Profeta Miquéias diz que, nos "últimos tempos", Deus “habitará numerosas nações, até os lugares mais remotos”

Santo Profeta Miquéias, rogai por nós!

Anterior deste capítulo: O profeta Ezequiel fala da corrupção sacerdotal, da restauração da Igreja e da vinda de um Rei, um "novo Davi"

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Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte 1, 3a edição, Cap. IV)".

Exegese do capítulo IV do profeta menor Miquéias, a partir da tradução do Pe. Matos Soares. Em negrito, as palavras sagradas.

Diz o Pe. Matos Soares: o profeta Miquéias levanta o tema dos últimos tempos, após profetizar a destruição do templo. O profeta Jeremias tinha vaticinado igualmente e, por ter sido ameaçado, seus amigos lembraram de Miquéias, conforme Jr XXVI, 18.

“Últimos tempos” é traduzido de modo displicente por algumas bíblias católicas (Ave-Maria, etc) como “fim dos tempos”.

Cap IV, 1-2.

“Acontecerá, nos últimos tempos [in novissimo dierum] que o monte da casa do Senhor será fundado sob o alto dos (outros) montes e se elevará sobre os outeiros; e os povos afluirão a ele. As nações hão de correr (para lá) em multidão, dizendo: “Vinde, subamos ao monte do Senhor, e à casa do Deus de Jacó. Ele nos ensinará os seus caminhos, e andaremos por suas veredas”. Porque a lei sairá de Sião, e a palavra do Senhor, de Jerusalém."


Os “últimos tempos”, conforme visto nos capítulos precedentes, é o tempo prefigurador do fim do mundo. Por isso, S. Luís Grignion de Montfort fala de “apóstolos dos últimos tempos”. Por isso, a Mãe de Deus em La Salette menciona os mesmos “apóstolos dos últimos tempos”. Assim, confirmamos como as revelações privadas iluminam as públicas.

No capítulo III, sustentamos que a sexta Era Cristã será iniciada pelo começo da restauração, a qual só poderá vir pelas mãos imaculadas de Maria. Assim como a Virgem Co-redentora interveio no mundo na sexta Era antiga gerando o Redentor, também ela intervirá no mundo na sexta Era Cristã, gerando espiritualmente seus apóstolos.

Tal restauração será espiritual, política e social. “O monte da casa do Senhor será fundado sob o alto dos (outros) montes”, a maior elevação espiritual ocorrerá na Santa Igreja Católica, alçada ao mais alto dos montes, a restauração espiritual. “E se elevará sob os outeiros”, isto é, acima de todas as nações, de todas as instituições públicas e internacionais, a restauração política. “E os povos afluirão a ele. As nações hão de correr (para lá) em multidão”, pois nações se converterão, conforme visto no capítulo seguinte, e a Mãe de Deus dará a graça correspondente para fundar o seu Reino: será a restauração social.

“Dizendo: “Vinde, subamos ao monte do Senhor, e à casa do Deus de Jacó”. Analisemos como esta frase Sagrada não é fortuita ou repetitiva.

“Dizendo: Vinde”: os povos convertidos farão apostolado com todos os outros. “Subamos”: um chamado para a alma humana, para a elevação do sacrifício da subida, “ao monte do Senhor”, o mesmo monte em que a casa do Senhor será fundada, citado anteriormente, ou seja, “convertei-vos nações e apliquemo-nos ao sacrifício e penitência para a subida rumo ao milagre da restauração espiritual realizado na Santa Igreja”.

“E à casa do Deus de Jacó”. Por que não o Deus de Abrãao ou o de Moisés? A citação não é aleatória. Jacó tinha doze filhos, que deram nome às doze tribos de Israel. Como defendido no capítulo III, a profetizada reunião das doze tribos, após algumas terem se perdido no primeiro exílio, nunca ocorreu ao pé da letra. Em uma dimensão exegética, significava os doze apóstolos, em outra, a reunião das nações na fé durante o Reino de Maria. Eis a razão de ser o “Deus de Jacó”: um gesto para o significado das doze tribos.

““Ele nos ensinará os seus caminhos, e andaremos por suas veredas”. Porque a lei sairá de Sião, e a palavra do Senhor, de Jerusalém.”

“Ele nos ensinará os seus caminhos, e andaremos por suas veredas”: o mundo inteiro nunca andou pelas veredas do Senhor, seja no tempo de Judá, seja na Cristandade até hoje. Isto ainda irá ocorrer.

Note-se também: a “multidão das nações” (na Vulgata, gentes multæ), e não a “multidão nas nações”.

“Porque a lei sairá de Sião”: Sião, costumeiramente uma metonímia para “terra de Israel”, originalmente significava o Monte Sião, o qual foi conquistado por David (II Samuel 5). É o lugar onde o Senhor dos Exércitos habita (Is VIII, 18; Sl LXXV, 3).

Eis uma interpretação para esta frase Sagrada: a lei sairá de onde um rei santo, o “novus David” mencionado pelo profeta Ageu, a tiver conquistado. Nosso Senhor Jesus Cristo cumpriu isto quando nos conquistou com Seu sangue preciosíssimo. Em outra dimensão exegética, aplica-se ao Grande Monarca, cuja conquista das nações será como a de David: militar.

“E a palavra do Senhor, de Jerusalém”: ao mesmo tempo, a voz do Santo Padre profetizado pelos séculos visto no capítulo V, pois Jerusalém, sendo o centro de Judá ou Israel, símbolo de toda Cristandade, pode ser conectado à Roma após o novo testamento.

3. E (o Senhor) será arbítrio de numerosos povos e habitará numerosas nações, até os lugares mais remotos; e eles converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças em enxadões; um povo não tirará mais da espada contra outro povo; e não aprenderão mais a pelejar.

O Pe. Matos Soares comenta como este trecho está quase idêntico ao de Isaías II, 2-4, e considera uma profecia messiânica da Igreja de Cristo. Já o Pe. Sanchez, notando o mesmo, vê uma indicação da futura conversão dos povos e relaciona com Is XXIV, 1,5-6: “Eis que o Senhor devastará a terra e a despojará, afligirá a sua face e dispersará os seus habitantes… A terra ficou infeccionada pelos seus habitantes, porque transgrediram as leis, mudaram o direito, romperam a aliança eterna. Por esta causa a maldição devorará a terra, pecarão os seus habitantes; por isso serão insensatos os que a cultivam e deixados poucos homens.” [1].

Temos o mesmo sentimento. Quanto ao sentido de “não aprenderão mais a pelejar”: não é a paz do céu, e sim a explicação ao ditado popular, “depois da guerra, todos são generais”. No meio militar há inúmeros treinamentos. Quem ensina mesmo é a guerra.

Sob outra dimensão exegética, este versículo pode evocar a glória dos apóstolos. Entretanto, não nos parece católico dizer que um profeta canônico já tenha esgotado seus alertas ao futuro.

4. Cada um repousará debaixo de sua parreira e debaixo de sua figueira, e não haverá quem os intimide; porque assim o disse pela sua boca o Senhor dos exércitos.

Se quem imaginava que o profeta se referia restritamente ao céu onde Deus Nosso Senhor reinará em paz eterna não conseguia explicar as “relhas de arados” e “enxadões”, símbolos do trabalho físico, agora, com “debaixo de sua parreira e debaixo de sua figueira” fica mais difícil ainda.

5. Porque todos os povos andarão cada um em nome de seu deus; nós, porém, andaremos em nome do Senhor nosso Deus, por todos os séculos dos séculos.

A explicação de todo o versículo se revela em “por todos os séculos dos séculos”, isto é, os pagãos seguem deuses que mudam durante os séculos, e de acordo com as nações. Os neopagãos seguem a si mesmos, ou seja, cada um serve às suas paixões como deuses. Já os católicos caminham, falam, gesticulam, cumprimentam, pensam, fazem tudo “no Senhor”. Mais ainda: “por todos os séculos dos séculos”.

6. Naquele dia, diz o Senhor, congregarei a que coxeava e recolherei a que eu tinha expulsado e a que eu tinha afligido; salvarei os restos da que coxeava e formarei um povo possante daquela (mesma nação) que tinha sido afligida; o Senhor reinará sobre eles no monte de Sião, desde então e para sempre.

Comenta o Pe. Matos Soares que volta a temática do “resto que Deus salvará para formar um povo novo. Cf. especialmente Isaías I, 24, IV, 3s; VI, 13; e Abdias XVII.”

Numa primeira dimensão exegética, são os poucos apóstolos que formaram um povo novo, o povo Cristão ao redor do mundo. Em outra, pode indicar o resto de povos que subsistirá dentre aqueles, diz o Senhor, “que eu tinha expulsado e a que eu tinha afligido”. E então, o Senhor Eucarístico cumprirá mais uma dimensão da profecia anterior: “habitará numerosas nações, até os lugares mais remotos”.

8. E tu, torre de rebanho, nebulosa filha de Sião, (o Senhor) virá até junto de ti; e virá até junto de ti o supremo poder, o reino da filha de Jerusalém.

A torre do rebanho, de onde os pastores vigiavam suas ovelhas, isto é, o ponto mais alto da vigilância pastoril, significa a Santa Igreja de Cristo em uma dimensão interpretativa. Em outra, significa o cume da atividade pastoral naquele tempo, a Sinagoga.

“O Senhor virá até junto de ti”, pois virá o Messias Sumo Sacerdote, como veio, e o Senhor sob seu poder espiritual, o Papa vindouro. “E virá até junto de ti o supremo poder”, virá o Messias Deus Encarnado, que foi capaz de mostrar seu supremo poder, entre tantas outras ocasiões, ressuscitando dos mortos, e virá o Grande Monarca, o supremo poder político sob a terra.

“O reino da filha de Jerusalém”: cumpriu-se quando Cristo Deus Filho estabeleceu o reino espiritual na terra, durável até o fim do mundo. Cumprir-se-á ainda ao pé da letra, pois a “filha de Jerusalém” é a Virgem Maria Santíssima que, segundo a tradição, nasceu em Jerusalém [2].

Então, o “reino da filha de Jerusalém”, na dimensão exegética da Virgem Maria como a “filha de Jerusalém”, nascida em Jerusalém, é o Reino de Maria, o poder temporal, que decorre da restauração dos dois anteriores, principalmente o espiritual.

Assim identificamos a tríplice divisão citada desde o capítulo I: Espiritual, Política e Temporal. Nosso Senhor foi Rei, Sacerdote e Profeta. Igualmente virá um Rei, um Sacerdote e um Profeta.

9. Por que te abandonas à tristeza? Porventura não tens rei, ou pereceu o teu conselheiro, pois se apoderou de ti a dor, como da que está com dores de parto?

“Por que te abandonas à tristeza? Porventura não tens rei...”, falando com a Santa Igreja Católica militante, a qual, apesar de tudo, ainda tem um Rei no século, isto é, o Pontífice Reinante, “...ou pereceu o teu conselheiro...”, o Sacro Colégio, ou o mais próximo deste, como a Cúria, ou ainda outra instituição estabelecida pelo Papado.

“ (...) pois se apoderou de ti a dor, como da que está com dores de parto?” Os verdadeiros católicos sofrem com a crise na Igreja, sofrem como quem tem dores de parto, sofrem pelos inúmeros pecados cometidos, especialmente aqueles pecados que bradam aos céus e clamam a Deus por vingança. Os católicos militantes sofrem em espírito de caridade, como Nosso Senhor, Homem-Deus e o Justo dos Justos, sofreu em reparação pelos nossos pecados.

10 (Porém) aflige-te e atormenta-te, filha de Sião, como uma mulher que está de parto, porque agora sairás da tua cidade, habitarás numa região (estranha) e irás até Babilônia; (mas) lá serás livre, lá te resgatará o Senhor da mão dos teus inimigos.

“(Porém) aflige-te e atormenta-te, filha de Sião, como uma mulher que está de parto”: convite à penitência.

“Porque agora sairás da tua cidade, habitarás numa região (estranha) e irás até Babilônia”. Versículo sagrado que pode ser posto lado a lado com as profecias de S. João Bosco a Pio IX: o então Papa Reinante teria que sair de Roma por causa do ódio infernal de seus inimigos, o que não ocorreu desde a carta profética nos anos de 1860. Eis o paralelo, tomando a linha de raciocínio até aqui: “filha de Sião”, a Igreja militante, “rei da Filha de Sião”, o Papado, e “sairás da tua cidade”, Roma.

“E habitarás numa região”: O Pe. Matos Soares coloca “região (estranha)”, a Bíblia Ave-Maria, “vais ter que deixar a cidade e morar no campo", a Vulgata, só “et habitabis in regione”. Sinaliza, obviamente, um lugar diferente de Roma, a Sé de Pedro, como em outras épocas se passou com o Papado.

“E irás até Babilônia;”, isto é, chegará, fisicamente ou não, aos povos pagãos. “Lá serás livre”, pois poderá continuar seu trabalho de Evangelização principalmente com os meios modernos que atingem todo o globo, “lá te resgatará o Senhor da mão dos teus inimigos”.

11 Agora se congregaram contra ti muitos povos, os quais dizem: Seja apedrejada e os nossos olhos vejam (a ruína) de Sião.

Da apostasia dos povos, segue o ódio dos povos à Santa Igreja, como exposto no capítulo V com as revelações privadas antigas.

12 Porém eles não conheceram quais eram os pensamentos do Senhor e não entenderam o seu desígnio; porque os ajuntou como a palha numa eira (para ser calcada)

Deus tinha previsto tudo.

13 Levanta-te, filha de Sião e calca a palha; porque eu te darei uma haste de ferro e darei unhas de bronze, para que tu quebres muitos povos e oferecerás ao Senhor o que eles roubaram, e consagrarás ao Senhor de toda a terra as suas riquezas.

“Levanta-te, filha de Sião e calca a palha”, como Deus o quer.

“Porque eu te darei uma haste de ferro e darei unhas de bronze”. Na vulgata, “cornu tuum ponam ferreum”, isto é, serão cornos de ferro, e as unhas de bronze.

Ou seja, o Senhor onipotente porá na cabeça da Igreja, o Papado, a força militar representada pelo corno de ferro, e no Corpo Místico da Igreja, já espalhado por todas as nações, unhas de bronze. Em outras palavras, um milagre, uma grande graça na força militar e no Corpo Místico da Igreja.

“Para que tu quebres muitos povos e oferecerás ao Senhor o que eles roubaram, e consagrarás ao Senhor de toda a terra as suas riquezas”. Neste mundo globalizado, é necessário "quebrar", no sentido de "derrotar", muitos povos que se levantarão contra a restauração realizada pela Igreja.

Quando for destronada a Babilônia, "consagrarás ao Senhor de toda a terra as suas riquezas”: este será o tempo do Reino de Maria Santíssima nos corações dos homens, pois "onde está seu tesouro, aí está o seu coração".


Próximo Capítulo (V): Critérios desta seleção e da supressão de outras profecias, como a dos Papas, Garabandal e Medjugorje, etc.

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[1] A exegese deste sacerdote foi detalhada no Cap. IV desta parte do volume I, 3a edição.
[2] “A mais provável” segundo Maas, A. (1912). The Blessed Virgin Mary. In The Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. Retrieved April 7, 2021 from New Advent: http://www.newadvent.org/cathen/15464b.htm