Hipótese Teológica sobre o que faz alguém ser um verdadeiro Carmelita filho do profeta

Santos carmelitas,
Elias e Eliseu,
rogai por nós!
Para entender melhor conceitos deste artigo, recomendamos:

Hipótese Teológica: a missão de Elias Profeta é prefigura das eras do Apocalipse ou eras cristãs.


Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição)".

No capítulo I, tratamos da missão de Elias e Enoch no fim dos tempos, e a origem pré-Cristã e profética da Ordem do Carmo. Agora, empreendemos esta hipótese original, em parte baseada no livro de Filip Ribot (século XIV) sobre a instituição dos primeiros monges, e em outra parte baseada em afirmações de Plinio Corrêa de Oliveira, que foi carmelita terceiro.

Assim, mostraremos um dos motivos pelos quais Dr. Plinio era irmão terceiro carmelita e desejava que fossem também os membros da associação que ele presidia, a TFP. Também falamos que, hoje, há membros carmelitas dentro desta entidade não ligados a nenhum sodalício, assim como era o fundador depois da dissolução do sodalício de que era prior.


Ressaltamos que esta hipótese, como todo o volume que trata de matéria pertinente à Igreja ou moral, está sujeita à censura eclesiástica. Colocamos as teses em negrito, as quais serão desenvolvidos no texto seguinte.

A estrutura da Ordem do Carmo é válida e permitida para sempre, e seu reconhecimento eclesiástico é ato de mera dissipação de dúvidas, mas não quer dizer que
é dispensável, ou não deve ser obedecido, caso haja proibição de um projeto de ordem na esfera espiritual

Apesar da prerrogativa eclesiástica de reconhecer as Ordens e suas regras, a estrutura da Ordem do Carmo foi validada pela Escritura, e não só pelo Antigo Testamento, por causa de S. João Batista. Explicamos: o santo precursor possuía os mesmos hábitos essênios sobre o batismo, etc, conforme os documentos do Mar Morto atestam, como mostramos em artigo mais adiante neste capítulo. Ora, ele não precisou se adaptar, nem Nosso Senhor, Corpo Místico da Igreja, condenou seus costumes.

Alguns podem argumentar que isso foi antes de Pentecostes, quando a Igreja começa a atividade pública. No entanto, Nosso Senhor é o Corpo místico da Igreja e não condenou Seu primo, e nem a Tradição, nem a Sagrada Escritura diz que depois desse evento o Carmelo foi mudado nos seus costumes e regras. Os carmelitas discípulos de S. João Batista já estavam inseridos na fé em Cristo pela própria missão do mestre: "preparar o caminho". Uma ordem pré-Cristã não precisava estar inserida juridicamente na Igreja, com autorização eclesiástica, pois sua autorização vem da Sagrada Escritura, o que precisava era ter o reconhecimento como carmelita.

Mas, nesse caso, o reconhecimento não é uma autorização ou legitimação, mas somente dissipação de dúvidas. Em uma ordem nova, por exemplo, mesmo que boa e justa aos olhos de Deus, a Igreja precisa autorizar, mas o Carmelo não, pois a Igreja já o autorizou em seu documento mais importante, a Sagrada Escritura. Assim, o reconhecimento serve como dissipador de dúvidas: se aqueles são ou não carmelitas genuínos.


Adendo da 3a edição: a justificava desta tese não sustenta que o reconhecimento eclesiástico da Santa Igreja é dispensável, ou que não deve ser obedecido, caso haja proibição de um projeto de ordem na esfera espiritual, ou seja, esta parte da hipótese não quer justificar um carmelo não-canônico ou cismático, mas provar que o espírito eliático independe de reconhecimento canônico.

O que é preciso para ser um Carmelita:
sacramental, vida monástico-profética e desejo de ser carmelita com obediência a Santo Elias
  
Expliquemos cada parte:

- É preciso usar o sacramental, o escapulário, conforme a Igreja determina

Entretanto, obviamente o
o escapulário sozinho não faz com que alguém seja carmelita, pois muitos o possuem e pertencem a outras ordens, por exemplo. Os requisitos seguintes também provam essa afirmação.
 
- É preciso a vida monástica

O Livro da Instituição dos Primeiros Monges indica quatro condições para alcançar a perfeição profética e a vida religiosa eremítica. São elas: Pobreza, Anulação da vontade, Voto de Castidade-solidão e um amor ardente por Deus. O segundo e o quarto são requisitos que todos podem alcançar, indiferente da profissão, obrigação cívica, etc. Os outros requerem uma mudança de estado, por isso comentamos.

O voto de pobreza, diz Felip Ribot, não é necessariamente não ser rico, ou não ter posse de coisas materiais. No entanto, a maior perfeição vem quando se renuncia a eles, "como nos disse o sábio: "Bem-aventurado o rico que é encontrado sem culpa e que não anda atrás do ouro, nem põe sua esperança no dinheiro e nos tesouros" (Eclo 31,8); mas com o que o mesmo Sábio continuou dizendo: "Quem é este e o elogiaremos?" Ensinou-nos claríssimamente quão difícil é encontrar um homem que, possuindo riquezas, não tenha o afeto de seu coração nelas. "Os cuidados do século, a ilusão das riquezas e os demais apetites desordenados a que dão entrada, afogam a Palavra Divina e vêm a ficar sem fruto" (Mc 4,19); por isso "dificilmente entrará o rico no Reino do Céu" (Mt 19, 23). (...) Porque este é o caminho mais fácil e mais seguro para caminhar à perfeição profética e também para chegar ao Reino dos Céus. "Todo o que tiver deixado casa ou irmãos, ou pai, ou esposa, ou filhos, ou heranças por causa de Meu Nome, receberá cem vezes mais em bens mais sólidos" (Mt 19, 29)" [1].

Portanto, o voto de pobreza é uma preferência pela renúncia de enriquecimento quando, evidentemente, é a melhor opção a uma pessoa, porque a outras, devido ao alto encargo que possuem na ordem temporal, ou a necessidade de manter as riquezas por motivos de força maior, não é possível. O importante é não se preocupar com afazeres mundanos, enquanto se está na "vida ativa", e se dedicar à vida contemplativa.
Para alguém sem um alto encargo (que são normalmente os de influência nas esferas política, temporal, ou espiritual, etc) não há impedimento em se livrar totalmente dos afazeres temporais e das riquezas, pois seu ofício não requer que se mantenha a dignidade hierárquica destes cargos, mas é preciso prudência em cada caso particular.
 
Ora, os Bispos, e principalmente os Cardeais, são a prova de que um voto de pobreza pode ser harmonizado com uma vida luxuosa, com refeições mais suntuosas, bem como melhores residências, etc. Todos eles, tendo abandonado todos os assuntos do mundo a exemplo dos apóstolos, devem viver em torno de posses, por causa da dignidade e beleza dos cargos que estão investidos, mas devem viver sem se afetar por elas. De fato, os Bispos precisam ser escolhidos dentre os mais santos e amantes da mortificação, para que o luxo e a autoridade os afetem o mínimo possível. Mas antes de ser obrigados a viver deste modo por causa da dignidade hierárquica, o bispo é obrigado, pelo encargo e vocação de dirigir a vida religiosa de um grande número de pessoas, a afetar a vida pública defendendo a Igreja, a se pronunciar em questões morais de seu tempo, etc. Então, a vocação determina o grau do voto de pobreza.

Por isso, no caso de um apostolado leigo consagrado, dependendo da vocação desse apostolado, o voto de pobreza pode se dar analogamente ao dos Bispos. Por exemplo, quando um apostolado leigo visar atingir a aristocracia e a nobreza, para influenciá-los na virtude cristã, da noção da dignidade da vida aristocrática católica, será melhor que os apóstolos exibam aparência digna, façam apostolado em ambientes elevados pela Civilização Cristã, com bons pratos, bela decoração, música que ajudem a manter a virtude, sempre de acordo com as condições financeiras. Se possuem uma comunidade, esta deve se amoldar ao apostolado. E mesmo o apostolado com classes mais baixas não pede ambientação, costumes, e encontros que sejam semelhantes aos mosteiros austeros, pois tanto o apostolado com as elites, quanto com os pobres, nesse contexto, são apostolados com gente de vida ativa, e não austera.

Quanto ao voto de castidade, há menos impedimentos para um carmelita seguir, porque os altos encargos, às vezes, são exercidos por solteiros, e a formação de uma família pode afetar a eficiência do trabalho e a vida monástica, se esta já estiver presente na vida da pessoa. No entanto, alguns precisam, até mesmo depois da viuvez, formar famílias de novo, como alguns nobres. A razão do voto é simples: a obtenção da vida contemplativa é mais fácil por esse meio: "estás livre de mulher? Não busques mulher", I Cor 7, 27. "O que não tem mulher, anda unicamente solícito das coisas do Senhor; e o que há de fazer para agradar a Deus. Mas, o que está casado, está cuidadoso das coisas que são do mundo, como há de dar gosto a sua mulher, e está dividido", I Cor 7, 32-33.


Então, por que voto de castidade-solidão? "Monos em grego significa único ou sozinho; Achos em grego significa triste, daqui procede a palavra monástico, que é igual ao sozinho e triste, e que há de chorar em solidão seus pecados e os alheios. E isto é melhor do que viver junto às multidões da cidade" [2]. Muitos, segundo os exemplos dados acima, não podem viver em total solidão, embora possam passar um tempo sozinho, ou boa parte do dia sozinhos, de modo que se assemelham a S. Elias, que vivia na missão profética junto aos seus discípulos, aos reis, e em combate contra os falsos-profetas, mas não deixava de ter uma vida monástica.

- É preciso vida profética

Não há espírito profético que não seja engendrado por Maria Santíssima, então é necessário uma profunda devoção mariana, antes de tudo. Não por acaso, no novo testamento, dois carmelitas que viveram para preparar o futuro foram S. João Batista e S. João Evangelista, os mais próximos dEla.

Ora, há três tipos de vida dos monges: em comunidade, em total solidão, e entre uma coisa e outra. Como a vida monástica
é necessária, a vida profética precisa estar inserida nesse esquema.

Nos que vivem em solidão, o profetismo se cumpre quando observada a vida monástica em alto grau, como no caso de S. Teresinha, que viveu e morreu desconhecida, mas depois da morte mudou o mundo. Sua vida foi consagrada a Deus na humildade, sofrimento e solidão. Apesar dela ter vivido em um Carmelo com outras monjas, possibilitando a divulgação da sua vida, serve como exemplo de alguém tendente ao lado solitário-monástico, porque não temos notícias dos monjes santos totalmente solitários, embora assim Nosso Senhor tenha vivido com Nossa Senhora trinta anos.

Nos que vivem em comunidade, como eram os apóstolos, o profetismo se dá, para sermos breves, no exemplo da vida de S. Pedro, S. Paulo, S. João, todos os outros primeiros apóstolos, e a vida pública de Nosso Senhor. Dentre os que viveram entre uma coisa e outra foi exemplo a vida de Nosso Senhor, que muitas vezes ia rezar só.

Santo Elias viveu todos estes estilos de vida conforme atesta a Escritura, mas convém destacar as partes vividas em comunidade no seu apostolado, pois essas partes são as consideradas propriamente a sua missão profética, e deste modo teremos noção do que é a vida profética carmelitana. S. Elias teve a missão de fazer profetas e reis, restaurando a civilização durante um tempo de crise, portanto, sua intervenção é na ordem temporal, entre a espiritual e a temporal. A abrangência de sua missão profética no mundo era a mais completa, pois abarcava todas as esferas possíveis de intervenção. Do mesmo modo fazia S. João Batista, ao advertir tanto Herodes sobre o adultério, quanto o povo sobre os sacerdotes corruptos, etc. Pessoas de todos os tipos vinham pedir-lhe conselhos (S. Lucas III, 10-14).

Mas falamos da abrangência da missão de S. Elias naquele tempo, e não em relação ao seu futuro. Mais adiante nesse volume, em artigo sobre sua missão, mostraremos como o profeta previu a vinda do Salvador e de Sua Mãe e passou a venerá-la antes dEla nascer, consagrando sua espiritualidade a algo ainda não presente, mas de futuro certo. Assim também fez S. João Batista em relação a Nosso Senhor Jesus Cristo (
S. Lucas III, 16). Por isso, a missão profética de Elias foi completa não só em relação àquele tempo, mas em relação ao futuro, porque ele não só previa os acontecimentos espirituais futuros, mas vivia em torno deles, e a eles consagrou sua vida. A profecia é um aviso, viver em torno deste é ter uma vida profética plena: isso é propriamente ter o espírito Eliático.

Dr. Plinio definiu bem essa vida englobada na consagração a Virgem Maria: "é preciso que nos compenetremos bem de que a posse do escapulário ou o seu uso, e o simples ato de profissão na Ordem Terceira do Carmo, não constituem toda a essência de nossa vinculação a Nossa Senhora, e nada seriam se não fosse nossa consagração especial e interior à Virgem do Carmo. Este, sim, é o elemento básico de nossa condição de terceiros carmelitas. E o uso do escapulário, bem como a profissão na Ordem Terceira não são senão um objeto material e um ato jurídico – um e outro de grande significação e importância, aliás – que exprimem essa consagração" [3].

- Desejo de ser um Carmelita em obediência a S. Elias, no mínimo


Por causa do progressismo, foi dissolvido o sodalício que Plinio Corrêa de Oliveira era prior. Mesmo assim, o fundador da TFP sustentava: "Esta ordem do Carmo à qual tantos de nós nos gloriamos de pertencer como terceiros, a qual todos nós pertenceríamos se nos tivessem franqueadas as portas dela, à qual nós pertencemos em espírito, porque se há um batismo de desejo que faz com que o indivíduo se beneficie dos efeitos do batismo ainda mesmo quando não recebendo propriamente o sacramento, também alguém pode se dizer carmelita, neste sentido, de desejo. E nesse sentido todos nós o somos" [4].

O desejo é um dos requisitos para ser Carmelita. Assim, podemos falar que S. Elias, estando vivo, quereria se vincular ao Carmelo, se antes não estivesse vinculado a uma disposição das coisas por Deus. Também a situação atual, em que um católico tradicionalista é impedido de ingressar na Ordem do Carmo, é também disposta por permissão Divina.

Portanto, o desejo ardente de ser carmelita tem os efeitos da entrada no Carmelo, assim como o batismo de desejo no caso do catecúmeno. O efeito se dá quando se faz um voto de obediência a S. Elias (no mínimo, pois um voto também pode ser feito a Virgem Santíssima). Ele é patrono especial dos carmelitas em exílio, pois não se vincula canonicamente a nenhum sodalício. Deus dispôs assim, cremos, pela conveniência de haver um sodalício dos carmelitas por batismo de desejo, um "sodalício" de Enoch e Elias, no lugar onde estão.

Existe o espírito Eliático: ele está representado pela capa carmelita e o escapulário.

A Sagrada Escritura é clara quanto ao desejo de Eliseu de obter o espírito de Elias duplicado e seu desejo atendido ao vê-lo ser arrebatado, quando rasga suas vestes em duas partes (II Reis 2, 9-12). S. João Batista veio no espírito de Elias n
o Evangelho (S. Lucas I, 17), e se vestia como S. Elias, conforme falamos em outro artigo. Ou seja, o espírito Eliático está sempre junto ao sacramental antigo, a capa. E Nossa Senhora, que engendrou esse espírito, ajuntou ainda o escapulário como marca deste espírito. Com a aparição de Nossa Senhora a S. Elias, o Carmelo viveu em volta da promessa do Salvador e de Sua Mãe Santíssima, e pelo uso da capa se distinguiam. Com a aparição de Nossa Senhora a S. Simão Stock, o Carmelo passou a viver também em volta da promessa sabatina, e pelo uso do escapulário se distinguem. A Medianeira dos Cristãos é quem abençoa e dá a missão profética da Ordem do Carmo desde o começo desta.

Objeção: esta hipótese diz, em outras palavras, que não é necessário se filiar ao Carmelo juridicamente para ser um carmelita

 
Adendo da 3a edição: como falamos no começo, o reconhecimento eclesiástico da Santa Igreja não é dispensável, e deve ser obedecido, caso haja proibição de um projeto de ordem na esfera espiritual. Esta hipótese não quer justificar um carmelo não-canônico ou cismático, mas provar que o espírito eliático independe de reconhecimento canônico, isto é, o espírito eliático abrange mais do que a esfera espiritual.

Quem cumpre os requisitos ditos, já é um Carmelita, conforme sustentamos, mas isso não quer dizer que basta ficar em casa. Por exemplo, a comunidade necessária para o carmelita viver, conforme citado, ou é uma diocese da Igreja (no caso de um padre que tem jurisdição para ser carmelita ali), ou uma comunidade carmelita autorizada pela Igreja (primeira ou segunda ou terceira), ou uma comunidade que viva no espírito Eliático. As duas primeiras não precisamos justificar, só a terceira.

Quando não é possível ao homem vincular-se a uma das duas acima, por justos motivos, ele poderá juntar-se a uma comunidade vivendo no espírito de S. Elias. Se nenhuma houver, basta viver na maior solidão possível. Cada caso é preciso prudência, lembrando dos conceitos de comunidade e solidão dados aqui. Reunir-se a companheiros de ideal também ajuda. Entretanto, a pessoa não deixa de ser carmelita
com o fim da comunidade. Deixaria se perdesse a vontade de se vincular ou juntar-se a uma comunidade, não tendo nenhum impedimento de consciência justo.

De fato, S. Elias nunca se vinculou canonicamente a um Carmelo, por causa de sua existência mais antiga que a Igreja Católica. Mas foi arrebatado ao paraíso terrestre, onde vive até hoje, e junto com S. Enoch, pensamos, forma uma "sodalício" lá. Ambos vivem à espera da vinda do anticristo, condição para que voltem ao mundo, quando realizarão a missão profética em torno da qual vivem.

Isso significa que uma comunidade vivendo no espírito de um fundador de uma outra ordem da Igreja, pelos mesmos motivos acima dados, é legítima? Não, porque as outras ordens foram criadas por autorização da hierarquia Católica, e embora inspiradas por Deus, não possuem missão profética como o Carmelo, durável até o fim do mundo.

A regra destas foi e é confirmada pela hierarquia, por isso mesmo elas não durarão até o tempo do anticristo, quando a abominação da desolação no Templo desmanchará as ordens (como em prefigura, atualmente, ela já desmanchou a vocação da grossa maioria). Então, só uma comunidade com os requisitos acima explicados pode ser chamada ainda parte de uma Ordem, até a morte de S. Elias e de S. Enoch pelo anticristo, quando acabará o mais antigo "sodalício" Carmelita.

Dizer que as outras ordens não possuem o encargo profético como o Carmelo não é tirar o profetismo de seus fundadores ou membros, mas enquadrá-lo dentro da história da Igreja, sob o poder Papal. Resumindo: as outras ordens têm existência submissa ao poder temporal da Igreja, ao contrário do Carmelo, que é confirmado pela Sagrada Escritura e tem existência anterior a qualquer poder canônico-temporal, dado que S. Elias não é submisso a qualquer dano temporal: não envelhece, não tem autorização para ser carmelita, mas é o pai destes.

Objeção: concordar com isso equivale a dizer que qualquer padre pode servir a um Carmelo destes e viver nele, ou passar a se vestir como Carmelita publicamente, e o terceiro também pode se vestir publicamente como Carmelita cumprindo estas exigências

Resp: Para o padre a resposta é "não" enquanto impedir o voto de obediência ou a jurisdição para exercer tais encargos dentro da Igreja, dada pela hierarquia católica. E tanto ele, quanto o leigo não podem se vestir publicamente como carmelitas porque causarão confusão nos fiéis, principalmente no caso do padre. No entanto, privadamente, na presença de pessoas que entendem toda a questão, lhes é possível. Mas só o estado laical permite se juntar a uma comunidade nos moldes da última questão.

Plinio Corrêa de Oliveira cumpria todos os requisitos anteriores, e, junto de seus seguidores que os cumprem, pôde ser chamado de carmelita.

 
Além de ter sido um carmelita terceiro durante um bom tempo, depois da dissolução do sodalício que ele era prior, Dr. Plinio continuou cumprindo os requisitos acima para continuar sendo um carmelita. Explicaremos aqui a vida monástico-profética com mais detalhes.

A vida profética é mais evidente na pessoa de Dr. Plinio que, por ser fundador, dá o tônus da vocação a seus discípulos. Mostramos na parte II desse volume o seu profetismo. Aqui lembramos que na época do progressismo e da crise na Igreja, essa foi a única entidade carmelita e tradicional da Igreja, o que completa os requisitos da missão de Elias: "Eu me consumo de zelo pelo Senhor dos exércitos, porque os filhos de Israel abandonaram a tua aliança, destruíram os teus altares, mataram os teus profetas à espada. Eu fiquei só e procuram-me para me tirarem a vida" I Reis XIX, 10.

O Grupo dirigido por Dr. Plinio vive no espírito Eliático, não desejando a vinda de Nosso Senhor e venerando a Virgem Maria antes da existência dEla, como S. Elias fez, mas desejando a vinda do Reino Social de Cristo, que será o Reino de Maria, e venerando a graça especial que a Rainha dos céus e da terra concederá para a formação desta Civilização, e sua vingança no Castigo prometido (Bagarre). Então, esse Grupo vive em torno de promessas, e quanto mais vive destas promessas, mais aprofundado está no espírito Eliático, mesmo perdendo influência na ordem temporal, como aconteceu com os filhos do profeta na Escritura, que precisavam se esconder e sobrou somente um, S. Elias, o pai destes, para completar a missão.

Então, é verdade o que disse Dr. Plinio: "nós temos: A continuidade de Santo Elias, pela continuidade da graça. Nós temos a continuidade de Santo Elias pela continuidade do Carmo" [5]. "Então, quer dizer que esta velha vinculação com a Ordem do Carmo, passando por cima de toda a história da devoção Marial, faz com que os mais atualizados, os mais de dianteira, no bom sentido da palavra, a favor do Reino de Maria e pela Bagarre, estes sejam os filhos carmelitas dEla desde o começo. Nós sintetizamos em nós todas as tradições do Carmo e todas as esperanças do futuro Reino de Maria. Nós sintetizamos em nós toda a história da devoção a Nossa Senhora. Não quero dizer que sejamos os únicos a sintetizar mas digamos que em nós, esta síntese por esta forma se opera" [6].

O desejo de pertencer ao Carmelo em obediência a S. Elias, pelo menos no fundador da TFP, era bem claro. Em uma reunião anterior à da tese do batismo de desejo, ele disse: 


"E nós somos uma Ordem carmelita no exílio. Nós somos a Ordem carmelitana do silêncio. É a Ordem Terceira do silêncio! Porque nós somos carmelitas e a nossa injustíssima expulsão da Ordem do Carmo não tem valor legal (...)".

"Que neste dia em que comemoraremos todos os mortos da Ordem do Carmo, nós nos lembremos que entre eles não está santo Elias, porque não morreu. Que ele preside a todos, mas que ele está de fora. E que nos ponhamos sob a obediência dele, uma vez que ele está de fora e nós também. E que ele ainda vai ter – embora confirmado em graça – que passar por essa peregrinação na qual estamos também. Que ele se constitua nosso especial chefe, nosso especial pai, nosso especial senhor; que ele auxilie nossas almas cambaleantes, que ele dê fervor a nossas almas bruxuleantes; que ele dê claridade a nossos espíritos indecisos, que ele dê firmeza a nossa vontade fraca, de maneira que de um momento para outro, por uma ação de Santo Elias, sejamos transformados e possamos, por nossa vez, transformar a terra!" [7]. 


Resumo
 
A estrutura da Ordem do Carmo é válida e permitida para sempre. Seu reconhecimento eclesiástico é ato de mera dissipação de dúvidas, mas não quer dizer que
é dispensável, ou que não deve ser obedecido, caso haja proibição de um projeto de ordem na esfera espiritual. As características do espírito Carmelitano, com as quais uma pessoa pode se tornar um, são: sacramental, vida monástico-profética e desejo de ser carmelita com obediência a Santo Elias (no mínimo, como dissemos). Ademais, existe o espírito Eliático, exteriormente representado pela capa carmelita e o escapulário, mas não quer dizer que, publicamente, um leigo possa andar vestido com a capa. Plinio Corrêa de Oliveira cumpria todos os requisitos anteriores, e, junto de seus seguidores que os cumprem, pôde ser chamado de carmelita.


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[1] Os Dez Livros da Instituição dos Primeiros Monges, Filip Ribot, 1379, Livro I, Cap.3
[2] Idem. Livro I, Cap.5
[3] 15 de novembro de 1958, Conferência no Congresso da Ordem Terceira do Carmo em São Paulo, "O Escapulário, a Profissão e a Consagração Interior", "Mensageiro do Carmelo", Ano XLVII, Edição especial, 1959.
[4] Reunião do Santo do Dia, 16 de Julho de 1976, Sexta-feira. A-IPCO.
[5] Simpósio "O que somos nós", 26 de Fevereiro de 1966, Sábado
[6] Reunião do Santo do Dia, 16 de Julho de 1976, Sexta-feira
[7] Reunião do Santo do Dia, 14 de Novembro de 1970, Sábado