Sagrada Escritura, Papas, prelados e santos sobre dança, palmas e gritos na missa. Tratando objeções.

Imagem anterior (não original) ilustrativa

S. João Clímaco, rogai por nós!
Santo Tomás de Aquino, rogai por nós!

Já compilamos material sobre as danças que não podem ser dançadas em nenhuma hipótese: Modéstia nos bailes e danças em livro elogiado por Pio XII e Paulo VI, prefaciado pelo Núncio D. Bento Masella

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados" (Volume II, 2a edição).

Sagrada Escritura

O desafio de S. Elias aos profetas de Baal consistiu em oferecer um sacrifício à divindade que cada um acreditava. Neste desafio, o sacrifício aceito seria confirmado pela vinda do fogo do céu para consumá-lo e provar a religião verdadeira. Como todo o sacrifício antigo era uma prefigura do sacrifício de Cristo Nosso Senhor, mais reverência deve-se ter pelo sacrifício novo.

Com isso em mente, lembramos abaixo como o profeta Elias escarnecia dos pagãos que pulavam e gritavam no seu ato "litúrgico", pois o santo profeta não fazia o mesmo. Ou seja, estes atos são tipicamente pagãos:

"Tomando o boi que lhes foi dado, o imolaram, e não cessavam de invocar o nome de Baal de manhã até o meio-dia, dizendo: Baal, ouvi-nos. Mas não se ouvia voz, nem havia quem respondesse; e saltando sobre o altar que haviam feito, e passavam de uma parte a outra.

Sendo já o meio-dia, burlava-se Elias deles, dizendo: Gritai mais alto; porque esse deus talvez esteja em conversação com algum, ou em alguma pousada, ou de viagem; talvez está dormindo, e assim é importante desperta-lo.

Gritavam, pois, eles a grandes vozes; e se cortavam, segundo seu rito, com faca e lanças, até se encherem-se de sangue.

Mas passado já o meio-dia, e enquanto prosseguiam em suas invocações, chegou o tempo em que se costuma oferecer o sacrifício, sem que se ouvisse nenhuma voz, nem tivesse quem respondesse, nem atendesse aos que oravam.

Disse então Elias a todo o povo: Acerque-os a mim; e acercando-se a ele o povo, reparou o altar do Senhor que havia sido arruinado (...).

Sendo já o tempo de oferecer o holocausto, se aproximou o profeta Elias, e disse: Oh Senhor Deus de Abraão, e de Isaac, e de Israel, mostra hoje que te es o Deus de Israel, e que eu sou teu servo, e que por teu mandato tenho feito todas estas cosas.

Ouvi-me, oh Senhor, escutai-me, a fim de que saiba este povo que tu es o Senhor Deus, e que tu converteste de novo seus corações.

De repente baixou fogo do céu, e devorou o holocausto, e a lenha, e as pedras, e até o pó, consumindo a água que havia na vala.

Visto isso por todo o povo, se prostraram todos sob seus rostos, dizendo: O Senhor é o Deus, o Senhor é o Deus verdadeiro.

Então lhes disse Elias: Prendei aos profetas de Baal, e que não se escape nenhum deles. Presos que foram, Elias os mandou levar a torrente do Quisom (Kishon); e ali lhes matou". I Reis XVIII, 26-40

São João Clímaco (525-606)

"Quando fizermos nossa oração em companhia de outros, procuremos recolher nosso coração, e procuremos despertar interiormente nossa devoção sem mostras exteriores. Mas, se estamos sós (onde não haja ocasião de louvores humanos, nem os temores dos olhos de que nos observa), aproveitemo-nos de figuras e gestos para ajudar da devoção, tais como bater nos peitos, levantar os olhos para o céu, prostrar-nos em terra, estender os braços em cruz, e outras coisas semelhantes; porque muitas vezes acontece que o espírito dos imperfeitos se levanta com isso e se conformam com os movimentos exteriores" [1].

Santo Tomás de Aquino


"E por isso Crisóstomo diz: Quem reza não faça nada insólito, que atraia o olhar dos outros, como gritar, bater no peito ou levantar os braços", pois, é a novidade mesma desse proceder que atrai sobre ele a atenção dos outros" [2]. 

São Pio X

Contra o tambor e instrumentos fragorosos, entre os quais podem ser incluídos as palmas:

"19. É proibido, na Igreja, o uso do piano bem como o de instrumentos fragorosos, o tambor, o bombo, os pratos, as campainhas e semelhantes.

20. É rigorosamente proibido que as bandas musicais toquem nas igrejas, e só em algum caso particular, com o consentimento do Ordinário, será permitida uma escolha limitada, judiciosa e proporcionada ao ambiente de instrumentos de sopro, contanto que a composição seja em estilo grave, conveniente e semelhante em tudo às do órgão.

21. Nas procissões, fora da igreja, pode o Ordinário permitir a banda musical, uma vez que não se executem composições profanas. Seria para desejar que a banda se restringisse a acompanhar algum cântico espiritual, em latim ou vulgar, proposto pelos cantores ou pias congregações que tomam parte na procissão" [3].

João XXIII

“Estou muito satisfeito por estar aqui. Mas eu devo exprimir-lhes um desejo: que na igreja não gritem e não batam palmas, nem mesmo para saudar o Papa, porque Templum Dei Templum Dei (o templo de Deus é o templo de Deus). Agora, se vocês estão felizes em encontrar-me nesta bela igreja, imagine como o Papa não está feliz em ver seus filhos! Mas assim que ele vê seus filhos, eles batem as mãos na frente de sua face. E esse que está diante de vocês é o sucessor de São Pedro!” [4].

Cardeal Ratzinger (posteriormente Bento XVI)

"A dança não é uma forma de expressão da liturgia Cristã. Por volta do terceiro século, houve uma tentativa em certos círculos Gnósticos-Docetistas de introduzí-la na liturgia. Para este povo, a Crucifixão era apenas uma aparência. Antes da Paixão, Cristo havia abandonado o corpo que de qualquer maneira ele nunca realmente assumiu. A dança podia tomar um lugar na liturgia da cruz, porque, apesar de tudo, a Cruz era apenas uma ilusão. As danças de cultos de diferentes religiões tem diferentes propósitos, encantamentos, magia imitativa, êxtase místico, nenhum dos quais é compatível com o propósito essencial da liturgia da "sacrifício razoável". É totalmente absurdo tentar fazer a liturgia "atraente" introduzindo danças pantomimas (sempre que possível feita por grupo profissionais de dança), os quais frequentemente (e com razão, do ponto de vista profissional) acabam com aplausos. Sempre quando o aplauso entra na liturgia por causa de algum feito humano, é um sinal seguro que a essência da liturgia desapareceu totalmente e foi substituída por uma espécie de entretenimento religioso. Tal atração desvanece rapidamente, ela não pode competir no mercado da busca dos lazeres, incorporando como crescentemente fazem várias formas de excitações religiosas. Eu mesmo experienciei a substituição de um rito penitencial por uma apresentação de dança, a qual, não é preciso dizer, recebeu muitos aplausos. Pode ter qualquer coisa mais longe da verdadeira penitência ? A liturgia só pode atrair as pessoas quando ela olha, não para ela mesma, mas para Deus, quando deixa ele entrar e agir. Então algo verdadeiramente único acontece, além da competição, e o povo tem a sensação de que algo a mais aconteceu do que uma atividade recreacional. Nenhum dos ritos Cristãos inclui a dança" [5].

São Padre Pio

"A fim de evitar irreverências e imperfeições na casa de Deus, na igreja – que o divino Mestre chama de casa de oração -, exorto-vos no Senhor a praticar o seguinte.

Entre na igreja em silêncio e com grande respeito, considerando-se indigno de aparecer diante da Majestade do Senhor. Entre outras considerações piedosas, lembre-se que nossa alma é o templo de Deus e, como tal, devemos mantê-la pura e sem mácula diante de Deus e seus anjos. (...).

Em seguida, pegue água benta e faça o sinal da cruz com cuidado e lentamente.

Assim que você estiver diante de Deus no Santíssimo Sacramento, faça uma genuflexão devotamente (...)

Ao assistir à Santa Missa e as funções sagradas, fique muito composta, quando em pé, ajoelhada e sentada, e realize todos os atos religiosos, com a maior devoção. Seja modesta no seu olhar, não vire a cabeça aqui e ali para ver quem entra e sai. Não ria, por respeito para com este santo lugar e também por respeito para aqueles que estão perto de você. Tente não falar com ninguém, exceto quando a caridade ou a estrita necessidade pedirem isso. (...)

Ao sair da igreja, você deve estar recolhida e calma (...)" [6].

- Objeções

Obj. 1: É Tradição antiga, desde pelo o Renascimento, a Dança dos meninos de Sevilla [7], chamado Baile de los Seises, feito na Catedral, diante do Santíssimo Sacramento.
Baile de los seises,
tratado na objeção 1

R.1: A dança é inocente, tradicional e com belos trajes. Em si mesma nada tem de mau. Tudo indica que era feita nas procissões de Corpus Christi primordialmente, e em procissões, como vimos, são permitidas as bandas musicais, que possuem instrumentos fragorosos, o que não é permitido na Catedral. Se a dança foi permitida na Igreja, certamente foi fora da liturgia. Um postal antigo indica que era feita na Catedral (talvez por algum fator meteorológico, o que a tornaria inconveniente se realizada do lado de fora), mas em uma área lateral, onde também, pelo que indica a imagem, o arcebispo sentava. Isto destoa por completo da atualidade, pois eles (agora incluindo meninas) dançam muitas vezes no ponto mais alto do altar, onde talvez nem se celebre missa, pois o igualitarismo da missa nova exige um altar no mesmo nível do povo.

Obj. 2: este versículo deixa entrever uma liturgia celebrada alegremente pelo povo de Israel, com instrumentos, ritmos, aclamações, na qual o corpo também está bastante envolvido: "Povos, aplaudi com as mãos, aclamai a Deus com vozes alegres, porque o Senhor é o Altíssimo, o temível, o grande Rei do universo". Salmo 46.

R.2: De fato, nas procissões isso era permitido, ainda mais que as canções, segundo o documento de São Pio X, não podiam ser profanas.

Obj. 3: “Davi e toda a casa de Israel dançavam com todo o entusiasmo diante do Senhor, e cantavam acompanhados de harpas e de cítaras, de tamborins, de sistros e de címbalos” II Sm VI, 5. Seria difícil não imaginar o uso das palmas em tais celebrações, e como a Arca é a prefigura do Sacrário do Santíssimo, se pode fazer o mesmo na Igreja.

R.3: Nesse versículo a Arca sai pelas ruas, isto é, faz um percurso, e o povo acompanha como em uma procissão. Logo, é legítimo e fora do âmbito litúrgico.

Obj.4: Todo instrumento musical incluindo o som de mãos batendo uma contra as outras em forma de louvor podem e devem fazer parte do nosso culto de louvor a Deus, pois: "Aleluia. Louvai o Senhor em seu santuário, louvai-o em seu majestoso firmamento. Louvai-o por suas obras maravilhosas, louvai-o por sua majestade infinita. Louvai-o ao som da trombeta, louvai-o com a lira e a cítara. Louvai-o com tímpanos e danças, louvai-o com a harpa e a flauta. Louvai-o com címbalos sonoros, louvai-o com címbalos retumbantes. Tudo o que respira louve o Senhor". Salmo 150, 1-5. 


R.4: Nas procissões pode se usar instrumentos inconvenientes para o templo, o que prova que é possível louvar a Deus com vários instrumentos. Um exemplo é o hino do Vaticano, que pode ser cantado na Igreja, mas também é bem acompanhado por tambores e pratos em procissões, onde esses instrumentos são mais apropriados.

Obj.5: Se se pode louvar em voz alta a Deus, como num episódio Bíblico, pode-se fazer o mesmo ao Santíssimo Sacramento na Igreja: "Quando já se ia aproximando da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos, tomada de alegria, começou a louvar a Deus em altas vozes, por todas as maravilhas que tinha visto. E dizia: Bendito o rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória no mais alto dos céus! Neste momento, alguns fariseus interpelaram a Jesus no meio da multidão: Mestre, repreende os teus discípulos. Ele respondeu: Digo-vos: se estes se calarem, clamarão as pedras." São Lucas XIX, 37-39.

R.5: O povo fez do percurso de Nosso Senhor Jesus Cristo uma procissão, e Ele elogiou esse gesto. É possível dizer que um dos motivos pelos quais o Salvador repreendeu os fariseus contrários foi o de que "clamarão as pedras", remetendo-nos ao salmo de que a natureza deve clamar ao Senhor e, por isso, todos os instrumentos usados nessa procissão para louvar a Deus, desde a voz alta até mesmo o uso de ramos, eram bem-vindos.


CLIQUE PARA VER MAIS ARTIGOS:

Papas proibiram instrumentos como bateria, pratos, piano e outros na música litúrgica?

Papas deram diretrizes sobre os cantos profanos ou em vernáculo na liturgia?

Clique aqui para ver mais Doutrina Católica contra os erros sobre sacramentos, liturgia e espiritualidade

--------------------------------------------------- 
[1] Escada do Céu, A oração, Cap. XVIII 
[2] Suma Teológica, IIa IIae parte, q. 187, art. 6, ad. 3. O texto citado, Opus Imperfectum in Matthaeum, não é hoje considerado de São João Crisóstomo, embora fosse muito popular na Idade Média e talvez, por isso, muito citado como se o fosse.
[3] Motu Proprio "Tra Le Sollecitudine", 22 de Novembro de 1903
[4] João XXIII; 1963, Ostia, IV Domingo da Quaresma. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=k_Pl5C4xISM
[5] Introdução ao espírito da Liturgia. 3ª Edição. Paulinas: Prior Velho, Portugal, 2010. pp. 146 e 147
[6] Padre Pio’s Letters, “Correspondence with his Spiritual Daughters (1915-1923)” Vol.III. Carta de Padre Pio para Annita Rodote, Pietrelcina, 25 de julho de 1915. Primeira edição (versão em Inglês), Editor; Edizioni Padre Pio da Pietrelcina, Alessio Parente, OFM Cap., Editor Edizioni Padre Pio Pietrelcina da, Nossa Senhora do Convento dos Capuchinhos Grace, San Giovanni Rotondo, Itália, 1994, Traduzido por Geraldine Nolan, pp 88-92.
[7] Um vídeo da dança pode ser visto nesse link:https://www.youtube.com/watch?v=WZNR7L3kWug