São Francisco de Assis, rogai por nós!
São Francisco de Assis, O.F.M. (1181-1226).
Extraído de: "O Príncipe dos Cruzados (volume I, parte 1, 3a edição, Cap. V)".
Anterior deste capítulo: S.
Hildegarda von Bingen profetiza II: a restauração e a conversão dos pagãos, depois de guerras e sinais
No tempo da primeira edição do volume I desta parte, travamos contato com inúmeras compilações de profecias que abundavam no século XIX, as quais nos serviram mais ou menos de inspiração. Em vários destes compilados, figurava esta profecia de São Francisco de Assis.
Porém, decidimos não publicar, haja vista que ela parecia falar de um falso Papa, o que levaria confusão no tempo da publicação, isto é, o Reinado de Francisco, então acusado de não ser Papa legítimo. Como dizia o editor daquele antigo livro, a profecia parecia tratar mais do século XIV e outros cismas posteriores.
De lá para cá, muitos aderiram ao sedevacantismo, alegando que o Papa Francisco nunca foi Papa. Ou seja, o que São Francisco de Assis abaixo menciona (caridade esfriada ou cisma, que é o pecado contra a caridade) parece estar em plena realização. Alguns, para tanto, alegam que o Papa teria sido não-canonicamente eleito.
Para estes, o então Cardeal Bergoglio teria sido não canonicamente eleito, pois é notório que houve uma quinta votação [1], o que, segundo as regras que João Paulo II impôs para o Conclave, anula esta votação. Apesar de haver muita discussão em torno deste tema e entrar nisso fugiria do nosso escopo, o fato é que confirmado isto, não o torna um Antipapa, como já vista no volume II da série.
Na época, entretanto, uma vez que a profecia figurava no vozerio das alegações de invalidade ao primeiro Pontificado de um argentino, dispensamos o devido cuidado e método de interpretação (segundo descrevemos no capítulo I) para a profecia do Pai Seráfico, mas graças a Deus retomamos. Veja-se mais acerca da autenticidade do escrito*.
Os negritos são comentários nossos.
"Pouco antes da morte do Pai santo (São Francisco), ele convocou os seus Filhos e alertou-os sobre os problemas que haviam de vir, dizendo:
Ajam com bravura, meus irmãos; ganhem coragem e confiem no Senhor.
Em breve se aproxima o tempo no qual haverão grandes provas e aflições; perplexidades e discórdias, tanto espirituais como temporais, virão em abundância; a caridade de muitos esfriará, enquanto a malícia dos ímpios aumentará".
Caridade esfriará, isto é, o pecado contra a caridade, que é o cisma, será abundante. Nunca houve tantos cismas na ordem temporal; divórcios, dissolução de empresas, brigas de famílias, etc. Por outro lado, a malícia dos ímpios aumenta, pois o mandamento neopagão é "amar o próprio sentimento sobre todas as coisas" e praticamente o mundo inteiro é neopagão. Assim, alastrada a mentalidade baseada na metafísica da Revolução de amar, acima de tudo, o próprio sensualismo (sentimento em todas as esferas; sensível, sexual, emocional etc), a impiedade vai crescendo cada vez mais.
Por outro lado, nunca houve tantos cismas na ordem espiritual; cismas em grupos de sacerdotes, em grupos de leigos, uns com os outros, seja por causa de doutrina, seja por causa de relacionamento.
A "caridade esfriará" evoca a profecia de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre o fim dos tempos, a qual é cheia de simbolismos e fala não só sobre uma época, mas de mais de uma (para mencionar duas no mínimo: a destruição do templo e o fim do mundo). Por que evocar esta profecia evangélica? Sabemos que a profecia em seu grau mais perfeito versa sobre mais de uma coisa ao mesmo tempo, dado que profetizar sobre dois tempos é melhor que profetizar sobre somente um. Assim, evocando aquela profecia, revela-se o caráter desta.
“Os diabos terão um poder fora do usual; a imaculada pureza de nossa Ordem, e de outras, será tão obscurecida, que haverá bem poucos Cristãos que obedecerão ao verdadeiro Soberano Pontífice e à Igreja Romana com corações leais e caridade perfeita.
Nos tempos dessa tribulação, um homem não canonicamente eleito será elevado ao Pontificado, que, com sua astúcia, empenhar-se-á em levar muitos ao erro e à morte."
Os diabos terão um poder fora do comum, pois o mundo, de maioria neopagã escrava do pecado, será facilmente manipulado pelo maligno. As ordens terão a sua pureza obscurecida, pois ficarão parecidas ao mundo. Isso influenciará a Cristandade, que sem as graças que estas ordens pedem pela Cristandade, será reduzida aos poucos que seguem o verdadeiro Pontífice e a Igreja Romana.
Cabe aqui uma explicação sobre os "que obedecerão ao verdadeiro Soberano Pontífice e à Igreja Romana", pois na frase seguinte, a profecia fala de um homem não canonicamente eleito, o que pode dar a impressão de que a profecia trata de um Antipapa, algo contra o que afirmamos acima. Assim a interpretamos: os verdadeiros fiéis, que obedecem com lealdade e caridade perfeita ao verdadeiro Soberano Pontífice são os mesmos que obedecem a Igreja Romana, isto é, os que obedecem a doutrina e tradição que emerge de Roma, não caindo em cisma (pecado contra a caridade), pois a caridade perfeita destes discerne bem o que é verdadeiramente do Soberano Pontífice e da Igreja Romana, e se ama o Papado com caridade perfeita, isto é, com a "perfeita alegria" de S. Francisco.
Na última frase vemos que o homem não canonicamente eleito é, não obstante, Papa, pois será elevado ao Pontificado.
Alguém perguntará: dar a entender que o Papa Francisco é o homem não canonicamente eleito não é acusação típica de quem tem falta de caridade, uma vez que a profecia diz que este, "com sua astúcia, empenhar-se-á em levar muitos ao erro e à morte"?
Foge do escopo deste trabalho verificar afirmações sobre sua eleição, e este trabalho é desprovido de autoridade para julgar um Reinado Papal. Assim, se se aplica ou não a profecia ao Papado de Francisco não emitimos opinião, pois não queremos verificar questões relacionadas a isto, uma vez que, como já dito no volume II, Francisco não deixa de ser Papa por isso.
É preciso lembrar, ainda, o acima citado caráter da boa profecia: profetizar dois tempos em uma profecia, o que pode ter ocorrido neste caso, pois o futuro não conhecemos, embora pareça providencial que o próprio São Francisco de Assis tenha previsto
justo o tempo do Pontificado de quem tomou o seu nome para indicar uma
política Papal: Francisco.
“Então escândalos se multiplicarão, a nossa Ordem será dividida, e muitas outras serão totalmente destruídas, porque consentirão o erro em vez de o combater.
Haverá uma tal diversidade de opiniões e cismas entre as pessoas, os religiosos e o clero, que, se aqueles dias não fossem abreviados, segundo as palavras do Evangelho, até os eleitos seriam levados ao erro, se não fossem guiados, no meio de tão grande confusão, pela imensa misericórdia de Deus".
Os escândalos, principalmente na ordem moral, nunca foram tão grandes como nestes tempos, como noticiado por muitos veículos de comunicação há anos. Por causa da confusão doutrinária, muitas ordens estão destruídas, seja por falta de vocações, seja porque o carisma típico destas não brilha mais. Não combatendo o erro, as ordens tendem a desaparecer, conforme o equilíbrio geral que Deus impôs no mundo.
Haverá diversidade de opiniões e cismas, isto é, a confusão doutrinária e os cismas, que muitas vezes é oriundo de uma má formação doutrinária e moral. Novamente, a profecia evoca aquela profecia Evangélica sobre o fim do mundo, revelando uma ligação desta com daquela.
“Então a nossa Regra e nosso modo de vida serão violentamente combatidos por alguns, e provas terríveis cairão sobre nós.
Os que permanecerem fiéis receberão a coroa da vida; mas ai dos que, confiando somente em sua Ordem, caírem em mornidão, pois não serão capazes de suportar as tentações permitidas como teste para os eleitos.
Os que perseverarem em seu fervor e mantiverem sua virtude com amor e zelo pela verdade sofrerão injúrias e perseguições como sendo rebeldes e cismáticos".
Típico de uma profecia verdadeira é o caráter de exortação, o aspecto que incentiva a agir virtuosamente, de modo a remediar os males futuros. Aqui, especificamente, é direcionada aos seus próprios filhos franciscanos no futuro, mas não deixa de ser um aviso a todo aquele que vive em uma comunidade.
Como o "diabo terá um poder fora do comum", é preciso que os "eleitos" não se deixem contaminar pelo espírito da mornidão que tomará conta das comunidades, seja tomando este espírito para si e não fazendo mais brilhar o carisma próprio da sua comunidade, seja confiando unicamente na sua Ordem, pois ali o desanimarão ou o desencorajarão, por estarem com o espírito já citado.
Daí conclui o Santo de Assis: aqueles que, perseverando no seu fervor (vida interior), mantiverem sua virtude (carisma próprio de sua ordem) por amor e zelo pela verdade que a Igreja sempre ensinou, serão tidos como rebeldes e cismáticos, sofrerão injúrias e perseguições.
“Pois os seus perseguidores, instigados por espíritos malignos, dirão que prestam um grande serviço a Deus, eliminando aqueles homens pestilentos da face da Terra.
Mas o Senhor será o refúgio dos aflitos, e salvará todos que nEle confiarem.
E a fim de serem como o seu Mestre, estes, os eleitos, agirão com confiança e com sua morte obterão para si próprios a vida eterna.
Escolhendo obedecer a Deus e não aos homens, eles não temerão nada e preferirão perecer, do que aprovar a falsidade e a perfídia."
Volta-se a denunciar a fácil instigação dos espíritos malignos nos homens, de maneira que estes, escravizados pelo pecado e imersos no neopaganismo, combatem aqueles que contrariam os pecados que estão sujeitos e acreditam, com seu neopaganismo relativista, que isto é da vontade de Deus, por estarem sendo ofensivos, promovendo discurso de ódio e tantas outras palavras-talismãs que poderão ser usadas futuramente para justificar uma perseguição encarniçada.
É preciso manter a confiança, o santo diz, e estar preparado para o martírio. "É melhor morrer do que viver em uma terra devastada e sem honra" diz o livro dos Macabeus.
“Alguns pregadores manterão silêncio sobre a verdade, e outros a calcarão aos pés e a negarão.
A santidade de vida será desprezada até pelos que exteriormente a professam, pois naqueles dias Nosso Senhor Jesus Cristo lhes mandará não um verdadeiro pastor, mas um destruidor.” [2].
Aqui vemos a crise no clero mais claramente, mantendo o "unum" com inúmeras outras profecias sobre um clero que desfaz a tradição católica.
Por fim, a profecia parece dizer que tudo terá causa neste destruidor (o Papa mau do começo), mas pelo conjunto das profecias que temos analisado neste trabalho, cremos que a profecia, ao não citar nomes, se atém ao tempo profetizado em geral.
Próximo deste capítulo: S. Ângelo da Sicília profetiza a vinda da restauração com um grande monarca de sangue francês e um Pontífice
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* Sobre a autenticidade deste escrito de S. Francisco de Assis, um blog em inglês fez um trabalho muito diligente: “According to information in an article by Solanus Benfatti entitled “On the paternity of a medieval report of Francis of Assisi foretelling a non-canonically elected pope”, the earliest source of the St. Francis prophecy is attributed to the sayings of Blessed Br. Conrad of Offida, who joined the Franciscans in 1251 at fourteen years old and died in 1306. Apparently, he in turn learned these prophecies from St. Francis' companions, in particular, Br. Leo who died in 1271. So, apparently, these prophecies first circulated by word of mouth from Br. Leo and the other friars close to St. Francis and heard by Bl. Conrad who in turn repeated them. These prophecies circulated orally until eventually the 'Words of Brother Conrad' (Verba fratris Conradi) were written down circa 1318 to 1328, about one hundred years after the death of St. Francis.
The 'Verba fratris Conradi' was circulated for the next two centuries under various copies, translations, and borrowings, etc. which unfortunately suffered from several editorial 'adjustments' on the part of the translators, scribes, etc. Hence, as Benfatti observes, one of the forms of the prophecy to be popularised was by the Irish friar Luke Wadding (1588-1657) in his collection of the works of St. Francis published in 1623. Regarding the prophecy of the schism and 'heretic pope' Wadding used two different non-primary sources by authors that were rather cavalier in their approach to the texts, Mark of Lisbon and Bartholomew of Pisa, who were influenced by the Great Western Schism. Wadding himself also was cavalier in his treatment of the text. However, it is his version in which the more modern translations of the prophecy have been circulated.
So, it has been questioned if we may believe this prophecy due to how the original texts circulated and were edited in later centuries.
However, considering that the sayings were allegedly heard by Bl. Conrad from those who knew St. Francis, and was written down only 12 to 22 years after his death, and only c. 100 years after the death of St. Francis himself, there may be some credibility to them as this still is a relatively 'short time' of transcription history”. Visto em 1/02/2021: https://greatmonarch-angelicpontiffprophecies.blogspot.com/p/st-francis-of-assisi.html
[1] Notícias que falam claramente de uma quinta votação: http://www.ihu.unisinos.br/171-noticias/noticias-2013/518463-o-acordo-que-somou-mais-de-90-votos-no-conclave , https://www.ncronline.org/news/world/path-papacy-not-him-not-him-therefore-him , e o vídeo https://www.youtube.com/watch?v=v_T998cEkoM
[2] “Works of the Seraphic Father St. Francis Of Assisi”, Washbourne, Londres, 1882, pp. 248-250, com Imprimatur do bispo de Birmingham, D. William Bernard. Baseado no "Works of St. Francis", publicado em Colônia, Alemanha, em 1848.