São Boaventura ensina como fazer uma meditação

S. Boaventura, exemplo de Franciscano,
rogai por nós!
O Doutor Seráfico, São Boaventura (1221-1274), gigante Cardeal da Ordem Francisca, escreveu diversos opúsculos de alta densidade, isto é, escritos curtos, mas cheios de suco e que nos atraem sempre à prática.

Aqui transcrevemos o capítulo em que ele fala do modo de se fazer a meditação, no opúsculo "Três caminhos para a vida espiritual ou Incêndio do Amor" (Cap. I, tradução do Frei Saturnino Schneider, edição Obras Escolhidas). Lembramos que a meditação/exame de consciência é comumente muito aconselhada pelos grandes escritores da vida espiritual para o progresso da vida espiritual. 

Ao final, colocamos um esquema resumido para se fazer a meditação conforme ensinado.

Com negritos e sublinhados nossos. Algumas citações do santo não colocamos por serem muito extensas.

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1. Eis, de três modos, exposta a minha doutrina. Provérbios 22:20. Todas as ciências trazem em si a marca da Trindade, mas, de todas, a que melhor a conserva é a que se aprende na Sagrada Escritura. Dela disse o sábio, que foi por três formas ensinadas, por causa dos três sentidos espirituais que encerra: o moral, o alegórico e o analógico (ou místico), os quais correspondem aos três atos hierárquicos da vida espiritual: a purificação, a iluminação e a perfeição. A purificação produz a paz, a iluminação conduz à verdade e a perfeição realiza a caridade. Esses três atos, frequentemente praticados, dão a felicidade à alma e, quanto melhor praticados, mais lhe aumentam os méritos. No conhecimento desses três atos é que se funda a ciência de toda a Sagrada Escritura, e dele é que depende o merecimento da vida eterna.

Três são os exercícios que facilitam a sua realização: a meditação (Hugo de São Vítor, III, Erudit. didascalicae, c. 11), a oração e a contemplação.

Capítulo I - Da meditação, pela qual a alma é purificada, iluminada e aperfeiçoada

2. Comecemos por examinar o que é meditação. Saibamos que existem em nosso espírito três faculdades pelas quais se exercem aqueles três atos da vida espiritual: o estímulo da consciência, a luz da inteligência e o calor da sabedoria. Portanto, quem quiser se purificar dirija contra si o acúleo da consciência; quem precisar de se iluminar, recorra à luz da inteligência; e quem desejar tornar-se perfeito, aqueça-se ao calor da sabedoria. É o que aconselhava a Timóteo o bem-aventurado Dionísio, ao dizer-lhe: "Volta-te para a luz" etc (Mystica Theolog. c. 1. §1).

Purificação - dirigir contra si o acúleo da consciência 

Recordação dos pecados; exame de si mesmo; consideração do bem

§ 1 - Da purificação da alma e do seu tríplice exercício

3. Para que o acúleo da consciência seja convenientemente empregado, deve cada um primeiro suscitá-lo, depois aguçá-lo e, enfim, retificá-lo. Suscita-o a recordação dos pecados; aguça-o o exame de si mesmo; retifica-o a consideração do bem.

4. A recordação do pecado tem por fim exprobar à alma as suas múltiplas negligência, concupiscências e malevolências; pois que todos os nossos defeitos e pecados, tanto os atuais como os habituais, podem reduzir-se a esses três.

Meditar sobre Negligências 1 - na guarda do coração, no emprego do tempo, e na direção das ações

Com respeito às negligências, examine cada um: em primeiro lugar, se foi negligente na guarda do coração, no emprego do tempo, e na direção das ações. Este tríplice exame deve ser rigoroso, pois que cada um deve sempre e com o máximo cuidado guardar puro o seu coração, empregar utilmente o seu tempo e dirigir todas as suas ações para o fim devido.

Meditar sobre Negligências 2- verifique se foi na oração, na leitura espiritual e na execução das boas obras

Em segundo lugar, verifique se foi negligente na oração, na leitura espiritual e na execução das boas obras. Nesses três propósitos deve se exercitar com diligência e aplicação quem deseja produzir bons frutos no tempo adequado (Sl 1:3 e Mt 3:10). De resto, nenhum deles pode ser eficazmente praticado se os outros não o forem conjuntamente.

Meditar sobre Negligências 3 - em fazer penitência, em resistir ao mal, e em progredir no bem

Em terceiro lugar, excogite se foi negligente em fazer penitência, em resistir ao mal, e em progredir no bem; porque é dever de cada homem arrepender-se do mal cometido, repelir as tentações diabólicas, e progredir de virtude em virtude (Sl 83:8) até chegar à terra da promissão.

Meditar sobre Concupiscências 1 - voluptuosidades - desejos do que é delicado, deleitoso, carnal.

5. Acerca das concupiscências, inquira cada qual se existem em sua alma desejos de voluptuosidade, de curiosidade, ou de vaidade, nos quais se enraízam todos os males. Em primeiro lugar, deseja as voluptuosidades quem deseja o que é delicado, o que é deleitoso e o que é carnal, isto é, quem deseja alimentos saborosos, vestuários graciosos, prazeres luxuriosos. Sendo repreensível consentir em tais desejos, é dever do homem reprimi-los logo que apontam.

Meditar sobre Concupiscências 2 - curiosidade - desejo de saber o que é secreto, ver o que é formoso, possuir o que é precioso

Em segundo lugar, a curiosidade se manifesta em quem deseja saber o que é secreto, ver o que é formoso, possuir o que é precioso. Tudo isso denuncia um ânimo cheio de cobiça e condenavelmente indiscreto. 

Meditar sobre Concupiscências 3 - vaidade - desejo de receber favores, elogios ou honrarias

Em terceiro lugar, deseja vaidades quem deseja receber favores, elogios ou honrarias, que são vaidades e tornam o homem vão. De todas estas ambições deve cada um arguir-se com severidade.

Meditar sobre Malevolências 1 - cólera - se esconde na intenção ou se descobre nos gestos e nas palavras, isto é, passando do coração ao rosto e à voz; revela-se nos desejos, nos ditos, nos atos.

6. Enfim, a respeito das malevolências, examine cada um se sente ou já sentiu em si as emoções más da cólera, da inveja, da acédia. Primeiro, a cólera se esconde na intenção ou se descobre nos gestos e nas palavras, isto é, passando do coração ao rosto e à voz; revela-se nos desejos, nos ditos, nos atos.

Meditar sobre Malevolências 2 - inveja - consiste em entristecer-se alguém pela prosperidade de outrem; regozijar-se pelo seu infortúnio; recusar-se a socorrê-lo nas suas necessidades.

Segundo, a inveja consiste em entristecer-se alguém pela prosperidade de outrem; regozijar-se pelo seu infortúnio; recusar-se a socorrê-lo nas suas necessidades.

Meditar sobre Malevolências 3 - tédio e o aborrecimento do esforço espiritual, enche o coração de suspeitas maldosas, de pensamentos blasfemos, de detrações malignas

Terceiro, a acédia que é o tédio e o aborrecimento do esforço espiritual, enche o coração de suspeitas maldosas, de pensamentos blasfemos, de detrações malignas. Todas essas maldades são detestáveis. O resultado desses três exames, triplicados pelo modo indicado, deve ser a excitação e estímulo da consciência, a fim de que alma, pela recordação dos pecados, se encha de amargura e de arrependimento.

Aguçar a consciência pelo exame da própria alma

1 - Dia da morte - indeterminável, inevitável, irrevogável, tratemos com maior diligência enquanto o tempo nos é dado

7. Depois de haver suscitado o acúleo da consciência é mister aguçá-lo pelo exame da própria alma. Três coisas devem ser lembradas neste exame; o dia da morte, sempre iminente; o sangue de Cristo, sempre recente (Col 1:20), e a face do juiz, sempre presente. Primeiro, o dia da morte é indeterminável, inevitável, irrevogável. Se entendermos bem este pensamento, trataremos com maior diligência e enquanto o tempo nos é dado (Gal 6:10), de nos purificarmos de toda a concupiscência, de toda malevolência. Quem quererá conservar-se em estado de pecado, se não está certo de ter o dia de amanhã para se arrepender?

2 - Sangue de Cristo na cruz - derramado para lavar a imundície humana, para vivificar a morte e para fecundar a aridez

Segundo, o sangue de Cristo na cruz foi derramado para mover o coração humano, para purificá-lo e, enfim para torná-lo dócil, ou dito de outra forma, foi derramado para lavar a imundície humana, para vivificar a morte e para fecundar a aridez. Quem deixar a permanecer em si a mancha das negligências, das consciências ou das malevolências, se refletir que para lavá-las é que foi derramado aquele preciosíssimo sangue?


3 - A face do juiz infalível, inflexível e inelutável; nada escapa à Sua ciência, nada abranda a Sua justiça, ninguém foge à Sua vindita

Terceiro, a face do juiz em que devemos pensar é a de um juiz infalível, inflexível e inelutável. Nada escapa à Sua ciência, nada abranda a Sua justiça, ninguém foge à Sua vindita.  Para esse juízo, do mesmo modo que "nenhuma boa ação ficará sem recompensa, também nenhum mal ficará sem castigo". Quem, em tal pensamento, deixará de combater esse toda tendência para o mal?

Retificar o acúleo da consciência pela consideração do bem

8. Vejamos agora como se há de retificar pela consideração do bem o acúleo da consciência. Três são as qualidades cuja aquisição contribui para retificar a consciência: o zelo, que corrige a negligência; a austeridade, que combate a concupiscência; e a benevolência, que se opõem a malevolência quem possui essas três qualidades, possui uma consciência boa e reta. É o que diz o profeta (Mq 6:8): vou te ensinar o que é bom e o que o Senhor exige de ti: pratica a justiça, ama a misericórdia e procede cuidadosamente com Deus. O mesmo ensinou o Senhor pelo Evangelista São Lucas: tende cingidos os vossos rins e nas vossas mãos lâmpadas acesas; e sede semelhantes a homens que esperam o seu amo na volta das bodas para que ele abriu a porta logo que ele chegar a bater. Bem aventurado os servos que o Senhor, ao chegar, encontrar vigiando.

1 - O zelo - corrige a negligência; é uma certa energia da alma, inimiga de qualquer negligência, e que instiga a fazer todas as obras de Deus com atenção, com confiança e com discernimento.

9. Primeiro, o zelo é a qualidade que precede as outras. Pode ser definidos: em uma certa energia da alma, inimiga de qualquer negligência, e que instiga a fazer todas as obras de Deus com atenção, com confiança e com discernimento.


2 - A austeridade - certo rigor de espírito; refreia as concupiscências e habilita um homem amar o que é árduo, o que é pobre, o que é vil.

Segundo, a austeridade é um certo rigor de espírito que refreia as concupiscências e habilita um homem amar o que é árduo, o que é pobre, o que é vil.


3 - A benevolência certa brandura de alma, contrária à malevolência; inclina à benignidade e à tolerância e à alegria espiritual.

Terceiro, a benevolência é uma certa brandura de alma, contrária à malevolência, e que inclina à benignidade e à tolerância e à alegria espiritual. - Termina nesta fase a purificação, que se alcança por meio da meditação porque uma coincidência pura se conserva sempre alegre. Quem deseja se fosse ficar, exercite, portanto, sua consciência como foi dito acima. Esse exercício pode começar por qualquer dos atos que descrevemos. Mas, de um se passará a outro somente depois de o haver praticado com demora e depois de sentir a alma perfeitamente tranquila e serena, porque são estes os frutos da alegria espiritual e os encitamentos para prosseguir avante e para cima. Iniciado, deste modo, pela amargura da consciência, o trabalho da purificação da alma finaliza no sentimento da alegria espiritual; e o que foi começado com dor é acabado com amor.


§ 2 -  Da iluminação da alma e do seu tríplice exercício. 

Iluminação - dirigir a luz da Inteligência 

1 - Aos pecados que Deus já perdoou - numerosos e tão grandes quanto os males a que estávamos afeiçoados e os bens de que merecemos ser privados - O que mais teríamos feito, se Deus não houvesse permitido - Render graças a Deus pela remissão dos pecados e por isso 

10.   Depois dos exercícios de purificação seguem-se os de iluminação da alma, para que é mister recorrer à luz da Inteligência.  Essa luz primeiro se dirigir a sobre os pecados perdoados, em seguida se estenderá sobre os benefícios recebidos, e, se fixará sobre as recompensas prometidas. - A luz da Inteligência há de se dirigir sobre os pecados que Deus já perdoou, porque foram numerosos que cometemos e tão grandes quanto os males a que estávamos afeiçoados e os bens de que merecemos ser privados. O assunto da meditação precedente foi semelhante a este; mas agora precisamos considerar não só o mal que fizemos, mas também o que teríamos feito, se Deus tal não houvesse permitido. À medida que refletirmos sobre isto com atenção as trevas da nossa alma serão dissipadas pela luz da inteligência e começaremos a sentir por Deus uma calorosa gratidão, sinal certo de que a iluminação procede verdadeiramente do céu, fonte, ao mesmo tempo, da claridade e do calor. Esta é a ocasião própria para render graças a Deus pela remissão dos pecados que cometemos, ou que possivelmente teríamos cometido, em consequência da 
fraqueza ou da perversidade do nosso próprio querer.

2 - Aos benefícios recebidos - natureza, graça, superabundância de ambas - integridade do corpo, saúde, sentidos aptos ao uso, inteligência clara, juízo reto, ânimo benigno - auxílio da graça dado por Deus no batismo, no sacramento da penitência, e pelo sacerdócio - hierarquia dos seres no universo, descida de Deus Filho à terra, dons transmitidos pelo Espírito Santo
 
11.  A luz da Inteligência deve se estender, em seguida, sobre os benefícios recebidos. Estes são de três gêneros: uns dizem respeito à natureza, outro à graça, e outros à superabundância de ambas. Quanto aos dons naturais, temos de agradecer a Deus a integridade do corpo, saúde do organismo, a nobreza do sexo; sentidos aptos ao seu uso, como a vista perspicaz, ouvido aguçado, língua discreta; e também qualidades espirituais, como inteligência clara, juízo reto, ânimo benigno.

12. Os auxílios da graça são, primeiro, os que Deus nos proporcionou pelo batismo, que suprime a culpa, restitui a inocência e confirma na justiça, tornando-nos dignos da vida eterna; em segundo lugar, os que nos dá pelo sacramento da penitência, o qual nos é concedido no tempo conveniente, quando a alma o requer, e condignamente à grandeza da religião; por último, os que confere pelo sacerdócio, o qual estabelece os autênticos administradores da doutrina, do perdão e da Eucaristia, pelos quais nós é comunicada a vida sobrenatural.

13. Enfim, medite-se na superabundância de dons que Deus nos concede. Primeiro os que encerra o universo todo, no qual os seres inferiores se destina o nosso serviço; os iguais ao meritório exercício das nossas faculdades, e os superiores ao nosso patrocínio. Segundo, os que representa a descida à terra do seu próprio Filho, o qual, pela encarnação, se tornou o nosso irmão e amigo, pela paixão, o preço do nosso resgate e, pela Eucaristia, o nosso alimento cotidiano. Enfim, os que transmite o Espírito Santo, que nos dá a certeza de sermos agradáveis a Deus, nos confere privilégio de sua adoção e a aliança da sua amizade, e assim torna a alma cristã amiga, filha e esposa de Deus. Tais dádivas são inestimáveis e a sua meditação deve inspirar à alma grande admiração e gratidão por Deus.


3 - Bens que nos foram prometidos - extinção de todos os males, a companhia de todos os santos e a satisfação de todos os desejos - a Ele, pois, devemos tender com todos os impulsos, todos os afetos, todas as forças de nossa alma

14. Resta-nos explicar como a luz da Inteligência, refletindo-se sobre os bens que nos foram prometidos, reverte à origem de todo bem, que é Deus. Por isso é preciso, com frequência e atenção, considerar que "Deus nunca mente" (Tito 1:2) e aos que Nele creem e amam prometeu a extinção de todos os males, a companhia de todos os santos e a satisfação de todos os desejos, dando-se Ele próprio, que é a origem e o fim de todos os bens e bem tamanho que serve a todos os anelos, a todos os cálculos, a todas as esperanças dos homens. Desse bem insuperável Deus nos quer julgar digno desde que O amemos e O desejemos acima de todas as coisas e só por amor Dele mesmo; a Ele, pois, devemos tender com todos os impulsos, todos os afetos, todas as forças de nossa alma.

§ 3 - Da perfeição da alma e do seu Tríplice exercício.

Perfeição - Aquecer-se ao calor da Sapiência

1 - Concentrar esse calor - recolher e dirigir só para Deus o amor que dispersamos pelas criaturas
 
15. Estudemos, agora, como nos poderíamos aperfeiçoar aquecendo-nos ao calor da Sapiência. Conseguir-se-á e isto concentrando-se, avivando e elevando esse calor. Para concentrá-lo é mister recolher e dirigir só para Deus o amor que dispersamos pelas criaturas. Nada mais necessário, porque o amor das criaturas geralmente não nos aperfeiçoa; e quando nos aperfeiçoa, não descansa; e quando nos descansa, não nos satisfaz; porque só Deus nos satisfaz por completo.

2 - A
tivar esse calor - comparar o amor consigo mesmo, ou com afeto dos Santos do céu, ou com o próprio esposo

16. Para ativar esse calor, é preciso uma conversão do afeto ao amor do esposo isto se faz comparando o amor consigo mesmo, ou com afeto dos Santos do céu, ou com o próprio esposo. E dá-se quando se percebe que pelo amor pode ser suprida toda indigência, que pelo amor os bem-aventurados possuem toda abundância de bens, que pelo amor assegura-se a presença do que é sumamente desejável. Estas são as coisas que inflamam o afeto.

3 - Elevar esse calor subir acima de tudo ao que é sensível, imaginável e inteligível

17. Para elevar o calor da sapiência preciso subir acima de tudo ao que é sensível, imaginável e inteligível. Diga a alma consigo mesmo que Aquele a quem ama não pode ser percebido pelos sentidos; porque não pode ser visto, nem ouvido, nem provado nem tocado; não pode ser sentido e entretanto é sumamente desejável (Ct 5:16). Considere também que esse mesmo ser não pode ser representado pela imaginação, porque não tem limites, nem feitio, nem número, superfície, nem idades; não é imaginável e, entretanto, é imensamente desejável. Termine, enfim, refletindo que o mesmo ser não pode ser apreendido pela inteligência, pois que escapa a toda demonstração, a toda definição, a toda opinião, a toda avaliação, a toda investigação; que, portanto, não é inteligível e e, entretanto, é imensamente desejável.


§
4 - Conclusão

18.  É assim que pelo exercício da meditação sobre os atos mais adequados à purificação, à iluminação e à perfeição da alma se adquire a ciência que a Sagrada Escritura encerra.  Esse exercício deve ser frequentemente repetido pelo modo indicado. Porque, na verdade, toda meditação bem conduzida há de versar: ou sobre as obras do homem (por exemplo: que faz um homem, que deve fazer, quais são os motivos de seu agir); ou sobre as obras de Deus (o qual, por exemplo, promover das obras da criação, da redenção e da glorificação, criou todas as coisas do nada, tantos benefícios fez ao homem, tantos  malefícios lhe perdoou e tanta felicidade lhe prometeu); ou sobre as fontes de ambas essas obras (isto é, a alma e Deus, e as relações que devem ter entre si). A isto é que se hão de dirigir todas as nossas atenções, porque o escopo de todo o raciocínio e operação mental informar pelo experiência o conhecimento; nisto consiste a verdadeira sabedoria (III. Sent. d. 35. q.1).

19. Tal meditação deve ser praticada com todos os recursos do espírito: com a razão, a sindérese, a consciência e a vontade. A razão perquire e formula do problema; a sindérese define e pronuncia o julgamento; a consciência testemunha e confirma; a vontade escolhe e resolve. Eis um exemplo: a razão indaga o que deve ser feito ao homem que violou o templo de Deus. A sindérese responde que deve ser condenado à morte ou à penitência para que o sofrimento o purifique. A consciência então exclama: "Tu és esse homem. Tens de escolher: ou a danação, ou os tormentos da paciência". Enfim, a vontade escolhe, e porque recusa a danação eterna, aceita os suplícios da penitência. Esse exemplo diz respeito à fase da Purificação (...).


ESQUEMA RESUMIDO DA MEDITAÇÃO
 DE SÃO BOAVENTURA

Purificação - dirigir contra si o acúleo da consciência

Recordação dos pecados; exame de si mesmo; consideração do bem

Meditar sobre Negligências:
1 - na guarda do coração, no emprego do tempo e na direção das ações
2 - verifique se foi na oração, na leitura espiritual e na execução das boas obras 

3 - em fazer penitência, em resistir ao mal e em progredir no bem

Meditar sobre Concupiscências:
1 - voluptuosidades - desejos do que é delicado, deleitoso, carnal.
2 - curiosidade - desejo de saber o que é secreto, ver o que é formoso, possuir o que é precioso
3 - vaidade - desejo de receber favores, elogios ou honrarias

Meditar sobre Malevolências:
1 - cólera - se esconde na intenção ou se descobre nos gestos e nas palavras, isto é, passando do coração ao rosto e à voz; revela-se nos desejos, nos ditos, nos atos.
2 - inveja - consiste em entristecer-se alguém pela prosperidade de outrem; regozijar-se pelo seu infortúnio; recusar-se a socorrê-lo nas suas necessidades.
3 - tédio e o aborrecimento do esforço espiritual, enche o coração de suspeitas maldosas, de pensamentos blasfemos, de detrações malignas

Aguçar a consciência pelo exame da própria alma

1 - Dia da morte - indeterminável, inevitável, irrevogável, tratemos com maior diligência enquanto o tempo nos é dado
2 - Sangue de Cristo na cruz - derramado para lavar a imundície humana, para vivificar a morte e para fecundar a aridez
3 - A face do juiz -  infalível, inflexível e inelutável; nada escapa à Sua ciência, nada abranda a Sua justiça, ninguém foge à Sua vindita

Retificar o acúleo da consciência pela consideração do bem

1 - O zelo - corrige a negligência; é uma certa energia da alma, inimiga de qualquer negligência, e que instiga a fazer todas as obras de Deus com atenção, com confiança e com discernimento.
2 - A austeridade - certo rigor de espírito; refreia as concupiscências e habilita um homem amar o que é árduo, o que é pobre, o que é vil.
3 - A benevolência - certa brandura de alma, contrária à malevolência; inclina à benignidade e à tolerância e à alegria espiritual.

Iluminação - dirigir a luz da Inteligência

1 - Aos pecados que Deus já perdoou - numerosos e tão grandes quanto os males a que estávamos afeiçoados e os bens de que merecemos ser privados - O que mais teríamos feito, se Deus não houvesse permitido - Render graças a Deus pela remissão dos pecados e por isso
2 - Aos benefícios recebidos - natureza, graça, superabundância de ambas - integridade do corpo, saúde, sentidos aptos ao uso, inteligência clara, juízo reto, ânimo benigno - auxílio da graça dado por Deus no batismo, no sacramento da penitência, e pelo sacerdócio - hierarquia dos seres no universo, descida de Deus Filho à terra, dons transmitidos pelo Espírito Santo
3 - Bens que nos foram prometidos - extinção de todos os males, a companhia de todos os santos e a satisfação de todos os desejos - a Ele, pois, devemos tender com todos os impulsos, todos os afetos, todas as forças de nossa alma

Perfeição - Aquecer-se ao calor da Sapiência

1 - Concentrar esse calor - recolher e dirigir só para Deus o amor que dispersamos pelas criaturas
2 - Ativar esse calor - comparar o amor consigo mesmo, ou com afeto dos Santos do céu, ou com o próprio esposo
3 - Elevar esse calor - subir acima de tudo ao que é sensível, imaginável e inteligível


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