Revolução Litúrgica no Oriente Católico: rumo ao rito internacionalista. História breve, contrastes, sugestão de ação, etc



Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados" (volume II, 2a edição).

Sumário

- Introdução
- Ditames liturgicistas: constante em todas as más reformas das missas católicas orientais
- “Latinização”: acusação válida enquanto não atender aos ditames liturgicistas e reformistas, que são latinizações recentes 
- Teoria dos Gêneros Litúrgicos contra o liturgicismo progressista
- Hipótese da original divisão Divina do globo por Gêneros Litúrgicos
- Gênero Litúrgico Siríaco: grandes mudanças e bem documentadas
- Gênero Litúrgico Bizantino: rito menos suscetível de Revolução Litúrgica por motivos geográficos
- Gênero Alexandrino: por onde pode se infiltrar o maligno 
- Gênero Litúrgico Armeno: aparentemente o mais preservado dos ritos orientais
- Proposta de atitude acerca das missas reformadas, dadas as barreiras linguística e de acessibilidade aos missais antigos
- Conclusão: a Divina Providência deixou sinais contra alterações litúrgicas do futuro


***

Objetiva-se compilar relatos históricos de mudanças em várias espécies litúrgicas do Oriente a fim de subsidiar o católico que, amante da riqueza universal emanada da Igreja e de seus Apóstolos, anseia pela penitência e sacrifício que uma Missa da Tradição fornece (o rito Latino Tradicional é meramente uma fonte oriunda dos Apóstolos ali enviados e é regulada pelo Príncipe dos Apóstolos, o sucessor de S. Pedro em Roma). 

- Introdução 

Não raramente, católicos se enganam achando que a Revolução, tendo se esgueirado pelo templo sagrado da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, se deteve ao criar nova liturgia e missal Romano para o mundo latino, o mais predominante no mundo e no ocidente. Se em 1976 Plinio Corrêa de Oliveira declarou, acerca dos frutos do Concílio Vaticano II, que “a Revolução adentrou na Igreja”, é preciso lembrar: o fenômeno descrito em seu Magnum Opus é tipicamente ocidental, mas pode atingir o oriente à medida que este é afetado pelo ocidente. Ademais, a metafísica da Revolução é o igualitarismo.

Nada mais deduzível, portanto, que se rumasse a uma missa global e igualitária enquanto os revolucionários em matéria litúrgica do ocidente fossem influentes: o rito internacionalista da alegada missa primitiva (curiosamente cheia de cantos modernos e melosos de cada decadência local).

Neste artigo, tentamos provar essa afirmação com documentos e fontes acessíveis ao mesmo tempo que esboçamos conclusões para os espíritos que, estranhando alguns ritos orientais via “sensus fidei”, desejam saber a razão.

Se alguns ritos em comunhão com Roma se mantiveram em grande parte intactos no aspecto penitencial (suscitando em mais ódio do movimento litúrgico progressista) a razão foi a Divina Providência que, com a migração de muitas comunidades orientais no século XX, via mais adiante. De fato, muitas dessas comunidades são ativas, vivas, e acolhem a todos os católicos, o que causa ódio na Revolução, a qual sempre quis semear discórdia nessas comunidades a fim de que possam vir a desaparecer, dando origem a um rito internacionalista e antipenitencial global.

- Ditames liturgicistas: constante em todas as más reformas das missas católicas orientais

Para entender o que é o erro do liturgicismo e como ele foi, bem antes de sua adesão generalizada, criticado pelo magistério, recomendamos os artigos sobre o tema, pois iremos calcar a crítica inicial neles:

- “Latinização”: acusação válida enquanto não atender aos ditames liturgicistas e reformistas, que são latinizações recentes

Ao longo deste apanhado de relatos sobre o histórico de mudanças litúrgicas em ritos orientais que existem (ainda que minoritariamente em relação às contrapartes cismáticas) no seio e na economia da graça da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, uma palavra foi bastante empregada: latinização.

A Latinização sempre foi rejeitada por homens verdadeiramente apostólicos, como os jesuítas que colaboraram com os navegadores dos séculos XV e XVI para pregarem em lugares distantes e entraram em atrito até com missionários de outras santas ordens religiosas, os quais não entenderam o quanto era necessário cristianizar costumes locais e não impor os ocidentais. 

Não se deve, entretanto, acatar qualquer modificação ou substituição meramente porque visa “diminuir a latinização do rito”. Afinal, todo Santo Sacrifício da Missa possui as mesmas quatro tradicionais finalidades, isto é, adorar, pedir, dar graças e se penitenciar. E assim deve se analisar.

Em síntese, latinização, enquanto se refere a substituir elementos tradicionais litúrgicos idênticos do oriente, traz problemas. Já quando o termo é usado para rejeitar elementos de caráter propiciatório ou outro caráter do rito sem substituir por equivalentes do oriente, é maléfico, seja qual for a “razão histórica” (os liturgicistas e progressistas são verborrágicos para explica-las, ainda que não consigam explicar porque, assim como os protestantes, suas afirmações pressupõem que a Providência Divina não agiu por inúmeros séculos até que viessem aqueles verdadeiramente doutos em liturgia: eles mesmos). De fato, evita-se latinização quando se rejeita má doutrina litúrgica latina.

- Teoria dos Gêneros Litúrgicos contra o liturgicismo progressista

Aproveitamos para inserir aqui duas imagens da teoria contrária à lorota “toda missa saiu de Jerusalém”. Pela pregação dos Santos Apóstolos, que abrangeu o mundo civilizado inteiro, verifica-se: foram instituídos 5 gêneros litúrgicos, os quais deram origem a várias espécies. Um só gênero litúrgico possui uma só espécie, o Armeno.




- Hipótese da original divisão Divina do globo por Gêneros Litúrgicos 

Também as imagens a seguir dizem respeito a uma hipótese lindíssima que avançamos acerca dos gêneros litúrgicos e a geografia pré-diluviana pensada por Deus e exposta por Fernand Crombette. Claramente, tais relações só podem ser feitas com a noção de gênero litúrgico, algo contrário ao liturgicismo do rito internacionalista





- Gênero Litúrgico Siríaco: grandes mudanças e bem documentadas

Maronita 

Considerado de gênero litúrgico siríaco (alguns dizem tradição Siríaca Ocidental), já analisamos mais especificamente no artigo desta edição do vol. II:


Sírio-Malabar


Bebê recém-batizado sendo coroado, como no costume sírio-malabar

Apesar do missal recém-restaurado em 1962, essa liturgia tinha poucas alterações em relação ao anterior, mas sofreu alterações pela Revolução Litúrgica progressista e continuou a mudar até o novo modificado de 1989.

Informa o Pe. Antony Nariculam, do Seminário Pontifício:

“A Comissão Romana restaurou o texto da Santa Missa (1957 em latim; 1960 em siríaco; 1962 em malaiala-siríaco), as orações variáveis das estações litúrgicas e festas (1960: Supplementum Mysteriorum), o Pontifical (1958) e o livro das rubricas (1959: Ordo celebrationis). Como o ano de publicação desses textos revela, todos eles eram textos anteriores ao impulso de renovação do Concílio Vaticano II.

(...)

O texto restaurado da Santa Missa foi introduzido para uso público em 1962 (...)

Parece que nem todas as seções da Igreja estavam felizes com o texto. Com base em reclamações contra esse texto de várias partes, Roma fez alguns ajustes nele em 1963, encurtando o comprimento das leituras e dos Salmos e evitando repetições de certas orações [N.E..: influência do liturgicismo aqui]. (...).

Insatisfeitos com a situação, os bispos prepararam um texto totalmente revisado da Santa Missa em malaiala em 1968 e obtiveram aprovação temporária de Roma para seu uso experimental. No entanto, uma seção da Igreja Siro-Malabar não conseguiu apreciar o texto de 1968 e argumentou a favor do texto restaurado de 1962 (...)

Muitos esperavam que a 'crise litúrgica' terminasse com a publicação do texto da Santa Missa e sua inauguração pelo Papa. Em vez disso, a crise foi agravada, o que levou o Cardeal Prefeito da Congregação Oriental a visitar as dioceses Siro-Malabares para lidar com a questão. Como consequência dessa visita, um novo conjunto de diretrizes foi dado para preparar o texto da Santa Missa em suas Formas Simples e Solenes e foi introduzido em 1989. Esse texto permitiu algumas 'dispensas' e muitas 'opções'. O texto atualmente em uso é esse texto de 1989.” (Tradução com auxílio do ágil chat GPT. Retirado em 13/4/24: https://nelsonmcbs.com/2020/07/29/syro-malabar-liturgy-2/).

Ademais, tesstemunha um autor sobre a mente do Cardeal Parecattil, que queria adequar o rito sírio-malabar aos ditames liturgistas do Concílio Vaticano II:

" (...) liturgia caracterizada por símbolos comumente usados na Índia, e particularmente pelos Hindus, foi tentada com o fim de estimular a participação comunal, de acordo com os ensinamentos do Vaticano II. Pela mesma razão, Parecattil quis revisar o texto de 1968 mais detalhadamente, e teve um papel importante na preparação da "missa curta". Sobre o missal abreviado ele escreveu: "somente deixa algumas "repetições inúteis" de acordo com art. 34 da Constituição da Sagrada Liturgia [N.E.: documento do Concílio Vaticano II]" (Jacob Nangelimalil, The Relationship Between the Eucharistic Liturgy, the Interior Life and the Social Witness of the Church According to Joseph Cardinal Parecattil, Volume 7 de Tesi Gregoriana: Teologia Series, Editrice Pontificia Università Gregoriana, 1996, p. 60). 



Mesmo a liturgia sírio-malabar já bem modificada, um Santo Padre influenciado pela mentalidade litúrgica internacionalista não perdeu oportunidade em insistir em uma “uniformidade” entre os celebrantes dessa espécie litúrgica, uma vez que muitos continuavam a se voltar para o altar de Deus e não, como quer o liturgicismo, para o povo. No fim de 2023, notícias circularam de que a forma voltada para o povo era majoritariamente rechaçada em uma diocese, e boatos difundiam a notícia de que o Santo Padre excomungaria quem se opusesse a essa mudança, ou seja, basicamente toda uma diocese por um motivo tão simplório. A notícia indica um esforço de rumar a uma liturgia internacionalista como produto final de processos de mudanças em ritos ao redor do globo (“Papa pode excomungar 400 sacerdotes de rito oriental Siro Malabar”, Omnes. Retirado em 14/4/2024: https://omnesmag.com/pt/noticias/ultimatum-siro-malabar/).

Caldeu 

Similar processo ocorreu no Rito Caldaico ou Caldeu Assírio, pertencente ao gênero litúrgico oriental sírio na hipótese que desenvolvemos. A diocese Católica de S. Pedro Apóstolo, de uma eparquia nos Estados Unidos, conta sobre a reforma da liturgia (“Q & A on the Reformed Chaldean Mass”, WebArchive.org. Tradução com auxílio do ágil DeepL.com. Retirado em 14/4/2024: https://web.archive.org/web/20140128133850/http://www.kaldu.org/14_Reformed_ChaldeanMass/QA_NewMass.html):

“P - Quando e como foi elaborada a Missa Reformada?

R - A Missa Caldéia Reformada é o trabalho de um Comité Litúrgico Patriarcal iniciado pelo último Patriarca, Sua Beatitude Raphael I Bidawid de abençoada memória, interagindo com toda a hierarquia da Igreja Caldéia e continuado sob o patrocínio do nosso amado Patriarca Mar Emmanuel III Delly (...). As datas mais significativas são as seguintes:

* 12 de novembro de 2005 - o Santo Sínodo Caldeu em Roma aprova o Missal Reformado.

* 18 de fevereiro de 2006 - o Vaticano reconhece oficialmente o Missal Reformado.

* 6 de janeiro de 2007 - a data dada para o início da Nova Missa pelo Santo Sínodo Caldeu realizado em Shaqlawa, Iraque, de 9 a 11 de maio de 2006 (...).

P – Por que uma nova Missa?

R - O Concílio Vaticano II apresenta razões para uma Reforma de todas as Liturgias Católicas no início da sua primeira Constituição, Sacrosanctum Concilium: (...)

"4. O sagrado Concílio, guarda fiel da tradição, declara que a santa mãe Igreja considera iguais em direito e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos, quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos, e deseja que, onde for necessário, sejam prudente e integralmente revistos no espírito da sã tradição e lhes seja dado novo vigor, de acordo com as circunstâncias e as necessidades do nosso tempo.” (...)

P - Quais são algumas das mudanças mais dramáticas?

R - Embora a maior parte das mudanças na Missa sejam notadas principalmente pelo sacerdote, algumas mudanças são ainda mais visíveis, por exemplo:

* A Oração Eucarística ou Anáfora, o momento mais culminante da Missa, é agora dita em voz alta pelo sacerdote, onde antes era dita em silêncio. Isto permite que o povo participe, através da sua atenção consciente, na totalidade da Missa (...).

P - Como o povo vai participar?

R - A Missa Nova oferece muito mais oportunidades para a participação do povo:

* Na Missa antiga, havia uma separação entre a oração do sacerdote e a do povo: enquanto o sacerdote rezava a Oração Eucarística, a mais importante da Missa, o povo cantava um cântico ou rezava sozinho. Na Nova Missa, o povo pode participar com o sacerdote, rezando no seu coração a mesma oração que o sacerdote reza em voz alta. 

(...)

P - Porque é que os anúncios não são feitos no mesmo lugar de antes? E por que não rezamos um Pai-Nosso e uma Ave-Maria pelos defuntos?

A - Interromper a ligação entre a leitura do Evangelho e o sermão foi sempre uma distração. Antes, quando ouvíamos o sermão, esquecíamos completamente a história do Evangelho, porque tínhamos de pensar nos parentes mortos, nas segundas colecções ou nas festas de angariação de fundos. Agora, já não há distração - ouvimos o Evangelho proclamado, depois ouvimo-lo pregado. As intenções da Missa, incluindo os nomes dos defuntos, e os anúncios, foram deslocados para lugares muito mais apropriados:

* Os nomes das pessoas por quem rezamos durante a Missa passaram a fazer parte integrante do próprio Ofertório, em vez de serem uma questão secundária. Agora fazem parte do "Livro dos Vivos e dos Defuntos", as pessoas que são nomeadas como intenções para toda a Missa, e não apenas para um Pai-Nosso e uma Avé-Maria.

* Tal como noutras Igrejas, os outros anúncios foram deslocados para antes da bênção final. 

P - Porque é que o padre já não prepara o pão e o vinho na Missa?

R - Mais uma vez, num "regresso às nossas raízes", o pão e o vinho são preparados antes do início da Missa. Isto está em conformidade com as acções de Cristo, que antes do início da Última Ceia enviou os discípulos para "preparar a refeição" na Ceia da Páscoa (...).

Q. E os outros sacramentos e cerimônias da Igreja? Também vão ser reformados?

R - Sim. Conforme declarado pela Comissão Patriarcal, a Reforma da Liturgia Caldeia começou com a Missa, e continuará o seu trabalho de melhoria e revisão de todas as outras orações oficiais da Igreja (...).”

Sírio-malankar


Rito sírio-malankar sendo celebrado 

Por causa de mudanças como as relatadas anteriormente, diz o site Rorate Caeli (Tradução com auxílio do ágil Chat GPT. Retirado em 14/4/2024: https://rorate-caeli.blogspot.com/2015/09/infusing-spirit-of-novus-ordo-into.html)

"Com a notável exceção dos siro-malankares, as Igrejas Católicas Orientais de tradição siríaca (maronitas, caldeus, católicos siríacos, siro-malabares) têm sofrido um "novusordoismo" crescente com a adoção generalizada do ad populum (facilmente verificável na Internet), o abandono da cortina ou véu do santuário comum às tradições siríaca e arménia, e uma tendência para abreviar e modernizar a liturgia. Num artigo escrito por um caldeu em defesa da celebração da Missa ad orientem (Virado para a Cruz), o autor lamenta que a celebração da Missa ad populum se tenha espalhado por quase todas as dioceses católicas caldeias, mas também salienta que isso é contrário à lei e tradição litúrgicas caldeias. Infelizmente, com a última reforma litúrgica do seu próprio Patriarca, o ad populum e a perda do véu do Santuário passaram de meros abusos generalizados a práticas "normalizadas" para os caldeus. Vimos manobras semelhantes serem usadas repetidamente no Rito Latino e não temos ilusões quanto aos danos adicionais que isto acabará por infligir ao espírito de um povo já devastado".

Dado o fato que dignidades eclesiásticas como o Cardinalato, nesses tempos sombrios de mudanças litúrgicas, costuma preceder a alteração de missas tradicionais, é de se temer reformas no futuro próximo porque há um jovem Cardeal votante naquela pequena comunidade (descendente, em linha episcopal, do famoso bispo que voltou essa comunidade e rito para a verdadeira fé). Rezemos pelos católicos desse rito, laicato ou clero.

- Gênero Litúrgico Bizantino: rito oriental menos suscetível de Revolução Litúrgica por motivos geográficos

Sabe-se que atualmente, o gênero litúrgico bizantino e suas espécies, especialmente a ucraniana e a melquita, congregam mais de cinco milhões de fiéis no mundo todo. Se se agrega ao fato de que há espécies desse gênero em toda Europa e Eparquias no Ocidente em virtude de diáspora dos povos comumente relacionados ao rito (no território latino e ocidental, bispos da diáspora estão sujeitos diretamente ao Papa, ou Patriarca do Ocidente, e não ao Patriarca respectivo), a geografia e mentalidade que se precisa mudar para conseguir a mudança sincronizada almejada pela Revolução é árdua: o território é muito vasto, e as diferenças, complexas. Vale notar que as tradições ou espécies geralmente indicam, liturgicamente falando, modos diferentes de cantar e alguns gestos diferentes ou adicionais.



Entretanto, é sabido que também neste rito algo do aspecto penitencial geralmente é omitido ou retirado, especialmente nas missas da semana em eparquias numerosas de rito bizantino. Por exemplo, o equivalente do Kyrie Eleison ou “Senhor, tende piedade” foi trocado por “Senhor, ouvi-nos”, uma clara substituição de uma oração de caráter propiciatório ou penitencial para uma de caráter de petição ou de pedido. O “Kyrie Eleison” é muito repetido no rito bizantino.

Ademais, após a homilia, por motivos de brevidade entre outras razões, já não se canta cinco vezes o “Kyrie Eleison” em muitas espécies litúrgicas, ainda que o povo esteja favorável a que se cante.

Por mais que a quantidade de vezes em que se fala “Senhor, tende piedade” não seja sinônimo de devoção, humildade ou penitência genuína, a comparação da diminuição do número de “kyries” com a quantidade anterior não devia passar sem lamentação (no sentido penitencial).

Já em certas festas litúrgicas e eventos o número de “kyries” certamente aumenta, embora seja duvidoso que figurassem em igual quantidade antes da retirada.

É árduo e inútil contar o número de “Kyries” no Rito Bizantino para contrastar com o número de outras partes fixas do rito romano tradicional para efeitos quantitativos. São orações de contexto e ritualística diferentes. Contudo, não se exige muito esforço para compreender que, atualmente, essa perda não é nem metade da perda na comparação entre rito latino novo e latino tradicional.

Talvez por isso, há muito tempo (desde João Paulo II), quase todo Sumo Pontífice entusiasta da reforma litúrgica não vê problema ao concelebrar ou participar de um Rito Bizantino. 

Mas quando o Rito Bizantino é celebrado na Basílica de S. Pedro, que está eivada de mentalidade liturgicista, lá estão inúmeros bispos e sacerdotes desse gênero liturgico. Mal ou bem, impede-se a celebração de outra liturgia daquela no dia, mesmo modificada. Como já visto com textos autoritativos, o liturgicismo favorece a única missa, algo contrário mesmo à tradição litúrgica católica e agradável ao inferno, que é oprimido por cada missa de valor infinito. Já os falsos peritos em liturgia, que argumentam que séculos de Tradição não perceberam a necessidade de uma missa primitiva, alegam que nunca houve a tradição de missas simultâneas no oriente. De fato, isso gera discussão histórica extensa, o que deveria ser selado pelo simples fato de que a liturgia própria do sucessor de S. Pedro em Roma, o Sumo Pontífice da Igreja Universal e Patriarca do Ocidente, não deixou de favorecer as missas simultâneas, o que se percebe pelos inúmeros altares laterais na Basílica de S. Pedro do Vaticano.


- Gênero Alexandrino: por onde pode se infiltrar o maligno


Quem assistiu a um Rito Alexandrino por vídeo lembra do instrumento que se toca ali como sino junto dos cantos, o qual aparenta, à primeira impressão, estridente e inadequado. Porém, logo se lembra das tábuas de madeira substitutas do sino na semana santa, bem como se vê que os cantos não são dançantes, e a penitência e pompa litúrgica ali se clarifica.

Devido a barreiras linguísticas e falta de materiais, só é possível dizer, dado o espírito africano mais propenso ao festejo, que o inferno mais provavelmente tentará perverter o rito alexandrino se usando dessa extroversão desmedida. Impossível dissertar mais sobre esse rito e suas mudanças litúrgicas sem ter tempo ou os missais contrastantes. De fato, pode-se verificar como as contrapartes cismáticas de rito alexandrino (bem mais numerosas) celebram o rito para se ter uma noção, embora isso não necessariamente seja garantia de celebração tradicional inalterada.

- Gênero Litúrgico Armeno, aparentemente o mais preservado dos ritos orientais 


Vídeo de cismáticos do Rito explicando a missa (mesmo rito dos católicos, com exceção das orações ao Papa, etc)

Os sinais por detrás da nossa hipótese de que o Rito Armeno se manteve intacto são vários: 1. Há conflitos contínuos naquela região (diabo não gosta de missa genuína), sejam bélicos, sejam outros. 2. A diáspora armena católica é bem reduzida e geralmente não consegue se expandir para além de uma missa na nação onde se alocou originalmente. 3. É o único rito de uma espécie só, tornando-o preciosidade litúrgica. 4. Plinio Corrêa de Oliveira, atento às mudanças litúrgicas diversas e notório por seu discernimento dos espíritos, preferia frequentar esse rito como rito público de seu domingo (na época, não havia nenhum rito público latino tradicional). 

Isso, porém, é uma hipótese já que o artigo pretende somente abordar relatos de reformas litúrgicas no oriente católico.

- Proposta de atitude acerca das missas reformadas, dadas as barreiras linguística e de acessibilidade aos missais antigos

É preciso se municiar com o básico do que o magistério falou sobre o erro do liturgicismo, bem como da importância da noção penitencial nas missas, que é refinamento do erro anterior. Se é possível escolher, visa-se as missas menos modificadas. E estar sempre se indagando e pondo não só o próprio farejo de penitência litúrgica à prova, como o entendimento do cerne desses câmbios, o qual não é meramente de aspecto exterior, mas algo que impacta o exercício da humildade no Santo Sacrifício.

De qualquer forma, missa tradicional pública da hierarquia católica, ocidental ou oriental, que tenha sacramento piedosamente distribuído (na boca), gravidade na melodia e um número maior de orações penitenciais, já é um diferencial nesse mundo confuso e arrogantemente avesso ao próprio passado.

- Conclusão: a Divina Providência deixou sinais contra alterações litúrgicas do futuro

Embora haja espécies litúrgicas do gênero latino, como o rito Ambrosiano, Bracarense, etc, fato é que o missal latino tradicional em uso foi promulgado providencialmente por João XXIII, o mesmo Sumo Pontífice que convocou o Concílio Vaticano II, de onde surgiram diretrizes para um novo missal, o qual só veio a surgir integralmente em 1969.

Não parece óbvio, assim como em muitas liturgias orientais que tiveram missais aprovados às portas de mudanças litúrgicas, que a Divina Providência agiu para salvar as tradições litúrgicas diversas?

Ademais, a aprovação de um Papa iniciador do Concílio Vaticano II para a missa tem efeitos até hoje, por exemplo: 1. Muitos progressistas não podem dizer que a Igreja mudou inteiramente, até mesmo na Liturgia, com João XXIII. 2. Evita cismáticos latinos que simploriamente imputam todos os problemas da Igreja àqueles Pontífices. 3. Faz com que o alto clero simpático ao progressismo respeite a liturgia promulgada por um Pontífice tido atualmente em grande estima.

A Divina Providência, ao fazer se aproximar ao máximo o tempo de aprovação daqueles missais por Roma e o tempo das modificações, tornou realmente estranho o quanto, não muito tempo depois de publicações definitivas nas décadas de 50 e 60 do século XX, aqueles missais que passaram antes por muitos anos de revisão ainda precisassem de novas modificações.

Além disso, parece que se chega à plenitude dos tempos em termos de ritos orientais em união ao sucessor do Príncipe dos Apóstolos em Roma, o Sumo Pontífice da Igreja Universal: na década de 1930 o último rito sem nenhuma comunidade na Igreja, o Rito Sírio-Malankar, por fim retornou, pelo menos em parte, à comunhão com Roma. Tal obra importante veio especialmente por iniciativa do Venerável Bispo Aboun Mor Ivanios Geevarghese Panikkervettil. 

Dado o ímpeto reformista noticiado aqui para as liturgias orientais em comunhão com Roma, pode-se dizer que Deus tolerou os cismas de espécie litúrgica idêntica para que eles mantivessem a tradição litúrgica e dificultassem a mudança global. Também o cisma do Oriente, inicialmente trágico, com a queda de Constantinopla no século XV, revelou ao mundo que Deus, pelo decorrer dos fatos, não preservaria as doutrinas cismáticas em Bizâncio, o que se provou mais verdadeiro com passar do tempo, os inúmeros cismas, igrejas autocéfalas e a perseguição dos muçulmanos àquela maioria cristã em território maometano. Assim, um dos Patriarcas mais antigos, o de Constantinopla, em 2024, é crítico das atitudes da hierarquia Russa cismática, que se pretendeu por muito tempo continuadora de Bizâncio, e por outro lado é bem amigo do Bispo de Roma, o Papa.

Por fim, a imagem do início do artigo é clara: as mudanças litúrgicas do oriente católico foram precedidas de guerras e rumores de guerras em suas regiões predominantes porque o diabo quer acabar com toda missa agradável a Deus, por se sentir oprimido pelo valor infinito de cada uma delas, o qual agrada a Deus, sendo renovação incruenta do Santo Sacrifício do Calvário. Não parece errado afirmar que muitas guerras foram suscitadas pelo inferno a fim de pressionar pela amenização do que mais desagrada ao poder das trevas: o rito conforme a justa medida das finalidades da Liturgia (adoração, propiciação, ação de graças, petição), informado plenamente pela Tradição.

Pela mesma razão é plausível dizer que o Anticristo matará todos os bispos e sacerdotes do planeta até que, contente por finalmente “provar” na prática que a Liturgia Católica tradicional, de qualquer rito, é irrelevante por não haver mais quem a celebre, descubra que é sexta-feira santa.