S. Hermas de Filipópolis vê as Eras da Igreja, a conversão mundial, e alerta sobre a corrupção dos chefes da Igreja

Para entender alguns conceitos aqui expostos, sugerimos a leitura prévia:

A Teologia da História prova a vinda do Reino de Maria, por Plinio Corrêa de Oliveira em 1971

A vinda do Reino de Maria provada por Teologia da História, segundo o Pe. Antonio Vieira 

As sete Eras cristãs simbolizadas na Escritura pelas sete falas de Nossa Senhora 

Clique aqui para ler mais sobre o Castigo Mundial e Reino de Maria.
 

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. V)".

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Aparição e profecias em Fátima foram previstas cinco séculos antes

Escrito por São Hermas de Filipópolis, “O Pastor de Hermas” é normalmente considerado de autoria do irmão do Papa Pio I (142-154) em várias fontes antigas ainda do século II e III, e foi condenado como apócrifo pelo Papa Gelásio I no ano 500 A.C., dado que era considerado parte das Sagradas Escrituras até por santos como S. Irineu de Lyon e S. Cipriano de Cartago, o que denota a fama de inspirado que tinha o livro. Outros como S. Jerônimo não o incluem na Bíblia, e S. Agostinho e S. Ambrósio nem o citam [1]. Concordamos com o historiador P. Schaff que o livro provavelmente foi passado oralmente para Hermas, pelo seu pai ou avô, este o verdadeiro São Hermas (com mesmo nome) [2]. Tanto é assim que muitos o consideram inspirado e em uma das visões o autor é instruído a passar o livro a Clemente, identificado como o Papa Clemente I (92-99), na época talvez Papa ou ainda Bispo. São Hermas é, de acordo com Orígenes, um dos setenta apóstolos que foi saudado por São Paulo (Rm 16, 14). Os Santos que o citaram como se fosse Bíblico já nos indica que é um livro daquele tempo ou pouco posterior.

O livro é bonito e merece ser lido todo, mas aqui pulamos várias partes das visões que tratam da questão das virtudes ou que explicam parte das visões relacionadas com os bons e maus católicos, etc. Nossa exegese visará mostrar quão valoroso é o livro. Colocamos as partes do texto em negrito, precedida pela numeração dos capítulos.

10 - Com efeito, a torre estava sendo construída em forma quadrada pelos seis jovens que tinham vindo com ela. Outros milhares e milhares de homens carregavam as pedras, uns do fundo da água, outros da terra, e as entregavam aos seis jovens, que as recebiam e construíam (...).

11 - A torre que viste em construção, sou eu mesma, a Igreja, que viste agora e antes. Pergunta o que desejas a respeito da torre: eu te revelarei, para que te alegres com os santos (…).


A mulher que fala a S. Hermas é a Igreja, a qual podemos identificar, mutatis mutandi, com Nossa Senhora, visto o livro do Apocalipse (Cap. XII), que fala de uma mulher com o seu filho, o Filho de Deus, que é perseguida pelo dragão, etc. Essa parte costuma ser associada com a Igreja e com Nossa Senhora. Há razão nos dois sentidos, não porque a Virgem Maria seja a Igreja (Corpo místico de Cristo), mas sim porque ela é o protótipo de um Cristão, ela é dispensadora de todas as graças, medianeira universal por mandato de Cristo. Outro motivo é que essa visão é muito parecida com a de Fátima, a estrutura segue igual: visão, explicação, e diálogo do vidente com a mulher.

Eu
lhe perguntei: Senhora, por que a torre está construída sobre as águas? Ela respondeu: Já te disse que és curioso a respeito das Escrituras e pesquisas com cuidado. Pesquisando, encontras a verdade. Ouve porque a torre foi construída sobre as águas: é porque vossa vida foi salva pela água e ainda o será. A torre foi construída pela palavra do Nome todo-poderoso e glorioso, e é sustentada pela força invisível do Senhor.

É o batismo que a Igreja reputa necessário para a salvação. Veja que a mulher diz que se S. Hermas olhasse nas Escrituras com atenção veria todas essas coisas. Ela afirma que aquilo está contido , portanto, parece que o pprio texto se diz fora da Escritura (apócrifo). Além disso, mostra algo que já sustentamos: todas as interpretações sobre o futuro saem de lá, tanto as nossas, quantos as outras. 

12 - Então continuei: Senhora, que coisa grande e admirável! Senhora, quem são os seis jovens que constroem? (Ela respondeu:) São os santos anjos de Deus, criados antes de todos. O Senhor confiou-lhes toda a sua criação, para desenvolvê-la, construí-la e governá-la. É por meio deles que a construção da torre será terminada (...).

A mulher revela que os seis anjos criados antes de todos são os que constroem a Igreja, e é por meio deles que Ela será terminada. Fica claro a idéia das seis Eras cristãs, sendo a sexta a plenitude da Igreja na terra, a consumação Dela como dizia o Pe. Antônio Vieira. Por que não sete? No sétimo dia Deus descansou das obras que foram completas em seis dias, na sétima Era antiga Cristo expirou na Cruz: "tudo está consumado", e depois disso só depois de sete vezes sete dias (49 dias) veio Pentecostes, e a primeira Era cristã começou.

E quem são os que carregam as pedras? (Ela respondeu): Também eles são anjos de Deus, mas os seis primeiros são superiores a eles. Quando a construção da torre estiver terminada, eles se alegrarão todos juntos ao redor dela, e glorificarão o Ser, por ela ter sido terminada. 

Os seis são maiores porque são os anjos das Eras, eles presidem sob coisas maiores, sob a história da Igreja naquela Era. Os outros anjos parecem ser os anjos da guarda de cada um.

Depois dessas explicações o texto explica as sete mulheres em volta da torre, que são as virtudes, as pedras, que se dividem em vários tipos: as que são jogadas longe, as que tem furos e rachos, as bem talhadas, as que vem do abismo, etc. Todas as pedras representam os caminhos do homem ao seu destino eterno, seja o martírio, a apostasia, a tibieza, a santidade, etc.

16 -
Perguntei-lhe ainda sobre os tempos, para saber se já havia chegado o fim. Ela, então, gritou em voz alta: Insensato, não vês que a torre ainda está em construção? Quando estiver terminada, então chegará o fim. E ela será terminada logo. Não me perguntes mais nada. Basta a ti e aos santos lembrar-vos disso e renovar vossos espíritos. Mas não é somente para ti que tudo isso foi revelado: deves torná-lo conhecido de todos, em três dias. Em primeiro lugar, és tu que deves refletir. Hermas, eu te ordeno repetir literalmente aos santos todas as palavras que te vou dizer, para que, depois de tê-las ouvido e observado, eles sejam purificados de seus pecados, e tu com eles.


A torre não foi completada: as Eras não se completaram, a Igreja não chegou na plenitude. Por que em "três dias"? Parece indicar os três dias de escuridão que abrirão o Reino de Maria, como falamos nos capítulos precedentes, embora a sexta Era comece antes disso. Esses dias são parte do Castigo final, assim, antes essas coisas precisam estar reveladas, mas não só, porque isso precisa ser "conhecido de todos", isto é, a pregação profética do Papa Santo e seus apóstolos, também chamado por alguns de grande aviso, e que está interligado, naturalmente, com a missão desse Papa.


Depois disso a mulher, a Igreja, dá alguns conselhos e advertências iniciais, falando que foi misericordiosa, e passa a falar dessas palavras que manda S. Hermes repetir literalmente a outros, porque são para purificação, como dito. Ora, purificação é sempre de algo, então simboliza os pecados específicos que necessitam ser purificados nesse tempo quando esta revelação será conhecida de todos, como a mulher diz.

17 - Alguns, de fato, pelo excesso no comer, acabam por enfraquecer o corpo e minar a saúde. Outros, que não têm o que comer, vêem a saúde arruinada pela insuficiência de alimentos e o corpo se arruína. Essa intemperança é danosa para vós, para vós que possuís e não repartis com os necessitados. Vede o julgamento que está para vir. Vós que tendes muito, procurai os que têm fome, enquanto a torre não estiver terminada, porque, depois de terminada, ainda que quisésseis fazer o bem, não teríeis mais ocasião. Atenção, portanto, vós que vos orgulhais de vossas riquezas, para que os necessitados não gemam e o gemido deles chegue até o Senhor, e sejais excluídos, junto com vossos bens, fora da porta da torre.

A partilha é necessária nesse tempo de Castigo, porque nesse tempo não haverá uma sociedade normal, mas em convulsão. Então, situações emergenciais virão, e a caridade principalmente será requerida. Naqueles tempos, "a caridade de muitos esfriará", disse o Senhor.

Eu me dirijo agora aos chefes da Igreja e àqueles que ocupam os primeiros lugares. Não vos torneis semelhantes aos envenenadores. Eles levam seus venenos em frascos. Vós tendes vossa poção e veneno no coração. Estais endurecidos, recusais purificar vossos corações para temperar, com o coração puro, vosso pensamento na unidade, a fim de obter a misericórdia do grande Rei. Atenção, portanto, meus filhos, para que essas divisões não tirem a vossa vida. Como pretendeis instruir os eleitos do Senhor, se vós mesmos não tendes instrução? Instruí-vos, portanto, uns aos outros, e conservai a paz mútua, a fim de que também eu, apresentando-me alegre diante do Pai, possa falar favoravelmente a respeito de todos ao vosso Senhor [3].

A mulher fala aos chefes da Igreja: eles têm "veneno no coração". É uma clara alusão à Crise na Santa Igreja abundante de maus sacerdotes. A mulher também fala da temperança, algo certamente ausente nos movimentos neo-pentecostais e tribalistas que surgiram dentro da Igreja, e que fora, na sociedade secular, é quase onipresente, seja em estilos musicais, opções de entretenimento, banalização do sexo, entre outras coisas.

Que "grande Rei" é esse? A princípio parece óbvio ser o filho de Davi, Nosso Senhor Jesus Cristo. Por outro lado, tomando a profecia em um segundo plano, pode ser tanto o Papa Santo, que é Rei acima de todos, porque é Rei espiritual, quanto o Grande Monarca que virá junto. Ambos terminarão a Crise desses tempos, engendrando o Castigo merecido. 

94 -
"Senhor, explica-me agora a respeito das montanhas. Por que são tão diferentes entre si e suas formas variadas?" Ele respondeu: "Escuta. Essas doze montanhas são as doze tribos, que habitam o mundo inteiro. O Filho de Deus lhes foi anunciado por meio dos apóstolos." (Eu pedi): "Porque as montanhas têm formas variadas entre si? Explica-me, senhor." Ele respondeu: "Escuta. Essas doze tribos que habitam o mundo inteiro são doze nações. Elas são diferentes no sentimento e no pensamento. Assim como são diversas as montanhas que vês, também o são as qualidades do pensamento e do sentimento das nações. Eu te explicarei, porém, o comportamento de cada uma em particular." Eu pedi: "Senhor, explica-me primeiramente porque, apesar da diversidade dessas montanhas, as pedras, quando colocadas na construção, se tornaram brilhantes e com a mesma cor branca, como as pedras que subiram do abismo." Ele me respondeu: "E porque todas as nações que habitam debaixo do céu, tendo ouvido e acreditado, foram chamadas com o nome do Filho de Deus. Depois de terem recebido o selo, tiveram todas um só sentimento e um só pensamento, uma só fé e uma só caridade. Com o nome levaram também os espíritos das virgens. Por isso, a construção da torre tornou-se de uma só cor, brilhante como o sol. Mas, depois de terem entrado para o mesmo lugar e terem formado um só corpo, alguns deles se contaminaram, foram excluídos do povo dos justos e se tornaram como antes, ou talvez piores.

As doze montanhas dessa outra visão se explica notando a relação com as doze tribos, o que se coaduna com a nossa idéia, já exposta em artigos precedentes: elas representam nações diversas, temperamentos diversos.

Por representarem a universalidade, os profetas falaram da volta das tribos à Israel, coisa que nunca aconteceu com as antigas tribos, exceto as do Reino de Judá. Mas se falava da universalidade que elas representavam, falava-se das tantas nações e povos que irão formar o Reino de Maria. Por isso, nessa parte da visão lemos que elas receberam "o selo, tiveram todas um só sentimento e um só pensamento, uma só fé e uma só caridade". O selo é o batismo, o sentimento é o sentir da Igreja, o pensamento é a intenção, a fé é a Católica, pois a caridade é o oposto do cisma, a união de todos na Santa Igreja. 

A última frase, que menciona os que se contaminaram, simboliza a perversão das tribos de Israel, como naqueles tempos próximos do exílio. Por isso, o capítulo seguinte indica a purificação conforme interpretamos.

95 -
"Senhor, como puderam tornar-se piores, depois de conhecer a Deus?" Ele respondeu: "Aquele que não conhece a Deus e pratica o mal, merece alguma punição por seu mal. Contudo, aquele que conhece a Deus não deve praticar o mal, e sim o bem. Se aquele que deve praticar o bem, pratica o mal, não te parece que comete erro maior do que aquele que não conhece a Deus? Por isso, aqueles que não conhecem a Deus e praticam o mal, são condenados à morte. Mas os que conhecem a Deus, que viram sua grandeza, e ainda praticam o mal, serão duplamente castigados, e morrerão para sempre. É desse modo que a Igreja de Deus será purificada. Viste essas pedras tiradas da torre, entregues aos espíritos maus e rejeitadas dela. Aqueles que tiverem sido purificados, formarão um só corpo. Desse modo, a torre, depois de purificada, ficou aparentemente como de uma só pedra. Igualmente acontecerá com a Igreja de Deus, depois que for purificada e forem expulsos os maus, os hipócritas, os blasfemadores, os vacilantes e os que tiverem praticado todo tipo de mal. Depois da exclusão deles, a Igreja de Deus será um só corpo, um só sentimento, um só pensamento, uma só fé, uma só caridade. Então, o Filho de Deus se alegrará e se regozijará com eles por ter encontrado puro o seu povo." Eu disse: "Senhor, tudo isso é grande e glorioso" [4].


Aqui os que não conhecerem a pregação universal do Papa Santo e fizerem o mal nessa época serão mortos também, porque o mundo inteiro será purificado. É preciso notar que toda a profecia tem sentido múltiplo, pois essa fala, também, do Juízo Final.
 
Próximo deste capítulo:
S. Eduardo rei profetiza a apostasia e conversão da Inglaterra "sem quaisquer assistências nacionais", quando então dará "abundantes frutos"

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[1] “Is the Shepherd of Hermas Inspired Scripture?”, Spotlight Ministries, Vincent McCann, 1998. Acessado em http://www.spotlightministries.org.uk/hermas.htm  
[2] Philip Schaff, Fathers of the Second Century: Hermas, Tatian, Athenagoras, Theophilus, and Clement of Alexandria, introduction to "the Pastor of Hermas". Autor protestante.
[3] O Pastor de Hermas, visão 3. Disponível em https://docs.google.com/document/d/1nswXJeOCDDhpkzGUccOMd-jIYquSY14wLWj0_ZmV5RE/edit
[4] Idem. Parábola 9.