Hipótese Teológica: a missão de Elias Profeta como prefigura das Eras do mundo desde as Antigas às Cristãs

Santo Elias, rogai por nós!

Para entender bem esse artigo:


Hipótese Teológica da divisão das Eras da Igreja. Apreciação das divisões de S. Agostinho, S. Boaventura e outros

Escritura e os Doutores da Igreja dizem que Elias e Enoch virão no fim dos tempos na época do Anti-Cristo (parte 1)


Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. IV)".

Anterior deste capítulo: As sete Eras representadas nas sete aparições de Nosso Senhor no dia da Ressurreição, conforme a Sagrada Escritura

Nesta primeira série do capítulo IV, tentaremos identificar paralelos de importantes eventos bíblicos com as sete Eras Cristãs, seguindo a ordem da hipótese do capítulo precedente. Ali a opinião deste singelo trabalho foi apresentada como régua.


Este artigo baseia-se na hipótese da divisão das Eras defendida no capítulo III: treze desde o começo do mundo. Ali dizíamos que as Eras são encontradas nos "Livros Legais e Históricos segundo a simbologia da história e das ações dos profetas". À vista disso, analisemos a missão de Elias Profeta como prefigura das Eras do mundoCristãs.

Ordem da Era (Era Cristã) - Evento relevante inicial-final da Era - Referência bíblica do evento Eliático
 
PRIMEIRA -
Adão-Dilúvio - 1 Reis XVII, 1
 
Assim como Deus mostrou a Elias Seu poder sobre a chuva e orvalho, também uma exibição de poder ocorreu no Dilúvio.

SEGUNDA -
Dilúvio-Moisés - 1 Reis XVII, 2-6

Elias vai, por ordem de Deus, à corrente de Carit, e lá bebe da torrente enquanto os corvos trazem pão e carne, e fica lá até a torrente secar. Também um corvo é solto por Noé, e uma torrente fez parte daquele evento: as águas do dilúvio.

TERCEIRA -
Moisés-Florescimento com os Reis - 1 Reis XVII, 8-14
 
A viúva que parece sem pão por causa da seca é abastecida pelas palavras do profeta. Analogamente ocorre nos 40 dias no deserto com Moisés quando, apesar da seca, os israelitas tinham o maná e não lhes faltava comida.

QUARTA -
Florescimento com os Reis-Decadência com Salomão - 1 Reis XVII, 17-24
 
Aqui o profeta, representando a ação profética de Deus na história, ressuscita o filho da viúva que reclamava com Elias insinuando que este tinha vindo para suscitar a lembrança de seus pecados por causa da doença do filho. Ora, a viúva representa o povo israelita que passou pelo deserto na Era anterior. Assim, simbolicamente o povo não é deixado de lado, com uma descendência chagada por causa dos flagelos anteriores, pois ressurge (a sua herança, o filho), ou seja, há um paralelo com a promessa do Messias que irá ressuscitar, e virá da linhagem do Rei David dessa era. Por isso, a viúva crê no profeta.

QUINTA -
Decadência com Salomão-Cristo - 1 Reis XVIII, 1-40
 
Essa é a Era de Elias propriamente, a Era dos profetas. Essa parte, como as outras, prefigura a Era correspondente da Era cristã. Os profetas na época de Elias, como ele, se apresentam diante do mundo, simbolizado por Acab, o Rei. Elias desafia Acab a juntar os falsos profetas no Monte Carmelo, e lá lança o desafio do fogo para verificar quem tinha a verdade. Ganhando, extermina os profetas de Baal.

O Monte simboliza a criação da agrupamento profético do Carmelo, que vem em tal época crítica. Também veio na quinta Era da Era cristã a reforma do Carmelo e a TFP (nos termos da introdução deste volume), composta por terceiros carmelitas, e que se identifica com os apóstolos dos últimos tempos, segundo sustentado desde o capítulo II e ainda visto mais adiante em revelações privadas autorizadas pela Santa Igreja.

Aquele desafio simboliza a luta que se trava nessa Era entre o bem e o mal, mais explícita nesse tempo. Os falsos profetas significam todos os embusteiros da Era, desde os idólatras até os hereges, isto é, os que não fazem um sacrifício indigno ao Senhor, o qual Ele não aceita através do envio do fogo. Esses falsos doutores se retalhavam, isto é, nessa Era os próprios ímpios são o motivo de suas dores.

Elias junta doze pedras para representar as doze tribos de Israel, o que se harmoniza numericamente com as treze Eras, isto é, as doze Eras mais o profeta, que representa a sua. Depois manda jogar quatro talhas de água três vezes sobre o holocausto, representando o doze novamente (4x3), e também o três, representante das três testemunhas do começo da sexta Era cristã (Papa Santo, Grande Monarca e o profeta, que por sua vez são prefiguras de Elias, Enoch e S. João Apóstolo, segundo visto no início do capítulo III).

Elias profeta, depois disso, tem sua oração e sacrifício aceito com fogo do céu, o que simboliza que nessa Era só o ministério profético será agradável a Deus, só os escolhidos baterão de frente com o mundo (os de Baal), virando profetas. As talhas de águas já no holocausto recebem o fogo do Espírito Santo e está pronta a virada da Era, a vinda do Papa Santo, de onde sai vitorioso esse profeta de Deus, exterminando os de Baal. O fogo consome também as doze pedras, representando não só o fim da distinção das doze tribos judaicas com a vinda do Messias na sexta Era antiga, como a vinda do Espírito Santo sobre os doze apóstolos. Esta, entretanto, veio em outra Era.
 

SEXTA - Cristo-Cristo no calvário - 1 Reis XVIII, 41-46
 
Elias diz para Acab comer e beber para se preparar para a chuva, isto é, o profeta diz para o mundo (Acab) se preparar para o Castigo. Elias sobe no alto do Carmelo, isto é, vai para o ápice da ação profética as ações dos homens, e lá vê a nuvem, e a venera de joelhos, porque a nuvem representa a vinda de Nossa Senhora, envolta na nuvem com o anjo Gabriel, assim como a Arca da Aliança (prefigura de Maria, a verdadeira Arca da Aliança) era envolta na nuvem. Esta vem do mar, porque Maria vem da palavra Mar. O criado não vê a nuvem e precisa voltar sete vezes, quando a vê em formato de pegada de homem, e ainda vê algo como uma marca, porque na sétima Era Cristo deixou sua marca nos céus e na terra, a marca da Era cristã, da nova aliança, embora o evento se refira à Sua vinda. Também essa parte se relaciona com a vinda do Reino de Maria, na sexta Era Cristã, por causa da Virgem Maria, e os três dias de trevas, pois a chuva faz, segundo esses versículos, o céu cobrir-se em trevas. Elias diz para o mundo (Acab) atrelar os cavalos no carro, isto é, subordinar as paixões à razão.

SÉTIMA (1a Era Cristã) -
Cristo morto-Fim do mundo - 1 Reis XIX, 1-5a 

O mensageiro de Jezabel ameaça matar Elias, que com medo vai aonde o desejo o leva, e andando pelo deserto deseja a morte, dizendo que não é melhor que os pais, e adormece na sombra de um junípero. A princípio alguém pode objetar que essa parte não pode ser contada como ação profética, por indicar a mera fraqueza de Elias, mas dois motivos dizem o contrário: aquela ação, apesar de um tanto humana, vem seguida por uma ação profética que ocorre ali mesmo. Segundo, por vezes Deus deixa o homem ser tentado e levado pelas paixões para completar o plano divino: nesse sentido comenta Cornélio A Lápide na passagem "e desejou para si a morte...".

Essa parte representa a prefigura também a humanidade de Cristo: "ecce homo", como disse Pilatos. A crucificação foi a parte humana de Cristo escancarada ao extremo. O pedido de Elias para o Senhor tirar sua vida em gesto de humildade em relação aos pais faz um paralelo com Cristo encomendando nas mãos do Pai a Sua alma. Também Cornélio A Lápide fala da alegoria com Cristo citando Ruperto, lib. V, cap. X, a qual sustentamos em outra dimensão exegética aqui.

OITAVA (2
a Era Cristã) - Destruição de Jerusalém-Concílio de Nicéia - 1 Reis XIX, 5b-9

O anjo o acorda duas vezes com comida e bebida, e na segunda Elias levanta e caminha 40 dias até o monte de Deus, Horeb.

O monte Horeb se situa onde Elias ouviu os decretos da vingança do Senhor, segundo Eclo 48, 7. Aqui estão simbolizadas: a destruição de Jerusalém, a vingança do Senhor contra o povo que não seguiu a aliança, e Sua profecia no Evangelho. O número 40 está presente no número de anos até Moisés ver Deus na sarça ardente (Êxodo III) e começar a sua missão, que é a terceira Era antiga: um paralelo com a virada da segunda Era antiga para a terceira, porque as Eras cristãs também lembram as antigas. O anjo o acorda duas vezes porque representa as duas Eras.

NONA (3
a Era Cristã) - Concílio de Nicéia-Idade Média - 1 Reis XIX, 13-19

Nesta parte Deus menciona a profecia do vento, terremoto, fogo e, então, a brisa, que é a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, que vem no quarto número da série, ou quarto elemento se cada um dos elementos representa uma Era a partir da terceira: aquela tratada aqui. Deus também mostra que Ele tem poder sobre os elementos ar, terra e fogo, mas não estará neles, e omite a água, pois estará na água do batismo na sexta Era antiga. O vento transtorna os montes, presentes também na missão de Moisés e quando este quebra as tábuas da Lei.

A segunda parte dos versículos é mais interessante para esta avaliação porque trata da missão profética de Elias. Deus manda o profeta ungir o rei da Síria, o rei de Israel e o profeta Eliseu no seu lugar. Nada disso é cumprido por Elias, exceto a última.

Um rei para o povo simboliza um Papa querido por Deus, e o rei para um outro povo os reis queridos por Deus, ambos os quais abundaram na quarta Era cristã que, nessa interpretação da missão profética de Elias, começa com a unção de Eliseu, já que foi este que completou a missão de Elias, pois foi ungido na quarta, como veremos a seguir. Também a terceira é a primícia da quarta, pois segundo a história dessas Eras cristãs vemos que na terceira Era muitos reis e bons papas existiam na Igreja, mas não tantos como na quarta.

DÉCIMA (4
a Era Cristã) - Idade Média-Revolução ou decadência que culmina no Castigo Mundial - 1 Reis XIX, 19-21 

Eliseu estava com doze juntas de bois porque esse número é o dos apóstolos que recebem o encargo Apostólico, como também o recebe Eliseu nesse trecho. Para ser seguidor fiel é preciso deixar os bois, isto é, as paixões baixas e também a vida ativa, porque só se completa a vida contemplativa e profética, no sentido pleno, sem essas coisas. Eliseu também representa aqui aquele que completou a missão da Era anterior dada por Deus a Elias, isto é, a sagração dos reis e dos Papas muito queridos por Deus (na nossa interpretação), ou seja, completou algo decretado divinamente na Era precedente. Na quarta Era, a da Idade Média, se completa a missão da terceira, pois floresce a Cristandade com todo o trabalho apostólico da terceira Era: a sagração dos reis, a vida monástica, o conhecimento dos padres da Igreja, etc.

DÉCIMA PRIMEIRA (5
a Era Cristã) - Revolução ou decadência que culmina no Castigo Mundial-Restauração - 1 Reis XXI, 15-28

Acab, representado pelo mundo ou os filhos da serpente, tira a vida de Nabot, que queria somente manter a vinha dos seus pais. Nabot era quem ficou fiel a tradição, não se vendeu ao mundo, e não quis abrir mão dos costumes dignos de outrora por causa de vinhas maiores, isto é, bens materiais. Nabot é morto por Jezabel, através de falsas testemunhas que afirmaram tê-lo visto louvando Deus e o rei (et falsum testimonium dicant: Benedixit Deum et regem), exatamente o que fazem os revolucionários nessa época em relação aos políticos ímpios e a Deus.

Elias profetiza a morte de Acab e de sua mulher e filhos, mas Acab fez penitência e então o Senhor resolveu fazer cair a maldição só nos dias dos seus filhos. O filho simboliza a próxima Era, quando é destruída toda a herança de Acab, isto é, o mundo da quinta Era, o mundo revolucionário. Esse mundo desprezador das heranças tradicionais é destronado. Também esse filho representa a herança revolucionária, que perecerá. Não por acaso a ação profética aqui é similar a da quinta e da sexta Era já tratadas, não só porque Elias profetiza para Acab diretamente, como porque profetiza destruição. Assim também é a próxima Era, a décima segunda na contagem geral.

O que a penitência de Acab significa? Pode ser a parte do mundo que se arrepende de ter ferido Nabot (a tradição) de morte, e que não sofrerá as penas da maldição na próxima Era, porque se arrependeu fielmente e agradou o Senhor.

DÉCIMA SEGUNDA (6
a Era Cristã) - Restauração-Anticristo - 2 Reis I, 3-18
 
Acazias, filho de Acab, passa a reinar, e começa a consultar Belzebub. Deus fala a Elias que o rei certamente morrerá. Avisado disso, o rei manda tropas de cinquenta homens para ter com Elias, que faz descer fogo do céu e consome as duas primeiras. O cinco, número da Era que passou, é simbolizado pelo número da tropa consumida pelo fogo. As três tropas são os três dias de trevas, conforme visto ao longo desse volume. Já a última tropa representa o arrependimento, isto é, a ressurreição. As duas primeiras tratam o profeta  com desrespeito, e por isso perecem. A última pede misericórdia e sobrevive, porque um anjo fala ao profeta para acompanhá-la até o rei, evento que simboliza a profecia da Era anterior, porque a quinta Era, seja a antiga ou a cristã, é uma Era de profetas, quer dizer, a Era de Elias e do Monte Carmelo.

Comenta Cornélio A Lápide em "ide, consultai Belzebub": esse Deus era o Deus das moscas, e muitos seguem Serário no que concerne esse ser o Deus da libidinagem, pois as moscas estão na impureza. E para nós fica claro que a ação profética nessa Era vem castigar a luxúria, a insolência, a inquietude, o litígio. Com esse simbolismo dado pelo grande exegeta jesuíta, a presença de Baal se contextualiza nessa interpretação geral.

DÉCIMA TERCEIRA (7
a Era Cristã) - Anticristo-Fim do mundo - 2 Reis II, 1-13
 
Elias visita as comunidades de profetas que criou, conforme Cornélio A Lápide e outros comentadores. Esses grupos já sabiam então que Elias seria arrebatado. Como a ação profética principal de Elias nessa parte é a ida ao paraíso terrestre, ela representa uma prefigura da ressurreição universal e a volta de Elias.

Paralelo com a paixão de Cristo: Eliseu pede o espírito duplicado, e Elias diz para que estivesse atento quando o levarem, isto é, martirizarem o Salvador, e então Eliseu terá o que quer se cumprir o "vigiai e orai".

Paralelo com o fim dos tempos: Elias profeta é buscado com fogo, porque no fim dos tempos será levado (sua alma) quase simultaneamente com fogo (do apocalipse).

Paralelo com a permanência de Eliseu: um profeta fica, isto é, São João Apóstolo, aquele que recebe o espírito duplicado de Elias, pois vê as duas paixões de Cristo, isto é, a primeira e a última (no apocalipse), e recebeu o Espírito Santo de Cristo ressuscitado e depois em Pentecostes. Por causa desses eventos ele possui o espírito duplicado no sentido profético.

Paralelo com a vinda de Elias no fim do mundo: Elias profeta visita suas comunidades antes de ir-se porque no fim vai visitá-las antes do martírio, isto é, exortará todos os seus apóstolos antes do fim, mesmo estes sendo poucos ou não. No entanto, é difícil encontrar um paralelo numérico com os cinquenta filhos dos profetas nesse evento, então, parece que um número parecido ficará.

OBSERVAÇÕES

Alguns poderão argumentar que em outros livros Sagrados, como em II Crônicas XXI, Elias ainda age profeticamente advertindo aos outros, o que faria essa divisão incompleta e, portanto, inválida. Mas somente avaliamos sua  na missão profética na terra, e não o que acontece posteriormente, quando estava no paraíso terrestre.


Próximo deste capítulo: Nosso Senhor diz que aqueles dias serão como foram nos dias de Noé. Exegese