Bíblia, Santos e teólogos sobre as funções e características da moeda. Críticas ao padrão-ouro, cripto, moeda digital, universal, CBDC, etc

Editado e juntado, com permissão, de dois artigos do recomendado site dedicado exclusivamente à economia: 

https://economiaescolasticacatolica.wordpress.com/2023/12/03/biblia-santos-e-teologos-sobre-as-funcoes-e-caracteristicas-da-moeda-incluindo-a-soberania-monetaria/

https://economiaescolasticacatolica.wordpress.com/2024/02/03/teologos-sobre-a-atual-inutilidade-do-padrao-ouro-e-o-mesmo-aplicado-a-toda-moeda-commodity-apreciacao-de-novas-formas-de-moeda-cripto-digital-universal-cbdc-etc/



Sumário

Textos autoritativos da tradição católica sobre as características formais e físicas da moeda
Teses resumidas sobre a finalidade, características formais da moeda e seus duplos aspectos
Resposta a objeções sobre as teses anteriores
Teses resumidas sobre as características físicas da moeda
Resposta a objeções sobre as teses anteriores

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1. Crítica do padrão-ouro
2. Crítica da moeda-commodity em geral, não só ouro
3. Crítica das criptomoedas
3.1. Características formais das criptomoedas
3.2. Características físicas ou materiais da criptomoeda
4. Crítica da moeda digital
4.1. Características formais da moeda digital
4.2. Características físicas ou materiais da moeda digital
5. Crítica à moeda CBDC (moeda digital do Banco Central)
6. Crítica à moeda universal





- Textos autoritativos da tradição católica sobre as características formais e físicas da moeda

Bíblia Sagrada comentando indiretamente as características formais da moeda

Todas as características formais: “Tendo ouvido isto, Abraão pesou na presença dos filhos de Heth o dinheiro que Efron tinha pedido, isto é, quatrocentos siclos de prata de boa moeda corrente (Quod cum audisset Abraham, appendit pecuniam, quam Ephron postulaverat, audientibus filiis Heth, quadringentos siclos argenti probatæ monetæ publicæ.)” Gn XXIII. Era “boa moeda corrente (probatæ monetæ publicæ)” porque havia já a característica de estabilidade (boa), facilitação da troca (moeda) e escassez (corrente), pois o que é abundante não pode ser correntemente usado como moeda.

Estabilidade monetária: “Ouvi isto, vós, que pisais os pobres e fazeis perecer os indigentes da terra dizendo: Quando passará o mês para vendermos as nossas mercadorias, e o sábado para abrirmos os celeiros, para diminuirmos a medida, aumentarmos o siclo, servirmo-nos de balanças falsas, para nos fazermos senhores dos necessitados por dinheiro, dos pobres por um par de sandálias e para lhes vendermos até as cascas do nosso trigo?” Amós VIII

Estabilidade monetária: "todas as avaliações se farão em siclos do santuário. O siclo tem vinte óbolos", Levítico XXVII. A medida deve ser sagrada a ponto de estar no templo, como comenta o Pe. Juan de Mariana (Tratado y discurso sobre la moneda de Vellón. Instituto de Estudios Fiscales, Madrid, 1987. Primeira edição: 1581, p. 581).

Estabilidade monetária: “A tua prata converteu-se em escória; o teu vinho misturou-se com água” Is I, 22. Os padres exegetas relacionavam, pelo simbolismo do capítulo, ao lado das faltas espirituais dos sacerdotes da lei antiga. Por outro lado, se não houvesse mal algum no açambarcamento da moeda, não teria sido metáfora usada divinamente.

Estabilidade (“imagem”) e escassez (“inscrição”) garantidas pela soberania monetária: “Não o perdendo de vista, mandaram espias que se disfarçassem em homens de bem, para o apanharem no que dizia, a fim de o poderem entregar à autoridade e ao poder do governador. Estes interrogaram-no, dizendo: "Mestre, sabemos que falas e ensinas rectamente, que não fazes acepção de pessoas, mas que ensinas o caminho de Deus com verdade. É-nos permitido dar o tributo a César ou não?"

Jesus, conhecendo a sua astúcia, disse-lhes: "Mostrai-me um dinheiro. De quem é a imagem e a inscrição que tem?" Responderam: "De César." Ele disse-lhes: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus." Não puderam surpreendê-lo em qualquer palavra diante do povo. Admirados da sua resposta, calaram-se.” S. Luc., XX., 20-26. Análoga parte em S. Mateus XXII, 15-22 e S. Marcos, XII, 13-21.

Santo Tomás de Aquino citando a Sagrada Escritura, Papas e santos em apoio a todas as características da moeda

"CAPÍTULO XIII - Como em um Reino ou qualquer Senhorio é necessário ter moeda própria, e as comodidades que disso se seguem, e as incomodidades do contrário

Depois do dito é preciso falar da moeda, por uso da qual se regula a vida dos homens, e assim mesmo por conseguinte qualquer propriedade, particularmente a Real, pelos muitos proveitos que dela se seguem. Donde é que o Senhor perguntando aos Fariseus, que debaixo de fingimento lhe tentavam, diz: “de quem é esta imagem e inscrição?”. E como respondessem que de César, deu contra eles a sentença do que lhe haviam perguntado: “Dai, pois, o que é de César a César, e o que é de Deus a Deus”, e parece o ter dito pelo fato da moeda ser uma razão, como muitas outras, de pagar o tributo.

Da matéria com a qual se faz a moeda, e como é necessário ao Rei tê-la em abundância, já tratamos (…). Ter moeda própria é necessário a qualquer governo, principalmente para o Rei, para o qual há duas razões.

A primeira, que se considera da parte do Rei, e outra, da parte do povo sujeito. Em relação à primeira a moeda própria é ornamento do Rei e de seu reino, e de qualquer outro governo, porque nela se inscreve a imagem do Rei, como a de César acima dito, de maneira que nada é mais próprio a perpetuar sua memória, dado que não há nada relativo ao Rei que passa tão frequentemente nas mãos dos homens que a moeda. E mais, por ser a moeda a regra e medida das coisas que se vendem, se mostra nela sua excelência, como que sua imagem seja no dinheiro a regra dos homens nos seus comércios; da onde se chama moeda, porque é um aviso de que não se deve cometer fraudes, pois aquela é a medida certa, para a imagem de César seja no homem como a imagem divina, como expõe S. Agostinho tratando desta matéria, e se chama a moeda Numisma, porque se alcunha com os nomes e figuras dos Senhores, como diz S. Isidoro. Da onde parece manifestadamente, que com a moeda resplandece a majestade dos Senhores, e isto é porque Cidades, Príncipes ou Prelados tiveram a grande honra de receber dos Reis o privilégio de alcunhar moedas.

Além disso, ter moeda própria redunda em proveito do Príncipe, como dissemos, porque ela é medida dos tributos e outras contribuições que se põe no povo, como mandava a lei divina acerca das oferendas, e reembolso dos sacrifícios. Ademais, alcunhar moeda por autoridade do Príncipe lhe é também proveitoso, porque a nenhum outro se permite fazê-lo com a mesma imagem e inscrição, como o ordena o direito das gentes.

E mesmo que um Príncipe ou Rei possa exigir um direito para a fabricação das moedas, ele deve ser moderado, não mudando o metal nem diminuindo o peso, porque é um dano ao povo, por ser a moeda medida das coisas, como fica dito; da onde mudar a moeda é mudar todos os pesos e medidas, e quanto isto desagrada a Deus se lê nos Provérbios, capítulo 20: "Dois pesos, e duas medidas, um e outro é abominável ao Senhor". e assim foi repreendido gravemente o Rei de Aragão pelo Papa Inocêncio, porque havia mudado a moeda, diminuindo-a em detrimento do povo, e absolveu a seu filho do juramento com que se tinha obrigado a usar de tal moeda, mandando-lhe que restituísse ao antigo estado.

Com efeito, o valor das moedas favorece os empréstimos e o comércio, porque garante o reembolso dos empréstimos e o pagamento das vendas em moeda do mesmo valor. Se vê aqui porque um Estado deve ter uma moeda própria, mas também aqui se prova que ela favorece os interesses do povo.

Primeiro, porque é medida das trocas das coisas, e porque é mais conhecida do povo, porque muitos não conhecem as moedas estrangeiras, e assim facilmente podem ser facilmente enganados por quem é contrário ao governo real (…). Por fim, a moeda própria é de mais proveito, porque quando as moedas estrangeiras se comunicam nos comércios, é necessário valer-se do câmbio, quando tais moedas não valem tanto nas regiões estranhas como nas próprias (…)" [1].

Dom Nicole Oresme, bispo de Lisieux (1323-1382) citando a Sagrada Escritura para indicar características e funções da moeda

Manuseabilidade, portabilidade e divisibilidade: “Já que a moeda é o instrumento que serve para permutar riquezas naturais entre os homens, como vimos no capítulo anterior, foi necessário que tal instrumento fosse apto para tanto, ou seja, fácil de apalpar e manejar rapidamente, leve de carregar e tal que por pequena porção dele possam ser compradas e trocadas riquezas naturais em maior quantidade, juntamente com várias outras condições que serão examinadas a seguir.”

Escassez: “Foi conveniente, portanto, que a moeda fosse feita de matéria preciosa e pouco volumosa (...) não se deve permitir que grande quantidade desses metais [N.E.: ele falava do metal usado para cunhagem da moeda, o ouro], seja utilizada para outros fins se o que resta não for suficiente para fabricar moeda.”

Escassez garantida pelo Poder Público: “Por outro lado, não convém à ordem pública que tal matéria, isto é, o ouro ou a prata, seja abundante demais, pois, como diz Ovídio, foi por tal razão que foi descartada e retirada do uso humano a moeda de cobre. E por essa mesma razão deve ter sido disposto, para proveito dos homens, que o ouro e a prata, que são muito convenientes para fabricar moedas, não possam facilmente ser possuídos em grande quantidade, nem levianamente produzidos por alquimia, como alguns tentam e experimentam fazer. A estes direi: a tal empreendimento justamente se opõe a natureza, que resiste àquele que, em vão, tenta excedê-la e ultrapassá-la em suas obras.” [2].

Portabilidade, divisibilidade:como a comunidade e cada um precisam fazer negócios, algumas vezes grandes, volumosos e de grande importância, outras vezes menores e, na maioria das vezes, pequenos, foi conveniente e necessário ter moeda de ouro, que é preciosa e pode ser carregada e contada facilmente, e que, também, é mais apta para fazer e conduzir os grandes negócios “

Escassez: “da mesma forma, foi conveniente ter moeda de prata, que é menos preciosa, e é mais apropriada para fazer compensações e equiparações nas trocas, e também para comprar pequenas mercadorias de preço baixo.” [3]

Estabilidade e inalterabilidade garantida pela soberania monetária: “Determinou-se outrora, com razão, a fim de evitar fraudes, que a ninguém fosse permitido fabricar moeda ou imprimir figura ou imagem no ouro e na prata de sua propriedade; mas, ao contrário, foi ordenado que a moeda e a impressão das inscrições fossem feitas por uma pessoa pública, com delegação de grande parte da comunidade, pois, como foi dito anteriormente, a moeda foi instituída para o bem da comunidade. Assim, tendo em vista que o príncipe da região é a pessoa mais pública e de maior autoridade, é mais conveniente e honroso que ele, mais do que qualquer outro, faça fabricar a moeda para toda a comunidade, e a assine por meio de uma impressão congruente com suas propriedades.” [4].

Estabilidade monetária: “Assim, não há dúvida de que o curso e o preço das moedas devem ser considerados no reino como uma lei e prescrição firme, que de maneira alguma se deve alterar ou mudar. Sinal disso é que todas as pensões e rendas anuais são fixadas a um preço determinado, a saber, a um certo número fixo de libras, soldos e denários. Disso resulta que não se deve jamais fazer alteração nas moedas a não ser que, por alguma eventualidade, a necessidade constranja a isso ou haja utilidade evidente para toda a comunidade. A esse respeito, diz Aristóteles no livro quinto de sua Ética, falando das moedas: “Certamente, a coisa que mais firmemente deve permanecer igual é a moeda.” [5].

Pe. Matteo Liberatore, S.J (1888)

Finalidade da moeda: "67. A moeda foi introduzida no mundo para a conveniência das trocas (…). Tal era a concepção de Santo Tomás de Aquino, que considera a moeda como uma invenção do homem feita em vista de facilitar as trocas. Tal é efetivamente o ofício que ela cumpre, e tal é a sua natureza, definida por seu objeto (...)

69. Quanto à matéria escolhida para constituir a moeda, o uso dos povos variou muito a este respeito, até que, entre as nações civilizadas, o ouro e a prata prevaleceram (…).”

Todas as características físicas: “As vantagens que apresentam o ouro e a prata são numerosas; basta-nos citar algumas:

I. Têm valor próprio, porque dado que o ouro e a prata servem a muitos outros usos, tem em si mesmo um valor, e como tal, são geralmente estimados e procurados.

II. São divisíveis sem nada perder de seu valor, isto é, cada uma de suas frações conserva uma parte correspondente deste valor, e que, reunidos, eles têm o valor de tudo que representam.

III. O transporte é fácil e sem grave embaraço para aquele que o carrega, o ouro e a prata concentram muito valor em um pequeno volume (…).

IV. Podem se conservar sem alteração ao menos sensível. Basta observar uma moeda de uma época mesmo muito antiga.

V. Podem, graças às suas durabilidades, receber a alcunha que garante seu valor e peso" [6].

"O "Traité élémentaire" de Hervé-Bazin resume assim as vantagens que apresenta para a função monetária o uso dos metais preciosos (...).

  1. Os metais preciosos têm um valor intrínseco relativamente alto.
  2. São fáceis de transportar.
  3. São inalteráveis.
  4. São homogêneos.
  5. São facilmente divisíveis (dividindo e subdividindo mantém seu valor relativo).
  6. Variam pouco em valor devido à dificuldade de extração.
  7. São maleáveis e facilmente impressos.
  8. Por fim, sua cor, som, dureza e peso dificultam sua falsificação.

 (Traité élémentaire, etc., C. II, Principes Généraux de L'échange, p. 269-270)

"Diz-se frequentemente que a moeda é o signo representativo do valor das mercadorias (…). Say mostra com evidente a falsidade e o perigo desta expressão. A representação de uma coisa não é nem a coisa mesma, nem seu equivalente. Ora, a moeda, pela matéria que é constituída (ouro ou prata) tem um valor próprio e é equivalente a outros valores (…).

Say mostra como a ideia falsa que a moeda é um signo algumas vezes conduziu os governos a alterá-las crendo poder fazê-lo sem danos para ninguém (aquilo que não é senão um signo, pouco importa o mais ou menos), enquanto na realidade esta alteração trouxe aos cidadãos o prejuízo mais grave, dado que lhes deu como valor inteiro um valor mutilado. No fundo, é um verdadeiro roubo da parte do Estado" [7].

Pe. Lamarche, O.P (1938)

Definição da finalidade da moeda: "um instrumento, um meio inventado pelos homens para facilitar as trocas, independentemente do tempo ou dos lugares, os produtos e serviços contra um valor mais ou menos teoricamente igual de produtos e serviços, sob o controle e garantia do Soberano ou do Poder Público." [8].

- Teses resumidas sobre a finalidade, características formais da moeda e seus duplos aspectos

Finalidade ou função ou meta da moeda: instrumento inventado pelo homem para facilitar as trocas entre produtos e serviços contra um valor mais ou menos teoricamente igual de produtos e serviços, usualmente sob a garantia e controle do poder público.

Características formais da moeda: estabilidade, facilitação das trocas, e escassez. Ou seja, “boa moeda corrente (probatæ monetæ publicæ)”, Gn XXIII. Boa (estável), moeda (facilita trocas), corrente (escassa, pois se fosse abundante, não seria corrente, mas onipresente). Na observação divina do Evangelho, “de quem é a imagem e inscrição [deste dinheiro]?” (S. Luc XX), temos as características formais, como a estabilidade (probatæ ou a imagem do poder público) e a escassez (publicæ ou a inscrição pelo poder público). Todas giram em torno da facilitação das trocas, a principal característica.

Resumo das características formais e seus duplos aspectos:

- Facilitação das trocas

Contextual: só facilita a troca em um dado contexto. Exemplo: moeda de jogo de tabuleiro.

Real: facilita a troca a-temporalmente.

- Estabilidade

Aparente: aparentemente estável, pois algo mina a sua estabilidade real. Exemplo: moeda entesourada para manipulação futura do mercado.

Real: estável a-temporalmente.

- Escassez

Aparente: aparentemente escassa, pois algo mina a sua escassez real. Exemplo: avanço tecnológico ou descoberta ou estrutura de funcionamento da moeda e sua confecção que mina a base que confere escassez à moeda.

Real: é escasso a-temporalmente.

- Resposta a objeções sobre as teses anteriores

Objeção 1: a nomeação de três características formais da moeda é tão arbitrária e meramente socialmente aceita quanto o reconhecimento de três funções da moeda pelos manuais modernos de economia.

Resposta à 1: a característica formal da moeda aqui é definida como a característica independente da sua existência física, isto é, como nos conceitos metafísicos de “forma” e “matéria” a forma é aquilo que não depende da materialidade para existir. Por exemplo, a figura geométrica do triângulo, abstratamente considerada, é uma forma, e quando é desenhada se torna uma forma com matéria (superfície, cor, etc).

Objeção 2: as três funções da moeda (meio de troca, reserva de valor e unidade de conta) dos manuais modernos de economia são melhores e mais sintéticas.

Resposta à 2: os manuais modernos da Academia como um todo são impregnados de uma mentalidade revolucionária e, portanto, costumam obscurecer conceitos antigos ou criar novos para no meio obscurecer conceitos indesejados socialmente. São raras as obras de Economia Monetária, de 1980 para os anos 2020, que passam de três páginas versando sobre as características físicas da moeda e de seus atributos. A razão disso se observa recapitulando a realidade histórica monetária recente do ocidente: a noção de estabilidade monetária virou lenda e, por conseguinte, também a durabilidade da moeda, que constantemente perde valor para alguma alteração monetária. O processo de obscurecimento da noção real das funções da moeda se deu assim: a “facilitação das trocas” foi reduzida à função “meio de troca”, expressão bem mais genérica e aberta a uma interpretação de que pode ou não pode ser um meio de troca mais fácil. A função “reserva de valor” ficou evidentemente no lugar da “estabilidade” pela mesma razão dada ao “meio de troca”: o uso de um termo genérico permite que a reserva de valor seja cada vez menos de valor, como se observa no ocidente. Por fim, também a última função de “unidade de conta” é demasiadamente genérica, pois uma moeda alterada artificialmente só pode perder o seu significado de “unidade de conta” quando se apela ao conceito de estabilidade, e além disso é uma redundância para “escassez”, porquanto só se conta no dia-a-dia o que é escasso, razão pela qual a água nunca serviu como moeda.

Objeção 3: moeda deve ter a característica formal de soberania monetária.

Resposta à 3: a soberania monetária é o controle e garantia do poder público à estabilidade monetária pela via da segurança, assim como ele pode garantir a escassez pelas características físicas (antigamente, a adequada cunhagem ou impressão). No passado, a imagem do soberano era sinal da estabilidade monetária, e a inscrição da moeda pelo mesmo soberano, de sua escassez. Para ser moeda, não precisa ser necessariamente garantida e controlada pelo poder público, podendo o costume de uso do padrão-monetário ser tão forte que a moeda se torne corrente. Por isso, não é intrínseca à moeda a característica de garantia e controle estatal, ou seja, não é uma característica formal da moeda, e sim uma característica histórica e temporária desejável pelas circunstâncias do tempo.

Objeção 4: a principal finalidade da moeda é evitar a dupla coincidência de desejos ou o escambo entre produtos e serviços contra um valor mais ou menos teoricamente igual de produtos e serviços. Assim, a estabilidade não é uma característica formal da moeda.

Resposta à 4: evitar o escambo é facilitar as trocas, porém, o escambo pode ser evitado e mesmo assim pode não haver facilitação de trocas, como no caso das regiões com mutações monetárias frequentes.

Objeção 5: não há uma principal característica formal, todas são igualmente boas.

Resposta à 5: a moeda de valor estável não necessariamente facilita as trocas. Pode por exemplo ser estável e ter sua portabilidade afetada. Já um valor escasso não necessariamente garante uma troca facilitada, pois pode ser ter sua divisibilidade comprometida. Por outro lado, é impossível pensar em moeda e não pensar em troca, especialmente na facilitada, já que a moeda deve ser de uso corrente.

- Teses resumidas sobre as características físicas da moeda

Características físicas: segundo o que foi visto, principalmente com Hervé-Bazin e o Pe. Matteo Liberatore, e que se deriva da finalidade da moeda e suas características formais:



- Resposta a objeções sobre as teses anteriores

Objeção 1: cada característica física da moeda enumerada é arbitrária e meramente socialmente aceita.

Resposta à 1: a característica física da moeda é tão onipresente como a característica física do elemento ouro. Do ouro são inseparáveis o brilho, o peso e a cor, e se algum está faltando, ou não é ouro, ou há sujeira, ou está misturado com outro elemento. As criaturas geralmente exibem características que indicam suas finalidades. Assim também a moeda, a qual existe para cumprir sua finalidade de facilitar as trocas mostrando suas características formais. Assim, se um instrumento apresentado como moeda não for divisível, não facilitará as trocas, e o mesmo se diga de não ser transacionável. Se não for inalterável ou durável, não poderá ter a característica formal da estabilidade, que lhes é oposto. E se não for formalmente escasso, não pode ser portável ou manuseável, pois o que existe em abundância e serve de moeda em uma ampla região não pode ser portável ou manuseável, já que exige muita quantidade para se lidar.

Objeção 2: faltou a característica da estocabilidade ou baixo custo de estocagem.

Resposta à 2: a estocabilidade só se faz necessária se o dinheiro em uso tiver um valor intrínseco além da sua finalidade de facilitar as trocas, o que varia em cada época e circunstância. Quanto a ser estocável como característica material permanente, um objeto o pode ser sem que se facilite as trocas, como um saco de palha. E pode ser estocável sem ser escasso, como a batata em abundância, e pode ser estocável sem ser estável, como os alimentos rapidamente perecíveis.

Objeção 3: a moeda deve ter a característica material do valor intrínseco, como diz Hervé-Bazin citado pelo Pe. Matteo Liberatore. Fora disso, a moeda não pode ser privadamente entesourada, trazendo segurança, ou corre o risco de não ter essa característica de maneira garantida.

Resposta à 3: outrora o valor intrínseco, como o metal precioso, era útil porque a moeda tinha valor estável, como o ouro que hoje só tem estabilidade aparente, e poderia ser facilmente transformada em dinheiro para urgências de uma família, razão pela qual “vender suas joias” era sinônimo de apuro financeiro. Mas para cumprir sua finalidade de facilitar as trocas por bens e serviços de mais ou menos igual valor a moeda não exige valor intrínseco, embora isso possa ser desejável, a depender das circunstâncias e do instrumento usado como moeda. Além disso, enquanto poderes financeiros internacionais entesourarem commodities usadas como moeda no passado, é difícil ou quase impossível alegar que as moedas metálicas, commodities escassas do passado, hoje possuem valor estável mais do que aparente, já que a oferta mundial é manipulada por tais poderes. A história atesta tal manipulação global do ouro, por exemplo, o que condiz totalmente com o progressivo avanço técnico para a extração de minerais.

Objeção 4: não há razão para se ter moeda com características físicas da inalterabilidade e da durabilidade com o advento da tecnologia atual.

Resposta à 4: Uma moeda boa na antiguidade podia ostentar uma cunhagem tão original que fosse difícil a sua alterabilidade. De modo análogo, a moeda digital possui uma tão difícil “cunhagem” tecnológica que a torna inalterável. A moeda mantém sua característica material em aparatos digitais ou quaisquer outros, uma vez que para facilitar as trocas, ela precisa existir.

 


[1] Do governo dos Príncipes ao Rei de Cipro, livro II, Cap.13
[2] Pequeno tratado da primeira invenção das moedas (1355). Tradução de Marzia Terenzi Vicentini, Curitiba. Editora Segesta, 2004, 1336, C. II.
[3] Idem, C. III.
[4] Idem, C. V.
[5] Idem, C. VIII.
[6] Principles d'economie Politique, Traduzido do original em italiano de 1888, Librairie Religieuse H.Oudin, 2 edição, pg.132, 136-137
[7] Idem, pg.137-140
[8] Comment rendre l'argent au peuple? Tome I, la monnaie nationale, C.I, 3, 1938.





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1. Crítica do padrão-ouro

Pe. Lamarche, O.P (1938)

"O ouro é manipulado. É um fato inegável. A Liga das Nações pode bem protestar, como já o fez em muitas ocasiões, contra o açambarcamento do ouro pelas “altas finanças” [N.E.: Haute Finance], mas enquanto o metal amarelo continuar a ser a medida da prosperidade das nações, o ouro só será distribuído de acordo segundo o bel-prazer e interesse dos indivíduos que o controlam. A Câmara de Comércio de Londres fez recentemente a declaração, com conhecimento de causa, que o ouro está a tornar-se escasso porque "aqueles que o controlam estão deliberadamente a bloqueá-lo"" [1].

Pe. Denis Fahey (1944)

Crítica ao padrão-ouro (ao longo de todo o seu livro, mas condensado na frase a seguir): "O objetivo das finanças é ser o servo da política e da economia. Em vez disso, tornou-se o mestre de ambos, de modo que os seres humanos são sacrificados à produção de bens materiais e a produção e a distribuição de bens materiais são sacrificadas às finanças” [2]

Plinio Corrêa de Oliveira

“Mesmo um país cuja moeda é baseada no ouro e que se considera estável e seguro por esse motivo, deve ter em mente que o ouro está sendo artificialmente controlado atualmente.

Objetivamente falando, não é sua raridade que sustenta o valor do ouro. Sabemos que há enormes reservas de ouro que já foram exploradas e são mantidas fora de circulação para manter seu preço, assim como há muitas minas de ouro propositalmente inexploradas.

Quem estabelece a quantidade de ouro que deve circular e fixa seu preço? Acredito que essas são assuntos estabelecidos por um acordo entre os chefes do setor financeiro internacional.” [3].

2. Crítica da moeda-commodity em geral, não só ouro

O atual poderio mundial e oligopolizado das indústrias, das Big Tech’s, das finanças internacionais, dos poderes públicos, das mídias, e de seus empregados e lobbyistas ao redor do mundo torna quase impossível que alguma commodity não seja entesourada em algum lugar e manipulada no mercado, seja ela ouro, prata, trigo, arroz, e mesmo commodities como aço.

É muito difícil que algum industrial atualmente não esteja, direta ou indiretamente, favorecendo o grande esquema monopolizador e suas diretrizes no ocidente. Os riscos ao industrial que der azo a um pensamento fora dos padrões “aceitáveis” são imensos: pôr-se-á contra uma máquina de dinheiro internacional que possui eficientes agentes de manipulação psicológica e de lobby nos governos e tomadores de decisão pública. Eis uma das razões para a ruína de muitos industriais no passado ou no passado recente. Geralmente os industriais menos “entrosados com a governança global” já são objetos de um detalhado plano de eliminação, cujo treinamento é feito pelos donos do poder econômico tal como treinamento contra possível invasão estrangeira é feito pelo alto comando do exército. Tais industriais só não são vítimas desde já para evitar a demasiada atenção ou porque não são grandes ameaças na prática.

Em certo sentido, tais razões são extensões das já citadas acerca da moeda-commodity ouro.

3. Crítica das criptomoedas

Para verificar se um candidato para moeda é forte, é preciso analisar se possui as características formais e materiais para servir como uma moeda. Aqui se aborda a criptomoeda em geral, apesar de a primeira ter sido a Bitcoin, criada em 2008.

3.1. Características formais das criptomoedas

Antes de examinar suas características formais (em seu duplo aspecto) e materiais, vale destacar o papel do poder público nas criptomoedas, e seus argumentos.

O poder público garante que o fator de segurança da senha (só você sabe) e do cartão ou cédula ou outro instrumento que serve como moeda (só você tem) esteja aliado ao detentor de direitos (só você é), já a criptomoeda, por não estar sob o poder público, possui unicamente o fator de segurança de senha (só você sabe), o que geralmente se anota em um pedaço de papel para guardar (só você tem), de forma que sua segurança seja menor.

Argumenta-se contra essa desvantagem que o Estado não fornece segurança ao cidadão, seja à medida que não garante a estabilidade da moeda, seja ao perseguir monetariamente cidadãos contrários a um determinado assunto ou política, etc.

Não se exige uma necessária resposta a isso através de uma criptomoeda, porém, analisar-se-á as criptomoedas sob as características formais da moeda já explanadas a fim de verificar se elas procedem.

- Facilitação de trocas das criptomoedas

Só facilita a troca em um dado contexto, ou seja, é contextual. Afinal, seu uso não é generalizado em uma sociedade.

Exemplos: 1. A possessão da criptomoeda não é generalizada como a moeda nacional, portanto, não se pode trocá-la com facilidade em uma sociedade. 2. Uma sociedade autossuficiente de pessoas que aceite generalizadamente alguma criptomoeda como meio de troca estará atada ao preço internacional da “cripto” em questão, o que pode prejudicar na hora de transacionar, mesmo que só se transacione entre a comunidade, porque o preço usado, o internacional, pode oscilar muito. 3. Uma nação heterogênea precisa mudar completamente o modo como se usa e troca moeda, isto é, pelo meio digital, o que mesmo em aplicativos digitais há resistência. Enquanto isso não ocorrer, a criptomoeda não pode ser usada como facilitadora das trocas senão em um dado contexto. 4. O fato de que há glossários e dicionários muito extensos na internet, bem como vídeos e podcasts bem específicos sobre o tema, mostram o quanto o mundo das criptomoedas não só está distante do ser humano comum, como exige muito mais do que o esforço de levar a documentação privada, a todos familiar, ao banco próximo, assinar a papelada e sair com uma senha de poucos números.

- Estabilidade das criptomoedas

Aparentemente estável, pois algo mina a sua estabilidade real.

Exemplos: 1. Possibilidade de servir para capital especulativo: só Deus sabe o número entesourado por especuladores desde o início de cada criptomoeda. No início, em geral, elas eram passíveis de “mineração” caseira sem eletrônicos fabricados especificamente para isso, valiam dez mil vezes menos do que valia dez anos depois (um caso famoso foi o da compra da pizza com um só bitcoin no seu início), etc. Eis a razão pela qual todo militar de alta patente desaconselharia a adoção em larga escala da criptomoeda, já que pode comprometer a logística da defesa nacional em tempos de guerra. 2. Possibilidade de transmissão de capital inflacionário: agentes econômicos, por causa do mecanismo autorizado para criar moeda pelos bancos, podem comprar com esse dinheiro “criado” alguma criptomoeda e inflaciona-la. As implicações disso só Deus sabe inteiramente, porém, é certo que afeta a estabilidade artificialmente. 3. Não têm estabilidade melhor do que as moedas que pretende substituir, como se notoriamente sabe pelas valorizações contínuas em pequeno espaço de tempo das criptos em geral. Ora, haveria imenso estresse social se a moeda em curso desvalorizasse ou valorizasse 50% em um mês, razão pela qual, quando um país padece de tal mutação monetária hoje, ele só não sente tanto porque já empregou outra moeda ou indexador.

- Escassez das criptomoedas

Aparentemente escassa, pois algo mina a sua escassez real.

Exemplo: a estrutura de funcionamento da criptomoeda mina a base que confere escassez à moeda, já que a quantidade que existirá de criptomoeda (definida por complexas contas matemáticas em cada caso) em geral é programada e sabida desde logo. Uma moeda deve ser escassa a ponto de evidenciar o progresso econômico e social de uma nação, a ponto de se saber, por exemplo, que a mesma medida monetária comprava um conjunto de panelas e, agora, compra além disso um automóvel, porque os bens e serviços aumentaram naquela sociedade. O argumento de que a moeda deve crescer para acompanhar a oferta de bens e serviços, de origem keynesiana, acaba por afirmar que o valor dos bens e serviços (moeda) deve crescer com os bens e serviços (isto é, a moeda deve crescer com o crescimento do que a moeda representa). Isso, além de ser historicamente falso em todas as épocas anteriores à justificativa da prática do depósito irregular legal (século XIX em diante), defende uma posição contrária à estabilidade monetária.

3.2. Características físicas ou materiais da criptomoeda

Abstraindo a característica formal de facilitação de troca, considere-se uma hipótese igualitária simplificadora, isto é, que cada cidadão possui igual capacidade técnica e de manejo para usar a criptomoeda:

Divisibilidade: presente, pois é um ativo que se pretende primordialmente líquido (fácil troca) em meio digital.

Durabilidade: como toda moeda digital, sua durabilidade física está atrelada à durabilidade da tecnologia que a sustenta dentro da rede mundial de computadores.

Uniformidade ou Inalterabilidade ou Homogeneidade: novamente atrelada à tecnologia que a sustenta dentro da rede mundial de computadores e de sua segurança.

Manuseabilidade: sendo digital, e geralmente às mãos do portador, que anda sempre com seus aparatos eletrônicos, a moeda digital é manuseável. Sua capacidade de poder diminuir a quantidade com que se carrega, algo que só se muda por um aspecto de segurança como a senha digital (algo só o portador sabe), é um fator tecnológico útil.

Portabilidade ou Transportabilidade: depende de cada criptomoeda e de sua tecnologia no momento. Não vale a pena analisar isso atualmente sob pena de logo mais tornar a análise obsoleta.

Transacionabilidade ou Baixo custo de transação: idem para portabilidade.

4. Crítica da moeda digital

Novamente, antes de examinar suas características formais (em seu duplo aspecto) e materiais, vale destacar o papel do poder público nas moedas digitais, e seus argumentos.

O poder público garante que o fator de segurança da senha (só você sabe) e do smartphone que serve como moeda (só você tem) esteja aliado ao detentor de direitos (só você é). A desvantagem aqui é a clara concentração de funcionalidades em um só lugar, o que não é seguro, especialmente para o caso de perda.

Análise sociológica sobre a evidente concentração desvantajosa de funcionalidades: parece artificial o modo pelo qual o mundo a sustenta, de forma que mais provavelmente esperam estrategicamente o mundo apontar tal problema, de forma que surgiriam com a proposta já engavetada, um instrumento com tecnologia passiva (não requer bateria) ou similar, para embolar a discussão acerca de sua insegurança ou outra discussão séria que se perderia na discussão geral.

Argumenta-se contra tal concentração, corretamente, as seguintes desvantagens: 1. Acelera o processo pelo fim da moeda física por ser esta menos fácil de ser usada agora, o que alguma hora pode impedir que haja circulação monetária fora do controle estatal e, consequentemente, 1.1. Pode impedir comunidades autossuficientes, 1.2. Pode impedir a soberania industrial relacionada ao desenvolvimento tecnológico em tela, 1.3. Pode facilitar a total tirania estatal. 2. Aumenta a possibilidade de inflação havendo só moeda escritural, a qual pode ser mais facilmente emitida pelas instituições autorizadas para tanto (isso depende de cada lei nacional e segurança da tecnologia empregada)

Análise sociológica sobre as desvantagens elencadas: os excluídos digitalmente, principalmente os menos capazes e idosos, são um obstáculo à eliminação do dinheiro efetivo ou papel-moeda. Talvez o fomento ao ódio intergeracional possa se juntar a uma futura eutanásia etária obrigatória (talvez até com nome de "terapêutica"), uma vez que elites avarentas não poriam "mão na consciência" para admitir que, entre outros problemas sociais, o financismo drenou os recursos do passado, os bancos perverteram a moeda, e o povo foi levado a não ter filhos e a ter péssimos hábitos, envelhecendo de forma ruim e solitária, entre outros problemas. Como dizem os sociólogos, é preciso um bode expiatório.

Por outro lado, na moeda digital há a vantagem do maior combate à lavagem de dinheiro via rastreamento do dinheiro. Numa economia que só usa moeda digital, a lavagem de dinheiro até teria fim, embora não os crimes (tipificados ou não em lei) que as sustentam.

4.1. Características formais

- Facilitação de trocas das moedas digitais: facilita muito as trocas enquanto não há parte significativa da economia sem adesão à nova tecnologia.

- Estabilidade das moedas digitais: aqui reside o problema da criação monetária, uma vez que o dinheiro, sendo escritural, pode ser mais facilmente inflacionado a depender dos seguintes fatores: leis, quem recebeu primeiro o dinheiro inflacionado e quem o entesourou (exceção de Stueart ao efeito Hume-Cantillon).

- Escassez das moedas digitais: Aparentemente escassa, pois algo mina a sua escassez real. No caso, enquanto houver a instabilidade monetária pela via dita anterior, ela não é escassa.

4.2. Características físicas ou materiais da moeda digital

Foi visto que a criptomoeda, como moeda digital, possui todas características materiais bem presentes, e que analisar a tecnologia atual delas é tarefa que pode, de um dia para outro, se tornar ultrapassada. O mesmo se diga, e até em maior grau, da análise da tecnologia empregada para a moeda digital nacional, porque esta está em constante melhoria pelo seu uso social constante.

5. Crítica à moeda CBDC (moeda digital do Banco Central)

Tudo que foi dito em abstrato da moeda digital, sobre as características formais e físicas, se aplica à CBDC, sendo esta uma espécie de moeda digital.

Especificamente, a CBDC tem a desvantagem de ser subserviente a uma potência ou grupo de interesse estrangeiro. Afinal, os bancos centrais nacionais (ou autoridades monetárias equivalentes) são notoriamente denunciados como instituições manipuladas pela Alta Finança Internacional, de forma que o uso de uma moeda do Banco Central claramente teria como consequência a virtual perda de soberania monetária.

Além disso, como já dito para a moeda digital, suas desvantagens são as mesmas, exceto para: 2. Aumenta a possibilidade de inflação havendo só moeda escritural, a qual pode ser mais facilmente emitida pelas instituições autorizadas para tanto (isso depende dos tratados, acertos internacionais e segurança da tecnologia empregada).

A mesma análise sociológica sobre as desvantagens elencadas anteriormente pode ser replicada aqui, bem como a vantagem do combate à lavagem de dinheiro.

Ilustração sobre como a moeda digital ou CBDC é centralizado no fim da sua hierarquia estrutural e como podem surgir alternativas, como ao lado: 

Fonte: Brett Scott, “A YouTube channel is born.”, Acesso dia 3/2/2024: https://alteredstatesof.money/brett-scott-youtube/

6. Crítica à moeda universal

É preciso distinguir os tipos de moeda universal: 1. Universalmente e domesticamente aceita e imposta, 2. Universalmente aceita e domesticamente não imposta, 3. Universalmente aceita e domesticamente proibida.

O tipo 1 é claramente um modo de acabar com a soberania das nações, sendo mais adequado para obra do Anticristo. É o tipo de moeda que geralmente se critica quando se fala de moeda universal.

O tipo 2 pode ser vantajoso enquanto o guardião dessa moeda se comprometer com a estabilidade monetária, gozar de confiança unânime no globo e usar moeda puramente fiduciária.

O tipo 3 pode ser vantajoso nas mesmas condições do tipo 2, e posto em prática somente quando a moeda universal ameace a soberania nacional por algum fator (por exemplo, quando o próprio espírito do Anticristo manobrar politicamente no globo para prejudicar alguma nação).

Como dito no artigo sobre “mutação monetária legal e não-emergencial”, são características do gestor da moeda de uso universal: 1. Não é um dos “jogadores no mercado internacional”, isto é, não imporá sua vontade e política aos demais. 2. Instituição soberana que não acata influências estrangeiras. 3. Instituição de prestígio internacional que quer a harmonia entre as nações. 4. Instituição com princípios católicos sobre estabilidade monetária. Assim, só pode ser o próprio Vaticano mediante algum braço temporal não gerido por clérigos diretamente, por não ser tarefa espiritual, mas gerido por pessoas que se dedicam inteiramente ao trabalho feito como prova de seus desprendimentos (por exemplo, voto de pobreza prático).

Análise sociológica do CBDC de cada país: caminha para ser ou para lançar uma modalidade de moeda universal na prática. Afinal, muitos bancos centrais seguem o BIS (Bank for International Settlements), uma instituição financeira internacional que atua como banco dos bancos centrais. Os poderes de chantagem e os lobbys que estão por detrás disso só Deus sabe. Tal processo, mais provavelmente em primeiro momento no tipo de moeda universalmente aceita e domesticamente proibida, seria relativamente rápido quando a sociedade estiver inteiramente digitalizada em termos de dinheiro.


[1] Comment rendre l'argent au peuple? Tome II, la monnaie internationale, p.144-145, 1938.
[2] Money Manipulation and Social Order,1944, C. III, p. 13
[3] Organic Society & Capitalism - Part III, “What to do with the Surplus of Currency”, Acesso em 3 de dezembro de 2021 <https://www.traditioninaction.org/OrganicSociety/A_027_Capitalism_3.html>, anotado por Atila S. Guimarães. Primeira publicação: November 10, 2008.



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