As sete Eras cristãs simbolizadas na Escritura pelas sete falas de Nossa Senhora na Bíblia

Bodas de Canaã, por Giotto

Nossa Senhora de Caná, rogai por nós!

Para entender alguns conceitos mencionados aqui, recomendamos os seguintes artigos (clique):

Hipótese teológica sobre a vinda de S. João Evangelista ressurrecto no fim do mundo, pela Escritura e os Doutores da Igreja

A Escritura e os Doutores da Igreja dizem que Elias e Enoch virão no fim dos tempos na época do Anticristo

A divisão das Eras da Igreja. Apreciação das divisões de S. Agostinho, S. Boaventura e outros

Clique aqui para ler mais sobre o Grande Castigo e o Reino de Maria

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. IV)".

Anterior deste capítulo: Teoria do simbolismo-prefigurador da época de Cristo: o simbolismo do contexto da pregação Divina como prefigura de mudanças

Nesta primeira série do capítulo IV, tentaremos identificar paralelos de importantes eventos bíblicos com as sete Eras Cristãs, seguindo a ordem da hipótese do capítulo precedente. Ali a opinião deste singelo trabalho foi apresentada como régua, pois não só é auxiliada pelo tempo, como pelos séculos de tradição de santos e teólogos sobre o tema, que não é novo. 


Número da Era Cristã - Acontecimento importante da Era - Fala de Nossa Senhora

1 - Pentecostes - "Maria disse ao anjo; Como se fará isso, pois eu não conheço varão?" (S. Lucas I, 34)

A Virgem Maria, representando a Igreja nesta Era, diz que "não conhecia" varão", isto é, não via o Varão, Nosso Senhor Jesus Cristo, em corpo físico como antes. Nesta Era aberta por Pentecostes, Ele havia ressuscitado e ascendido aos céus. O sentido não é exagerado, pois "conhecer", na linguagem antiga, é sinônimo de avistar fisicamente, e por isso costumava ser empregado no sentido de relações conjugais.

Os Apóstolos, perguntando antes da ascensão se "porventura chegou o tempo em que vais restabelecer o reino de Israel?" (Atos I, 6) exibiam a mentalidade errada prevalecente, isto é, de que é preciso que haja algo físico (no caso, o Reino do Messias), traçando um belo paralelo com Nossa Senhora da Anunciação, a qual pergunta como se fará algo físico, já que ela vivia totalmente em um plano espiritual.

São João Eudes conta que quando Nossa Senhora meditou sobre a Virgem Mãe do Messias, quis ser escrava desta futura Virgem: neste momento aconteceu a Anunciação. Assim também se pode pensar que em Pentecostes, quando a Virgem Maria, pelas tantas reflexões que fazia, percebeu que o Espírito Santo devia vir sobre os Apóstolos, reuniu-os para rezar e pediu isso em suas orações, o que se deu. Daqui se reforça a tese de Plinio Corrêa de Oliveira de que as línguas de fogo deste milagre vieram primeiro sobre Maria e desta, aos Apóstolos. Outra harmoniza existe: assim como esta Era, significada pela fala, marca o início da vida de Nosso Senhor na terra que Se encarna no seio virginal de Maria, Pentecostes marca quando, também por Mãe de Deus, começa a pregação ou os Atos dos Apóstolos.

Vemos, também, no Evangelho de S. Lucas que o Anjo Gabriel reprime e deixa mudo Zacarias, que duvidou da anunciação que lhe foi feita: sua mulher idosa iria conceber um filho, João Batista. Zacarias também pergunta como se dará esse nascimento, já que sua mulher era, como ele, idosa. A Virgem Maria também pergunta, mas só Zacarias é reprimido, por quê? Porque o Anjo viu a falta de fé nas palavras de Zacarias, mas não nas de Maria. Portanto, esta fala encerra muita fé, e desta noção surge mais uma harmonia: assim como ali foi começo da fé Cristã, de modo análogo Pentecostes foi o começo da Igreja na Era Apostólica. Nosso Senhor havia anunciado a vinda do Paráclito, e a Virgem Maria, com muita fé, estava presente em oração com os Apóstolos na hora da vinda Dele.

2 - Destruição de Jerusalém - Então disse Maria; "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra". E o anjo afastou-se dela. (S. Lucas I, 38).

A fala é uma aceitação do anúncio da Divina Encarnação conforme o Anjo Gabriel: "o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará sobre a casa de Jacó eternamente, e o seu reino não terá fim." S. Lucas I, 32-33. São Basílio comenta, nesta parte, que o Reino judeu havia passado para Herodes, por isso trata-se de um Reino espiritual, daí, em seguida, lemos: "casa de Jacó eternamente". Isso é correto, mas uma hora o poder romano então reinante iria acabar, e o Corpo Místico de Cristo teria também o poder temporal. Infelizmente, não viu em vida São Basílio a Idade Média para entender a aquisição do poder temporal pela Igreja. Se a casa de Jacó era de Cristo, então o templo havia de lhe pertencer, ou acabar, o que aconteceu na destruição do templo em 70 d.C. conforme predito pelo próprio Cristo.

Alguns podem argumentar que sendo uma antítese da história da Igreja a fala não a poderia significar, porém, isso não é razoável, porque a fala confirma a missão da Igreja, confirma o testemunho de Cristo. "Faça-se em mim segundo a tua palavra". Fez-se a Igreja, e destruiu-se o Templo, e confirmou-se a missão de Cristo, e a da Igreja, acabando com a judaísmo de uma vez por todas, que a partir daí tornou-se rabínico, com o povo judeu disperso.

Esta fala também é uma resposta ao mistério explicado que antes Nossa Senhora quis saber, isto é, o mistério de Cristo, que seria negado e crucificado pelos judeus que deveriam aceitá-Lo, porque Ele próprio viria estabelecer um Reino espiritual em testemunho ao povo eleito, isto é, a Igreja, Seu Corpo Místico. Assim, o templo estava na abominação da desolação, e precisava ser destruído. Nossa Senhora é a Igreja que aceita Cristo, antítese daquilo que foi decisivo para aqueles que sofreram na destruição do templo.

3 - Concílio de Nicéia - Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel (Lucas 1,40). 

"A casa de Zacarias" significa simbolicamente a casa de um homem infiel, não porque Zacarias não tivesse fé ou a tenha perdido depois. No entanto, como duvidou do anúncio do Anjo e ficou mudo ele representa, nesta dimensão exegética, "aquele que não teve fé". Portanto, Nossa Senhora, a que teve fé, visita a morada do "infiel". Simbolicamente é a visita da fé católica ao povo pagão, que ocorreu em maior grau nessa Era, pois um Imperador Romano chegou a promulgar a religião Católica a oficial do Estado. Nessa Era, ocorre o batismo de Clóvis e de seus Francos, que formariam a gloriosa nação francesa medieval.

Maria Virgem passa exatamente três meses com Isabel, o número exato da Era. Quando se terminam os três meses, volta para casa (S. Lucas I, 56), porque a Era terminou. E por que se foi? Porque nasceu o filho de S. Isabel, João Batista, o precursor de Cristo. Ora, Cristo, como vimos, abre a sexta Era antiga, que espelha a sexta Era cristã, na qual predominará o Reino de Maria. O anunciador do Reino de Cristo nasce, mas qual é a época anunciadora (ou prefigura) do Reino de Maria? A Idade Média. A Mãe de Deus se vai porque acabou a terceira Era: nasceu a quarta Era, meramente uma prefigura do Reino de Maria. Até o mês da gravidez de S. Isabel indica essa relação, já que ela estava no sexto mês quando a Virgem Maria engravida: o Reino de Maria pertence à sexta, e o Reino de Cristo, à sexta antiga, durando até o fim do mundo desde a vinda do Espírito Santo, início da Era Cristã. Admiremos aqui a grande glória do Senhor, já que até a simbologia numérica falam de Sua magnificência. Não por acaso o Apocalipse XXII diz que "Se alguém tirar qualquer coisa das palavras da profecia deste livro, Deus lhe tirará a sua parte no livro da vida".

S. Isabel também é idosa, lembramos, o que parece significar a decadência do Império Romano, já velho, pronto para ser substituído pelo Império Romano espiritual, dando à luz a Idade Média (simbolizada em S. João Batista). Entretanto, não sem antes receber a saudação santificante da Mãe de Deus cheia do Espírito Santo. É a Virgem Maria quem santifica a Era seguinte. Analisemos bem: S. Isabel percebe o filho santificado, porém, não é quem recebeu a grande graça da saudação, por causa da ordenação das Eras.

Alguém poderia objetar dizendo que a saudação não foi uma fala, mas um aceno, porque não se sabe que tipo de saudação era. Porém, o fato é que ocorreu uma saudação e de perto, porque a Virgem Maria entrou em casa de Zacarias, e "apenas Isabel ouviu a saudação de Maria" (S. Lucas I), o que indica uma fala, de fato, mas desconhecida. Assim, a saudação Mariana não é especificamente definida, o que bem simboliza a terceira Era, pois o indefinido mostra como foi mais ou menos indefinida a passagem da terceira para a quarta Era, sendo muito interligadas, tanto pela história, com o Império Romano caindo e ao mesmo tempo dando origem ao Medievo (quando Roma, a espiritual e eterna, fica mais forte), tanto pela simbologia do contexto da fala, evidente por S. Isabel (símbolo da terceira Era) grávida de S. João (símbolo da Era seguinte).

4 - Idade média - E Maria disse: Minha alma glorifica o Senhor, e o meu Espírito exulta em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humilhação de sua serva; portanto, eis que, de hoje em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada. Porque o Todo-Poderoso fez em mim grandes coisas, o seu nome é santo. E a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. Manifestou o poder do seu braço; dissipou aqueles que se orgulhavam com os pensamentos do seu coração. Depôs do trono os poderosos, e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu vazios os ricos. Tomou cuidado de Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia; conforme prometera a nossos pais, Abraão e à sua posteridade para sempre. (S. Lucas I, 40).

Nossa Senhora glorifica o Senhor: essa época prefigura o Reino de Maria. Nossa Senhora aparece e dá o Escapulário do Carmo, o Rosário, e aparece diversas vezes por causa da fidelidade do povo. Então, "de hoje em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada" profetiza. A Idade Média, por assim dizer, firma a devoção à Nossa Senhora. "Depôs do trono os poderosos", isto é, os soberbos e os que não temiam a Deus, "e elevou os humildes", os nobres medievais, em boa parte santos, católicos, servos da Igreja. "Tomou cuidado de Israel", a Igreja Católica, a verdadeira Israel, é bem cuidada nesta época, "conforme prometera a nossos pais, Abraão", porque Abraão, pela fé, tornou-se bom aos olhos do Senhor: ele era um pagão no qual foi feita a posteridade das tribos de Israel, o povo eleito, prefigura dos católicos que entraram na Igreja nessa Era. Abraão representa aqui o povo gentio que, pela Fé, entra em aliança com Deus.

Pode-se objetar que esta Era, pelas palavras de Nossa Senhora, é mais gloriosa que a sexta Era, representada pelo pedido de vinho de Maria ao Senhor Jesus. No entanto, vê-se que é o oposto, porque na quarta Era a Mãe do Senhor glorifica a Deus por causa dos benefícios concedidos, ou seja, há uma continuidade das antecedentes Eras até o Medievo. Ela reza, mas por gratidão, ao contrário do episódio das bodas, no qual ela pede uma intervenção de Deus explícita, ela roga por um milagre, por assim dizer, e a sexta Era é marcada por este aspecto milagroso. Um milagre evidencia uma presença maior de Deus. Ele age mais.
  
5 - Bagarre no aspecto de decadência que culmina com o Castigo - Quando eles o viram, ficaram admirados. E sua mãe disse-lhe; Filho, que nos fizeste? Eis que teu pai e eu te procurávamos, cheios de aflição (São Lucas II, 48).

Essa parte é belíssima: apesar de toda aflição dos fiéis, Nosso Senhor ainda estará na casa do Pai, a Sua Igreja. Se alguém se perder de Cristo nesse tempo, ainda O encontrará na Igreja. Isto é, a profecia "a caridade de muitos esfriará" em S. Mateus XXIV é significada também nesta parte, porque o cisma é um pecado contra a caridade, e nesta parte se entende que apesar da aflição, ainda não haverá motivos para cisma.

A aflição de Nossa Senhora é claramente a aflição da época de Bagarre ou Castigo, conforme defendido desde o começo deste trabalho, terminando no começo da sexta Era. O menino Jesus não é encontrado sequer entre os parentes, simbolizados pelos mais próximos de Nossa Senhora, porque Ele estará na Igreja, ou seja, não é em uma pessoa determinada que se encontrará a fé, mas na Igreja, na sua comunidade fiel. Eis um erro dessa época sendo combatido: a heresia protestante. O evento também reprime aqueles que acham que só uma pessoa ou grupo manterá a fé, porque a Igreja será conservada com Cristo, mesmo que sejam pouquíssimos. O erro jansenista e neojansenista é denunciado.

Adendo da 3a edição: antes existia aqui um parágrafo mostrando como o fato do menino Jesus ser encontrado três dias depois não indica que os três dias de escuridão virão nesta Era. Entre as razões dadas, uma extrapolação sobre uma futura revolução saía do tema e foi retirada. O resto foi revisto e até reescrito para ser entendido, conforme segue.

Vejamos esse simbolismo considerando como reagiu a Sagrada Família naquele episódio, indo em direção ao templo, e consideramos que também nesse espírito houve três grandes fases de reação na quinta Era: a Contra-reforma, o tempo de Pio IX e a última vindoura fase, conforme sustentamos, a das prefiguras dos três Apóstolos do fim do mundo (Elias, Enoch, João Evangelista). Outra concordância numérica é a das três revoluções: a protestante, a francesa e a comunista. Segundo temos argumentado, só depois das três terminarem completamente (nas tendências, idéias e fatos) é que se acabará a aflição.

6 - Restaurador (restauração) - Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe; Eles já não têm vinho (S. João II, 3).

Como argumentado antes, Nossa Senhora pede um milagre para esta Era. É o grande milagre da graça do Grand Retour (vista no capítulo II, é a graça necessária para a Bagarre e o Reino de Maria). Vejamos que este milagre é feito em um final de festa, quando os convidados todos já beberam vinho, e "então lhes apresenta o inferior" S. João II, 10: os convidados já mais ou menos anestesiados pela bebida, tendem a não perceber o gosto inferior. Então, a festa que Cristo faz parte parece chegar no fim, mas Ele faz um milagre para aumentar a qualidade da festa (figura da qualidade do vinho) de antes, ou seja, tudo que foi antes agora será melhor devido ao grande milagre por intercessão de Nossa Senhora.

Nessa fala está a prévia da manifestação do poder de Cristo, do começo da obra Dele no mundo. Nossa Senhora diz que já não tem vinho, porém o vinho somente estava em falta: "Et deficiente vino, dicit mater Jesu ad eum : Vinum non habent". Portanto, a falta de vinho é tomada como se não houvesse vinho, porque no começo desta Era a falta de vinho (sangue de Cristo), representante do poder Dele, daria a impressão de não haver mais vinho, não haver mais manifestação visível do poder Dele.

O começo da atividade milagrosa de Cristo na terra representa justamente a sexta Era porque ali fica evidente que Jesus é Deus. Antes Ele existia, mas não fazia milagres. Antes a Igreja de Cristo existia, mas não com os milagres preparadores do Reino de Maria. E isto é feito em um casamento, porque é um sacramento que possibilita a união carnal, representante desta. Ora, o Reino de Maria é esta união terrestre, a concórdia pública entre a Igreja de Cristo e o mundo (e não o adultério constante que vemos hoje!). É o Seu Reino Social na terra. Ademais, a Mãe de Jesus foi a convidada, segundo São João Crisóstomo. Jesus e os Apóstolos foram por causa do convite à Maria Santíssima. Todo aquele que invoca Maria, faz entrar Jesus.

Estas bodas se celebraram "três dias depois" (S. João II, 1) do encontro de Jesus com Natanael, "verdadeiro Israelita, em quem não há dolo" (S. João I, 47). Ora, Natanael simboliza a fidelidade em Israel corrompida pelos maus costumes, e três dias depois são os três dias da escuridão em símbolo numérico. Assim, mais um motivo para afirmamos que, apesar de haver "três dias" no contexto da quinta fala, não significavam aqueles dias de castigo.

O profetismo nesse episódio também foi entrevisto por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira: "Quando se leu, há pouco tempo atrás, no Evangelho de um domingo, a cena das bodas de Caná, me ocorreu subitamente, que aquele episódio poderia ter qualquer coisa de profético e que aquele episódio era exatamente o episódio da Revolução que chega ao seu auge e do Reino de Maria que se implanta.

Lembrai-vos dos vários pormenores desse episódio. Em primeiro lugar, uma crise: bebeu-se demais e o vinho faltou. Então, uma situação de apuro e de angústia. O dono da casa não tem mais vinho. Então, um apelo a Nossa Senhora e Nossa Senhora que pede o auxílio de Nosso Senhor.

Depois, vem de Nosso Senhor, após uma aparente recusa, em que Ele diz que ainda não era a hora de operar os milagres, vem uma concessão e um milagre estupendo, operado antes da hora porque Nossa Senhora pode tudo. Ela conseguiu Dele que fizesse um milagre e conseguiu Dele que operasse um milagre antes mesmo até da hora em que deveria começar os seus milagres. Nós não temos exatamente isso agora? Nós não temos uma situação de angústia? Não se pode dizer que o homem de hoje está como os convidados daquela festa? Falta-lhe o vinho generoso da virtude, falta-lhe o vinho generoso da Fé, loucamente ele depredou tudo isso, esbanjou tudo isso, recusou tudo isso. Nessa situação de crise, vem Nossa Senhora e diz ao seu Divino Filho: "Eles não têm vinho; eles não tem o precioso sangue, eles não têm as graças na superabundância desejadas para poderem mudar de situação. E Nosso Senhor lhe diz irado com os homens: "Que há de comum entre vós e eu, de um lado, e eles? Minha hora não chegou".

Mas Nossa Senhora, que diz tranquila aos executores das vontades do amo: "Fazei tudo o que Ele vos disser". Ele vem e muda a água em vinho. Ele muda uma bebida comum, banal, inadequada para as bodas, num vinho maravilhoso e no melhor vinho das bodas. O encarregado diz ao dono da casa: "Todos consomem no começo o melhor vinho, tu o deixastes para o fim".

Não é um símbolo da História do mundo? Um mundo velho, um mundo gasto, um mundo roto; a podridão das nações pagãs, junta à podridão das nações neo-pagãs. Mas pelo pedido de Nossa Senhora, há uma transmutação. Há um Grand-Retour, há uma volta de todas as almas contaminadas pelo fogo que Nossa Senhora acendeu nesse movimento, e quiçá em movimentos como este, e então não só a água se transforma em vinho, mas se transforma no melhor vinho da História. Transforma-se naquele Reino de Maria dos Apóstolos dos últimos Tempos cuja grandeza São Luís Grignion de Montfort descreveu profeticamente em palavras que não podem ser repetidas, podem apenas ser citadas, e que eu não cito porque vós as conheceis, estão gravadas em vosso coração" [1].

7 - Tempo do Anticristo - Disse, então, sua mãe aos serventes; fazei tudo o que ele vos disser. (S. João II, 5)

Aqui significa o tempo do Anticristo, e o fim do Reino de Maria. Nossa Senhora dá uma ordem aos serventes, simbolizados pelos servos dEla, pois são servos do casamento, símbolos da união da civilização com Cristo. Parece então, que no fim de tudo, com o papel de Maria sendo cumprido, ela quer somente que seus devotos façam tudo conforme a palavra de Deus, tudo conforme foi feito até então, que dêem atenção ao conjunto da obra de Cristo na história, porque chegou a hora dos servos encherem de água até a borda, até não caber mais, por já não cabe mais a iniquidade, está para ser servida aos corvos, e para isso, com a cooperação dos servos, Cristo enche de vinho, o vinho que faltava para completar o majestoso conjunto da Igreja, o conjunto dos santos.

Entretanto, Nossa Senhora não suplica o milagre, só pede aos servos que obedeçam Nosso Senhor, portanto, essa fala se relaciona mais com a ação dos servos perante as palavras de Cristo. O Anticristo é simbolizado também pela água que é substituída pelo maravilhoso vinho do Senhor.

Havia "seis talhas de pedras, preparadas para a purificação judaica" S. João II, 6. Foi dessas talhas que Cristo operou o milagre, porque as talhas representam o povo judeu que irá se converter e purificar com a pregação de Elias no fim do mundo, como sustentam a maioria dos Doutores da Igreja. E "levavam cada uma duas ou três metretas" por causa das três testemunhas do apocalipse no fim do mundo (Elias, Enoch e João Apóstolo), que parecem duas, mas na verdade são três. Ou seja, não é um erro de cálculo do Santo Evangelista João ou falha de memória escrever "duas ou três", e sim um sentido simbólico oculto profundamente místico.

Próximo deste capítulo: As sete Eras cristãs simbolizadas nas sete falas de Cristo na Cruz
 


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[1] Encerramento do Congresso L.A.E.S.A., 29 de janeiro de 1967, Domingo