Atuação da TFP e de Dr. Plinio no Concílio Vaticano II. Um profeta no Concílio


Acima o vídeo do youtube com algumas das palavras de Dr. Plinio citadas abaixo.

Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (Vol. I, parte 2, 3a edição, Cap. III, 2)".

Leitura prévia recomendada: Dr. Plinio profetiza a tragédia do Concílio Vaticano II

Já vimos antes como Plinio Corrêa de Oliveira profetizou o desastre do Concílio e lamentou-o durante e após o término do mesmo. E o fez até a morte. Cabe agora tratar da ação profética no evento do prof. Plinio e da associação que dirigia, a TFP.

É de toda evidência que sempre Deus suscita profetas para se levantarem contra os erros da época, mesmo quando estes não são aceitos pela maioria. Não poderia ser diferente no caso do Concílio Vaticano II, ao qual muitos atribuem o começo de todas as calamidades atuais internas da Igreja. Por que em um evento tão crucial para história da Igreja como esse não houve um profeta? Houve. É o que tentamos mostrar.

Levantou abaixo-assinados com as assinaturas de inúmeros prelados para condenar o Comunismo e consagrar a Rússia ao Imaculado Coração de Maria conforme os pedidos de Nossa Senhora em Fátima. Ambos chegaram a Paulo VI mas foram ignorados

A divulgação, com a ajuda de membros da TFP, do texto “Acordo com o regime comunista: para a Igreja, esperança ou autodemolição?” atingiu 38 edições em oito idiomas, atingindo um total de 171 mil exemplares, e foi distribuída a todos os padres conciliares reunidos em Roma para o evento. Este texto foi reproduzido na íntegra em 39 jornais ou revistas de treze países, e tinha em vista a condenação do comunismo pelo Concílio. Além disso, D. Sigaud entregou pessoalmente a Paulo VI duas petições: a primeira, escrita por Dr. Plinio [1], tinha o apoio dos 218 dos 243 padres conciliares, que responderam "afirmativo" sobre se era oportuno que o Concílio se pronunciasse sobre o comunismo de modo claro e solene. A segunda, uma idéia de Dr.Plinio, foi assinada por 510 Prelados de 78 países para que o Papa, em união com todos os Bispos, consagre a Rússia e o mundo ao Imaculado Coração de Maria [2]. 

Nenhum dos dois pedidos foram atendidos pelo Papa.

Formou o grupo que deu origem ao "Coetus Internationalis Patrum"

Também esteve o então presidente da TFP na origem do conhecido grupo conservador "Coetus Internationalis Patrum" surgido entre a segunda e a terceira sessão do Concílio, ao reunir o "Petit Comité" na primeira sessão. No mês de Outubro, com o apoio organizativo e as sugestões estratégicas de Plinio Corrêa, os dois bispos mais próximos deste, D. Mayer e D. Sigaud, estabeleceram vários contatos e tiveram à disposição um secretariado compostos por tefepistas em Roma [3]. Entre estes contatos estavam: Cardeal Aloisi Masela, Cardeal Ruffini, D. Rupp, D.Ronca, Mons.Piolanti, Pe. Berto, Pe. Dulac e Mons. Marcel Lefebvre, que a 14 de Novembro, aceitou fazer parte do Pequeno Comitê, o qual começou a reunir-se no "Corso Italia", na Casa dos Padres da Congregação do Espírito Santo, da qual Mons. Lefèbvre era o superior.

O próprio bispo Marcel Lefebvre relata como foi de grande auxílio a TFP mesmo após a saída de Plinio Corrêa de Oliveira: "brasileiros, membros da TFP nos ajudaram com grande abnegação, trabalhando durante a noite rodando os textos que cinco ou seis bispos havíamos redigido" [4].

Motivos da saída de Dr. Plinio: ninguém o entendia, nem mesmos os mais próximos prelados

Após a primeira sessão, o prof. Plinio, desiludido, saiu de Roma alguns membros para ajudar seus bispos amigos: 

"Eu percebi desde logo que eram pouquíssimos os olhos que estavam abertos para aquela situação (...). Fomos a um ou outro Convento ou seminário para falar com os Bispos [hospedados lá]. Nós os pegamos nos intervalos. Tão amáveis, tão despreocupados, tão contentes...havia uma espécie de impossibilidade de dizer alguma coisa a eles. Nós em pouco tempo compreendemos que não havia o que fazer. Fomos à primeira sessão e não voltamos para a segunda porque, com exceção de muitos poucos bispos, os outros tinham o otimismo e despreocupação a mais completa" [5].

Provam isso a aceitação dos documentos progressistas pelos que pareciam ser os mais ativos contra o problema do Concílio: os bispos D. Castro Mayer e D. Marcel Lefebvre

Além da aprovação dos próprios documentos conciliares, outros motivos reforçam essa noção, como conta D. Tissier de Mallerais, bispo sagrado por Mons. Lefebvre, sobre dois dos bispos conservadores aliados ao prof.Plinio no começo: "a adesão de Mons. Lefebvre e de Mons. Castro Mayer ficou oficialmente registrada nas Acta do Concílio" [6].

D. Mayer, após voltar ao Brasil justificou sua adesão nos auditórios da TFP, pelo que testemunhas de então contam, dizendo que não podia "contradizer o sacrossanto personagem" (Paulo VI). Já Dom Marcel Lefebvre negou até a morte ter assinado os textos. Hoje em dia nenhum historiador sério acredita nessa negação, nem mesmo os bispos que D. Lefèbvre sagrou em Êcone, como citamos. Mas é interessante ver como nenhum dos dois quiseram fazer uma retratação pública do fato, esquivando seja por uma desculpa, ou negando a realidade.

É uma questão de justiça, portanto, reconhecer que o bispo francês criou um mito falso de si, isto é, de que era a "voz clamando no deserto", quando na verdade foi um leigo quem bradou sozinho no evento. O mesmo se deu com a promulgação da missa nova, como mostramos mais adiante neste capítulo. Missa que, segundo também D. Tissier [7], D. Marcel não protestou no começo, antes aceitou. Infelizmente, essa atitude levou muitos a repetir o mito mesmo após a confirmação dos fatos, como a divulgação das atas, e o testemunho do responsável pelos documentos conciliares, Mons.Vicenzo Carbone. 

Após a sua entrevista em que taxou de absurda a afirmação histórica, e que a ata era meramente presencial [8], a FSSPX apoiou, bem como as suas revistas "Angelus" e "Catholic", e o editor da última chegou menosprezar um dos divulgadores do fato dizendo: “deixe o Pe. Harrison acreditar em seus burocratas. Eu prefiro acreditar no mais fiel, corajosamente bem centrado e perseguido arcebispo na Igreja atualmente” [9]. Nesse contexto, o escritor pró-Lefebvre Michael Davies se refere ao Gaudium et Spes dando um grande tiro no pé: “difícil de acreditar como qualquer Bispo respeitável poderia colocar sua assinatura nele” [10].

A estratégia de Dr. Plinio no Concílio para os dois Bispos brasileiros, a qual foi negligenciada

É notória, pelo menos entre os antigos membros da TFP, a proposta do eminente líder católico para resolver de uma vez com a tragédia que o evento punha em curso: deveriam D. Sigaud e D. Mayer, paramentados no meio da sessão, passar diante de todos os prelados e, diante da mesa de Paulo VI, quebrar os báculos, e os jogar no chão na frente do Sumo Pontífice. Os membros da TFP esperariam do lado de fora já com toda a imprensa, a qual seria avisada do fato, ou da vinda de um estrondo. Então, os dois bispos, ao saírem da sessão, com uma fala pronta, feita provavelmente por Dr. Plinio, soltariam uma bomba na mídia, voltando os olhos do mundo para o erro que estava sendo cometido ali. Este estrondo acabaria com o "feitiço" que pairava sobre muitos no Concílio, e os dois prelados se retirariam do evento como heróis.

Dom Mayer reconhece o erro de não ter seguido o profetismo de Dr. Plinio na questão

D. Mayer teve plena consciência do que deveria ter feito, mas não o fez. Quando terminou o Concílio, decidiu ir a Assis (Itália) de carro, junto com HBC, membro da cúpula do Rio de Janeiro da TFP, e os outros membros CASC e PPF. Eles testemunham:

Quando o bispo entrou no carro, HBC disse: “D. Mayer, o Concílio terminou, que catástrofe para a Igreja!”

D. Mayer parou, ficou sério, e disse: “É verdade, e a culpa é minha e de D. Sigaud, porque não quisemos fazer o que Dr. Plinio nos dizia”.

Outro episódio, anterior a esse, em 1965, ilumina o mesmo fato. Em uma das comemorações do aniversário da Revista Catolicismo em Campos, sem a presença de Dr. Plinio, mas com a presença de representantes como Dr. Caio Vidigal e Dr. Eduardo Brotero, Dom Mayer, de saída para a última sessão do Concílio, diz para o público:

- Eu devo seguir o que me diz o professor Plinio Corrêa de Oliveira. As senhoras e senhores estranharão, porque eu sou bispo e ele é um leigo, mas é esta a vontade de Deus. Eu vou dar um exemplo para explicar este assunto. O Papa Gregório XII [N.E: na verdade foi Gregório XVI], estava em Avignon, e S. Catarina de Siena o convenceu para voltar para Roma, para pôr fim ao cativeiro de Avignon. Ele foi para Roma, mas não aguentou a pressão, e tornou a voltar para Avignon. Chegando lá, adoeceu gravemente, e prometeu a Deus que se ele se curasse, retornaria para Roma, mas morreu. O Papa vai me perdoar, ele é um bem-aventurado, mas ele agiu mal, ele tinha que seguir os conselhos de Santa Catarina de Siena. O mesmo se dá comigo com relação a Dr. Plinio.

Sabe-se que em outro momento da vida, Dr. Plinio teria dito: "Se eu visse D.Mayer prestes a morrer, eu diria a ele que seria preciso uma retratação por ter assinado as atas do Concílio" [11].

Dr. Plinio profético contra as inovações litúrgicas desde o liturgicismo até a missa nova, recusando-a antes mesmo da promulgação

 Dr. Plinio e sua posição profética tradicionalista sobre a missa nova justificada por um Cardeal de joelhos, e conhecida por Paulo VI

Clique aqui para ver mais sobre Plinio Corrêa de Oliveira e suas profecias

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[1] Arquivos do IPCO, reunião de 26 de Agosto de 1989 
[2] Meio Seculo de Epopéia Anticomunista, Coleção Tudo sobre a TFP, 2ª Edição, Editora Vera Cruz, pg.32
[3] Roberto de Mattei, O Concílio Vaticano II: uma história nunca escrita, Ed.Caminhos Romanos, cap.III, item 6.
[4] "Do Liberalismo à Apostasia", Mons.Marcel Lefebvre, quarta parte, cap.XXIV
[5] Conferência para correspondentes da TFP, 22 de Junho de 1984, São Paulo. Arquivos do IPCO. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UCxLTYq7Zbg
[6] Mons. Marcel Lefebvre. Una vita, tr. It Tabula Fati, Chieti, 2005 pp. 359-360, pp.357-360
[7] Spiritual Conferences at Econe, Dec. 10, 1972. Cit. "Marcel Lefebvre: The Biography", Bernard Tissier de Mallerais, Cap. “I adhere to Eternal Rome”. Ver também "Letter of Feb. 17, 1970, to Gerald Wailliez." Cit. Idem. Cap. "For the Catholic Priesthood"
[8] The Angelus, Janeiro 1991. A entrevista foi feita de novembro de 1990
[9] Harrison, Brian W. (March 1994). "Marcel Lefebvre: Signatory to Dignitatis Humanae". Fidelity Magazine. ISSN 0730-0271
[10] Apologia Pro Lefebvre, Apêndice IV
[11] Arquivos e testemunhas vivas citadas da TFP