Marie des Vallées (séc. XVII) prevê uma grande tribulação, a vinda de maus sacerdotes, o fim de tudo isso e uma grande graça

Marie des Vallées
Peçamos privadamente a intercessão de Marie des Vallées (1590-1656), enquanto a Santa Igreja não autoriza seu culto público.

Extraído de "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte I, 3a edição, Cap. V)".

Anterior deste capítulo:
Madre Magdalena de la Cruz profetiza a conversão da China, a destruição do islamismo, a paz universal
 

Para entender alguns conceitos aqui expostos, recomendamos a leitura
:


São Luís Maria Grignion de Montfort profetiza o Reino de Maria e os apóstolos dos últimos tempos

São Luís Maria Grignion de Montfort profetiza a abominação da desolação no lugar santo, e a guerra geral

Beato Francisco Palau prevê a vinda de novos e últimos apóstolos, junto com o restaurador

Venerável Holzhauser profetiza a vinda do Papa Santo, do Grande Monarca, e do Grande General, que extirparão as heresias e o islamismo


Revelação a S. João Bosco sobre a punição da imoralidade, do laicismo e, enfim, o triunfo de Maria


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Marie des Vallées (1590-1656), foi uma camponesa, conhecida como a "santa de Coutances", ou "beata de São João Eudes". Esta profecia é uma inclusão da terceira edição.


Maria des Vallées ainda não foi canonizada pela Igreja, mas a canonização de São João Eudes, apóstolo da Normandia, constitui uma confirmação não só de sua santidade, mas também da veracidade das suas revelações, sempre reforçada pelo santo. Também o Barão de Renty escreveu sobre ela.

Alguns detalhes de sua vida: suspeita de ser feiticeira, e também de ter sofrido feitiçaria, foi estigmatizada e os sinais das chagas dolorosas foram visíveis, segundo São João Eudes, “durante dezenove anos e cinco meses”. Muito devota do Santo Rosário, ela decidiu “sofrer as penas do inferno” e oferecer seus padecimentos “para a salvação da humanidade e a destruição do pecado”. Em 1641 S. João Eudes entra em sua vida, a pedido do Bispo de Coutances, que o queria para estudar o caso.

Nosso Senhor Jesus Cristo uma vez lhe disse que “há três dilúvios, todos os três tristes, e que são enviados para destruir o Pecado. O primeiro dilúvio é o do Pai eterno, que foi o dilúvio de água; o segundo é o do Filho, que foi o dilúvio de sangue; o terceiro é o do Espírito Santo, que será um dilúvio de fogo”.

A frase lembra uma frase do frade franciscano medieval Joaquim de Fiori sobre o Reino do Espírito Santo, mas é preciso lembrar que o milenarismo não nasce com essa simples divisão em Eras, e sim com os ditos "franciscanos espirituais" posteriores que interpretaram a obra de Fiori, mas foram refutados tanto pelo grande doutor Fraciscano São Boaventura, como por Santo Tomás de Aquino [1].


Por isso, mais de um século depois um grande santo mariano, São Luís Maria Grignion de Montfort, com provável ciência das visões e vida de Maria des Vallées, inseriu a mesma idéia em sua famosa Oração Abrasada: "Divino Espírito Santo, lembrai-Vos de produzir e formar filhos de Deus, com Maria, Vossa divina e fiel Esposa. Formastes Jesus Cristo, cabeça dos predestinados, com Ela e n’Ela, e com Ela e n’Ela deveis formar todos os Seus membros; nenhuma pessoa divina engendrais na Divindade; mas só Vós, unicamente Vós, formais todas as pessoas divinas, fora da Divindade, e todos os santos que tem existido e hão de existir até ao fim do mundo, são outros tantos produtos de Vosso amor unido a Maria Santíssima. O reino especial de Deus Pai durou até ao dilúvio, e foi terminado por um dilúvio de água; o reino de Jesus Cristo foi terminado por um dilúvio de sangue; mas Vosso reino, Espírito do Pai e do Filho, está continuando presentemente e há de ser terminado por um dilúvio de fogo, de amor e de justiça".


Portanto, condenar Marie des Vallés por causa dessa frase significa, também, condenar São Luís Maria Grignion de Montfort.

Comentários nossos em negrito.

***

 
"Nosso Senhor lhe disse: “Vais dizer uma coisa três vezes triste”. Para quem é triste? Aonde a levarei? Ela replicou. “São, Ele disse, estas palavras: ‘Spiritus Domini replevit orbem terrarum’”. “Entende-se isto pelo tempo em que o Espírito Santo espalhará o fogo do Amor divino por toda a terra, e que Ele fará o seu dilúvio. Pois há três dilúvios, todos os três tristes, e que são enviados para destruir o Pecado. O primeiro dilúvio é o do Pai eterno, que foi o dilúvio de água; o segundo é o do Filho, que foi o dilúvio de sangue; o terceiro é o do Espírito Santo, que será um dilúvio de fogo”,

"Mas ele será triste também como os outros, pois ele encontrará muita resistência e grande quantidade de madeira verde que será difícil de queimar. Dois já aconteceram, mas resta o terceiro; e como os dois primeiros foram preditos muito tempo antes que chegassem, assim o último, o qual somente Deus conhece presentemente o tempo”
.

O grande jubileu deve ser, com efeito, precedido por uma Grande Tribulação, como o indica bastante formalmente o Apocalipse, da "desolação da desolação", da qual fala o Evangelho"
[2].

O último parágrafo (do biógrafo) mostra como era
natural uma Grande Tribulação precedendo um Grande Jubileu, o que reforça tudo que mostramos.

"Em 1639 uma grande miséria veio ao interior da Normandia, esmagado de impostos por Richelieu. Problemas eclodiram em muitos lugares e especialmente em Caen. Os camponeses se revoltaram aqui e acolá; essa foi a "guerra des va-nupiedes". Um capitão, famoso por sua dureza, Gassion, foi enviado com dez mil homens para reprimir a revolta. Ele a resolveu sem mansidão (...) As pessoas boas, na vigília, contavam histórias terríveis, davam muitos detalhes aterrorizantes. Falavam de aldeias incendiadas, populações dizimadas, crianças a quem os soldados atiravam pelas janelas para esmagá-las sob suas botas pesadas. Marie des Vallées, muito impressionada com essas histórias, gemeu e chorou de todo o coração pelas pessoas pobres. Seu espírito, no entanto, aproveitou dessas contingências para elevá-las à altura de um símbolo, fazendo-as sinais de realidades mais altas:
“Não sofra por causa disso, lhe disse Nosso Senhor, mas sabeis que quando minha Misericórdia vier no tempo da Grande Tribulação, Ela lançará todos os filhos pelas janelas e ela os esmagará. Quer dizer, ela matará todos os pecados que são os filhos dos pecadores. E será minha Divina Misericórdia que fará este massacre e que executará os castigos que acontecerão então. Mas não a conhecerão por tal. Acreditarão que será a Justiça, porque ela será revestida das vestes da Justiça”..

As misérias daquele tempo não são nada, diante da Grande Tribulação simbolizada pelo Salmo 20" [3].


"Um dia em que Marie des Vallés, rogando a Cristo, lhe chamava de “Rei do céu e da terra”, Ele a interrompeu bruscamente: “Não, não da terra, é o pecado que aí reina. Mas Eu o expulsarei e castigarei logo esse monstro, e Eu reinarei em todo o universo”. Marie via as "misérias do povo" sob a forma de cordas que atraiam a cólera de Deus sobre a terra, a fim de punir os crimes, destruir o pecado e estabelecer o reino da Graça" [4].

A Grande Tribulação, de que fala Marie des Vallés, se harmoniza perfeitamente com os Castigos comentados pelas profecias privadas mostradas neste capítulo, que chamamos de Bagarre, conforme os capítulos precedentes.


"Jesus Cristo um dia fez em Coutances a irmã Marie fazer uma estranha procissão simbólica. Ela deveria começar recitando as ladainhas de Deus Pai bem no meio da grande praça da Vila, depois as ladainhas de Deus Filho na fossa mais suja que ela pudesse encontrar e, por fim, aquelas do Espírito Santo diante de um crucifixo, na Igreja. Ela cumpriu tudo conscientemente. ("Eu estava bem impressionada, ela disse, sobre essa ordem, quando eu vi a Virgem chorar ternamente; no entanto, era preciso cumprir"), não sem excitar o espanto dos transeuntes e as zombarias das crianças que, vendo-a se ajoelhar em uma cloaca fedorenta, sob os muros da Vila, a cobriam de vaias e até mesmo jogaram algumas pedras. Os bons burgueses, na maioria, assentiam e a culpavam. "Mas a Virgem, que ela tinha visto no início chorar amorosamente, veio consolá-la, dizendo com um tom alegre: "Ó minha filha! Nos veja bem. Diga agora:
Regina coeli lætare, alleluia".

E Nosso Senhor a disse que na Conversão Geral as almas não pecarão mais, "e que seu amor Divino faria de todos uma guirlanda ao crucifixo, isto é, que Ele coroaria não somente a Paixão que Jesus Cristo sofreu em seu corpo, mas também aquele que Ele renovou na irmã Maria".


Com efeito, era pela a conversão geral do mundo mau que Marie tinha rezado. As primeiras ladainhas sob a praça eram para chamar os infiéis. As segundas, na cloaca, era pela conversão dos maus cristãos e especialmente os maus padres, porque, disse Cristo, "Eu estou na Minha Igreja como um homem numa infame cloaca, que seria forçado a ficar ali pelos laços com os quais seria atado, porque Minha Caridade Divina Me exige".

As três ladainhas, por fim, diante do crucifixo, "eram para obter o dilúvio e efusão de graças no tempo da grande conversão"
[5].

É gritante a semelhança com as profecias de Nossa Senhora de La Salette, que em pleno século XIX diz que os sacerdotes se tornaram "cloacas de impureza". Também se harmoniza com todas as outras profecias sobre a crise no clero. Vale ressaltar que o "não pecarão mais" não significa que não haverá mais pecado, mas que os homens não pecarão na mesma gravidade, pois a profecia não fala de fim do mundo.

"Deus permite os maus sacerdotes pelas razões que só Ele conhece, disse a Virgem à irmã Marie obrigando-a a rezar algumas preces para abreviar o tempo no qual "os maus pastores devem reinar na Igreja, segundo os desígnios da Divina Providência".


Um dia Nosso Senhor lhe disse: “Minha esposa ficou leprosa. Que ela vá portanto se lavar sete vezes no Jordão; tomai essa camisa que minha Mãe lhe dá, e a use”. Ele explicou, em seguida, que Sua esposa, a Igreja, coberta da lepra do pecado, deve se curar dos sete pecados capitais no Jordão da penitência. A camisa é Sua humanidade com a qual os Cristãos devem se revestir (Revesti-vos de Cristo, disse São Paulo).
 
A irmã Marie a põe, porque ela inclina o mundo a fazer penitência e fazer uso dessa grande tribulação da qual foi falada. Fazendo-a rezar (em 1646) por um problema de grande consequência que dizia respeito à Igreja, sem dizê-la qual era, Ele prometeu a essa Igreja "três coisas singulares: a primeira é um anel de ouro com uma pedra magnética que atrai o fogo; a segunda será Meu coração; a terceira o conhecimento das Escrituras de um ponto de vista que ela ainda não conhece" [6].

Novamente os maus sacerdotes são mencionados. O prometido "conhecimento das Escrituras de uma maneira ainda não vista" é um paralelo notável com as exegeses do Venerável Holzhauser, já vistas neste capítulo.


"Marie viu um dia o pecado sob a figura de uma serpente cujo corpo fazia uma tríplice volta (o pecado dos padres, o dos chefes de Estado, e o do povo) e que mordia sua cauda, quer dizer, deve se autodestruir e ter fim.

A sociedade é, aos olhos do Santo, o mais triste dos espetáculos; todas as classes dessa sociedade se rivalizam no mal e faltam com suas missões.

"O Sol está eclipsado;

A Lua está coberta de sangue;
As estrelas estão sem luz;
Todos, desde o primeiro ao último, estão em um pobre estado,
e, como o Sol, sem raios", disse Jesus Cristo.

E Marie O vê que tristemente visita a terra,
terra miseriæ et tenebrarum, ubi nullus ordo, sed sempiternus horror inhabitat. Mas a Fé e a Esperança se porão a cantar aos Quatro Pontos Cardinais:
Alleluia,

Elevemos os olhos até o céu e repitamos durante todo dia:
A branca Verdade germinará da terra,
E a Justiça do céu resplandecerá sua claridade.
Veritas de terra orta est et Justitia de coelo prospexit (Ps. 84) "
[7].


Os pecados dos sacerdotes, das nações e dos povos terão fim. As classes que se rivalizam no mau parece ser mais que um simples paralelo à "luta de classes", pois quando as classes competem pelo mau, todas são péssimas. Nosso Senhor também faz um paralelo com as profecias bíblicas quando fala em "lua coberta de sangue", etc.

“Nosso Senhor diz que virá um tempo em que Ele fará chover um dilúvio de graças sobre toda a terra” [8].

Mais uma vez parece a graça do Grand-Retour, conforme tratado antes. A "conversão geral", citada por Marie des Vallées, enquanto consequência de um dilúvio de graças, não anula nossa crítica a uma "conversão geral" no capítulo I, portanto.
 
"Nesses tempo haverá mártires do amor que ultrapassarão os primeiros mártires mesmos, santos que superarão tanto os santos atuais quanto os cedros do Líbano superam os arbustos. Os demônios eles mesmos deveram colaborar à obra Divina, desolados de ter que destruir o monumento (o mundo) que tão bem edificaram. Eles possuirão fisicamente todos aqueles que se recusarem a se converter, e em particular os feiticeiros, para trazê-los, por assim dizer, à força, aos tormentos, impedindo-os de se suicidar. São Rafael será enviado para curar os desesperados, São Miguel, para conduzir as almas a Deus. 


A terra será povoada de santos. Todas as obras dos homens regeneradas glorificarão a Deus" [9].


A comparação dos novos santos com os cedros do Líbano também foi citada por S. Luís Maria Grignion de Montfort, como incluído neste capítulo.


Após uma visão dos pecados capitais e suas deploráveis consequências, Nosso Senhor a diz que Sua bênção transmutaria tudo isso de modo maravilhoso em água cristalina, etc:

“E tudo isso não era senão uma figura da conversão que acontecerá no tempo da grande missão de Nosso Senhor. Os grandes e ambiciosos do mundo, leigos ou eclesiásticos, serão substituídos por esses cedros do Líbano, esses grandes santos de que já falamos” [10].

Os "
leigos ou eclesiásticos" se harmonizam com a tese expandida só nesta terceira edição: os apóstolos dos últimos tempos, os “cedros do Líbano” dito antes, não serão unicamente leigos nem sacerdotes: serão alocados conforme o melhor aproveitamento de cada um e estado de vida nas esferas temporal, política e espiritual, sob a inspiração de seus respectivos representantes exemplares de cada uma, respectivamente: o Grande General, o Grande Monarca e o Papa Santo.

“Vi um dia, diz ela, São Gabriel trazer para nosso quarto um maço de palha e jogá-lo no chão, de modo que era necessariamente pisado por quem andasse por ele. Nosso Senhor disse-me que os maiores filetes de palha representavam os grandes, ricos e poderosos, que estão agora transformados em pecado e que no tempo de grande tribulação serão reduzidos à condição de palha e todo mundo neles pisará e os desprezará, enquanto os bons estarão honrados e glorificados” [11].

Comentário de Plinio Corrêa de Oliveira: "Por cima disso, nos dias da Bagarre virá o castigo de Deus. Virá o que Marie des Vallées viu: a palha atirada ao chão e pisada por todo o mundo. Serão eles que ficarão jogados no chão, e depois de serem pisados pelos acontecimentos, vão tocar fogo e desaparecem. Serão levados pelo juízo de Deus. Não se pode estranhar, porque eles exatamente deveriam ser as colunas da ordem social, deveriam ser as colunas da civilização cristã. Eles se transformam precisamente no contrário disso"
[12].

Próximo deste capítulo:
Soeur de la Nativité profetiza o racionalismo como arma do Diabo, e sua vitória na esfera civil e religiosa pela tibieza dos sacerdotes

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[1] Suma Teológica, I-II q 106, art. 4
[2] Emille Dermenghem, La Vie Admirable et Les Révélations de Marie des Vallées d’après des textes inédits, Chap. V, pg. 152-153, "..comme l’indique assez formellement.."
[3] Idem. Pg. 154
[4] Idem. Pg. 154-155
[5] Idem. Pg. 155-156
[6] Idem. Pg. 157
[7] Idem. Pg. 157-158
[8] Idem. Pg 163
[9] Idem. Pg .167-168
[10] La Vie Admirable de Marie des Vallees et son Abrege rédigés par Jean Eudes suivis de conseils d’une grande servante de Dieu, Centre Saint-Jean-de-la-Croix, P. 179, 218v, 2013. Veja também: https://aparicaodelasalette.blogspot.com/p/soeur-marie-des-vallees.html
[
11] Como essa parte foi tirada da vida do Barão de Renti, e como sabemos que São Gabriel é citado na pg. 165 do livro usado até aqui, a fonte do Barão de Renty provavelmente é a mesma do livro que usamos: Ms Renty, l. II, ch. XXX, p. 142; et 11943, 1. V, ch. X, fol. 138. Psaume 74
[12] Reunião "Santo do Dia", 1 de Abril de 1974.