, vol. II, p. 593, o doloroso alvorecer do ano mil, Daniel-Rops.
[3] "Catolicismo", 1952, n° 21, Setembro. COMO SE PREPARA UMA REVOLUÇÃO: O JANSENISMO E A TERCEIRA FORÇA. Link: https://catolicismo.com.br/Acervo/Num/0021/P02-03.html.
[4] “Et frangentes circa domos, Graece [N.E: palavra no alfabeto grego, impossível de ser transcrita aqui], id est, circa domum, puta Dei, hoc est templum, ait (OEcumen, PANEM).

Qui proinde cum multis aliis censet, panem hunc quem in templo frangebant, fuisse Eucharistiam. Unde pro panem, Syrus vertit, munus benedictum, puta panem consecratum et transubstantiatum, Deoque quasi mincha in sacrificium oblatum. Idque est valde probabile, quia Eucharistia a Paulo et Luca (C. XIV) vocatur fractio panis.

Nec obstat, quod Noster Graecum, [N.E: palavra no alfabeto grego, impossível de ser transcrita aqui], puta domatim, per domos singulas, idque recte ex graecismo; quia crescente numero fidelium per varias domos eos distribuere, in iisque Eueharistiam celebrare oportebat.

Atque exinde ortae et distinctae paroecite, quibussingulis suus praaest Parochus, sive Pastor, cum primitus una esset [N.E: palavra no alfabeto grego, impossível de ser transcrita aqui], sive domus et coenaculum fidelium, uti patet cap. 1. 13.

Alii tamen, ut Lyran. Caiet. et Carth. significaut hunc panem fuisse usualem et communem, q. d. Frangebant, id est, distribuebant per domos panem, id est cibum, pro numero, qualitate et quantitate incolarum cuiusque domus. Unde notat Chrysost. dici panem, q. d. Alimentum necessarium, non delicias. Huic sensui favet id quod sequitur: Sumebant cibum cum exaltatione, sed hoc recte accipias de agape post Eucharistiam, q. d.

Post Eucharistiam sumebant agapen, sive cibum in epulo et convivio communi, instituto in memoriam ultimae coenae Christi communis, ad symbolum et stimulum charitatis. Unde pro sumebant, Graece est [N.E: palavra no alfabeto grego, impossível de ser transcrita aqui], id est, simul sumebant cibum communem, scilicet in agape, quam post Eucharistiam celebrabant“. Commentaria In Sacram Scripturam. Editio XYSTO RIARIO SFORTIAE, Cardinalem Archepiscopo Naepolitano, Tomo X, p. 78. Disponível no archive.org.