Santos, mesmo leigos seculares, com discípulos em voto de obediência máxima: de querer, sentir e entender. "Deus falava por sua boca"

S. Pedro Damião,
rogai por nós!
Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte 2, 3a edição)".

São Luis Maria Grignion de Montfort (1673-1716): "obedecer cega e prontamente"

Nas regras dos Missionários da Companhia de Maria, diz, ao n. 9 do tópico sobre a obediência: "poderão contudo declarar ingênua e simplesmente as razões que tem para deixar ou não de fazer o que se lhes manda. Mas, depois de declaradas se (...) não se tomam em conta suas razões, lhes será ordenado obedecer cega e prontamente, sem dizer por que nem como; e não somente com obediência de vontade, mas também de juízo e de entendimento, crendo, apesar de suas idéias particulares, que o que o superior proíbe ou ordena é absolutamente o melhor diante de Deus" [1]

São Francisco de Assis (1181-1226): os religiosos, depois de dirigido pelos superiores, não devem voltar ao "vômito da sua vontade própria"

"Há efetivamente muitos religiosos que, sob o pretexto de verem coisas preferíveis às que os seus superiores ordenam, olham para trás e voltam ao vômito de sua vontade própria (Lc. IX, 62 e Prov. XXVI, 11). Estes tais são homicidas e, pelos seus funestos exemplos, causam a perda de muitas almas". [2]

São Pedro Damião (1007-1072): Dizia o santo ao seu superior: "Olho-vos como a meu pai, como a meu dono, doutor e anjo tutelar, e tenho mais Fé em vossas luzes do que nas luzes de todos os doutores e anjos do céu" [3]

São Nilo (+430): basta que tais mestres sejam experientes, prudentes e pacíficos para que se possa fazer um voto de obediência de renúncia a si mesmo

"Quando se encontram tais mestres (homens experientes, prudentes e pacíficos), eles pedem discípulos que renunciem a si mesmos e a suas vontades próprias, e sejam sobretudo semelhantes a um cadáver, a fim de que, tal como a alma faz no corpo o que quer, sem resistência da parte deste, assim também o mestre possa pôr em ação sua ciência espiritual em seus discípulos maleáveis e obedientes" [4]

Santa Catarina de Siena (1347-1380): simples leiga e tinha discípulos, tanto homens quanto mulheres, e até lhes ordenava a abraçarem determinados estados de vida

Lê-se na biografia de Santa Catarina de Siena, simples leiga, terceira dominicana, como seus discípulos, tanto mulheres como homens, fizeram votos de obediência à santa, a quem chamavam pelo doce nome de Mamma, e como ela fez uso dos poderes que lhe conferia esse voto para mandar "em nome da santa obediência", que cada qual abraçasse o estado de vida que ela ia indicando: assim, um deles (o bem-aventurado Estevão Marconi) se fez monge cartuxo, e chegou a ser Superior Geral de sua Ordem; outro se fez agostiniano. outros professaram na Ordem Dominicana, etc [5].

Francisco Suárez, S.J., o Doutor Exímio (1548-1617): o voto de obediência pode ser feito sem aprovação da Igreja

"o voto de obediência (...) pode ser válido e honestamente feito a um homem bom e prudente, a quem se sujeite aquele que emite o voto, a fim de ser governado por ele; quer seja prometendo a Deus que obedecerá a tal homem, quer seja prometendo também a esse homem que o obedecerá em tudo que se refere ao bem da própria alma e ao serviço de Deus (...)"

"Também da parte da pessoa a quem é prometido a obediência, não é necessário especial aprovação ou mandato da Igreja , para que possa lícita e validamente aceitar a sujeição e obediência de outrem. (...) Para aceitar semelhante voto ou promessa não é necessário um poder especial conferido por Deus, mas basta que ponderando reta e prudentemente, se julgue que o ato é honesto e agradável a Deus; isso, com efeito, é suficiente para que se entenda que Deus aceita aquilo que um homem, escolhido para representá-lo, aceita com o fim de o servir. E não é necessário que esse representante de Deus seja um ministro público com deputação da Igreja para o exercício dessa função. mas basta que seja voluntária e prudentemente escolhido por quem emite um voto" [6].

Santo Inácio de Loyola (1491-1556): "é mister que ofereça o entendimento (que é outro grau, e supremo, de obediência), não somente tendo um mesmo querer, mas tendo um mesmo sentir com o superior"

"Também desejo que se fixe muito em vossas almas ser muito baixo o primeiro grau da obediência, que consiste na execução do que é mandado, e que não merece o nome (de obediência), por não atingir valor desta virtude, se não se sobe ao segundo grau, que consiste em fazer sua a vontade do superior. De maneira que não somente haja execuçao no efeito, mas conformidade no afeto com um mesmo querer e não querer. Por isso diz a Escritura que: 'é melhor a obediência do que os sacrifícios' (1 Re. XV, 22), porque segundo São Gregório: 'Por outros sacrifícios mata-se carne alheia, mas pela obediência sacrifica-se a vontade própria' (Morales, C. 14, n.28, PL LXXVI, 765). (...)

"De maneira que, concluo, a este segundo grau de obediência, que é (além da execução) fazer sua a vontade do superior, isto é, despojar-se da sua e vestir-se da divina por ele interpretada, é necessário que suba aquele que à virtude da obediência queira subir.

Mas quem pretenda fazer inteira e perfeita oblação de si mesmo, ademais da vontade é mister que ofereça o entendimento (que é outro grau, e supremo, de obediência), não somente tendo um mesmo querer, mas tendo um mesmo sentir com o superior, sujeitando o próprio juízo ao seu, na medida em que a devota vontade pode inclinar o entendimento.

Pois, ainda que este não tenha a liberdade que tem a vontade, e naturalmente dá seu consentimento àquilo que se lhe apresenta como verdadeiro, todavia, em muitas coisas em que não lhe força a evidência da verdade conhecida, pode, com a vontade, inclinar-se mais a uma parte do que a outra, e nestas todo o obediente verdadeiro deve inclinar-se a sentir o que seu superior sente.

É certo, pois, que a obediência é um holocausto, no qual o homem todo, sem dividir nada de si, se oferece no fogo da caridade a seu Criador e Senhor pela mão de seus ministros; e pois é uma resignação inteira de si mesmo, pela qual se despoja de tudo, para ser possuído e governado pela Divina Providência, por meio do Superior (...)" [7]

São Roberto Bellarmino (1542-1621) explica quando a obediência é pecaminosa, e mostra com S. Bernardo que se deve ouvir o superior como se ouve a Deus, porque o superior está no lugar de Deus

"PROPOSIÇÃO XII. O cristão não deve prestar obediência à ordem que lhe for feita (ainda que feita pelo Sumo Pontífice) se primeiro não houver examinado se a ordem, na medida em que o exige a matéria, é conveniente e legítima e obrigatória; e aquele que sem exame algum da ordem a executa, obedecendo às cegas, comete pecado.

RESPOSTA. Essa proposição se poderia esperar de qualquer um, menos de pessoas religiosas; mas, deixando de lado a sua origem, que a nós pouco importa, digo que essa proposição é diretamente contrária aos Santos Padres; que não se encontra em nenhum bom autor; que enerva a disciplina de toda congregação bem ordenada, seja espiritual ou temporal; e é em tudo conforme à doutrina dos luteranos e outros hereges de nosso tempo.

Não chego a dizer que seja pecado por vezes examinar o preceito do superior, mas digo que não é pecado não o examinar, bem como que a obediência é mais perfeita e mais agrada a Deus quando se obedece simplesmente, sem examinar a ordem, não cuidando de saber por que o superior ordena, bastando-lhe saber que ordena; sempre, porém, excetuando quando a ordem contenha pecado manifesto, pois aí não há ocasião de examinar, devendo-se obedecer antes a Deus do que aos homens; e, se me fosse dito que quando é duvidoso se a ordem contém ou não pecado dever-se-ia então examiná-la para não se pôr em perigo de pecar, eu responderei com São Bernardo que quando não há nela pecado manifesto, não se há de examiná-la, nem há aí perigo de pecar, porque na dúvida o súdito deve remeter-se ao superior e tem de pressupor que este ordene bem; e eis as palavras dele, no livro De precepto, et dispensatione (Sobre o preceito e a dispensa):

'Dir-me-eis, talvez, que os homens podem enganar-se sobre a vontade de Deus nas coisas duvidosas, e ordenar errado. Que vos importa? Não tendes culpa nenhuma nesse caso'.

E, pouco adiante:

'Aquele, pois, que está no lugar de Deus perante nós, devemos ouvi-lo como se ouvíssemos a Deus mesmo, em tudo aquilo que não é abertamente contra Deus'" (...) [8].

São João Bosco (1815-1888): "era Deus que falava por sua boca e que nos prendia à sua pessoa"

"Aqueles setecentos ou oitocentos garotos Dom Bosco teria podido conduzi-los para onde quisesse, porque tinham nele uma confiança cega ! 'Que estranho poder que ele tinha sobre nós ! confiava-me ainda há pouco um robusto velho de 82 anos, ex-aluno daqueles tempos. Se um dia ele nos dissesse: Meninos, sigam-me: vamos descer até o rio que as aguas se irão abrir na nossa presença como se abriram um dia as aguas do Jordão para deixar passar os Hebreus, nós o teríamos acompanhado sem hesitar, certos de que seguindo seus passos atravessaríamos a pé enxuto o leito do rio'. E outro ex-aluno da mesma geração completava esse juízo com estas palavras: 'Nele tudo era ordinário. E no entanto poderia conduzir-nos aonde quisesse. Portanto era Deus que falava por sua boca e que nos prendia à sua pessoa"  [9].

São João Berchmans (1599-1621): "Refere uma testemunha que cada um, ao ouvir a voz de Berchmans, julgava ouvir a voz do próprio Deus (...)" [10].

Santo Inácio de Loyola (1491-1556): discípulos diziam que sua voz devia ser considerada como a do próprio Deus

"D. João III venerava profundamente Santo Inácio, olhava-o como um inspirado do alto, e considerava um dever agir em todas as coisas em conformidade com a sua maneira de ver. Ele tinha o costume de dizer que a voz do Padre Inácio devia ser considerada como a do próprio Deus" [11].

Vidas de Santos: davam bênçãos mesmo sendo leigos, as pessoas ajoelhavam-se diante deles e osculavam-lhes os pés

Vidas de Santos: Louvavam os que os honravam, e até distribuíam relíquias de si

Santos que eram chamados de: "guia de sua época", "árbitro da cristandade", "alma da Igreja", "suporte do Papado"

Vida de Santos: Declaravam a sua missão como santa ou profética, ou mesmo se diziam predestinados

Clique aqui para ver mais Leituras Místicas

-----------------------------------------
Fontes:
[1] Obras Completas, BAC, Madrid, 1954, p.615
[2] Os opúsculos de São Francisco de Assis, 2a. ed., Ed. Vozes, 1943, p.79
[3] EDELVIVES, El Superior Perfecto, p.25
[4] De Monast. exercit. c. XLI, in P. SEJOURNÉ , Dic. Théol. Cath., t.XV, col.3260
[5] Johannes JOERGENSEN, Santa Catarina de Siena, Ed. Vozes, Petrópolis, 1944, pp.391-392
[6] De religione, Tr. VII, lib. II, cap. XV, no 7-8, vol XV, Ed. Vivès, Paris, p.194
[7] Obras Completas, BAC, 1952, pp. 836-838
[8] São Roberto Cardeal BELLARMINO, S.J., Sobre a obediência cega e sem exame. Refutação à Proposição XII dos Sete teólogos de Veneza, Roma, 1606; trad. br. por F. Coelho, blogue Acies Ordinata, http://wp.me/pw2MJ-WV. De: "Risposta al trattato dei sette teologi di Venezia sopra l’interdetto della Santità di nostro Signore Papa Paolo V", in: Roberti Cardinali Bellarmini Opera Omnia, Tomi Quarti pars II, Ad Controversias Additamenta, et opuscula varia polemica, Nápoles, 1856, pp. 453-473
[9] A. Aufray SS, Dom Bosco, Escolas Profissionais Salesianas, São Paulo, 1947, pp.307-308, 395-396, 417-418. Imprimatur: Mons. M. Meirelles, Vigário-Geral
[10] Pe. L.J.M. Cros S.J., Vida de S.João Berchmans, Duprat & Comp., São Paulo, 1912, pp.404-409. Com licença da autoridade eclesiástica
[11] J.M.S. Daurignac, Historie de Saint Ignace de Loyola, Bray et Retaux, Paris, 1878, 3a. ed., tomo II, p.119