Bento XVI apoiou o uso de preservativo em certos casos

S. Maria Goretti, que preferiu morrer a pecar, rogai por nós!

Em seu livro "Luz do Mundo", de 2010, o qual consiste em uma entrevista longa, o Papa Bento XVI fez uma inédita declaração (grifos nossos):


"Pode haver casos pontuais justificados, por exemplo, quando uma prostituta utiliza o preservativo, e isto pode ser um primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver, de novo, a consciência do fato de que nem tudo é permitido, e que não se pode fazer tudo o que se quer. Todavia, este não é o verdadeiro e adequado modo de vencer a infecção do HIV. É verdadeiramente necessária uma humanização da sexualidade

Pergunta: Isto significa, portanto, que a Igreja Católica não é fundamentalmente contrária ao uso dos preservativos?

"Naturalmente a Igreja não considera os preservativos como a solução autêntica e moral. Casualmente, com a intenção de diminuir o perigo de contágio, pode representar, no entanto, um primeiro passo pelo caminho que leva a uma sexualidade vivida diferentemente, mais humana[1].

Sem julgar intenção, cremos que o Papa se equivoca pelo seguinte:

1 - Segundo o Papa Pio XI: "Nenhum motivo, entretanto, ainda que seja gravíssimo, pode fazer com que o que vai intrinsecamente contra a natureza seja honesto e conforme a mesma natureza; e estando o ato conjugal destinado, por sua mesma natureza, à geração dos filhos, os que no exercício do mesmo o destituem de seu poder natural e virtude, obram contra a natureza e cometem uma ação torpe e intrinsecamente desonesta" [2].

2 - "E por que (como com uma insigne calúnia espalham alguns que nós dizemos) não faremos nós um mal, afim de que dele resulte um bem? Os que dizem isso são justamente condenados" Rom III, 8.

Descarta-se a tentativa de evitar o mal do contágio da doença usando um instrumento de onanismo, o qual só acumulará mais um pecado na relação sexual que sequer deveria acontecer (pois um dos dois é infectado). Logo, tal atitude deve ser condenada.

No caso de um casal, é óbvio que se está negando a finalidade da relação sexual de gerar prole, mas alguém poderia objetar: e a relação homossexual, que não gera filhos de qualquer forma? Não seria justo um meio de evitar contágio de doença usar um preservativo? 

Não, pelas seguintes razões:

- Conseguir um preservativo para um ato homossexual é ruim em si.

- A posse do preservativo estimula a sodomia tirando o medo de contágio, apoiando a repetição do ato e o hábito da perversão.

- A reincidência ou mesmo um caso único pode levar ao contágio, caso o objeto falhe, ou por outra razão. Ademais, a falta de repúdio social ao preservativo pode aumentar a incidência do hábito imoral na região onde há epidemia, bem como seus acidentes, aumentando esses casos de contágio.

Ora, não se poderia dizer que a doutrina católica é injusta ou ilógica por causa disso, já que, segundo ela, os homens também são castigados justamente, e muitas vezes simbolicamente, de acordo com os pecados que cometeram. Isso se verifica em muitos casos nas doenças sexualmente transmissíveis como a AIDS, mais presentes em pessoas de vida promíscua. Nestes casos a pessoa corre o risco de ter uma doença gravíssima ou infectar alguém com ela, se não quiser refrear seus instintos sexuais, o que já deveria ter feito muito antes.

Alguém pode ainda objetar: Não seria o uso do preservativo no caso homossexual um modo de evitar pecar contra o mandamento "não matarás", mesmo pecando contra outro?

Como lembra um autor que escreveu sobre o tema: os mandamentos constituem um todo, e expressam a vontade e sabedoria de Deus, última norma moral do comportamento humano. O quinto mandamento não tem precedência sobre o sexto ou o nono. Em situações para vida de uma ou mais pessoas, o quinto mandamento não permite as violações da lei da moralidade sexual. Essa preeminência não faz sentido já que o mandamentos formam um "todo coerente", guiando para a prática da essência da Lei de Deus: amar a Deus sob todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo [3].

Salmo em reparação (Salmo 6)

"Senhor, não me arguas no teu furor, nem me castigues na tua ira. Tem misericórdia de mim, Senhor, porque sou enfermo; sara-me, Senhor, porque meus ossos estremeceram. E a minha alma turbou-se em extremo, mas Tu, Senhor, até quando? Volta-te, Senhor, e livra a minha alma, e salva-me pela tua misericórdia.

Porque na morte não há quem se lembre de Ti, e na habitação dos mortos, quem Te louvará? Estou esgotado à força de tanto gemer, lavarei meu leito com lágrimas todas as noites, regarei com elas o lugar do meu descanso. 

Os meus olhos se turbaram por causa do furor, envelheci no meio de todos os meus inimigos. Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade, porque o Senhor ouviu a voz do meu pranto.

O Senhor ouviu a minha súplica, o Senhor ouviu a minha oração. Sejam confundidos, e em extremo conturbados todos os meus inimigos, retirem-se e sejam num momento cobertos de vergonha".

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[1] Peter Seewald/Benedict XVI, Luz do Mundo, Apresentação de Dom Odilo Scherer, Editora Paulinas, II Parte, Cap. 11, pg.149. 
[2] Casti Connubii, 31 de dezembro de 1930, No. 20 
[3] "Adding Fuel to the Fire: Church Authorities on Condom Use Feed Media Uproar Against the Holy See", April 3, 2009, Luiz Sérgio Solimeo. Link: http://www.tfp.org/tfp-home/catholic-perspective/adding-fuel-to-the-fire-church-authorities-on-condom-use-feed-media-uproar-against-the-holy-see.html