S. Pedro, primeiro Papa, rogai por nós!
Para entender alguns conceitos aqui expostos, recomendamos a leitura:
Ven. Holzhauser profetiza a vinda do Papa Santo, do Grande Monarca, e do Grande General, que extirparão as heresias e o islamismo
Teoria do simbolismo-prefigurador da época de Cristo: o simbolismo do contexto da pregação Divina como prefigura de mudanças
Hipótese Teológica da divisão das Eras da Igreja. Apreciação das divisões de S. Agostinho, S. Boaventura e outros
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Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. IV)".
Anterior deste capítulo: A Escritura sobre a vinda da prefigura da terceira testemunha do Apocalipse, o Grande General dos apóstolos dos últimos tempos
Adendo da 3ª edição: pela crucial importância deste artigo como um tipo de exegese, baseada em paralelos simbólicos, que temos empregado, houve uma quase inteira reescritura para tornar as suas teses não só claras, mas fáceis de lembrar. Somente algumas hipóteses paralelas ao tema central foram suprimidas, porque estavam calcadas numa errônea concordância dos Santos Evangelhos. Toda a essência foi mantida. Sabendo que o antigo bispo Dom Duarte delineou tal concordância, e com a sua obra em mãos, pudemos corrigir a mesma harmonia que fizemos.
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Como temos dito até aqui neste volume, sustentamos que para o fim desta Era (conforme divisão das Eras hipotetizadas no Cap. III) virá um Papa Santo: alguém com o espírito de S. Pedro, tal como S. João Batista veio no espírito do profeta Elias. Também sustentamos que no fim do mundo, isto é, o tempo do Anticristo, virá um terceiro Papa Santo, que talvez tome o nome de Pedro também. Esta opinião se inspira em parte na interpretação do Venerável Holzhauser, pois este baseava suas interpretações, ao que parece, na atualmente breve lista dos Papas comentada no início do capítulo V.
Ademais, sustentamos que virão no fim desta Era três apóstolos representantes da esfera espiritual, política e temporal, prefiguras dos três que virão no fim do mundo: S. Elias, S. Enoch e S. João Evangelista (embora os doutores da Igreja só concordem unanimemente com a vinda dos dois primeiros, como vimos). Antes da vinda de Nosso Senhor, igualmente alguns acreditavam que viriam um sacerdote, um profeta e um rei, conforme vimos no capítulo III sobre os manuscritos do Mar Morto e a comunidade essênia, mas veio o Messias na qualidade de Rei, Profeta e Sacerdote.
Do mesmo modo, sustentamos que virão três apóstolos sacerdotes em três épocas distintas. Por isso, neste artigo analisamos eventos evangélicos através desta dimensão interpretativa, isto é, se certas ações de São Pedro, primeiro Papa, são prefiguras dos outros dois Papas futuros, os quais hipotetizamos que tomarão o nome de Pedro por causa disso.
Um olhar atento observa que essa interpretação, se correta, torna possível uma interpretação sobre apóstolos da esfera temporal e política no fim do mundo. É certo que no fim do mundo essas esferas não serão restauradas nesta terra. Possíveis interpretações oriundas dessa observação, mesmo quando rejeitam uma restauração terrena, são nebulosas hoje, e fogem do escopo deste trabalho. Então, interpretamos de acordo com o que é certo: o Papado deve existir até o fim do mundo.
- Paralelos entre as três confirmações de S. Pedro, as três negações de S. Pedro, e os três Papados importantes
"Foi esta já a terceira vez que Jesus se manifestou a seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos.
Tendo eles, pois, almoçado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, tu amas-me mais do que estes? Ele disse-lhe: Sim, Senhor tu sabes que eu te amo. Disse-lhe (Jesus): Apascenta os meus cordeiros. Disse-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me? Ele disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo. Disse-lhe (Jesus): Apascenta os meus cordeiros. Disse-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Ficou Pedro triste, porque, pela terceira vez, lhe disse: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu conheces tudo; tu sabes que eu te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas". S. João XXI, 14-17.
Conforme a Tradição explica, os cordeiros representam a Igreja discente, e as ovelhas, a docente, pois o Papa deve apascentar essas duas partes da Santa Igreja. É também uma confissão, isto é, uma confirmação do arrependimento de ter negado, por isso, três perguntas são feitas a São Pedro, espelhando as três negações.
"Foi esta já a terceira vez que Jesus se manifestou a seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos", segundo a dimensão interpretativa que avaliamos, indica o símbolo numérico nesta aparição. Assim, esta aparição harmoniza-se numericamente com outros eventos de mesmo número. Já colocamos em prática esse modo de interpretar quando tratamos da vinda do grande general, e faremos de novo aqui.
Se símbolo numérico indica um paralelo com os três Pedros das negações, pode-se dizer que no tempo destes três Papas haverá uma negação Papal, ou melhor, uma crise na Igreja. Vejamos a seguir o paralelo existente entre tripla confirmação de S. Pedro Papa e sua tripla negação, fazendo hipóteses sobre o Papado de cada um, e avaliando se há harmonia com o de S. Pedro.
O primeiro Papa Pedro
É o próprio São Pedro Apóstolo, que por causa de uma mera criada nega Nosso Senhor, quando antes tinha dito que O seguiria até a morte invés de pedi-Lo para perseverar. Por falta de humildade, caiu o Príncipe dos Apóstolos. Eis o sentido moral para a atitude de São Pedro.
Tentativa de harmonizar os santos Evangelhos no episódio da primeira negação:
“Prenderam-No então e conduziram-No à casa do príncipe dos sacerdotes (S. Lucas XXII). Simão Pedro seguia Jesus, e mais outro discípulo. Este discípulo era conhecido do sumo sacerdote e entrou com Jesus no pátio da casa do sumo sacerdote, porém Pedro ficou de fora, à porta (S. João XVIII). Acenderam um fogo no meio do pátio e, sentando-se em roda, estava também Pedro no meio deles (S. Lucas XXII). Pedro estava sentado fora no átrio (S. Mateus XXVI). Estando Pedro embaixo, no pátio (S. Marcos XIV), uma criada percebeu-o sentado junto ao fogo, e fixando-o bem (S. Marcos XIV), que se aquecia (S. Lucas XXII), encarou-o de perto e disse: “Também este homem estava com ele” (S. Lucas XXII). “Também tu estavas com Jesus, o Galileu” (S. Mateus XXVI). “Também tu estavas com Jesus de Nazaré” (S. Marcos XIV). Ele negou: “Não sei, nem compreendo o que dizes”. E saiu para a entrada do pátio (S. Marcos XIV), à porta (S. Mateus XXVI). Ele negou diante de todos: “Não sei o que dizes” (S. Mateus XXVI). “Mulher, não o conheço” (S. Lucas XXII), e o galo cantou (S. Marcos XIV). Mas o outro discípulo (que era conhecido do sumo sacerdote) saiu e falou à porteira, e esta deixou Pedro entrar (S. João XVIII)”.
A primeira negação de S. Pedro, assim como a primeira reconciliação, representa o chefe da Igreja quando o rebanho é pequeno, isto é, a Igreja primitiva Apostólica. Os seguintes eventos, em paralelo, reforçam essa interpretação:
Assim como Nosso Senhor Jesus Cristo, após a primeira confirmação de amor de S. Pedro, disse: "apascenta os meus cordeiros", o rebanho que o primeiro Papa apascentou era um rebanho ainda pequeno, tal como o filhote da ovelha, o cordeiro.
Assim como S. Pedro, na primeira negação, estava sentado ao fogo, seu rebanho era tal como uma criança que infantilmente senta no chão, pois ainda precisa crescer.
Assim como Nosso Senhor Jesus Cristo, falando do fim do mundo que lembra Sua paixão (S. Mateus XXIV), disse que "naqueles tempos, a caridade de muitos esfriará", S. Pedro, na primeira negação, aquecia-se ao fogo, como quem não tivesse o fogo da caridade para se aquecer.
Sabendo que o pecado contra a caridade é o cisma, há um paralelo com as palavras do Salvador: "naqueles tempos, a caridade de muitos esfriará" e S. Pedro, que na primeira negação "estava sentado fora no átrio" tal como quem se aparta do Corpo Místico da Igreja por não ter o calor da caridade. Nosso Senhor provavelmente era interrogado dentro da parte central da sinagoga.
Segundo Papa Pedro
É o chefe da Igreja quando o rebanho ainda é cordeiro, pois Nosso Senhor disse, pela segunda vez: "apascenta os meus cordeiros", porém, já se passou um tempo e a Igreja já amadureceu como mostraremos pela harmonia dos paralelos evangélicos.
Tentativa de harmonizar os santos Evangelhos no episódio da segunda negação:
"Mas o outro discípulo (que era conhecido do sumo sacerdote) saiu e falou à porteira, e esta deixou Pedro entrar (S. João XVIII). Simão Pedro levantou-se da roda (S. Mateus XXVI), e saiu fora para a entrada do pátio (S. Marcos XIV), e à porta (S. Mateus XXVI). Dirigia-se ele para a porta, a fim de sair, quando outra criada o viu (S. Mateus XXVI). Tendo-o visto a criada, começou novamente a dizer aos que estavam presentes: Este também andava com Jesus Nazareno (S. Mateus XXVI, S. Marcos XIV). A porteira perguntou a Pedro: Então disseram-lhe: Não és tu também dos seus discípulos? – “Não o sou” – respondeu ele (S. João XVIII), e com juramento disse: não conheço tal homem (S. Mateus XXVI). Os servos e os guardas estavam ao fogo, porque estava frio e aqueciam-se; Pedro estava também entre eles, de pé, e aquecia-se (S. João XVIII)”.
Assim como na primeira negação S. Pedro estava sentado ao chão aquecendo-se ao fogo, tal como uma criança, na segunda, S. Pedro levantou-se, mostrando já alguma maturidade, assim como a Igreja depois de séculos.
Assim como a segunda negação, por ter sido acompanhada de "juramento" (S. Mateus XXVI) foi pior do que a primeira, a segunda, por causa da maturidade da Igreja, é pior do que a primeira, pois já havia um juramento antimodernista, etc.
Assim como "os servos e os guardas estavam ao fogo, porque estava frio e aqueciam-se" e S. Pedro "estava também entre eles, de pé, e aquecia-se" (S. João XVIII), também o Papado maduro se misturou aos servos e guardas do Sacerdócio que crucificou Nosso Senhor, isto é, misturou-se ao mundo anticristão, e lhe faltou o fogo da caridade com que se aquecer, confirmando novamente as palavras divinas: "naqueles tempos, a caridade de muitos esfriará" (S. Mateus XXIV), porque ainda não tinha o fogo da caridade com que se aquecer, e pecou contra a caridade.
Assim como quem incitou S. Pedro a negar foi uma criada, hierarquicamente abaixo de todos os ofícios por tratar dos interesses mais imediatos de seu superior, também a segunda "negação" Papal originou de uma tentativa de adequação ao mundo, que vivia os seus mais baixos desejos, como nunca antes.
Assim como foi uma criada do Sacerdócio — o qual crucificou Nosso Senhor Jesus Cristo — quem instigou S. Pedro a negar, também a segunda "negação" Papal veio instigada por figuras simbólicas que tinham relação com aqueles que já O odiavam.
O terceiro Papa Pedro
Chefe da Igreja quando o rebanho, crescido, não é mais cordeiro, pois se tornou ovelha. Por isso, Nosso Senhor, após a terceira confirmação de amor de S. Pedro, diz: "apascenta as minhas ovelhas". A ovelha é a plenitude deste animal, o seu amadurecimento completo, diferente do cordeiro. Portanto, representa um Papa depois de um longo tempo de plenitude da Civilização Cristã, que chamamos ao longo deste volume de Reino de Maria.
Tentativa de harmonizar os santos Evangelhos no episódio da terceira negação:
"Tendo-se passado o intervalo de quase de uma hora (S. Lucas XXII), os que ali [no pátio, à porta] estavam diziam de novo a Pedro: Verdadeiramente tu és um deles, porque és galileu (S. Marcos XIV), porque até o teu modo de falar te dá a conhecer (S. Mateus XXVI), e outro dizia com insistência isto (S. Lucas XXII) [e também] um dos servos do pontífice, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha: Não te vi eu com ele no horto (S. João XVIII)? Ele começou a fazer imprecações e a jurar (S. Lucas XXII, S. Mateus XXVI): Ó homem, eu não sei o que dizes (S. Lucas XXII), não conheço esse homem de quem falais (S. Marcos XIV). Imediatamente (S. João XVIII, S. Lucas XXII), quando ele ainda falava (S. Lucas XXII) cantou o galo (S. Mateus XXVI, S. João XVIII) segunda vez (S. Marcos XIV). Tendo-se voltado, o Senhor olhou para Pedro (S. Lucas XXII) e ele recordou-se da palavra que Jesus lhe tinha dito: Antes que o galo cante duas vezes me negarás três vezes. E começou a chorar (S. Lucas XXII, S. Marcos XIV, S. Mateus XXVI) amargamente, saindo para fora (S. Mateus XXVI, S. Lucas XXII)".
Assim como na terceira negação, S. Pedro nega não só com juramento, mas com imprecações, a terceira negação será pior do que a primeira e a segunda, porque virá depois do Reino de Maria.
Assim como o tempo que durou entre a segunda e a terceira negação foi digno de nota, por ter sido "quase de uma hora" (S. Lucas XXII), ao contrário do tempo entre a primeira e segunda (sequer citado), o tempo que durará da segunda para a terceira negação será digno de nota e mais extenso que o começo da Era Cristã até o Reino de Maria.
Assim como na terceira negação, o modo de falar de São Pedro o acusou como Galileu, região que o Salvador marcou com Sua presença (como nota o jesuíta Cornélio a Lapide em S. Mateus XXVI), também o modo de falar da terceira negação indicará o modo da região que Deus Filho, Nosso Salvador Jesus Cristo, marcou com Seu espírito, isto é, o Reino de Maria, que precederá o fim do mundo.
Assim como antes da terceira negação, S. Pedro é acusado com "insistência" (S. Lucas XXII), a terceira "negação" será uma perseguição insistente, maior do que a segunda.
Assim como um dos guardas do pontífice que buscaram Nosso Senhor no horto, recordando o corte de orelha que S. Pedro infringiu num de seus parentes (S. João XVIII), quis incriminá-lo como seguidor de Nosso Senhor, também o exército do Anticristo, nas últimas agonias da Igreja, lembrar-se-á da defesa de fé que o Papado fez anteriormente, e incriminará o Papado.
Assim como o canto do galo precede o novo amanhecer, seu canto indicou, após a primeira negação, o novo amanhecer naquele dia em que Cristo foi Redentor do mundo e, pela segunda vez, o amanhecer para o Reino Eterno de Cristo nos céus, após a terceira negação do Papado e segunda apostasia geral.
Assim como o canto do galo precede o novo amanhecer, ele veio pela segunda vez durante a terceira negação de S. Pedro para assinalar também um novo dia aos católicos, isto é, a vinda dos dois apóstolos, Elias e Enoch, que pregarão contra o Anticristo após este ter tomado o poder da Igreja como antipapa, ou com um antipapa.
Assim como o arrependimento de S. Pedro ocorreu após o olhar de Nosso Senhor, também só depois da vinda Dele começará o choro dos que estarão à serviço do Anticristo. Então, diferentemente da época de S. Pedro, o choro será de “ranger de dentes”, não de arrependimento. Ou talvez a conversão de S. Pedro signifique a conversão do povo judeu pela pregação de Elias e Enoch neste tempo do Anticristo, após a morte do terceiro Pedro, o qual será um bom Papa e será martirizado pelo antipapa (símbolo da negação).
Considerando o fogo da caridade profetizado para o tempo da abominação da desolação no templo ("a caridade de muitos esfriará", S. Mateus XXIV), e sabendo que o esfriamento da caridade lembra o Cisma, pecado contra a caridade, conclui-se que a ausência de menção sobre S. Pedro Papa se aquecer durante a terceira negação indica que a terceira negação futura não origina de uma falta de caridade anterior, mas de fé: “quando vier o Filho do homem, achará fé na terra?” (S. Lucas XVIII). Adendo da 3ª edição: corrigimos o “a terceira negação futura não é principalmente um cisma” para “não origina de uma falta de caridade anterior”, o que está mais de acordo com a análise temporal do evento evangélico. Suprimimos outros desenvolvimentos em cima disso que não se relacionavam ao subtema.
- Outras interpretações possíveis, ainda que menos robustas, de paralelos similares que não se aplicam a todas as negações.
"Em verdade, em verdade te digo: Quando eras mais moço, cingias-te, e ias aonde desejavas; mas, quando fores velho, estenderás as tuas mãos, outro te cingirá e te levará para onde tu não queres. Disse isto, indicando com que gênero de morte havia (Pedro) de dar glória a Deus. Depois de assim ter falado, disse-lhe: Segue-me" S. João XXI.
Profetizado o martírio de São Pedro, o Evangelista interpreta (“Disse isto..”), e adiciona a ultima fala de Nosso Senhor. Este parágrafo possui uma conotação profética não só por significar o martírio de S. Pedro. Afinal, por que o Espírito Santo inspirou o Evangelista a escrever uma frase mais ou menos enigmática de Nosso Senhor sobre o martírio e, em seguida, a interpretação do Evangelista, quando Ele poderia tê-lo inspirado a simplesmente escrever a profecia do martírio, que é clara? Nada na Sagrada Escritura é por acaso. Consideremos a simbologia intricada na narrativa divina, mostrando que a frase continha um símbolo de um problema espiritual no Papado, pois o social já S. João o indicou (“gênero de morte..”)
"Mais moço", isto é, quando era a Igreja primitiva, cingia-se, dominava-se, e "ias aonde desejavas", isto é, era recebida bem em todos os lugares que guardavam a palavra, pregava temas cruciais. No entanto, ainda estava cingida, dominada por si e não pelo erro interno, uma falta de domínio do próprio raciocínio ou do orgulho. "Mas, quando fores velho", quando fores uma Igreja mais antiga, "estenderás as tuas mãos", voluntariamente fará isto, "outro te cingirá", outra fé que não a sua, outra doutrina que não a sua, "e te levará para onde tu não queres": para o martírio, para uma crise temporal, porque o espiritual já não regula o temporal, não "se cinge" pela doutrina da Igreja. Aonde "tu não queres" porque não era esta a intenção do alto clero quando estendeu as mãos em "estenderás as tuas mãos".
- Paralelos de episódios em que S. Pedro participa com eventos futuros
A crise no corpo místico
Paralelos baseados na afirmação de que o Evangelho possui a plenitude do sentido profético, isto é, todos os aspectos que exibem o esplendor desta plenitude precisam ocorrer.
Assim como S. Pedro negou, depois negou com juramento, e depois negou com juramento e maldições, a crise na Igreja, que tem o Papado como guia e cabeça, pode ser dividida em três: social (perseguição temporal), espiritual (heresias dentro da Igreja), e ambas, espiritual e social.
Assim como S. Pedro negou fora de onde estava o Senhor sendo julgado pelo sinédrio, depois negou com juramento ao entrar onde estava Nosso Senhor, e depois negou com juramento e maldições dentro de onde estava Cristo e sob Seu Divino olhar, haverá uma perseguição de fora, uma que virá de fora e entrará na Igreja, e uma de dentro e de fora.
Assim como a crise espiritual e social, cume de todas as perseguições, precisa estar presente somente com o Anticristo, tempo da plenitude da crise e perseguição da Igreja, ou não acontecerá crise até lá, ou acontecerá uma parcial, seja uma crise espiritual, seja uma crise espiritual e social em que uma destas crises estará mitigada, pois crises sociais já existiram antes.
Assim como a história sagrada do passado ensina as gerações futuras, as prefiguras de perseguições passadas, até a mais importante prefigura — a crise do tempo do segundo Pedro — ensinarão as gerações futuras sobre o tempo do Anticristo.
Assim como exerce maior encargo profético quem profetiza várias coisas ao mesmo tempo do que aquele que profetiza somente uma, a sequência de eventos narrados pelo Evangelho Sagrado profetizou, como livro Sagrado por excelência, um maior número de eventos do que se supunha.
Assim como as crises estão simbolizadas nas três negações de S. Pedro pela prefigura numérica, também o estão pelo conteúdo de uma das epístolas deste primeiro Papa, no qual trata de profecias, vinda de falsos doutores, fim do mundo, e coisas relacionadas com a prefigura do primeiro Papa no Evangelho.
Assim como as crises estão simbolizadas nas três negações de S. Pedro pela prefigura numérica, também o estão pelo simbolismo deste apóstolo, pelo simbolismo de sua negação, pelo simbolismo presente no perdão desta negação, e por outros meios que o futuro dirá melhor.
O arrependimento
Assim como S. Pedro é confirmado três vezes por causa de suas três negações, restaurando triplamente pelo perdão o vínculo com Deus, haverá na Era Cristã três grandes restaurações ligadas ao Papado: a ressurreição de Nosso Senhor, a restauração de uma crise enorme na Igreja, e o fim do mundo em que Nosso Senhor reinará Eternamente em novos céus e nova terra.
Nunca é demais ressaltar que a crise enorme da Igreja não é mesma crise do tempo do Anticristo, pois após esta a esfera temporal não é restaurada, e sim a honra, aparecendo o Filho do Homem para julgar os vivos e os mortos.
Adendo da 3ª edição: O subtópico a seguir.
As três sonolências de S. Pedro, e dos outros dois principais Apóstolos no Gethesemani, simbolizam as três negações da hierarquia eclesiástica
Por três vezes, Nosso Senhor ora ao Padre Eterno com a famosa prece: “se puderes, afastai de mim este cálice, porém, não seja feita a minha vontade, mas a sua”. Por três vezes, Ele flagra Seus Apóstolos dormindo. Analisemos estes eventos, prosseguindo com o paralelo sobre as três quedas da hierarquia eclesiástica (S. Pedro, a grande apostasia, o tempo do Anticristo), traçando um paralelo com as três orações, ocorridas por causa das três negações do primeiro Papa, segundo já notava Remigius D’Auxerre, relatado por Cornélio a Lapide em comentário a S. Mateus XXVI.
Tentativa prévia de concordância dos santos evangelhos sobre o evento:
S. Marcos XIV, 33-43, S. Mateus XXVI, 37-47, S. Lucas XXIII, 40-47
Levou consigo Pedro, Tiago e João (S. Marcos), os dois filhos de Zebedeu (S. Mateus); e começou a sentir pavor e angústia (S. Marcos), começou a entristecer-se e angustiar-se (S. Mateus). E disse-lhes: A minha alma está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai comigo (S. Mateus, S. Marcos). Tendo-se adiantado um pouco, prostrou-se por terra e pedia que, se era possível, se afastasse dele (S. Mateus, S. Marcos) aquela hora (S. Marcos). Disse: Abba, Pai, todas as coisas te são possíveis, afasta de mim este cálice; porém, não o que eu quero, mas o que tu queres (S. Mateus, S. Marcos). Depois voltou e encontrou-os dormindo. Disse a Pedro (S. Mateus, S. Marcos): Simão, dormes? (S. Marcos). Não pudeste vigiar uma hora comigo? (S. Mateus, S. Marcos). Vigiai e orai, para que não entreis na tentação. O espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca (S. Mateus, S. Marcos).
Retirou-se de novo pela segunda vez e orou (S. Mateus, S. Marcos), repetindo as mesmas palavras (S. Marcos), dizendo: Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, faça-se a tua vontade (S. Mateus). Voltando, encontrou-os outra vez a dormir porque tinham os olhos pesados (S. Mateus, S. Marcos). Não sabiam que responder-lhe (S. Marcos).
Afastou-se deles a distância de um tiro de pedra (S. Lucas), e orou terceira vez, dizendo as mesmas palavras (S. Mateus). Posto de joelhos, orava, dizendo: Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice; não se faça, contudo, a minha vontade, mas a tua. Então, apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava. Posto em agonia, orava mais instantemente. O seu suor tornou-se como gotas de sangue, que corriam até à terra (S. Lucas).
Tendo-se levantado da oração e indo ter com seus discípulos (S. Lucas) terceira vez (S. Mateus, S. Marcos), encontrou-os adormecidos pela tristeza. Disse-lhes: Por que dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação (S. Lucas). Dormi agora e descansai. Basta, é chegada a hora; eis que o Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos; eis que se aproxima o que me há de entregar (S. Mateus, S. Marcos).
Ainda ele falava (S. Mateus, S. Marcos, S. Lucas), quando chegou Judas Iscariotes, um dos doze... (S. Mateus, S. Marcos).
Referimo-nos a “x vez” tanto para a “x vez” da oração depois de achar S. Pedro e os Apóstolos em sono, quanto ao encontro do sono pela “x vez”.
Assim como Nosso Senhor, na primeira vez que encontrou Seus Apóstolos dormindo, indagou a S. Pedro: “Não pudeste vigiar uma hora comigo?”, também a promessa de fidelidade Petrina anterior se mostrou fraca, ausente de humildade.
Assim como Nosso Senhor, na primeira vez que encontrou Seus Apóstolos sonolentos, disse “o espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca” após contrastar a atitude com palavras anteriores de fidelidade, também o espírito de S. Pedro estava pronto para defendê-Lo, mas lhe faltava o reconhecimento da fraqueza de sua carne pecadora com a humildade de espírito, razão pela qual Deus confunde muitos daqueles com dons naturais.
Assim como Nosso Senhor, na primeira vez que encontrou os discípulos dormindo, repreendeu a S. Pedro “como a cabeça dos outros”, como conta Cornélio a Lapide, também o primeiro relaxamento do Príncipe dos Apóstolos acarretou o relaxamento de seus subordinados, os outros Apóstolos.
Assim como Nosso Senhor, na primeira vez que encontrou os discípulos dormindo, foi doce e suave na repreensão, como conta Cornélio a Lapide, “não os increpando por suas grandes promessas de fidelidade”, também o primeiro Papa, após a negação, converteu-se com o doce e suave olhar de Cristo após negá-Lo três vezes.
Assim como Nosso Senhor, quando inicialmente surpreendeu o sono dos Apóstolos, disse-lhes “vigiai e orai para não cair em tentação”, também o homem espiritual, tal como aqueles Apóstolos, precisa vigiar para que “sua grande bondade não tenha uma grande queda”, como diz Orígenes.
Assim como Nosso Senhor repetiu a oração da primeira vez na segunda e na terceira, também o primeiro sono foi um sinal de que a “cabeça” influencia todo o corpo, cuja influência se observou e se observará na segunda e terceira negação.
Assim como Nosso Senhor achou os apóstolos na segunda vez dormindo “porque seus olhos estavam pesados”, segundo conta S. Marcos, também a segunda “negação” da hierarquia eclesiástica será por excesso de peso dos prazeres do mundo.
Assim como Nosso Senhor nada os disse na segunda vez, segundo S. João Crisóstomo citado por Cornélio a Lapide (“em virtude de suas grandes fraquezas”, pois “foi uma noite selvagem”), também a segunda negação terá a mesma causa da primeira, a falta de vigilância, razão pela qual o Salvador não se repetiu.
Assim como Nosso Senhor topou com os apóstolos dormindo uma segunda vez, os quais “não sabiam o que responder”, segundo conta S. Marcos, também a segunda queda do alto clero não será capaz de resposta quando Deus quiser intervir na situação.
Assim como Nosso Senhor suou sangue na terceira oração, segundo defende o exímio exegeta Cornélio a Lapide, também o tempo da terceira prevaricação do alto clero, na época do Anticristo, será de uma aflição muito superior a todas as outras.
Assim como Nosso Senhor teve sua oração consolada por um anjo na terceira vez, também Deus enviará Seu mensageiro para consolar Seu Corpo Místico na destruição do Anticristo. Este mensageiro é melhor simbolizado por Elias ou Enoch ou por S. João Evangelista (que voltará ressuscitado, segundo opinião privada do cap. III, compartilhada por alguns).
Assim como Nosso Senhor, logo após afirmar “levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação”, disse para dormir e descansar na terceira vez que os encontrou dormindo, também a terceira apostasia virá após um auge da penitência, amor à Cruz e aborrecimento da carne (figurada pela terceira oração do Salvador, com suor de sangue, e pela terceira chamada à penitência), quando Deus dará um tempo de descanso.
Assim como Nosso Senhor mal disse para dormir e descansar na terceira vez e veio o traidor “quando Ele ainda falava”, ambos os eventos, a recomendação para dormir e descansar (figurada pela recompensa do trabalho alcançado no amor de Deus) e a vinda do traidor (figurada pelo Anticristo), estarão próximos. Só faltará a fé: “quando vier o Filho do homem, porventura haverá fé na terra?”.
- Profecias particulares reforçando a tese do “segundo Pedro”
Nossa Senhora em Fátima mostrou a visão do martírio de um Papa que interpretamos, no capítulo V, como o do Papa Santo da sexta Era, o segundo deste paralelo. Afinal, não morreu nenhum martirizado desde aquela mensagem (1917). Por outro lado, esta profecia não é coerentemente interpretada como se o Papa representasse a Igreja sofrida na crise do século XX, já que a visão profética se torna redundante, pois nesta se vê toda a comunidade de fiéis atrás do Pontífice, ou seja, algo que já representa a Igreja. O Santo Padre vai à frente guiando-A, apascentando o rebanho cordeiro.
Além de todas as outras profecias de santos e beatos que já mencionamos, convém colocar a interpretação do Venerável Pe. Holzhauser (século XVII) a uma parte do livro do Apocalipse, onde defende a existência de um último Papa chamado Pedro nos tempos do Anticristo que será martirizado também, dando lugar a um antipapa.
Cap.XIV do Apocalipse, Vers. 9-12 - "E um terceiro anjo os seguiu, dizendo em alta voz: Se alguém adorar a besta e sua imagem, e receber o sinal dela na fronte ou na mão, também este beberá do vinho da ira de Deus, lançado puro no cálice de sua ira, e será atormentado em fogo e enxofre diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro...
E o fumo de seus tormentos se levantará pelos séculos dos séculos, sem que tenham descanso algum, de dia ou de noite, aqueles que tiverem adorado a besta e sua imagem, e o que tiver recebido a marca de seu nome. Aqui está a paciência dos santos, que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus".
Venerável Pe. Holzhauser: "Este anjo será o último Papa, predecessor de Nosso Senhor Jesus Cristo em sua segunda vinda, e que também terá o nome de Pedro. Governará a Igreja nas maiores tribulações, na época do Anticristo. Clamará em alta voz contra este e seus adeptos. Condenará a heresia da vinda do falso Messias antes mesmo que o Anticristo entre na plenitude de seu poder" [1].
Notamos tão somente que o Venerável acredita que só o primeiro e o último Papa se chamarão Pedro, muito provavelmente por causa da lista dos Papas dita de S. Malaquias. Pelo o que explicamos até aqui, e em outros artigos sobre o Reino de Maria, a lista não se aplica a todos os Papas da Igreja, podendo ser aplicável ou não aos Papas até a vinda do Papa Santo no final da sexta Era (conforme explicado no começo do capítulo V).
Adendo da 3ª edição: adicionamos aqui uma hipótese final, uma vez que muitos dizem que o Papa vindouro será Pedro II, etc. Obviamente, se não tomaram a idéia do referido sacerdote alemão, afirmam isto sob sua influência marcante no espírito da Igreja. Ocorre que, principalmente após o Pontificado de João Paulo I, não se duvida mais que um Papa tome um nome composto. Como este trabalho se funda no vindouro Reino de Maria, é plausível e arquitetônico conjecturar que o próximo Pontífice tomará o nome de Pedro Maria, e assim seguidamente os pontificados posteriores tomarão Maria para compor seu nome Papal até o fim desta Era mariana, no tempo do Anticristo.
Próximo deste capítulo: A missão dos apóstolos dos últimos tempos descrita na Sagrada Escritura. Paralelos com a missão dos setenta e dois
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[1] Interprétation de l'Apocalypse" par le Vénerable Serviteur de Dieu Barthélemy Holzhauser, traduit du latin par le Chanoine de Wuilleret, Librairie de Louis Vives, Éditeur, Paris, 1856. Livro VI, Seção II, Cap. XIV e XV