Romantismo destruidor da família: mito da “alma gêmea”, suas características, tipos psicológicos e a promoção da impureza e divórcio

Dr. Plinio
Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados" (volume II, 2a edição).

Este artigo é constituído de trechos do pensamento do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira em 1951 e 1983. Edição, subtítulos e negritos nossos.

Antes, duas observações.

Romantismo hoje virou sinônimo de levar flores para a sua esposa ou outra demonstração de amor e afeto, dentro do matrimônio ou noivado, algo bom em si mesmo. Entretanto, o romantismo, outrora um movimento artístico e cultural com muita força, influi na sociedade até hoje, e perverte estes atos citados, visando por fim destruir o próprio amor e afeto. Por isso, não parece bom designar tais atos como românticos, porque confunde de modo a mascarar a verdadeira face do romantismo. Podia-se falar, em vez disso, que a pessoa é carinhosa, um marido atencioso, homem cavalheiresco, etc.

Enfatizamos também que, embora os trechos abaixo repudiem o conceito de alma gêmea e de que uma pessoa foi feita para a outra, é preciso harmonizá-los com certos casos na história da Igreja onde dois realmente foram predestinados a se casarem. Os primeiro e mais óbvio caso foram os pais da Virgem Santíssima, e a própria com S. José. Conta a tradição que floresceu um lírio em mão de S. José quando estava junto de outros pretendentes ao matrimônio com a Virgem Maria: sinal de que deveriam estar juntos. Também na história dos pais de S. Teresinha, considerados santos pela mesma, se encontra episódios em que a mãe sentia uma voz que dizia que havia um homem predestinado a ela, e ela própria dizia que não podia viver longe do marido*.

Como harmonizar os textos abaixo com isto tudo e mais? Distinguindo que nem todos os vocacionados ao matrimônio são feitos para casar com uma pessoa santa, predestinada ou escolhida a isso e, pelo contrário, muitos são e foram os santos predestinados a casar com uma pessoa má, fraca, ou firme na fé, porém, não santa, para com isso testemunhar santidade na sua condição. Em suma, o texto trata daqueles que, sem nenhum sinal da providência sobre ser seu casamento deste gênero, se estremecem em sentimentos românticos, e crêem ter encontrado o seu predestinado, ou crêem que somente lhe é possível um casamento santíssimo, quando a maioria dos matrimônios não são deste gênero. Um casal é sempre chamado à santidade. Se um não persevera, o outro ainda pode se santificar.

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Tipos românticos masculinos: “delicado” e “terrível”

"Evoquemos antes de tudo alguns tipos de "heróis" e "heroínas" do romantismo. O "herói" de gênero "delicado" poderia ser imaginado como um jovem (nada menos romântico do que os 50 anos!) esguio, pálido, de feições regulares, grandes olhos melancólicos perdidos no vago do horizonte, com um desalinho poético no penteado e no traje, o peito arfando de aspirações ardentes, indefinidas, torturantes, por uma felicidade afetiva completa. Mas ele é um incompreendido. Em recantos inexplorados de sua personalidade, há horizontes sublimes, há anelos indizíveis que pedem, procuram, imploram a compreensão de uma "alma irmã". Deve existir pela vastidão deste mundo um ser feito para o compreender. Ele o procura pois assim encontrará a felicidade... e vagueia tristonho pela vida, até que o encontre. O herói romântico de tipo "terrível", algum tanto diverso na aparência física, é idêntico, do ponto de vista moral, ao modelo que acabamos de descrever: exuberante de varonilidade, compleição atlética, beleza algum tanto sombria, segundo o estilo de algum personagem de Wagner, grande fortuna, grande situação social, influência imensa, tudo enfim que a vida pode oferecer... mas (e aí está o "romântico" do quadro) no coração uma chaga: um afeto ardente, uma decepção tremenda, uma persuasão tão pesada e tão fria quanto uma laje sepulcral, de que jamais há de encontrar na terra a correspondência afetiva com que sonha seu coração."

Tipos românticos femininos: “mignon” e “grande”

"Simetricamente, formou-se a figura da "heroína", de que não nos seria difícil evocar dois modelos característicos. Um é do gênero "mignon". Ela é um mimo de delicadeza de alma e de corpo. Qualquer dor a faz chorar, qualquer arranhão de alma a faz sofrer. Ingênua como uma criança, traz no coração uma imensa vontade de se dedicar e de ser querida por alguém. Precisa de proteção, pois sua fragilidade é completa, e se espelha na meiguice de seu olhar, nas inflexões harmoniosas de sua voz, na finura de seus traços, na requintada delicadeza de toda sua compleição. Outro modelo seria a heroína do gênero "grande". Beleza deslumbrante, estatura e porte de rainha, centro natural de todas as atenções, de todas as homenagens, de todas as dedicações, presença dominadora e fatal. No coração, é claro, uma crispação oculta, um travo profundo, uma grande e oculta dor. É a amargura de uma desilusão passada, a procura ansiosa e já sem esperanças, de alguém que verdadeiramente a compreenda. A seus pés, poetas, duques, milionários gemem inutilmente. Seu olhar indiferente, altaneiro, profundo e tristonho, procura ao longe, pela vida afora, aquilo que jamais encontrará. É a felicidade de um grande afeto, segundo as aspirações "elevadíssimas" e torturantes que lhe trazem a alma num secreto e incessante verter de sangue" [1].

- Características do romântico

Pensa que existe alma gêmea ou irmã: "Atrás disso há uma espécie de mito sentimental. Esse mito sentimental qual é? É que X tem uma configuração psicológica que faz com que ele precise do afeto, e da convivência de Y. E se ele, portanto, tendo conhecido Y, não tiver esse afeto a essa convivência, ele é um infeliz, ele é um desgraçado. Ela também. Então os dois se conhecem e se casam. No que é que está a alma irmã aí? É que a alma dele é como que uma irmã dela. Viveram para se conhecer e para se quererem, e como realizam isso, realizam a plena felicidade. Depois, a experiência da vida mostra que há milhões de casos em que A conhece B e diz a B; "eu te pertenço e te quero!" B diz: "Não, não quero! É um equívoco!” (...) Quer dizer, não há nada de mais ilusório do que essa impressão de que A foi criado para B e B foi criado para A (...) No casto amor conjugal as pessoas percebem que se darão bem, que se compreendem, que tem as mesmas idéias a respeito da vida, os mesmos costumes, sobretudo a mesma Fé religiosa (...) Poderá encontrar isso, mas encontrar o sonho da alma irmã, uma espécie de alma irmã meio divina, em cuja consideração a gente se perde, e que a gente, para a qual a gente vive de tal maneira, que nem pensa muito em Deus, ou nem pensa em Deus, pensa naquela. Isso não existe!" [2]. 

Imagina as maiores virtudes no parceiro: "Antes de tudo, acentuemos que o romantismo é essencialmente frívolo. Ele supõe de bom grado as maiores virtudes na "heroína" ou no "herói"."

Não perdoa trivialidades na vida conjugal, embora perdoe grandes defeitos morais: "Com efeito, o sentimentalismo perdoa geralmente, sem grande dificuldade, defeitos morais reais, ingratidões, injustiças, e até traições. Mas ele não perdoa trivialidades. De sorte que — para ir à carne viva da realidade é preciso exemplificar — um modo ridículo de roncar durante o sono, o mau hálito, qualquer outra pequena miséria humana enfim, pode matar inapelavelmente um sentimento romântico... que resistiria às mais graves razões de queixa. Ora, a vida quotidiana é um tecido de trivialidades, e não há pessoa que no convívio íntimo não as tenha mais ou menos difíceis de suportar."

Cria afetos descontrolados e impossíveis de se realizar: "E como o romantismo por essência e por definição é todo feito de ilusões, de afetos descontrolados e hipotéticos por pessoas que só seriam possíveis no mundo das quimeras, a conseqüência é que em pouco tempo os sentimentos que eram a única base psicológica da estabilidade do convívio conjugal se desfazem" [1].

-Aonde leva o romantismo 

Divórcio

"Naturalmente, uma pessoa nestas condições não desce ao fundo das coisas, não percebe o que há de substancialmente irrealizável em seus anelos, e julga pura e simplesmente que se enganou. Entende ela, pois, que ainda pode encontrar em outrem a felicidade que o casamento não lhe deu. Habituada a viver única e exclusivamente para a própria felicidade, habituada a ver a felicidade realizada única e exclusivamente na satisfação dos devaneios sentimentais, tal pessoa julgará sua vida irremediavelmente estragada, se não as satisfizer de outro modo. E julgará igualmente estragada a vida de todas as numerosas outras pessoas que tiverem caído no mesmo "equívoco". De onde o divórcio lhe parecerá absolutamente tão necessário quanto o ar, o pão ou a água" [1].

Impureza

"Habitualmente as pessoas tem como idéia, que a dificuldade em conservar a pureza está no ímpeto do instinto sexual, do instinto da procriação da prole, da perpetuação da espécie. É um engano! Esse ímpeto tem seu papel. Será maior num, menor noutro, depende do indivíduo, mas tem seu papel e constitui realmente uma luta.

Mas, o que leva esse ímpeto a ser especialmente grande, e debilita muito a luta contra esse ímpeto, é que a pessoa tem na cabeça idéias de um casamento romântico, tipo alma irmã. Não está persuadido de que isso é um sonho, é uma trampa da Revolução, é uma trampa do demônio, e que isso não encontrará. Poderá encontrar dignidade, poderá encontrar estabilidade, poderá encontrar uma certa proporção de felicidade que é possível nesta terra, quer dizer, uma proporção de felicidade sempre misturada com o sofrimento, com a dor, com a ascese, com o sacrifício, tudo é misturado com isso, não há o que não leve isso.

Poderá encontrar isso, mas encontrar o sonho da alma irmã, uma espécie de alma irmã meio divina, em cuja consideração a gente se perde, e que a gente, para a qual a gente vive de tal maneira, que nem pensa muito em Deus, ou nem pensa em Deus, pensa naquela. Isso não existe! É uma mentira e a gente tem que cancelar! Isso não é só para os que reconhecem, e tem uma vocação para o celibato. É também para os que tem vocação para o casamento" [2].

- Remédios contra o romantismo

"E eles devem escolher, ele uma esposa, ela um esposo, que lhe tornem a condição de casado aprazível, que não lhe torne a condição de casado insuportável. Isto é uma coisa indispensável! E, portanto, é necessário que haja uma adaptabilidade, uma possibilidade de se compreenderem um ao outro, e fazerem uma vida comum. É uma condição para um casamento constituído com maturidade. Mas daí, a tal paixão romântica de que estão besuntados e empanturrados os livros, os romances, as televisões, etc., etc. há uma diferença muito grande.

Do casto amor conjugal à paixão romântica, há um ponto fundamental de diferença. E o ponto fundamental de diferença consiste no seguinte: No casto amor conjugal as pessoas percebem que se darão bem, que se compreendem, que tem as mesmas idéias a respeito da vida, os mesmos costumes, sobretudo a mesma Fé religiosa! Sobretudo, sobretudo, a mesma Fé religiosa, que são portanto capazes de constituir um lar, e de tocar a vida com idéias afins. De maneira que tenham satisfação com isso que estão fazendo, e que vivam conforme a vontade de Deus (...).

Não se casem com essa ilusão [da alma irmã]. Supõe uma certa simpatia, o casamento, a escolha, uma certa compreensão, um certo prazer, um certo gosto de conviver, mas não é esse mito. Esse mito, afastem-no, porque ele é o responsável pelo divórcio (...)
Tudo é uma coleção de ilusões. Não permitam que em suas almas entre essa ilusão, combatam essa ilusão como uma mentira, e mantenham sua vida, a sua afetividade à margem dessa mentira. Aí encontraram outra energia para praticar a pureza! É uma advertência que eu não queria deixar de fazer" [2].

"É preciso pois desfechar uma tremenda ofensiva anti-romântica, para mostrar a substancial diferença que vai da caridade cristã, toda feita de sobrenatural, de bom senso, de equilíbrio de alma, de triunfo sobre os desregramentos da imaginação e dos sentidos, toda feita de piedade e de ascese enfim, para o amor sensual, egoístico, feito de descontroles, de sentimentalismo romântico ainda tão em voga" [1].

Conclusão: o romantismo é egoísta e visa destruir a família

"Em última análise, romantismo é apenas egoísmo. O romântico não procura senão sua própria felicidade, e só concebe o amor na medida em que o "outro" seja instrumento adequado a torná-lo feliz. Esta felicidade afetiva, ele a deseja tão exclusivamente que, se der largas a seu sentimento, saltará sobre todas as barreiras da moral, dará de barato todas as conveniências do bem comum, e satisfará brutalmente seus instintos. E sobre o egoísmo nada se constrói... a família menos ainda do que qualquer coisa (...).

Diz-se comumente que a família é a base da sociedade. Os casamentos nascidos do sentimentalismo egoístico e romântico são a base da Cidade do Demônio, em que o amor do homem a si mesmo é levado até o esquecimento de Deus. Os casamentos nascidos do amor de Deus, e do amor sobrenaturalmente santo ao próximo, até o esquecimento de si mesmo, são a base única da Cidade de Deus" [1].

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*Matrimonios Santos: los santos casados como modelos de espiritualidad conyugal, Pg. 20. Link: http://www.autorescatolicos.org/misc13/thomaskevinkraft01.pdf
[1] Divórcio e romantismo, Revista Catolicismo Nº 10 - Outubro de 1951. Link: http://www.pliniocorreadeoliveira.info/1951_010_CAT_Divorcio_e_romantismo.htm#.WMhgOG8rLIU
[2] Reunião Santo do Dia, 3.12.83, Sábado.